quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Míssil MAX 1.2AC: Após 30 anos de Projeto, Enfim no TRL9, Alcançando o Estágio Operacional










A trajetória do Míssil MAX 1.2AC desenvolvido pela brasileira SIATT para fortalecer a soberania e a defesa brasileira, foi marcada por desafios e avanços tecnológicos significativos. O ciclo de vida do míssil, que se iniciou há 30 anos, finalmente atingiu o Technology Readiness Level (TRL) 9, a última etapa de maturidade tecnológica. Esta fase final representa o momento em que o míssil está pronto para ser operacionalizado, após ter sido testado e aprovado em condições reais de combate.

O desenvolvimento desse sistema de defesa anticarro foi paralisado várias vezes ao longo das últimas três décadas, principalmente devido aos cortes orçamentários recorrentes na área de defesa. Essas interrupções atrasaram consideravelmente a evolução do projeto, que começou a dar seus primeiros passos nos anos 90. O míssil MAX 1.2AC, 100% nacional, utiliza um sistema de guiamento a laser, projetado para destruir veículos blindados a distâncias de até 2000 metros, sendo uma peça central para a defesa do território brasileiro, em especial nas fronteiras da Amazônia.

No dia 17 de outubro de 2024, o Exército Brasileiro realizou o primeiro tiro de adestramento com o Míssil MAX 1.2 AC, no Comando de Fronteira Roraima, com 7º Batalhão de Infantaria de Selva, da 1ª Brigada de Infantaria de Selva, realizando o adestramento com o nosso sistema pela tropa, constituindo um marco no projeto. O armamento, homenageando o herói da Segunda Guerra Mundial, Sgt MAX Wolff Filho, será fundamental para as unidades de infantaria, ampliando sua capacidade de defesa anticarro e sua prontidão para operações em regiões estratégicas.

O que é o TRL?

O TRL, ou Technology Readiness Level, é um sistema criado pela NASA para medir o nível de maturidade de uma tecnologia, desde a pesquisa inicial até sua aplicação prática em cenários reais. Com nove estágios, o TRL1 representa o início das pesquisas, e o TRL9 é atingido quando o produto está completamente desenvolvido e pronto para uso operacional.

As fases do TRL (Technology Readiness Level) são divididas em nove níveis, cada um correspondendo a uma etapa de desenvolvimento e maturidade de uma tecnologia. Aqui está a descrição de cada uma:

1. TRL 1 – Pesquisa básica: Esta fase corresponde ao início da concepção de uma nova tecnologia, focada na pesquisa científica fundamental. Resultados iniciais são publicados para abrir caminho para futuros desenvolvimentos, mas não há ainda uma aplicação prática clara.

2. TRL 2 – Formulação do conceito: Após a pesquisa básica, os princípios fundamentais da tecnologia são aplicados a conceitos práticos. A tecnologia está em fase especulativa, sem provas experimentais que validem seu uso.

3. TRL 3 – Prova de conceito: A tecnologia começa a ser estudada de forma prática. Estudos laboratoriais e analíticos testam a viabilidade da tecnologia, podendo haver a construção de um modelo experimental ou um protótipo inicial.

4. TRL 4 – Validação em laboratório: Nesta fase, a tecnologia é testada em ambiente controlado para verificar se cumpre os requisitos de desempenho. A prova de conceito é validada por meio de testes laboratoriais que simulam suas condições de aplicação.

5. TRL 5 – Validação em ambiente relevante: A tecnologia é testada em um ambiente mais próximo do real, fora do laboratório, mas em condições simuladas. O objetivo é aproximar o desempenho da tecnologia ao que seria observado em uso operacional.

6. TRL 6 – Protótipo demonstrado: A tecnologia atinge um nível mais maduro, com a construção de um protótipo funcional. Esse protótipo é demonstrado em um ambiente relevante para validar sua funcionalidade em condições mais reais.

7. TRL 7 – Demonstração em ambiente operacional: O protótipo é testado em um ambiente operacional real, semelhante ao que a tecnologia enfrentará quando totalmente desenvolvida. Esta fase é crucial para ajustes e aperfeiçoamento.

8. TRL 8 – Sistema qualificado e pronto para implementação: A tecnologia já foi testada e demonstrada com sucesso. Ela é qualificada para produção e implementação, estando em fase final de desenvolvimento antes de sua aplicação operacional.

9.  TRL 9 – Sistema operacional completo: A tecnologia é plenamente implementada e está sendo utilizada em operações reais. Neste nível, a maturidade da tecnologia é total, e ela está pronta para ser comercializada ou aplicada em larga escala.

Esse modelo do TRL ajuda a garantir que a tecnologia avance de maneira consistente, passando por todas as etapas necessárias para sua completa implementação operacional. No caso do Míssil MAX, esse ciclo envolveu testes em laboratórios, desenvolvimento de protótipos, e finalmente, a demonstração em campo de batalha.

Os Desafios de 30 Anos de Desenvolvimento

O longo período de desenvolvimento do Míssil MAX pode ser atribuído a dois fatores principais: as complexidades técnicas associadas ao avanço tecnológico e as repetidas paralisações causadas por falta de financiamento. O “Vale da Morte”, como é conhecido o estágio em que projetos tecnológicos enfrentam a falta de apoio financeiro para passar da fase de protótipos para a de produção em larga escala, foi uma barreira crítica para o MAX.

Os cortes orçamentários, especialmente nos anos 2000, interromperam a continuidade do projeto em diversas ocasiões. Cada vez que o financiamento era suspenso, o projeto retrocedia em etapas que já haviam sido superadas, exigindo novos investimentos e retomada dos trabalhos técnicos. Contudo, com a reestruturação do orçamento de defesa nos últimos anos, foi possível retomar o desenvolvimento até a conclusão e aprovação final do sistema de armas.

A Importância de um Orçamento Contínuo para a Defesa

A história do Míssil MAX é um exemplo claro de como a falta de previsibilidade orçamentária pode afetar diretamente o desenvolvimento de tecnologias estratégicas para a defesa nacional. O tempo necessário para atingir o TRL9, em vez de ser uma trajetória contínua de inovação, foi interrompido diversas vezes por falta de recursos, adiando o benefício que esse sistema poderia oferecer para a segurança do Brasil.

A previsão orçamentária contínua e o investimento adequado em projetos de defesa são essenciais para evitar paralisações que comprometem não só o desenvolvimento de tecnologias, mas também a capacidade do Brasil de proteger suas fronteiras e garantir sua soberania. O Míssil MAX, agora pronto para entrar em operação, mostra que o investimento consistente é fundamental para que o Brasil possa alcançar autonomia e inovação na sua Base Industrial de Defesa.

Com a recente aprovação do Míssil MAX no TRL9, o Brasil dá um passo decisivo para fortalecer sua defesa, especialmente nas áreas mais sensíveis como a Amazônia. A trajetória desse projeto é um alerta sobre a importância de garantir recursos contínuos para o desenvolvimento de tecnologias de defesa, assegurando que o país continue avançando e esteja sempre preparado para desafios futuros.


por Angelo Nicolaci


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2 comentários:

  1. Parabéns pela seriedade e profissionalismo de seu trabalho

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    1. Muito obrigado, é super importante para nós o seu feedback. Deus o abençoe!!!

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