sábado, 12 de outubro de 2024

Entre a cooperação naval e técnica: o que esperar da aproximação estratégica Brasil-Índia?

Ambos membros do BRICS, Brasil e Índia possuem uma proximidade diplomática e econômica. Uma amostra disso ocorreu em agosto de 2024, quando o Comandante da Marinha do Brasil (MB), Almirante de Esquadra Marcos Sampaio Olsen, encontrou-se com autoridades da Marinha da Índia no país asiático. Ambos os países possuem uma Base Industrial de Defesa (BID) capaz de construir submarinos e grandes navios de superfície, além de apresentarem um extenso litoral e semelhanças em seus desafios. Logo, quais foram os principais pontos abordados na visita e os possíveis impactos estratégicos para o Brasil?

Durante a visita, desenrolaram-se diálogos sobre áreas estratégicas, como: coleta e compartilhamento de dados de inteligência, segurança cibernética, combate à pirataria, busca e salvamento (SAR, na sigla em inglês), crimes transnacionais e pesca ilegal, não declarada e não regulamentada (INN). Ademais, dada a capacidade da BID indiana para a construção de submarinos de propulsão nuclear, discutiu-se a possibilidade de parcerias no âmbito do Programa de Desenvolvimento de Submarinos do Brasil, o PROSUB. Com o Brasil tendo reservas de urânio e a tecnologia para enriquecimento do mineral, seria interessante intercâmbio de conhecimento e a promoção de cooperação técnica.

Além disso, em entrevista ao jornal indiano Times Now, o Almirante Olsen afirmou que “capacitação, interoperabilidade e questões doutrinárias comuns” seriam pontos de interesse entre as Marinhas. Destaca-se também a possibilidade de obtenção, por parte do Brasil, de armamentos convencionais, como o míssil de cruzeiro supersônico “BrahMos” e helicópteros leves. Tais aquisições elevariam a capacidade dissuasória da MB, principalmente pelo primeiro se tratar de um míssil de longo alcance. Ademais, a parceria demonstra a importância da BID para o desenvolvimento de tecnologias autóctones no Sul Global, apresentando soluções mais condizentes às realidades locais.

A longo prazo, se devidamente incentivada, a BID desses países poderia adentrar de maneira mais assertiva no mercado internacional de defesa. A visita reforça os laços estratégicos entre duas potências do Sul Global e possibilita importantes parcerias no âmbito da segurança e defesa, além de uma presença mais robusta para ambas no mercado internacional de defesa. A cooperação discutida destaca o potencial de ganhos mútuos e avanços tecnológicos para as duas nações. Além disso, a aquisição de armamentos de última geração, como o míssil “BrahMos”, demonstra a busca do Brasil por uma Marinha mais robusta e dissuasória.

Essa aproximação fortalece a atuação do país no cenário global, especialmente no contexto do BRICS, e sinaliza a intenção de o país consolidar uma presença naval mais forte e tecnologicamente avançada, essencial para a defesa de sua extensa costa e dos interesses brasileiros na sua Zona Econômica Exclusiva — a Amazônia Azul.


por Luciano Veneu


Fonte: EGN - Boletim Geocorrente (Out/2024)
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