segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Logística em Ação: O Pilar das Operações Anfíbias


A logística militar é um dos pilares fundamentais para o sucesso de qualquer operação de projeção de poder, especialmente em contextos de desembarque anfíbio. Essa complexidade envolve não apenas o planejamento e a execução de atividades logísticas, mas também a interação entre diversos componentes operacionais e estratégicos que garantem a eficácia das forças desdobradas no terreno. Neste contexto, as experiências adquiridas ao longo de minhas coberturas de exercícios como a Operação Formosa, Dragão e Furnas, me forneceram uma rica fonte de conhecimento prático sobre como a logística é implementada em cenários reais. 

Desde o preparo dos meios, até seu deslocamento até o ponto de interesse no qual serão desdobradas as operações em prol de se atingir determinados objetivos. Neste ponto, quero focar na logística de transporte de meios e pessoal, desde o ponto de desembarque ("Cabeça de Praia"), até a interiorização das tropas, projetando força sobre território "hostil", criando uma zona segura para que as forças do Exército possam realizar o desembarque administrativo, se organizar e avançar rumo ao seu objetivo, o que nos leva a "Manobra de Ultrapassagem", que será objeto de outra análise que publicaremos.



Estrutura Logística e os DASC

Os Destacamentos de Apoio de Serviços de Combate (DASC) desempenham um papel crucial na organização logística das operações anfíbias. Esses destacamentos são formados por unidades do Batalhão Logístico de Fuzileiros Navais, responsáveis por fornecer apoio em diferentes níveis, desde o básico até o suporte complexo necessário para operações de grande escala.

Os DASC operam como células modulares, adaptando-se às especificidades de cada missão. Eles são classificados em três níveis: DASC, UASC e GASC. Essa estrutura permite que as forças logísticas se integrem de forma coesa com os Grupamentos Operativos de Fuzileiros Navais (GptOpFuzNav), que são compostos por um comando, combate terrestre, combate aéreo e apoio ao serviço de combate. Essa modularidade é essencial para a flexibilidade operacional, permitindo que os DASC respondam rapidamente a mudanças nas condições do campo de batalha.

Durante a Operação Formosa, testemunhei como os DASC foram mobilizados para fornecer suporte logístico em tempo real, garantindo que as tropas tivessem acesso a suprimentos e manutenção de seus equipamentos em campo. Essa capacidade de resposta rápida é fundamental em situações de combate, onde o tempo é um fator determinante.

Por exemplo, no DASC é realizado o reabastecimento das viaturas que compõe as unidades de marcha do grupamento de marcha, bem como a manutenção das mesmas em caso de necessidade. Também nos DASCs temos suporte para que os militares que compõe as unidades de marcha, possam repousar em segurança antes de retomar a estrada rumo ao objetivo. Isso simplificando, afim de tornar essa análise objetiva e dinâmica, onde posteriormente detalharmos em outros trabalhos as características do DASC.


Dinâmica do Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais

Os GptOpFuzNav são organizados de maneira a maximizar a eficácia durante as operações. Cada grupamento é constituído de quatro componentes principais, permitindo uma distribuição equilibrada de recursos e capacidades. A capacidade de combinar diferentes unidades em um único grupo, como observamos na Operação Formosa, proporciona uma vantagem estratégica significativa.

A organização modular dos GptOpFuzNav é ideal para operações de desembarque, pois permite que cada componente opere de maneira autônoma, mas coordenada. Durante os exercícios na Marambaia e Itaóca, pude observar como a interação entre o componente naval e terrestre era essencial para a realização de operações complexas. A capacidade de alocar recursos de forma eficaz, dependendo das necessidades do momento, é um testemunho da flexibilidade da estrutura logística.

Desafios Logísticos nas Operações Anfíbias

As operações anfíbias são complexas e envolvem uma série de desafios logísticos. O transporte de tropas e equipamentos de diversas origens, o planejamento de embarque e desembarque, e a continuidade do suporte logístico durante a operação são apenas alguns dos fatores a serem considerados. Cada fase do desembarque deve ser meticulosamente planejada, levando em conta a capacidade dos navios, a natureza do terreno e a organização das tropas pós tomada da "cabeça de praia".

Na Operação Formosa, que simula a interiorização das tropas percorrendo mais de 1.400km, estabelecendo uma zona de segurança, fica clara a necessidade de um planejamento logístico eficaz. A logística deve garantir que as tropas tenham todos os meios necessários para estabelecer uma força de desembarque eficiente em terra e possa avançar no terreno hostil. A experiência prática nos permite ter uma visão clara do meticuloso preparo e todo cuidado tomado para que falhas logísticas não possam resultar em atrasos e comprometer a eficácia da missão, o que eleva o nível do preparo e a flexibilidade da logística.

Adicionalmente, as operações na Marambaia e Itaóca demonstraram a importância da coordenação entre as forças navais e terrestres. A logística deve ser uma prioridade desde os momentos iniciais do desembarque, garantindo que todos os recursos necessários estejam disponíveis para a missão.

O Papel da Comunicação e Integração nas Operações Logísticas

A comunicação é um componente vital da logística militar. A capacidade de coordenar operações em tempo real e ajustar os planos conforme necessário é fundamental para o sucesso das missões. Durante a Operação Formosa, ficou claro que uma comunicação eficaz entre os DASC e os GptOpFuzNav era essencial para a adaptação rápida a imprevistos.

Além disso, a integração entre as diferentes unidades logísticas e de combate é crítica. O aprendizado prático obtido em situações de campo revela a importância que a comunicação e coordenação podem exercer, e como falhas podem impactar a eficiência. A experiência adquirida em exercícios anteriores ressaltou a robustez do sistema de comunicação que permite a troca de informações de maneira rápida e eficiente.

Estratégia Logística em Operações Anfíbias

Do ponto de vista estratégico, a logística em operações anfíbias não se limita apenas ao transporte de tropas e suprimentos. Envolve também a análise de riscos, o planejamento de contingências e a avaliação das capacidades das forças inimigas. A logística deve ser vista como uma extensão da estratégia militar, com a capacidade de influenciar o resultado de uma operação.

Durante a Operação Formosa, a análise estratégica da logística incluiu considerações sobre a geografia do terreno e o clima, dentre outros fatores. Essas avaliações ajudam a moldar os planos logísticos e táticos, garantindo que as forças estivessem preparadas para lidar com desafios diversos.

A Logística como Pilar Central da Projeção de Poder Naval

A importância da logística em operações de projeção de poder naval é indiscutível. A experiência adquirida na Operação Formosa, combinada com o conhecimento teórico sobre os DASC e os GptOpFuzNav, proporciona uma base sólida para entender os desafios e as complexidades das operações anfíbias.

A integração de teoria e prática revela a necessidade de uma abordagem abrangente em logística militar, onde cada detalhe, desde o planejamento até a execução, é crucial para o sucesso da missão. As lições aprendidas nas operações que acompanhei inserido no contingente destacado, sublinham a importância de uma logística eficiente, que não apenas suporte, mas potencialize as capacidades das forças armadas em cenários de combate.

Em resumo, a logística militar não é apenas um aspecto de suporte; é um elemento estratégico que deve ser cuidadosamente planejado e executado. O sucesso em operações de projeção de poder naval depende da capacidade de integrar todos os componentes logísticos e operacionais, garantindo que as forças estejam sempre prontas para agir com eficácia. Não basta ter os melhores equipamentos, ou o material humano mais qualificado, se não houver uma logística eficiente que forneça todo suporte necessário ao desdobramento das unidades em campo.

Lembro ao leitor, que está é apenas uma análise muito objetiva e resumida, e que em breve iremos publicar análises mais detalhadas sobre cada elemento logístico aqui apresentado.


Por Angelo Nicolaci 



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