Com o passar do tempo, os efeitos das sanções internacionais impostas à Rússia começam a fazer-se sentir em diversas áreas. Uma das mais afetadas é a dos microchips, componentes essenciais em sistemas de combate tecnologicamente avançados. Desde o início das sanções, a Rússia tem enfrentado grandes desafios na obtenção e desenvolvimento desses componentes.
As autoridades russas demoraram a reconhecer publicamente os efeitos das sanções, mas recentemente admitiram indiretamente a situação ao anunciar um “plano ambicioso” para desenvolver tecnologias eletrônicas e microeletrônicas até 2030. Segundo o Kommersant, que cita fontes próximas ao governo, o objetivo principal é lançar a produção em massa de microcircuitos utilizando o processo tecnológico de 65 nanômetros (nm) até 2028.
Para melhor compreender o atraso tecnológico russo, é importante comparar com a indústria líder mundial de semicondutores. Empresas como a TSMC (Taiwan Semiconductor Manufacturing Company) produzem chips de 5 nm desde 2020 e já estão trabalhando na tecnologia de 3 nm. A Samsung e a Intel também estão muito à frente, produzindo chips de 7 nm e 5 nm, e avançando para tecnologias ainda mais modernas.
Por outro lado, a fábrica russa de Mikron, parte do Element Group, que está encarregada do plano tecnológico de 65 nm, atualmente produz semicondutores utilizando topologias de 180-90 nm. Isso limita a fabricação de chips a uma gama muito restrita de aplicações militares e industriais. Enquanto representantes da Mikron se recusam a comentar a situação, um porta-voz do Ministério da Indústria e Comércio da Federação Russa afirmou que a tecnologia de 65 nm será utilizada para produzir chips para microcontroladores automotivos e dispositivos da Internet das Coisas (IoT).
Em 2011, a Mikron tentou desenvolver tecnologias abaixo de 90 nm em colaboração com a STMicroelectronics, mas o projeto foi encerrado em 2014. Em 2015, Vladimir Yevtushenkov, proprietário da AFK Sistema, solicitou ao presidente Vladimir Putin um empréstimo de cerca de US$ 280 milhões para desenvolver a produção de microchips de 28 nm na Rússia, mas o pedido foi recusado.
Embora autoridades russas afirmem que os chips de 65 nm serão suficientes para atender às necessidades do mercado de microcontroladores, há ceticismo sobre seu desempenho em aplicações mais exigentes, como aviônicos e eletrônicos modernos utilizados em aeronaves Su-30SM2, Su-57, tanques T-14 Armata, drones de reconhecimento e mísseis hipersônicos. Além disso, a implementação de tecnologias baseadas em inteligência artificial, que requerem processadores de alto desempenho e baixo consumo, parece distante com a atual capacidade de produção russa.
Em resumo, a Rússia enfrenta um grande desafio em sua tentativa de alcançar a autossuficiência na produção de microchips avançados. As sanções internacionais têm exposto as limitações tecnológicas do país, forçando-o a investir significativamente em pesquisa e desenvolvimento para reduzir a defasagem em relação às potências líderes do setor.
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com Kommersant
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