quinta-feira, 25 de julho de 2024

Análise: Incêndio e Naufrágio do INS Brahmaputra, a importância do Controle de Avarias (CAv)

Na noite de 21 de julho, um incêndio eclodiu a bordo da fragata multimissão da Marinha Indiana, INS Brahmaputra, enquanto estava em um período de manutenção geral (PMG) no Estaleiro de Mumbai. O incidente rapidamente se transformou em uma crise significativa. Na manhã de 22 de julho, a tripulação do navio, auxiliada pelos bombeiros do estaleiro e por outras embarcações no porto, conseguiu controlar o incêndio. Após o controle das chamas, foram realizadas ações de acompanhamento e verificações para avaliar o risco residual de incêndio.

No entanto, na tarde do mesmo dia, o INS Brahmaputra começou a adernar para bombordo. Apesar dos esforços concentrados para estabilizar o navio, ele continuou a adernar até finalmente tombar no cais. Segundo um comunicado, todos os tripulantes foram contabilizados, exceto um marinheiro. A Marinha Indiana ordenou uma investigação para apurar as causas do acidente.

A Marinha Indiana tem registrado diversos incidentes ao longo dos anos. Desde 2010, este evento marca o 20º acidente e incêndio sofrido pela Marinha, com a perda de dois navios em ocorrências anteriores. Este incidente destaca a necessidade de revisões e aprimoramentos nos protocolos de segurança e manutenção.

O que pode ter dado errado com o INS Brahmaputra?

Um navio em processo de reparos está exposto a um maior risco de incêndios devido ao trabalho com soldas e outros materiais inflamáveis, serviços como soldagem e corte a gás, realizado a bordo são um risco considerável. Embora princípios de incêndios em navios durante processos de reparos sejam "comuns" e geralmente controláveis com extintores portáteis, o problema surge quando essas condições não são atendidas, levando a um incêndio de grandes proporções.


Quando um incêndio não consegue ser debelado logo no início e este toma grandes proporções, levando a necessidade de combate com água para extinguir as chamas, isso gera outro fator de risco que deve ser considerado e calculado em meio a crise instalada pelo incêndio, pois deve-se considerar o acumulo da água empregada no combate as chamas no interior do navio, o que leva ao comprometimento da estabilidade do casco, movimentando o perigosamente o eixo de gravidade, levando a cenários como o visto com o INS Brahmaputra

Analisando de forma genérica e limitada, pois não temos acesso a todas informações do cenário ocorrido a bordo do INS Brahmaputra, podemos especular que, uma das causas do navio ter adernado ao ponto de tombar, deve-se a falha no gerenciamento do Controle de Avarias (CAv), pois apesar da preocupação imediata em debelar as chamas, é essencial manter o controle sobre o volume de água admitido a bordo pelo CBInc, e garantir a eficiência do bombeamento de água admitida a bordo para fora do navio, assim garantindo sua estabilidade. Caso esse gerenciamento falhe, e a capacidade de bombeamento seja insuficiente, o navio poderá adernar, o que representa um risco real ao navio e sua tripulação. 

A Importância do Controle de Avarias e Treinamento de Tripulações

O caso do INS Brahmaputra apesar da gravidade e dos danos, serve como uma boa base de reflexão, levando a questionamentos sobre os procedimentos e protocolos de segurança empregados pela indústria naval durante a execução de reparos a bordo, onde haja o risco de incêndios. Outro ponto, é que, tal cenário nos leva a ampliar a discussão sobre o preparo da equipes de Controle de Avarias (CAv), demonstrando que um incêndio a bordo exige muito de todos componentes do "reparo", demandando um alto nível de controle e gestão em meio a crise desencadeada a bordo, tendo sempre em mente que é preciso equacionar todos os fatores que envolvem essa faina, não se limitando apenas em debelar as chamas, mas fazê-lo de forma a garantir que a estabilidade do casco não seja afetada pela admissão de água.

O incidente do INS Brahmaputra sublinha a importância vital do controle eficiente de avarias e do constante adestramento das tripulações para lidar com incêndios a bordo. Incêndios representam um dos maiores riscos em um navio, podendo rapidamente se transformar em catástrofes se não forem controlados de maneira eficaz e imediata. Treinamentos regulares e rigorosos são essenciais para preparar a tripulação para responder adequadamente a situações de emergência, minimizando danos e salvando vidas.

A tragédia do INS Brahmaputra é um alerta para a necessidade de revisitar e reforçar os protocolos de segurança e manutenção dentro das forças navais. A reincidência de incidentes graves na Marinha Indiana sugere lacunas significativas que precisam ser abordadas com urgência naquela armada. 

Investimentos em tecnologias de prevenção de incêndios, sistemas de monitoramento mais avançados e treinamentos constantes são fundamentais para evitar a repetição de tais eventos. A capacidade de uma marinha em operar de maneira segura e eficiente é diretamente proporcional à sua prontidão e habilidade de resposta a emergências. Portanto, a adoção de práticas mais rigorosas e a revisão constante dos procedimentos de segurança são essenciais para garantir a integridade das operações navais e a segurança das tripulações.

É importante destacar o excelente preparo das tripulações da Marinha do Brasil, que recebem uma formação de alto nível no Centro de Adestramento Almirante Marques de Leão (CAAML). Este editor teve a oportunidade de receber adestramento em combate a incêndios a bordo (CBInc) com militares da Marinha do Brasil, e testemunhou em primeira mão a eficiência e a competência dos profissionais treinados nessa instituição. O rigor e a dedicação investidos no treinamento fazem com que as tripulações estejam sempre prontas para lidar com situações de emergência, destacando-se como um exemplo a ser seguido por marinhas ao redor do mundo.


por Angelo Nicolaci


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