sábado, 20 de julho de 2024

20 de Julho: 50 anos da "Operação Átila" - A Intervenção Turca em Chipre e a Criação da República Turca do Chipre

Em 20 de julho de 1974, a Türkiye lançou a "Operação Átila", uma intervenção militar em Chipre que resultou na criação da República Turca do Chipre. Este evento marcou um ponto crucial na história de Chipre e teve repercussões significativas na política internacional. A seguir, exploramos os antecedentes, causas, desenvolvimento e consequências dessa operação.

A ilha de Chipre, situada no Mar Mediterrâneo, foi ao longo da história um ponto de confluência de diversas culturas e civilizações. Após séculos de dominação otomana, Chipre foi cedida ao Reino Unido em 1878 e se tornou uma colônia britânica em 1925. A população da ilha era composta majoritariamente por cipriotas gregos, com uma significativa minoria de cipriotas turcos.

Após a Segunda Guerra Mundial, surgiram movimentos de independência em várias colônias britânicas, incluindo Chipre. O movimento nacionalista cipriota grego, liderado pela EOKA (Organização Nacional dos Combatentes Cipriotas), lutou pela enose (união) com a Grécia. Por outro lado, os cipriotas turcos, temendo a dominação grega, começaram a defender a taksim (partilha) da ilha.

Em 1960, Chipre alcançou a independência com a mediação do Reino Unido, Grécia e Türkiye, resultando na criação da República de Chipre. O novo estado era governado por um sistema de partilha de poder entre as duas comunidades, mas as tensões étnicas e políticas continuaram a crescer.

Causas da "Operação Átila"

As tensões culminaram em 15 de julho de 1974, quando a Guarda Nacional Cipriota, apoiada pela junta militar grega, realizou um golpe de estado em Chipre, derrubando o presidente Makarios III e instalando Nikos Sampson, um fervoroso defensor da enose, como presidente. Este golpe foi percebido como uma ameaça existencial pelos cipriotas turcos e pela Türkiye.

Em resposta ao golpe e alegando proteger a comunidade cipriota turca, a Türkiye decidiu intervir militarmente em Chipre. Em 20 de julho de 1974, a Türkiye lançou a "Operação Átila" sob o pretexto de restaurar a ordem constitucional e prevenir a anexação de Chipre pela Grécia.

Desenvolvimento da "Operação Átila"

No amanhecer do dia 20 de julho de 1974, tropas turcas desembarcaram na costa norte de Chipre, perto de Kyrenia, encontrando resistência das forças cipriotas gregas. A operação envolveu desembarques anfíbios, lançamento de paraquedistas e ataques aéreos. Os combates foram intensos, resultando em pesadas baixas de ambos os lados.

A intervenção turca dividiu a ilha em duas partes: o norte, controlado pelas forças turcas, e o sul, controlado pelos cipriotas gregos. A linha de cessar-fogo, conhecida como Linha Verde, foi estabelecida pelas Nações Unidas e continua a ser a linha de demarcação até hoje.

A Operação Átila resultou no deslocamento de cerca de 200.000 pessoas, com cipriotas gregos fugindo do norte e cipriotas turcos do sul. Em 1975, a administração turca no norte proclamou a criação da Federação Turca do Norte de Chipre. Em 1983, esta entidade se declarou independente como a República Turca do Norte de Chipre (RTNC), embora até hoje seja reconhecida apenas pela Türkiye.

A comunidade internacional, incluindo as Nações Unidas, condenou a intervenção turca e exigiu a retirada das tropas estrangeiras de Chipre. As resoluções da ONU pedem a reunificação da ilha, mas os esforços de mediação têm sido infrutíferos.

Forças Envolvidas:

Türkiye:

  • Militares envolvidos: Aproximadamente 40.000 militares.
  • Equipamento: Carros de Combate, veículos blindados, artilharia e suporte aéreo significativo.
  • Unidades principais: 39ª Divisão de Infantaria, 28ª Divisão de Infantaria e Forças Especiais.

Grécia e Chipre:

  • Militares envolvidos: Cerca de 15.000 militares cipriotas e 1.200 militares gregos.
  • Equipamento: Principalmente armas leves, veículos blindados e algumas unidades de artilharia.
  • Unidades principais: Guarda Nacional Cipriota e unidades do Exército Grego estacionadas na ilha.
Principais Batalhas:
Batalha de Kyrenia (20-22 de julho de 1974): Primeira grande ofensiva turca, visando capturar a cidade portuária de Kyrenia. Sucesso turco, assegurando uma importante cabeça de ponte para reforços e suprimentos.
Batalha de Nicosia (20 de julho a 16 de agosto de 1974): Combates intensos na capital cipriota, com ambos os lados tentando controlar a cidade estratégica. Nicosia foi dividida, com a parte norte sob controle turco e a parte sul sob controle cipriota-grego.
Batalha de Famagusta (14-16 de agosto de 1974): Ofensiva turca para capturar a cidade portuária de Famagusta. Sucesso turco, consolidando o controle sobre o leste da ilha.
A "Operação Átila" resultou na ocupação de aproximadamente 37% do território de Chipre pelo exército turco. Um cessar-fogo foi declarado em 16 de agosto de 1974, resultando na divisão de fato da ilha.

Impacto Político e Internacional

A divisão de Chipre continua a ser uma questão delicada nas relações internacionais. As negociações para a reunificação da ilha têm sido realizadas ao longo dos anos, mas sem sucesso definitivo. A presença contínua de tropas turcas no norte de Chipre e a declaração de independência da RTNC são temas de controvérsia que impactam as relações entre Türkiye, Grécia, e as comunidades cipriotas.

Cinquenta anos após a "Operação Átila", Chipre continua dividida. As negociações patrocinadas pela ONU têm buscado uma solução de federação bizonal e bicomunal, mas desconfianças mútuas e interesses divergentes têm dificultado o progresso.

No entanto, há um esforço contínuo de ambas as comunidades para encontrar uma solução pacífica. Iniciativas de construção de confiança, como a abertura de pontos de passagem ao longo da Linha Verde e a cooperação em áreas como economia e cultura, têm sido implementadas.

A Operação Átila de 1974 foi um marco na história de Chipre, resultando na criação da República Turca do Norte de Chipre e na divisão da ilha. Cinquenta anos depois, as cicatrizes deste conflito permanecem, destacando a complexidade das relações étnicas e políticas na região. O futuro de Chipre depende da capacidade das duas comunidades de superar suas diferenças e encontrar um caminho comum para a paz e a reunificação.


Por Angelo Nicolaci


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