Em uma entrevista concedida
ao editor do GBN Defense, Angelo Nicolaci, o Comandante do NAM Atlântico,
Capitão de Mar e Guerra Eugênio Campos Huguenine, e o Comandante do PHA
Tonnerre, Capitão de Mar e Guerra Adrien Schaar, da Marine Nationale Francesa, compartilharam
conosco a importância da Operação Jeanne D'Arc e a significativa participação
de ambos os meios de superfície nessa interação entre Brasil e França.
O Capitão Schaar, também à
frente do Grupo Tarefa da “Mission Jeanne D'Arc 2024”, destacou a dupla
natureza da missão: não apenas como um exercício conjunto com a Marinha do
Brasil, mas também como uma plataforma de formação para oficiais da Marinha
Francesa, ressaltando a relevância estratégica da parceria Franco-Brasileira na
América Latina, com destaque ao papel fundamental do Brasil como aliado
principal da França na região.
Nosso editor, Angelo Nicolaci, entrevistou o CMG Eugênio
O Comandante Eugênio compartilha os desafios e conquistas da colaboração entre a Marinha do Brasil e a Marine Nationale da França. Confira conosco esta interessante entrevista com os comandantes dos mais importantes meios dessa missão estratégica de interoperabilidade naval:
Nicolaci – GBN Defense: "Boa tarde, Comandante Eugênio, agradeço por nos receber a bordo do NAM Atlântico. Gostaríamos que compartilhasse um pouco sobre sua participação na Operação Jeanne D’Arc, especialmente a atuação do nosso navio capitânia, o NAM Atlântico, sob seu comando, nesta importante operação marcada pela interoperabilidade entre a Marinha do Brasil e a Marine Nationale da França."
CMG Eugênio: "Boa tarde, é
sempre bom receber o pessoal da imprensa especializada a bordo, um momento em
que apresentamos nosso trabalho, compartilhando um pouco de nossa experiência,
mostrando o que é a Marinha do Brasil, a Marinha que pertence a todos nós
brasileiros. A Operação Jeanne D’Arc é importante para demonstrar a
interoperabilidade entre a Marinha do Brasil e a Marinha da França, que são
marinhas amigas, com os quais possuímos diversas parcerias, como o
desenvolvimento de submarinos, incluindo o submarino de propulsão nuclear.
Operamos também meios de origem francesa, como o UH-15 “Super Cougar” e o NDM
“Bahia”. Além disso, temos intercâmbio de pessoal, então é sempre bom ter a
Marinha francesa conosco para realizarmos esse tipo de interação, trabalharmos
juntos e mostrarmos esse papel colaborativo entre as duas Marinhas."
Nicolaci – GBN Defense: "Qual
o maior desafio neste tipo de operação, com duas marinhas com doutrinas
diferentes, culturas e idiomas diferentes? Quais os principais desafios neste
cenário que se desenvolve no âmbito da Operação Jeanne D’Arc?"
CMG Eugênio: "Além do fator envolvendo o idioma, o grande desafio foi que não houve um momento em que pudéssemos sentar juntos antes da operação para realizar todo o planejamento; tudo foi realizado por videoconferência. Apesar de termos mitigado o máximo possível os fatores de risco, devido a essa questão, ocorreram alguns pequenos mal-entendidos, os quais foram prontamente solucionados, nada que tenha sido relevante, e vemos que, ao final, a operação foi muito bem-sucedida, o que mostra que mesmo diante das diferenças doutrinárias e de idiomas, conseguimos ultrapassar todos os obstáculos. É claro que o idioma é sempre um fator desafiador para uma operação deste tipo, mas soubemos mitigar bem esse ponto e realizar um bom planejamento, o que resultou nesta operação bem-sucedida."
Nicolaci – GBN Defense: "Comandante,
no que diz respeito às atividades desenvolvidas com os meios navais franceses,
quais as principais atividades realizadas entre as duas Marinhas na Operação
Jeanne D’Arc?"
CMG Eugênio: "Na Operação Jeanne D’Arc, o principal evento foi a demonstração de infiltração operativa através de uma incursão anfíbia, executada pela Força de Fuzileiros da Esquadra e sua tropa de fuzileiros navais, que atuaram em conjunto com a infantaria francesa. Brasileiros e franceses trabalharam juntos, sendo este o principal evento durante esta operação. Durante a fase de mar, realizamos exercícios de Leap-Frog e Light-Line, que são exercícios onde dois navios ficam muito próximos, exigindo muita perícia de ambas as tripulações, onde são passados cabos entre os navios, podendo, por exemplo, realizara a transferência de material de um navio para outro. Este é um exercício muito comum entre as marinhas, constituindo o primeiro passo para interoperabilidade entre os navios e as marinhas. No campo das operações aéreas, foram realizados exercícios de Cross-Deck, com aeronaves francesas pousando a bordo de nosso navio, e nossas aeronaves pousando no "Tonnerre". Apesar de termos doutrinas próximas e o idioma também ser próximo, sempre existem diferenças doutrinárias, sendo um momento para analisar estas diferenças e estabelecer as melhores práticas para a interação, não tendo havido qualquer problema, demonstrando o espírito de cooperação e interação entre as duas Marinhas."
Nicolaci – GBN Defense: "Existe
a previsão de novos exercícios deste tipo?"
CMG Eugênio: "A Operação
Jeanne D’Arc é realizada anualmente, sendo um exercício tradicional para a
Marinha francesa, marcando a preparação dos seus futuros oficiais de marinha.
Eles aproveitam a oportunidade para realizar exercícios com diversas marinhas,
incluindo a nossa Marinha do Brasil, e estamos sempre prontos para operar em
conjunto com eles. Em maio, temos a previsão de realizarmos um grande exercício
em conjunto com a Marinha dos EUA, em celebração aos 200 anos de amizade entre
os dois países. Também será uma operação importante, onde demonstraremos nossa
capacidade de operar em conjunto com outras marinhas. No ano passado,
realizamos uma PASSEX com o novo navio de apoio logístico francês, o Jacques
Chevallier, onde foi possível demonstrar a capacidade do NAM Atlântico de
realizar este tipo de interação."
Nicolaci – GBN Defense: "Quando
falamos do NAM Atlântico, quais as palavras que o senhor, como comandante do
nosso Capitânea, gostaria de nos dizer?"
CMG Eugênio: "Eu me sinto
privilegiado por poder comandar o NAM Atlântico, um navio multipropósito, com
diversas capacidades de emprego, exibindo uma capacidade de operações aéreas
ímpar, sendo a primeira capacidade que se pode observar. Possui ainda uma
grande capacidade anfíbia, com quatro embarcações de desembarque (EDCG),
capacidade de transportar viaturas e fuzileiros navais, além de contar com um
grande complexo hospitalar. Isso foi destaque em fevereiro do ano passado,
quando o NAM Atlântico atuou na operação de ajuda a população no litoral norte
de São Paulo, levando ajuda após a catástrofe natural na localidade de São
Sebastião, onde as únicas vias de acesso eram pelo mar. Prestamos ajuda
hospitalar e levamos material e viaturas para que pudessem ser desobstruídas as
vias de acesso à região.
Portanto, é um grande
privilégio para mim poder comandar o NAM Atlântico, cuidando deste navio que
pertence à sociedade brasileira, que é de todos nós. Agradeço mais uma vez a
presença de vocês a bordo e espero que o seu público possa conhecer um pouco
melhor nosso trabalho e se interessar pela nossa Marinha. Obrigado."
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Foto Marinha do Brasil |
Nicolaci – GBN Defense: "Comandante
Schaar, bem-vindo ao Brasil! Gostaríamos de saber qual é a importância da
Operação Jeanne d'Arc para a França e como essa operação conjunta com a Marinha
do Brasil, sua Esquadra e o Corpo de Fuzileiros Navais do Brasil contribui para
ambos os países?"
CMG Adrien Schaar: “Sou o
Capitão de Mar e Guerra Adrien Schaar, comandante do PHA Tonnerre, que está ao
largo da Marambaia. Também sou o comandante do Grupo Tarefa Jeanne d’Arc, um
grupo tarefa propriamente dito, e também um grupo de formação dos oficiais da
Marinha da França. Estamos em uma viagem de cinco meses pela América Latina
para formar os oficiais alunos que estão embarcados no Tonnerre, e também para
realizar esse tipo de operação com nações amigas, sendo o Brasil a principal
aliada da França na América Latina.
Em relação à cooperação militar entre a França e o Brasil, é uma parceria de longa data que vem se tornando mais forte, particularmente neste último ano com a visita do presidente francês, Emmanuel Macron, às instalações da base de submarinos de Itaguaí, e também com a vinda da “Missão Jeanne D’Arc” para apoiar esse tipo de ação. Estou particularmente contente com essa vinda, pois trabalhei muito para que essa cooperação ocorresse, principalmente no meio anfíbio. Eu acredito que essa relação entre as forças armadas dos dois países no domínio anfíbio será altamente benéfica.”
Nicolaci com Comte Adrien Schaar a bordo do PHA Tonnerre
Nicolaci – GBN Defense: “Quais
são os principais aprendizados que vocês obtêm dessa operação? “
CMG Adrien Schaar: “Vamos
continuar nossa viagem pela América Latina para realizar esse tipo de exercício
com os demais aliados na região, mesmo com o atraso na escala da Missão Jeanne
d’Arc no Brasil devido a outras operações, nas quais a Marine Nationale esteve
envolvida no Haiti. Aqui, o foco principal está em todas as interações que foram
realizadas nesta escala no Brasil, e certamente, absorvemos muitos aprendizados
nesta cooperação entre nossas Forças Armadas, especialmente nesse tipo de
emprego das forças anfíbias.”
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