Como se pode observar, dependendo da definição a RIP cobre boa parte do globo, com os oceanos e mares banhando países como EUA, Índia, Austrália, Japão, Coreia do Sul, China, Tailândia, Indonésia… além de também incluir, conforme o caso, países do leste africano, como Madagascar, Moçambique, Somália…
Conforme foi bem explicado por nosso editor Angelo Nicolaci em seu excelente artigo Análise Estratégica: A Logística Militar dos EUA Frente à Ameaça de uma Invasão Chinesa em Taiwan, a região apresenta enormes desafios estratégicos para os países da região, e vamos falar um pouco sobre alguns destes desafios.
A TIRANIA DA DISTÂNCIA
A área terrestre do planeta é de, aproximadamente, 150 milhões de km². O Oceano Pacífico, sozinho, passa de 160 milhões de km², e somado ao Oceano Índico e outros mares da região a área total pode passar de 240 milhões de km².
A consequência de tal imensidão é que as distâncias envolvidas são enormes, algo que ficou muito evidente ao longo da Segunda Guerra Mundial, com os Aliados e o Império do Japão travando batalhas cujas linhas de contato se estendiam por vários milhões de km².
Este fator é especialmente relevante para os EUA, que gastam enormes valores para se manter minimamente presentes naquela vasta região. O artigo do Nicolaci trouxe boas informações sobre o desafio logístico envolvido, por isso recomendamos a leitura.
Embora nenhum outro país tente impor sua presença em termos globais como os EUA, até mesmo para as potências regionais é bem difícil manter alguma presença na região.
Ao longo dos mais de 160 milhões de km² do Pacífico, de modo geral, as massas de terra são relativamente pequenas. De fato, com a exceção da Austrália, a maioria dos países são ilhas, com vários países, como Japão e Malásia tendo bem menos de 1 milhão de km² de área, e muitos são ainda menores.
Devido a este tamanho reduzido, mais as enormes distâncias que obrigatoriamente envolvem espaço marítimo e aéreo, os países dão grande ênfase em suas Marinhas e Forças Aéreas.
A IMPORTÂNCIA DESPROPORCIONAL DOS ESTREITOS MARÍTIMOS
Embora o Pacífico seja bastante aberto, os caminhos mais curtos em direção à Europa e África podem envolver alguns estreitos marítimos, principalmente os Estreitos de Malaca, Hormuz, Bab el Mandeb, Taiwan, Tsushima, Luzon, Makassar, Lombok e Torres.
O Estreito de Malaca é o principal para a China. Caso o acesso ao Estreito seja perdido, a China seria forçada a navegar perto da Austrália para poder acessar a África e a Europa.
Sabendo disso, a China vem tentando fugir de Malaca tanto quanto possível. A “Nova Rota da Seda” é uma dessas medidas, assim como uma tentativa de construir um canal na Tailândia, semelhante ao Canal do Panamá, embora em termos de engenharia seja um projeto muito mais complexo. Até o momento o assunto ainda segue em discussão.
DISPUTAS TERRITORIAIS
A RIP conta com diversas disputas territoriais e fronteiriças, algumas bastante intensas.
Ainda no continente, Índia e Paquistão travam disputas firmes na região da Caxemira, e a Índia também disputa a região de Ladakh com a China.
A China, aliás, é fonte de uma enorme disputa com vários países na região do Mar do Sul da China. Usando mapas de origem duvidosa e que não são reconhecidos internacionalmente, a China exige domínio em regiões há bastante tempo reconhecidas como sendo mares territoriais de outros países, como Vietnã e Filipinas. A China também alega que Taiwan é parte do seu território, e as tensões na região são enormes.
A Coreia do Norte e a Coreia do Sul, pelo menos tecnicamente, estão em guerra desde os anos 1950, e as tensões ali também são enormes, envolvendo inclusive ameaças nucleares por parte da Coreia do Norte.
Além dessas grandes questões territoriais, há outras relativamente menores, como as Ilhas Sakhalin e Kuril, (disputadas por Japão e Rússia), Ilhas Senkaku / Diaoyu (disputadas entre Japão, China e Taiwan), Dokdo/Takeshima (disputadas entre Japão e Coreia do Sul). Embora no momento não tenham os holofotes das questões anteriores, a situação pode mudar em pouquíssimo tempo, conforme os eventos.
ALIANÇAS DIPLOMÁTICAS
Há diversas alianças diplomáticas na região, algumas de caráter diplomático e econômico, mas outras de caráter militar.
BRICS, ASEAN, Quad, AUKUS, ANZUS... são várias siglas, e vários acordos, mas de modo geral, pode-se destacar os seguintes blocos:
- "Bloco ocidental" - envolve principalmente os países da AUKUS (Austrália, Reino Unido e EUA), além de Canadá e Nova Zelândia, que são aliados a nível global. A Austrália e a Nova Zelândia, evidentemente, estão muito interessadas com o que ocorre na RIP
- China - a China tem interesses ao longo de toda a região, e muitos desses interesses acabam sendo conflitantes com outros países
- Índia - à exceção das disputas fronteiriças com Paquistão e China, a Índia tem poucas querelas na região, e de modo geral é neutra em relação a países como a Rússia
- Rússia - seus interesses maiores são na Europa e Ásia Central, embora em tempos mais recentemes a África e o Oriente Médio lhe chamem a atenção
- Demais países da RIP - de modo geral, os países da RIP enfrentam grandes problemas internos e não têm grandes interesses expansionistas, como no caso dos países da ASEAN (Tailândia, Filipinas, Malásia, Singapura, Indonésia, Brunei, Vietnam, Myanmar, Laos, Camboja, Papua-Nova Guiné e Timor-Leste)
E O BRASIL?
Embora o Brasil não tenha nenhum interesse direto na RIP, não há dúvidas de que é uma região geopolítica de extrema importância para o país.
Países da UE (União Europeia) e os EUA, tradicionais aliados, estão com diversos problemas internos, e por consequência vêm endurecendo suas políticas externas - por exemplo, a UE recusou vários acordos com o Mercosul recentemente, principalmente (mas não exclusivamente) por pressão francesa.
O Presidente Bolsonaro avançou vários acordos com países fora do eixo UE - EUA, e esta deveria ser a tendência geopolítica brasileira no futuro. O Brasil precisa buscar e explorar oportunidades na África de modo geral, como vem fazendo no Oriente Médio, e também com a RIP.
Isso levanta questões importantes para a diplomacia. Por exemplo, o Brasil tem relações excelentes tanto com o Paquistão como com a Índia, mas como navegar o “triângulo amoroso” sem causar incidentes graves, especialmente no que tange à Defesa?
É por isso que atitudes incisivas, especialmente as que não nos trazem nenhum benefício tangível, como apoiar a iniciativa sul-africana para condenar Israel no Tribunal Penal Internacional, devem ser evitadas a todo custo, já que a RIP exige uma “dança” diplomática muito cautelosa para evitar problemas.
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