Há 134 anos, no dia 15 de novembro de 1889, a República do Brasil foi proclamada. Após mais de um século, deixamos ao leitor uma questão crucial: a república foi uma conquista legítima ou um golpe?
Infelizmente, a memória histórica do brasileiro nem sempre é das melhores. Poucos conhecem verdadeiramente os eventos que levaram o Marechal Deodoro da Fonseca a proclamar a república em 15 de novembro de 1889. Esse ato não refletia necessariamente um desejo generalizado do povo brasileiro, mas sim os interesses de uma elite insatisfeita com os rumos do Brasil sob o comando do Imperador D. Pedro II. Este último, conhecido por sua visão geopolítica e social visionária, empenhado em promover reformas significativas no Brasil.
Dentre os fatores que contribuíram para a insatisfação resultante na proclamação da república, destacam-se o fim da escravidão, desagradando aqueles que lucravam com o comércio de escravos, e a proposta de uma aguardada reforma agrária, que gerava conflitos entre o Imperador e a elite. Infelizmente, essa página importante da nossa história é muitas vezes abordada superficialmente nas instituições de ensino, contribuindo para uma compreensão distorcida dos eventos de 1880, uma década crucial para a nação brasileira, marcada por mudanças significativas e culminando na proclamação da república, que pode ser interpretada como o primeiro golpe no Brasil.
Contrariando o que aprendemos nas salas de aula, as ideias republicanas não eram populares entre os brasileiros naquela época, que em sua maioria, tinham grande estima pelo imperador e pelo sistema de governo vigente. Em 1884, apenas cinco anos antes da proclamação da república, apenas três republicanos foram eleitos para a Câmara de Deputados, um sinal claro da rejeição às ideias republicanas.
Mesmo com esforços para difundir os ideais republicanos, os defensores dessa causa não conseguiram ganhar apoio popular para a instauração pacífica da república. Diante disso, líderes desse movimento optaram por um golpe militar. Para isso, buscaram o apoio do Marechal Deodoro da Fonseca, amigo pessoal do Imperador Dom Pedro II e um dos maiores defensores do monarquismo no Brasil, exigindo considerável articulação e manipulação.
Dom Pedro II, que se declarava publicamente contra a escravidão, defendia ideias abolicionistas desde 1850. O imperador, que considerava a escravidão uma vergonha nacional, aboliu gradualmente a prática por meio de diversas medidas. Em 1888, a Princesa Isabel decretou a Lei Áurea, causando indignação entre os donos de escravos, que passaram a apoiar a causa republicana como forma de vingança.
Os republicanos conseguiram persuadir Marechal Deodoro a liderar o golpe, usando intrigas e conspirações. No dia 14 de novembro de 1889, espalharam boatos sobre a prisão do Marechal Deodoro e do tenente-coronel Benjamim Constant, levando-o a se opor ao governo. No dia seguinte, Deodoro depôs o primeiro-ministro Visconde de Ouro Preto, dando início ao golpe e à proclamação da república.
Após a proclamação, Dom Pedro II não reagiu ao golpe e passou seus últimos dois anos de vida exilado na Europa. O novo regime republicano iniciou seu governo com um ato de corrupção ao retirar 5 mil contos de réis dos cofres públicos para indenizar a família imperial, recusada por Dom Pedro II.
O povo brasileiro, mais uma vez, foi marginalizado nas decisões, sem ser consultado sobre sua preferência pela república. As elites provincianas apoiaram o novo regime, transformando-se em fervorosos defensores da República. No entanto, a primeira Constituição republicana foi conservadora e elitista, distante dos princípios democráticos.
É importante destacar que as primeiras favelas surgiram após a proclamação da República, resultado da quebra do compromisso republicano de realizar a reforma agrária prometida por Dom Pedro II. Esse descaso ao longo das décadas contribuiu para a crise de segurança no Rio de Janeiro que nos assola em pleno século XXI.
A República, desde sua origem, foi moldada pelos interesses das elites e, infelizmente, essa tendência persiste, acompanhada pela corrupção que representa interesses alheios ao verdadeiro bem nacional. Ela continua sendo uma herança de um ato que, longe de ser democrático, foi movido pelos interesses de uma elite influente e egoísta.
Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN Defense e Brasil Defesa, graduando em Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do oriente médio e leste europeu, especialista em assuntos de defesa e segurança.
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