terça-feira, 10 de outubro de 2023

O “Massacre de Be'eri”, a dolorosa história do mais covarde ataque contra Israel


À medida que os israelenses começam a lidar com a grandeza dos massacres que centenas de palestinos armados perpetraram na manhã do último sábado em comunidades vizinhas de Gaza, um lugar emerge como epicentro da tragédia: o Kibutz Be'eri, a maior das 25 aldeias que compõem o Conselho Regional de Eshkol, com cerca de 1.200 residentes antes do covarde ataque lançado pelo Hamas.

Até segunda-feira (9), pelo menos 108 corpos haviam sido localizados no kibutz, que costumava ser conhecido principalmente por sua próspera gráfica e suas galerias de arte. Agora, o kibutz está gravado na consciência israelense como cenário do que já é chamado de “Massacre de Be'eri” na Wikipedia, onde o evento recebeu sua própria entrada porque é um símbolo das atrocidades do ataque lançado pelo Hamas.


Be'eri é uma dos múltiplos cenários de atrocidades perpetradas por centenas de invasores palestino, que foram filmados executando civis enquanto imploravam por misericórdia, espancando e insultando os cativos sequestrados, incendiando casas com famílias dentro, mutilando os corpos de suas vítimas e até torturando animais de estimação.

Até esta terça-feira (10), haviam mais de 900 mortes confirmadas do lado israelense, mais de 2.000 feridos e pelo menos 100 que se acredita terem sido sequestrados para Gaza. Centenas de palestinos morreram durante os ataques aéreos de retaliação lançados por Israel contra a Faixa de Gaza, e mais de 1.000 terroristas foram mortos em territórios israelenses invadidos desde o último sábado.


Kibutz de Be'eri, cujo estabelecimento é dois anos anterior a fundação do Estado de Israel, emerge em ambos os lados da fronteira como um símbolo do ataque devido à sua dimensão, à escala e ao nível de documentação dos assassinatos ali perpetrados, e ao número ainda desconhecido de sequestrados levados do kibutz para Gaza.

Os acontecimentos em Be'eri são vistos por alguns como conferindo legitimidade à ação punitiva de Israel contra Gaza numa escala sem precedentes.

“Sempre que pessoas de fora ousam nos criticar, mostraremos imagens de Be'eri”, escreveu Hanoch Daum, um popular comediante e autor de stand-up, em sua página no Facebook, que tem mais de meio milhão de seguidores. “Mostraremos o massacre em massa de famílias por terroristas sádicos que andavam por aí sorrindo enquanto perpetravam um pogrom contra mulheres e crianças. Eles cortaram cabeças e mutilaram corpos, queimaram famílias inteiras vivas.”

Para evitar novas “Be'eris”, acrescentou, “Gaza deve ser demolida”. No Oriente Médio, concluiu Daum, “só os fortes sobrevivem. E nós sobreviveremos.”

Para muitos, Be'eri é uma ferida aberta, provocando choques de dor na sociedade israelense, não só pela perda de vidas que ali ocorreu, mas também pelo sofrimento dos membros do kibutz raptados e arrastados para Gaza.

Um dos centenas de desaparecidos é Amit Man, uma paramédica de 25 anos cujo último sinal de vida foi uma mensagem de texto que enviou à sua irmã Haviva da clínica do kibutz, onde tratava de membros feridos. Ela escreveu que terroristas estavam à porta e pediu à irmã que dissesse à família para ser forte se algo acontecesse com ela.

Essa mensagem enviada na tarde de sábado é a última informação confiável sobre Amit Man, disse sua irmã nesta terça-feira (10). “Estamos em um ciclo inacreditável de dor, incerteza e desamparo”, disse Haviva Man na noite de segunda-feira.

Yaffa Adar, uma senhora de 85 anos que viveu em Be'eri a maior parte da sua vida, está entre os desaparecidos cujo rapto foi documentadoEla foi vista pela última vez em um vídeo sentada calmamente em um carro, cercada por jovens que riam enquanto diziam “sorria” em árabe.

Ultima imagem de Yaffa Adar viva, sequestrada por terroristas do Hamas não se tem notícias de seu paradeiro

Dezenas de sobreviventes de Be'eri, muitos dos quais se esconderam em arbustos ou em abrigos durante o ataque, foram alojados desde a sua evacuação num hotel perto do Mar Morto, onde recebem apoio psicológico.

O sentimento de abandono e insegurança é um tema recorrente nos testemunhos dos sobreviventes, muitos deles sionistas obstinados, criados no espírito de que as Forças de Defesa de Israel são um protetor ágil, confiável e engenhoso.

Amit Man perguntou repetidamente à irmã onde estava o exército e se ele estava vindo para libertar Be'eri. De acordo com alguns relatos, a Força Aérea Israelense enviou um helicóptero para Be'eri, transportando dois pelotões de sua unidade de forças especiais "Shaldag", mas aparentemente eles foram dominados pelos terroristas. Em vídeos de Be'eri que circulam em canais de mídia social pró-palestinos, corpos de homens usando coletes de batalha são vistos caídos ao redor do icônico portão amarelo do kibutz.

Entre os sobreviventes e na sociedade israelita como um todo, os acontecimentos de Be'eri tocaram em traumas mais profundos ligados ao Holocausto e aos massacres de judeus ao longo das gerações, antes de existir um Estado judeu.

“Sinto que o Estado de Israel deixou de existir”, disse Amit Halevi, o prefeito de Be'eri, de 70 anos ao jornal Haaretz na segunda-feira. “O que é isto, algum pogrom na Lituânia?”

Uri Ben Tzvi, outro sobrevivente de Be'eri, disse ao jornal: “Eu era como Anne Frank”. Ben Tzvi, 71 anos, escondeu-se com a esposa num corredor estreito e escuro de uma das estruturas do kibutz. Eles foram até lá porque a porta do corredor lembra a de um armário. “Foi um pogrom. É como voltar ao Pogrom de Kishinev”, disse ele, referindo-se a uma série de massacres de 1903 no que hoje é a capital da Moldávia, que ajudou a galvanizar o sentimento sionista.

A máquina de guerra psicológica do Hamas e dos seus apoiadores parece ter percebido isto. Poucas horas depois da incursão em Be'eri, um exército de usuários do "X" anexou as hashtags em hebraico “Kibbutz_Be'eri” e “National_Catastrophe” a postagens de propaganda em língua árabe apresentando imagens de atrocidades em Be'eri e em outros lugares.


O Hamas parece ter escolhido Be'eri como um símbolo quando permitiu que uma equipe de filmagem fizesse uma transmissão jornalística a partir do kibutz ocupado, criando uma imagem de vitória sem precedentes que ressoou durante muitas horas nas redes sociais israelitas e no mundo.

“O Kibutz Be'eri não existirá mais”, disse Dani Fux, outro residente na casa dos setenta anos, ao repórter do Yedioth Ahronoth, Nahum Barnea.

Fux disse que cerca de 90 terroristas entraram em Be'eri por volta das 7h da manhã de sábado. Duas horas depois, o destacamento Shaldag de cerca de 20 soldados desembarcou, mas “em pouco tempo, a força foi neutralizada”, usando um eufemismo militar. “A partir daí só ouvimos árabe. Os terroristas foram de porta em porta, raptaram pessoas ou mataram-nas. Às vezes eles apenas matavam. Às vezes eles pegavam as crianças e matavam os pais, às vezes o contrário.”

Fux fugiu de seu abrigo, uma sala reforçada contra ataques de foguetes, ao perceber que estava sendo alvo dos pistoleiros. Ele subiu com a esposa e o filho Dani para o sótão e se escondeu lá até que as tropas israelenses recuperassem o controle de Be'eri.

“Sempre que os terroristas não conseguiam ter acesso à área protegida, incendiavam a casa. A fumaça fazia com que as pessoas da casa abrissem a área protegida”, disse Dani ao Yedioth. Dani tinha uma arma e ele e seus pais concordaram que a usariam caso fossem detectados pelos terroristas. Muito provavelmente morreriam nesse cenário, concordou a família, mas “não seríamos feitos prisioneiros”.

Alguns dos sobreviventes de Be'eri dizem que estão prontos para juntar os cacos agora. “Em 48 horas após obter permissão, posso reabrir a fábrica”, disse Ben Suchman, o CEO de 47 anos da gráfica Be'eri, uma das principais fontes de renda do kibutz, ao diário Calcalist nesta terça-feira.

Suchman, cuja família vive em Be'eri há três gerações, reconheceu a “tremenda tristeza” que assola os sobreviventes da sua outrora próspera comunidade. Mas “também tem enormes pontos fortes”, disse ele sobre o kibutz. “Ele lidará com bravura com este evento que mudará nossas vidas, que fará parte de nossas vidas para sempre, mas nunca quebrará nosso ânimo.”


Fonte: The Times Of Israel

Tradução e Adaptação: Angelo Nicolaci


Obs: Pogrom é todo movimento popular de violência dirigido contra uma comunidade étnica ou religiosa; carnificina ou massacre genocida organizado.



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