Não é segredo para ninguém que o Irã é um importante aliado do Hamas, fornecendo apoio em todas as esferas - diplomática, financeira, militar, etc - e que “está se coçando” para entrar diretamente na guerra por procuração que está conduzindo contra Israel.
O mapa acima resume a situação. Israel e Irã não são vizinhos, estando distantes um do outro por mais de 1.000 km, e a única forma de chegar de um país ao outro por terra é atravessando dois países, um deles sendo o Iraque e o outro sendo a Jordânia ou a Síria.
Ou seja, estão longe de tal forma que nenhum deles pode mandar uma grande força terrestre contra o outro, a menos que se faça um esforço descomunal, que está além dos meios de qualquer um dos dois países. De modo semelhante, a IRIAF (Força Aérea da República Islâmica do Irã) não tem os meios para atacar Israel em peso, especialmente ao se levar em conta os meios formidáveis da IAF (Força Aérea Israelense), que poderia conter ações da IRIAF sem maiores dificuldades.
O envio de belonaves entre um país e outro, de forma semelhante, quase obrigatoriamente envolve mandá-las através do Canal de Suez, e é pouco provável que o Egito permita o trânsito de tais embarcações num momento de guerra, já que dificilmente a justificativa de “passagem inocente” iria convencer alguém.
Portanto, o que resta ao Irã é enviar tropas, em números insuficientes para derrubar Israel mas certamente suficientes para ser um incômodo, por via aérea; este recurso também pode ser usado para envio de armas ao Hamas. O Irã vem sendo um player importante na Guerra Civil da Síria, portanto a reação natural dos iranianos foi tentar usar os aeroportos sírios para tal.
Entretanto, Israel não “dormiu no ponto” e rapidamente atacou os aeroportos em Damasco e Aleppo, forçando os cargueiros iranianos que se destinavam a tais lugares a dar meia-volta.
E agora entram as “ligações perigosas” com outro player fundamental na Guerra Civil da Síria - a Rússia.
ACORDOS COMPLICADOS
A Síria está mergulhada em uma terrível guerra civil desde 2011. Israel sempre soube que o caos no seu vizinho ao norte representava um risco bastante alto, já que grupos terroristas como o Hizballah (também grafado Hezbollah) e outros inimigos, como o Irã, poderiam atacar através da fronteira, como de fato vem acontecendo.
Um receio particularmente sério dos israelenses era o Irã usar a Síria como local de transferência de sistemas avançados, como mísseis balísticos de alta precisão, já que a Síria faz fronteira com o Líbano, país base do Hizballah.
A Rússia entrou oficialmente na Guerra Civil da Síria em 2015. Sabendo das preocupações israelenses em relação à suas fronteiras, o presidente russo Vladimir Putin, embora tenha cometido inúmeros erros na Guerra Russo-Ucraniana que está em andamento, foi prudente o bastante para, na época, buscar Israel e costurar um acordo “viva e deixe viver”:
Israel não ataca bases russas, e vice-versa
Rússia não usa seus meios para proteger pessoal e sistemas iranianos ou de outros players que ameacem Israel
Rússia não viola as fronteiras israelenses
Israel não ataca os sírios, a menos que estejam ajudando diretamente o Irã ou outros players a atacar Israel
Rússia não fornece, e não facilita o fornecimento, de armas avançadas para grupos como o Hizballah
Apesar de algumas situações complicadas (como o abate de um Il-18 russo em 2018), de modo geral o acordo entre Israel e Rússia se manteve muito bem ao longo dos mais de 8 anos de intervenção na Síria. De modo geral, ao longo deste tempo, a Rússia interferiu muito pouco nos interesses israelenses, e vice-versa. Um exemplo disso foi a recusa israelense, apesar dos insistentes pedidos, em fornecer armas à Ucrânia durante a guerra em andamento.
Entretanto, como já se sabe, países não têm amigos, têm interesses. Países formam alianças enquanto seus interesses estão alinhados. Países se tornam inimigos quando seus interesses são conflitantes.
E, ao que parece, a Guerra Russo-Ucraniana mudou o alinhamento entre Israel e Rússia. Inúmeros países sancionaram a Rússia, com apenas um punhado deles apoiando-a militarmente de forma quase irrestrita (Belarus, Irã e Coreia do Norte), outros de forma um tanto tímida (China), e outros apoiando mais por questões econômicas, mas não fornecendo armas (Índia, Brasil e vários outros).
Devido a este isolamento, mais a constância do apoio iraniano, as relações entre a Rússia e o Irã melhoraram bastante, e a Rússia vem, gradativamente, adotando uma postura cada vez menos favorável a Israel.
A situação pode estar chegando a um ponto de ruptura - como o Irã não consegue usar os aeroportos sírios sem que eles sejam atacados por Israel, rumores cada vez mais persistentes apontam para a possibilidade de o Irã passar a usar bases militares russas na Síria para a movimentação de suas forças e envio de armas ao Hamas.
E aí entram as “perguntas de milhões de dólares”
Se a Rússia permitir que suas bases na Síria sejam usadas pelo Irã, Israel vai atacá-las ou não?
Israel vai passar a fornecer armas à Ucrânia?
Caso Israel ataque e/ou forneça armas à Ucrânia, qual será a reação da Rússia?
Caso a reação da Rússia ultrapasse um certo nível, qual será a reação dos EUA e outros players?
CONCLUSÃO
Como se pode ver, o que deveria ser mais uma rodada no conflito entre Israel e os terroristas do Hamas pode acabar degringolando para uma guerra generalizada no Oriente Médio. A situação não deixa de ser um desdobramento de outras guerras, principalmente a Guerra Russo-Ucraniana e a Guerra Civil da Síria.
Não há como prever as consequências de uma guerra de grande escala no Oriente Médio. Dependendo dos países envolvidos e de outros desdobramentos, a situação pode, rapidamente, acabar gerando uma “Terceira Guerra Mundial”, e não precisamos dizer o quanto isso pode ser terrível para todo o mundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário