Em 29 de outubro, a República da Türkiye celebrará o centenário de sua República, criada sobre as cinzas do Império Otomano, quando Mustafa Kemal, também conhecido como Atatürk, seu fundador e primeiro presidente, promoveu reformas radicais, da instauração do laicismo à introdução do alfabeto latino.
Aquele dia 29 de outubro de 1923 foi marcado pelo nascimento da nação turca por Mustafa Kemal Ataturk. Apesar do povo turco possuir uma história secular, muito mais antiga mesmo que o Império Otomano, que nos leva muito antes do ano de 1071, quando os primeiros turcos começaram a chegar à Anatólia, aliados aos persas, enfrentaram os bizantinos, oficialmente o que restava do Império Romano, na realidade um estado grego. Mas foi em 1299 que ocorreu a fundação do Império Otomano, sobre cujas cinzas se ergueu a moderna Turquia.
Durante seis séculos, o Império Otomano foi um colosso que se estendeu por três continentes. Argel chegou a fazer parte, assim como Budapeste ou Jerusalém. No auge, durante o século XVI, Solimão, "O Magnífico", os sultões governavam a partir da atual Istambul, antiga Constantinopla, dezenas de povos, muitos deles cristãos, com os gregos sobretudo a fornecerem muitas das elites. Era um império multinacional sem dúvida, mas a matriz turca é indesmentível. Na obra "Os Lusíadas", Camões por várias vezes lança a sua verve crítica sobre a potência que tenta desafiar no Índico os recém-chegados portugueses e refere-se aos turcos.
Claro que os turcos de hoje, tal como já os de 1923, não são meros descendentes dos cavaleiros vindos das estepes. A miscigenação foi muita ao longo dos séculos, como se comprova quando se comparam os rostos com os dos seus primos cazaques. Atatürk, nascido Mustafa Kemal, quando obrigou todos os cidadãos a adotar um nome de família escolheu para si aquele que muitas vezes é traduzido por "pai dos turcos" e, porém, significa "turco como os antepassados".
Grande modernizador, escolhendo o Ocidente como modelo, a trajetória de Kemal se confunde com a própria história da moderna Turquia, pelas reformas profundas que implantou em seu país, entre os grandes líderes da história, poucos conseguiram tanto em tão curto período, transformando a vida de uma nação de forma tão decisiva, endereçando a Turquia da era medieval para moderna.
Atatürk já era mundialmente conhecido desde 1915, por ter comandado as forças turcas que infligiu uma fragorosa derrota a então invencível frota naval inglesa e aliados, na batalha de Galípoli, destacando que a frota inglesa era comandada nada mais nada menos que por Winston Churchill, futuro herói da 2ª Guerra Mundial. O respeito adquirido nesta batalha, estabeleceu as bases para a vitória na guerra da Independência Turca e a consequente fundação da República oito anos mais tarde, sob seu comando.
O que restava do Império Otomano estava sendo dividido de acordo com os interesses das grandes potências, e Atatürk defendeu a criação do estado turco, o que resultou no terrível confronto entre turcos, gregos e armênios, que reivindicavam também partes da Anatólia, invocando o argumento da antiguidade. Ataturk venceu e isso foi um dos acontecimentos marcantes daquele Pós-Primeira Guerra Mundial, em que os nacionalismos se impuseram aos impérios derrotados e aos povos neles antes dominantes. Por exemplo, no Império Austro-húngaro, derrotado tal como o otomano, como resultado os austríacos ficaram reduzidos a um pequeno país, depois de rejeitado o seu pedido para integração a Alemanha, e os húngaros perderam dois terços do que consideravam o seu reino e viram milhões dos seus ficar sob governação estrangeira.
A Türkiye, sim, essa é a nova grafia do nome da Turquia, emerge como uma importante potência regional, detentora do segundo maior exército da OTAN e contando com uma forte base industrial de defesa, a qual é responsável por fornecer 80% dos meios e sistemas operados por suas forças armadas, desenvolvendo tecnologias próprias e se destacando no mercado internacional de defesa.
Parabenizamos o povo turco pelo centenário de sua república, forjada ao longo destes cem anos de determinação e patriotismo, sendo uma nação rica em tradições e história.
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