A Turquia pode adquirir caças europeus para fazer frente aos Rafale e F-16V gregos; como eles se comparam?
A Turquia tem uma longa e triste história de golpes militares, com a última tentativa séria acontecendo em 2016. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, escapou por pouco daquele que foi o levante mais sério contra seu governo.
Durante a tentativa, os sistemas de defesa antiaérea turcos não foram capazes de engajar os F-16 da TAF (Força Aérea Turca), em função dos sistemas IFF (identificação amigo-inimigo) não permitirem. Isso levou a que Erdogan buscasse os SAM (mísseis superfície-ar) S-400 russos, decisão que levou a uma grave degradação das relações com os EUA, que chegaram a expulsar a Turquia do programa F-35.
Isso levou a que a Turquia ficasse em uma situação delicada na TAF, especialmente depois que seu vizinho e grande rival, a Grécia, adquiriu um lote de Rafale franceses, além de atualizar sua frota de F-16 da HAF (Força Aérea grega) para o padrão F-16V.
A relação com os EUA segue estremecida, e embora pareça que os turcos vão conseguir alguns F-16V, o negócio ainda é incerto. Mesmo que consigam, é consenso geral que os F-16 estão no fim de suas possibilidades de desenvolvimento, além da necessidade de adquirir um caça moderno para fazer frente aos Rafale gregos.
Para complicar ainda mais a situação dos turcos, a Rússia está imersa em uma guerra sem fim em vista contra a Ucrânia, e já está com problemas para fornecer armas a usuários como Índia e Irã, portanto é bastante temerário depender dos russos para adquirir caças, e tal situação não deve ser revertida tão cedo.
É neste cenário que surgem propostas para que a Turquia adquira algum dos modernos “Eurocanards”, com propostas para os Eurofighter Typhoon e Dassault Rafale despontando em vários veículos de mídia.
Neste artigo, vamos falar um pouco sobre estes caças, e sobre a adequação de cada um à realidade turca.
DASSAULT RAFALE
O Rafale é o caça multifuncional francês mais moderno, e recentemente conquistou diversos novos clientes, incluindo o grande rival turco, a Grécia. Um total de mais de 300 Rafale já foram pedidos.
A Grécia já começou a receber seus Rafale (Dassault) |
Os Rafale turcos seriam equivalentes aos gregos, ou até melhores, já que os turcos provavelmente iriam adquiri-los já na última variante, a F4, que começou a ser entregue em 2023; os gregos receberam seus Rafale nas versões mais antigas F1 e F2, com alguns F3R. Não está claro se a HAF irá atualizar seus Rafale para o padrão F4.
O Rafale é um caça extremamente moderno, especialmente a variante F4. Apresenta um radar AESA (varredura eletrônica ativa), o conjunto OSF (optrônicos do setor frontal) com sensores passivos, e armas extremamente modernas.
O Rafale apresenta 14 hard points (pilones / estações para armas), sendo capaz de levar até 9,5 ton de armas e 4,7 ton de combustível internamente.
- WVR: mísseis de dogfight (Magic 2, MICA)
- BVR: mísseis de alcance além do visual (MICA, Meteor)
- ASM: munições ar-superfície (SCALP, AASM, Paveway, Exocet…)
- Drop tank: tanque descartável de combustível (1.250 ou 2.000 litros cada)
- Pods: Damocles (designação de alvos) ou Talios / Areos (reconhecimento)
- O pilone 7* (centerline traseiro) não está disponível na versão embarcada Rafale M
EUROFIGHTER TYPHOON
O Eurofighter, ao contrário do Rafale, foi desenvolvido por um consórcio de países (Inglaterra, Alemanha, Itália e Espanha).
Embora não tenha conquistado muitos clientes recentemente, o Eurofighter apresenta números mais expressivos que os Rafale, com mais de 600 pedidos no total.
O Eurofighter é tão moderno como o Rafale, e a partir do Tranche 3 podem receber radares AESA. A última variante é a Tranche 4, com usuários como a Espanha decidindo não apenas adquirir algumas unidades dos Tranche 4, mas também fazer upgrade de algumas unidades de variantes mais antigas.
Eurofighter britânico |
Legenda:
- WVR: mísseis de dogfight (IRIS-T, ASRAAM, Sidewinder)
- BVR: mísseis de alcance além do visual (AMRAAM, Meteor)
- ASM: munições ar-superfície (Storm Shadow, Taurus, Harpoon, Paveway, Brimstone…)
- Drop tank: tanque descartável de combustível (1.000 ou 1.500 litros cada)
- Pods: Litening (designação de alvos), Recce Lite (reconhecimento)
RAFALE VS EUROFIGHTER: CONSIDERAÇÕES PARA A TAF
Ao se avaliar um caça, não se deve focar apenas na aeronave em si, mas em tudo o que a envolve; o caça nada mais é que um vetor para armas e sensores, os efetores que irão, de fato, executar as missões.
Além disso, qualquer compra militar não se restringe apenas aos vetores e efetor, mas trata-se também de um conjunto de considerações geopolíticas e econômicas. Alianças serão feitas, desfeitas, fortalecidas e enfraquecidas com os programas de aquisição de sistemas, e tudo isso tem que ser levado em conta no momento de se decidir por um ou mais sistemas de armas.
Por exemplo, pesam contra o Rafale francês tanto o histórico de relações entre os dois países, especialmente em anos recentes, em questões importantes como o apoio a lados opostos na guerra civil líbia, e também em relação à soberania e direitos de navegação no Mediterrâneo, como a falta de costume dos turcos em operar sistemas franceses (por exemplo, a Turquia não operou nenhuma das versões dos Mirage).
O Eurofighter traz consigo suas próprias considerações. A primeira delas é o fato de ser construído por um consórcio de países. Embora isso tenha suas vantagens, traz também seus desafios. Um deles, que vem sendo recorrente no programa Eurofighter, é a dificuldade em fazer com que todos os membros do consórcio entrem em acordo quando é necessário, por exemplo, fazer uma atualização.
A indústria turca de armas é bastante moderna e ativa, e certamente será necessário ao fornecedor no novo caça incluir provisões para integrar armas nacionais. O Eurofighter começa com uma certa vantagem neste sentido, pois já é compatível com mísseis em uso pelos turcos, como o Sidewinder e o AMRAAM, mas é questionável que todos os membros do consórcio vão aceitar, com entusiasmo, as iniciativas turcas de integrar suas armas, o que significa que, em outro momento, vão concorrer com as próprias armas do consórcio nos caças de outros usuários.
Em relação a outros aspectos - capacidades dos sensores, alcances, agilidade, etc - as duas aeronaves são, de modo geral, equivalentes. Ambas foram usadas em ações reais, com bons resultados, embora, até o momento, nenhuma delas tenha sido empregada contra um inimigo de alto nível.
CONCLUSÃO
Após esta breve análise, pode-se observar que, embora ambos sejam caças modernos e eficientes, uma eventual escolha turca será decidida muito mais por questões políticas e econômicas do que técnicas.
Ademais, é necessário levar em consideração o momento delicado da economia turca, o que pode causar impactos no andamento do programa.
Outro ponto a se considerar é que a Turquia já tem seu caça avançado em desenvolvimento, o Kaan, portanto é necessário também entender melhor como a Turquia pretende operar os novos caças, se os adquirir, juntamente com os Kaan.
GBN Defense - A informação começa aqui!
0 comentários:
Postar um comentário