quarta-feira, 7 de junho de 2023

Ataque a Hidroelétrica - A guerra de narrativas em ação no conflito russo-ucraniano


Uma das grandes armas no cenário dos conflitos modernos, é a "Guerra de Narrativas", este advento nem tão novo assim, pois o controle de narrativas já é utilizado pela humanidade há milênios, porém, neste século, o emprego de novas tecnologias e o advento das redes sociais e a alta velocidade de propagação de notícias, tem transformado o controle da narrativa, como um efetivo meio empregado no hall da "Guerra Psicológica".

Como destacado pela citação atribuída ao dramaturgo da antiga Grécia, Ésquilo, "A primeira vítima da guerra é a verdade", isso é um fato inconteste que se confirma através dos séculos, que nos traz a este artigo, onde de maneira muito superficial exemplificaremos como a "Guerra de Narrativas" se insere no cenário moderno de operações psicológicas em conflitos modernos, servindo apenas como um aperitivo para uma série que ainda esta na mesa deste pesquisador e especialista em geopolítica e defesa, que pretende colocar em voga as questões que envolvem o emprego deste importante fator não só no campo de batalhas político, como das operações militares.

Hoje é evidente o poder dos meios de comunicação, que podem ser classificados como o "Quarto Poder" que rege uma nação e seus rumos, uma vez que estes detém capacidades e os meios de manipular a informação de acordo com sua agenda de interesses, seja através de mentiras e desinformação, ou subtração de fatos, procurando impor um pensamento único e a monocultura das mentes.

Temos alguns exemplos clássicos do poder desta "nova" arma massiva, que neste novo século, tem obtido resultados relevantes, com "cases" de destaque, como foi a ampla manipulação da informação levada a cabo pelos meios de comunicação de massa que antecederam a invasão do Iraque em 2003, propagando falsas notícias que apontavam que o Iraque possuía um vasto estoque de armas de destruição em massa, bem como que Saddam tinha ligações com grupos terroristas. Obvio, como a própria história e o tempo se encarregaram de comprovar, tais fatos não passaram de artimanhas para conquistar o apoio a uma operação de invasão do país árabe.

Mas, agora temos um exemplo interessante em tela, o qual tem como pano de fundo a invasão da Rússia a Ucrânia, com o recente ataque a Usina Hidroelétrica de Kakhovka, se tornando objeto de um confronto de narrativas em mais um dos diversos episódios deste conflito, o qual tem servido de uma rico "case" no que tange ao estudo da importância das operações que envolvem o emprego da "narrativa" como arma na propaganda de guerra de ambos os lados.

Após o resultado do ataque a Kakhovka, rapidamente ganharam destaque nas mídias versões divergentes apontando a autoria desta ação que tem sido classificada por muitos como um ato terrorista.

Segundo uma declaração feita pelo lado russo, o ataque a Usina Hidrelétrica de Kakhovka é resultante de bombardeio por parte dos ucranianos, conforme tem sido divulgado pelos meios de comunicação pró-Rússia.

“Vários ataque atingiram às duas horas da madrugada, a parte alta da central hidroelétrica, onde se encontram as válvulas, o que levou à sua destruição. Quanto à barragem em si, felizmente não foi destruída”, segundo relatos de Vladimir Leontyev, que ainda afirmou que o nível da água na província de Kherson em direção ao rio Dnieper aumentou como resultado da destruição parcial da usina hidrelétrica de Kakhovka em 2,5 metros.

Já a inteligência dos Estados Unidos aponta que a Rússia está por trás do ataque a central hidroelétrica na  Ucrânia. O que pela lógica estratégica justificaria o apontamento da ação como tendo partido da Rússia, uma que o aumento do fluxo das águas no rio Dnipro devido aos danos a barragem, beneficiaria a posição defensiva russa, pois o aumento no fluxo de água do rio Dnipro que separa as forças russas e ucranianas no sul da Ucrânia, desfavorece qualquer ação ucraniana contra as posições russas naquela região. 

Como resultado direto da inundação de parte da zona de guerra em que esta posicionado um dos elementos da ofensiva ucraniana, as operações tiveram de ser suspensas e forçado o recuo destes elementos, tendo como efeito colateral o impacto na população civil que tem sofrido diretamente o impacto desta ação, tendo de ser evacuada da região, com enormes perdas materiais e ainda se levanta o números de perdas civis decorrentes da inundação.

No momento, a Ucrânia acusa a Rússia de explodir a barragem de Nova Kakhovka, enquanto o Kremlin disse que foi a Ucrânia que sabotou a barragem.

Tudo aponta para a Rússia, porém, como citei no início deste artigo, estamos diante de um conflito onde um dos elementos mais empregados tem sido a "Guerra de Narrativas", o que nos coloca em uma posição muito desconfortável com relação ao apontamento de responsabilidades sem uma análise técnica e provas concretas que direcionem para o responsável pela autoria da ação, pois a guerra muitas vezes cobra altos preços, e escolhas difíceis e muitas vezes peças do tabuleiro tem de ser sacrificadas para se obter ganho na próxima jogada.

O massivo emprego dos meios de comunicação e a propaganda de ambos os lados, tem demonstrado a necessidade de se investir no preparo de nossas defesas para lidar como elementos de "Guerra Psicológica", como é a "guerra de narrativas" e o emprego dos meios de comunicação nos esforços de guerra.

Este cenário que se desenvolve no conflito russo-ucraniano, será melhor abordado nos próximos artigos, assim como a importância de se construir no Brasil, uma capacidade de resposta a ameaça representada pelo uso dos meios de comunicação como elemento de "guerra psicológica" no controle das massas através de narrativas, algo que já é usado nas disputas eleitorais no Brasil, e que faz necessário um debate franco e aberto sobre os riscos que tais ações representam a soberania brasileira. Contamos com a participação de nossos leitores e suas sugestões e comentários. 


Por Angelo Nicolaci

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