terça-feira, 9 de maio de 2023

Britânicos estão canibalizando o HMS "Prince of Wales"?

 

Recentemente, algumas mídias noticiaram que a Royal Navy (Marinha Britânica), estaria Canibalizando seu mais novo Navio Aeródromo (NAe), o HMS "Prince of Wales", no qual foram investidos cerca de 3 bilhões, sendo nave gêmea ao HMS "Queen Elizabeth". O fato publicado, passa uma informação incompleta, que induz o leitor a uma errada interpretação do cenário, sendo uma informação equivoca e que claramente se mostra fruto de alguém que desconhece os meandros navais e as praticas logísticas que envolvem os meios militares.

Entendendo o cenário 

 O HMS "Prince of Wales", cumpriu todas as etapas de aceitação, realizando todo protocolo de avaliações previstos nas "provas de mar" foi comissionado em dezembro de 2019, e declarado totalmente operacional em outubro de 2021, tendo enfrentado alguns problemas técnicos resultantes de alagamentos em determinados compartimentos, os quais foram sanados e reparados os danos.

O NAe britânico chegou a participar de alguns exercícios da OTAN, e se preparava para cruzar o Atlântico rumo aos EUA, onde participaria de uma série de exercícios navais com a USN (Marinha dos EUA), porém, uma pane envolvendo um acoplamento externo que conecta o eixo externo do hélice ao eixo de acionamento dos motores de propulsão falhou, e após avaliações mais aprofundadas do ocorrido, foram constatados danos significativos no eixo e no hélice, além de alguns danos superficiais ao leme. 

Tais danos resultaram na necessidade de dicar o NAe, afim de que fossem realizados os reparos necessários, e o planejamento dos trabalhos de reparos extraordinários, conhecidos aqui no Brasil como Período de Manutenção Extraordinária (PME), o qual já tem um cronograma pré-definido.

No entanto, recentemente, o HMS "Queen Elizabeth", navio gêmeo do "Prince of Wales", necessitou realizar alguns reparos extraordinários, o que demandou flexibilidade logística, afim de manter o Capitânia britânico, o menor tempo possível fora de operação.


Canibalismo ou Flexibilidade logística?

De acordo com o noticiado, o HMS "Queen Elizabeth", demandou a necessidade de substituição de alguns componentes, como: correntes dos elevadores e alguns dos sistemas avançados de filtro de combustível que alimentam seu conjunto propulsor composto por  turbina a gás.

Tal demanda, exigiria tempo para que tais componentes fossem disponibilizados pela cadeia logística, o que resultaria na necessidade de um longo período do NAe inoperante. Assim, a Royal Navy avaliou o cronograma de entrega de tais componentes, e o mesmo coincidiu com o período necessário para finalização dos serviços a bordo do HMS "Prince of Wales", sendo a solução mais lógica, transferir os componentes deste NAe para o "Queen Elizabeth", reduzindo o período de PME do Capitânia, diminuindo a lacuna na disponibilidade de seus NAes.

Essa prática esta longe de ser algo novo, ou absurda, sendo comum em várias marinhas ao redor do mundo, e não é de fato classificado como "canibalismo", e sim como flexibilização logística, pois ao se estudar os cronogramas de manutenção, e determinar o período necessário entre aquisição de material e conclusão de serviços, existe uma lógica racional, que prevê manter os meios disponíveis o quanto antes. Neste contexto, entra a lógica de transferência de componentes do meio que demanda maior tempo em manutenção, em prol de liberar os demais meios, não gerando impacto significativo na disponibilidade operacional.

Logo, concluímos que o caso envolvendo o "Prince of Wales", não se trata de Canibalização, uma vez que nesta prática, em geral não se prevê a restituição dos componentes ao meio doador, que geralmente está em vias de baixa nesta prática.

Concluindo

Ao "despojar" o "Prince of Wales" de alguns componentes em prol de se restabelecer a plena capacidade operacional do "Queen Elizabeth" em menor tempo, a Royal Navy demonstra pleno domínio de sua capacidade logística, uma vez que tal prática não resultará em atraso no cronograma de reparos previsto para o "Prince of Wales", que tem a previsão de retornar ao setor operativo ao fim deste ano de 2023.

Logo, é preciso ter cuidado ao ler determinados artigos e notícias, principalmente quando escritos por quem desconhece o setor naval e as práticas logísticas e operacionais do mesmo.

Nós estamos comprometidos a esclarecer nosso publico, agregando em conhecimento e informações precisas, elevando o nível da discussão a cerca da geopolítica e defesa.


Por Angelo Nicolaci





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