sexta-feira, 11 de novembro de 2022

A energia nuclear brasileira quer, deve e pode crescer


Encerrou-se nessa quinta (10/11) o XIII Seminário Internacional de Energia Nuclear, realizado na sede da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), no Centro da capital fluminense. Foram três dias de debates, palestras e mesas redondas, com renomados especialistas, sobre os temas mais relevantes do setor: meio ambiente, oportunidade de negócios, regulação, leis, cadeia de suprimentos, comunicação, criação de tecnologia, capacitação de mão de obra, apoio do mercado privado e do governo. O resumo: a energia nuclear brasileira quer, deve e tem condições para crescer, criar tecnologia, emprego e investimento de qualidade. Mas precisa de ap oio do governo, da iniciativa privada e de menos entraves burocráticos.

No último dia, foi realizado o 5º Encontro de Comunicação no Setor Nuclear, cujo objetivo foi encontrar caminhos para explicar os vários benefícios da energia nuclear e diminuir sua fama de vilã do meio ambiente. Segundo os especialistas que participaram do evento, a energia atômica é limpa, segura, pode e deve contribuir para a transição energética pela qual passa o planeta. “A energia nuclear é o aluno nota 10. É limpa, segura, mas não é bem aceita. A emissão de gases que ela causa é inferior ao da energia solar” disse Larissa Pinheiro, representante da ONG Mulheres do Setor Nuclear, e CEO da startup Radion.

Larissa trouxe notícias preocupantes a respeito do futuro do clima no planeta. Explicou que o grande problema é a velocidade do dano que está sendo causado à atmosfera. Durante a pandemia, quando a Terra praticamente parou, Larissa conta que a emissão de COfoi reduzida em apenas 5%. E 75% dessa emissão tem origem na produção de energia. A melhoria na eficiência da comunicação foi uma das estratégias defendidas por Larissa. “Mudança climática é sobre a qualidade de vida das pessoas. E a energia nuclear pode contribuir”, disse.

No debate “Sustentabilidade no centro da comunicação do setor nuclear”, mediado pela jornalista Tânia Malheiros, o jornalista e consultor editorial na Plataforma Megawhat, Rodrigo Polito, concordou com Larissa. A questão da comunicação é fundamental para o desenvolvimento da energia nuclear brasileira. Mas ela deve ser diferente e dinâmica. O modelo tradicional não vai funcionar. “Há um caminho positivo para a energia nuclear por causa dos problemas que enfrentamos com o clima. Se a batalha é a mudança climática, não há como não considerá-la”, argumentou Rodrigo.

Desconhecimento traz fama de má à energia nuclear

A assessora de comunicação do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), Ana Paula Artaxo, avalia que o tema atrai a imprensa quando acontece algo negativo, como acidentes. Ela analisa que o período da pandemia, porém, reafirmou a importância da ciência para grande parcela da população. Ana concorda que a comunicação é um dos caminhos necessários, mas defende a inclusão da educação científica no currículo escolar. “Uma imagem sacra foi recuperada com tratamento de raios gama. A energia nuclear também ajuda a preservar a memória de um país. Ela está no dia a dia. É pela familiaridade que vamos cons eguir comunicá-la ao cidadão”, opina.


Vamos conseguir segurar o aquecimento global, no melhor cenário, na meta de 1,50C?, pergunta o diretor de Estratégia Nuclear Global da Clean Air Task Force, Carlos Leipner. Ele crê que, por mais que façamos na contenção de carbono, o futuro não é muito promissor. O mundo precisa de cada vez mais energia. E nossa dependência de combustíveis fósseis permanece em 80%, depois de 20 anos de investimentos em insumos alternativos. O desafio é enorme e requer agressividade, diz. Carlos pondera que a ferramenta da energia nuclear não é a única que temos na caixa, mas ela não pode ser ignorada. “Em uma década, a França mudou a sua matriz de e nergia. Cerca de 70% vêm de usinas nucleares. Então é possível, caso se queira investir”, disse.




Fusão nuclear no Brasil?

Quase ninguém sabe que no Brasil há um grupo trabalhando com fusão nuclear. O lamento é do moderador do Painel “A era da fusão nuclear”, o coordenador técnico da Amazul, Leonardo Dalaqua. Mas há. Gustavo Paganinni Canal, do Laboratório de Física de Plasmas do Instituto de Física (IF/USP) explica que o trabalho está previsto no Programa de Fusão Nuclear, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, que reúne 25 pesquisadores de diversas áreas. A ideia é desenvolver tudo no Brasil, sem trazer nada do exterior. Desenvolver tecnologia nacional. Já há projetos desenvolvidos, prontos para o mercado, mas a indús tria nacional resiste. “O desenvolvimento de bobinas supercondutoras é crucial para a fusão nuclear, mas também é de grande interesse para outras áreas. O mundo hoje investe US$ 4,8 bilhões na pesquisa de fusão nuclear; 2% são públicos, o restante é privado” calcula.

Participaram do XIII SIEN, entre outros, o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Paulo Alvim, representantes da ABDAN (Associação Brasileira para Desenvolvimento de Atividades Nucleares), o Vice Diretor Geral e Chefe do Departamento de Energia Nuclear da Agência Internacional de Energia Nuclear - AIEA, Mikhail Chudakov, os presidentes da ENBPar, Ney Zanella, da CNEN, Paulo Roberto Pertusi, da Eletronuclear, Eduardo de Souza Grivot Grand Court, da NUCLEP, Carlos Seixas; e da INB, Carlos Freire, além do Diretor Técnico da Amazul, Carlos Alberto Matias, do diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração, Raul Jungmann, e o especialista da gerência de Petróle o, Gás e Naval da Firjan Savio Bueno Guimarães.

Fonte Primeira Linha 





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