sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Aviação Naval - Conheça as cinco fases e confira como foi a comemoração dos 106 anos desta incrível saga


No último dia 23 de agosto, a Aviação Naval brasileira completou 106 anos, data que marca o pioneirismo da Marinha do Brasil, sendo a primeira a operar aeronaves militares no Brasil, por conta desta célebre data, ocorreu nesta sexta-feira (26) na Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia (BAeNSPA), Região dos Lagos do estado do Rio de Janeiro, o cerimonial alusivo ao 106º aniversário da Aviação Naval, evento ao qual estivemos presentes e compartilhamos aqui com você leitor. 


Antes de falarmos sobre o evento, é importante entender um pouco sobre como tudo começou, lá nos idos de 1916, com a criação da Escola de Aviação Naval pela Marinha no dia 23 de agosto daquele ano, dando início a esta centenária saga, a qual se dividi em 5 fases, as quais foram apresentadas durante a leitura da “Ordem do Dia”, e vamos compartilhar um pouco desta história com você leitor.




A primeira fase da Aviação Naval

Compreendida no período entre 1916 e 1941, ficou marcada pela atitude visionária da Marinha do Brasil, que identificou a Aviação no emprego do poder naval, como uma importante capacidade a ser desenvolvida e explorada, o que não só garantiu a introdução da aviação militar no país, mas impulsionou o desenvolvimento das atividades aéreas por aqui. Além da criação da Escola de Aviação Naval, o período foi marcado pelo transporte da primeira mala aérea civil e militar, sendo o embrião do que viria a originar o Correio Aéreo Nacional (CAN).

Apesar de muito pouco se falar no meio acadêmico, e mesmo nos livros de história, a Aviação Naval Brasileira esteve presente no teatro de operações aéreas durante a Primeira Guerra Mundial, integrando o 10° Grupo de Operações da Royal Air Force, onde aviadores navais brasileiros realizaram missões reais de patrulha aérea.

Porém, no dia 20 de janeiro de 1941, com a criação da Força Aérea Brasileira (FAB), um decreto transferiu todas aeronaves, equipamentos e pessoal envolvidos nas operações aéreas militares, tanto da Marinha do Brasil, como do Exército Brasileiro, para a recém-criada Força Aérea Brasileira, com isso vimos o final da primeira fase da Aviação Naval no Brasil, com a extinção tanto da “Aviação Naval”, como da “Aviação do Exército”.

Mas os avanços nas doutrinas do emprego do poder naval, associado a capacidade e poder que a aviação embarcada demonstrou durante a Segunda Guerra Mundial, principalmente no teatro de operações do Pacífico, onde os navios-aeródromos demonstraram uma verdadeira mudança no teatro de operações navais, com as aeronaves embarcadas ganhando grande destaque na capacidade de esclarecimento e ataque, o que provou a necessidade de se ter uma aviação embarcada para apoio dos navios no mar. 

 

Foto: Marinha do Brasil

A segunda fase da Aviação Naval

Diante dos avanços experimentados durante a 2ª Guerra Mundial, conforme já elencamos acima, se viu a importância e a necessidade do renascimento da “Aviação Naval”, no ano de 1952, portanto após um intervalo de onze anos, ressurge a Aviação Naval, dando início à sua segunda fase, com a criação da Diretoria de Aeronáutica da Marinha, prevista na Leitura nº1658, de 04 de agosto de 1952, que estabelecia uma nova organização administrativa para o Ministério da Marinha, assim se reconhecia a necessidade da Marinha voltar a contar com uma Aviação Naval Orgânica.

Nesta nova fase foi preciso um grande empenho e determinação por parte da Marinha do Brasil, momento no qual assistimos a uma reestruturação nas Forças Armadas. Era necessário recomeçar praticamente do zero, pois a aviação naval havia evoluído bastante desde que fora extinta no Brasil em 1941. Com a recriação da Diretoria de Aeronáutica da Marinha, muito trabalho e estudos foram realizados, resultando na criação em 27 de maio de 1955, do Centro de Instrução e Adestramento Aeronaval (CIAAN), que iria formar nossos Aviadores e o pessoal de manutenção das aeronaves.

Dando sequência a retomada da aviação naval, o Aviso Nº 3327, de 03 de dezembro de 1954, criou a Especialidade de Observador Aéreo Naval (OAN), que teria suas instruções aprovadas pelo Aviso Nº 1720 de 27 de junho de 1955. Assim no dia 1º de março de 1956, iniciava-se o primeiro curso de Observador Aéreo Naval (OAN).

Naquele momento, ainda estava sendo estabelecida toda infraestrutura necessária, as instalações do CIAAN ainda estavam sendo preparadas, então, no primeiro momento toda parte teórica era ministrada na Diretoria de Aeronáutica da Marinha, e após a conclusão da parte teórica, os oficiais alunos foram matriculados no Aeroclube do Brasil, onde iniciaram a instrução primária de pilotagem, que foi inicialmente ministrada nos CAP-4 Paulistinha, Piper PA-20, Fairchild PT-19 e outros aeronaves daquela instituição.

Mas em janeiro de 1957, o CIAAN já estava instalado na Av. Brasil, com o primeiro curso de OAN sendo realizado a bordo do CIAAN em fevereiro do mesmo ano, iniciava-se o primeiro curso regular de OAN nas novas instalações, e no ano seguinte desembarcavam no Brasil os primeiros helicópteros da nossa Marinha, dois Westland WS-52 Widgeon Mk-2, que foram imediatamente utilizados na instrução de voo dos oficiais já formados no curso de OAN em 1958. Entre 1959 e 1961, o CIAAN incorporou novos Bell-Kawazaki 47G e Bell 47D, destinados a instrução de voo, sendo mais adequado para essa função que o WS-52 Widgeon.



O ápice da segunda fase foi marcado pela chegada ao Brasil do Navio-Aeródromo Ligeiro “Minas Gerais”, em 1961. Neste mesmo ano foi criado o Comando da Força Aeronaval e iniciaram-se as operações em São Pedro da Aldeia. Essa fase, contudo, se encerra no ano de 1965, quando através de um Decreto Presidencial, a Marinha passou a ser restrita à operar aeronaves de asa rotativa, sendo a operação de aeronaves de asa-fixa exclusividade da FAB, inclusive a bordo do NAeL Minas Gerais.


A Terceira Fase da Aviação Naval

Em 1965, a Marinha do Brasil passou a operar exclusivamente aeronaves de asa rotativa, cedendo suas aeronaves de asa-fixa para a FAB, em contrapartida, recebeu helicópteros antissubmarino SH-34. Neste momento, a Marinha do Brasil era uma das poucas marinhas do mundo que operavam com helicópteros embarcados, sendo capaz de operar mesmo no período noturno, e empregando meios aéreos em navios de porte relativamente pequeno.

A terceira fase foi marcada por um período de grande desenvolvimento na doutrina e capacidade de emprego de aeronaves de asa rotativa a bordo de navios. Foram criados novos esquadrões e adquiridos novos meios aéreos, foram muitos sacrifícios, e nossos aviadores navais enfrentaram muitas adversidades até que fosse alcançado o patamar de grande excelência e versatilidade que hoje conhecemos, são 106 anos de muita dedicação, profissionalismo e garra.

 


A Quarta fase – O retorno da asa-fixa

Após mais de trinta anos restrita apenas a operar aeronaves de asas-rotativas, no ano de 1998 a Marinha do Brasil reconquista o direito de opera aeronaves de asa-fixa a bordo de seu NAeL Minas Gerais.

Aeronaves A-4KU Skyhawk foram adquiridos do Kuwait, e iniciava-se, assim, a quarta fase da aviação naval, com o Brasil passando a fazer parte do seleto grupo de países com capacidade de operar aeronaves de alta performance a partir de navios aeródromos, e não parou por aí, em 2001 chegava ao Brasil o NAe São Paulo, novo navio-aeródromo que garantiria maior performance as aeronaves AF-1 Skyhawnk, que permaneceu no setor operativo até 2017, quando foi descomissionado. 

Ainda nesta fase, chegou ao Brasil em 2018, o Porta-Helicópteros Multipropósito (PHM) “Atlântico”, que representou um enorme ganho no que diz respeito a capacidade de operações aéreas embarcadas, sendo posteriormente renomeado, passando a ser denominado Navío-Aeródromo Multipropósito (NAM) “Atlântico”, em acordo com estudos que visam o emprego no futuro próximo de Sistemas Aéreos Remotamente Pilotados (SARP) de asa-fixa no convoo do novo capitânia brasileiro.



Chegamos a Quinta Fase

Neste ano que completam-se 106 anos desta verdadeira saga, a Aviação Naval embarca em sua quinta fase, com a ativação do seu 1º Esquadrão de Aeronaves Remotamente Pilotadas, dando o primeiro passo no emprego desta nova e tão avançada tecnologia, que dá início a criação de toda uma nova doutrina e capacidade para realizar missões de inteligência, vigilância e reconhecimento, sendo apenas o primeiro passo, conforme as palavras do Comandante da Marinha durante sua coletiva, na qual citou que embora tenhamos demorado a dar esse passo, hoje é uma realidade, e o “ScanEagle” é apenas o primeiro meio do tipo, já havendo estudos no sentido de se obter novas aeronaves remotamente pilotadas (ARP), as quais sejam capazes de operar a bordo do NAM “Atlântico”, e desempenhar novas funções, elevando o nível tecnológico e o poder naval brasileiro.

Além do SARP, essa nova fase marca um importante processo de modernização e incorporação de novas capacidades e tecnologias, projetando a Força Aeronaval ao “estado da arte”, condizente com as exigências do desafiador teatro de operações navais modernas.

 

A comemoração dos 106 anos

Neste ano, a cerimônia militar em comemoração ao aniversário da Aviação Naval foi realizada nesta sexta-feira (26). O evento aberto com Hino Nacional Brasileiro, teve a leitura da “Ordem do Dia”, ocasião em que o Comandante da Marinha, Almirante de Esquadra Almir Garnier Santos, ressaltou as conquistas e feitos ao longo destes 106 anos da Aviação Naval, seguido de uma passagem de duas aeronaves AF-1 Skyhawk.



Após este momento, o Comandante da Força Aeronaval, Contra-Almirante Augusto José da Silva Fonseca Junior, em seu discurso falou sobre novos incrementos a capacidade da Força Aeronaval, que receberá em breve mais dois exemplares do AH-15B Super Cougar, variante do H225M capaz de realizar ataques contra alvos de superfície, com capacidade de lançar mísseis Exocet AM39 B2M2, contando ainda com sistema “CHAFF & FLARE”, radar tático APS-143 e equipamento FLIR Star Safire III, todos integrados ao sistema de gerenciamento de dados táticos de missão (N-TDMS), além de ser capazes de atuar em missões de busca e salvamento e apoio a ações humanitárias. O C.Alte Fonseca Júnior também citou que deve ser concluído em breve o programa de modernização dos helicópteros AH-11B Wild Lynx.



Houve a cerimônia de entrega dos Diplomas do Mérito Aeronaval aos agraciados e a concessão de Láureas de Segurança de Aviação.



O ápice do evento foi o desfile, aberto com Hino da Marinha do Brasil, “Canção do Cisne Branco”, o qual foi entoado enquanto militares das Organizações Militares (OM) que compõe a Força Aeronaval, desfilaram, no céu em simultâneo ocorreu o desfile aéreo, onde foi possível vislumbrar um exemplar de cada tipo hoje em operação com nossa Aviação Naval, encerrando o evento com uma coletiva do Comandante da Marinha, Almirante de Esquadra Almir Garnier Santos, as mídias especializadas em defesa presentes ao cerimonial, a qual em breve iremos publicar aqui no GBN Defense.



Estiveram presentes diversas autoridades civis e militares, o Comandante da Marinha, Almirante de Esquadra Almir Garnier Santos, o Comandante de Operações Navais, Almirante de Esquadra Marcos Sampaio Olsen, o Comandante da Força Aeronaval, Contra-Almirante Augusto José da Silva Fonseca Junior, Almirante de Esquadra José Augusto Vieira da CUNHA de Menezes da Diretoria-Geral do Material da Marinha (DGMM), entre outras autoridades.



“No Ar, Os Homens do Mar!!!”,

“Um Viva a Marinha Invicta de Tamandaré”



por Angelo Nicolaci



Agradeço ao apoio prestado pela ComSoc do ComForAerNav, que nos recebeu a bordo e nos possibilitou acompanhar toda cerimônia, além de nos transmitir pontos importantes para concepção deste trabalho.

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