quarta-feira, 4 de maio de 2022

Reviravolta: comprador da ITA desiste do negócio


Na última terça-feira (03), foi anunciado que a Baufaker Consulting, empresa que no mês passado investiu R$ 180 milhões na compra da Itapemirim S/A, desistiu do negócio. Saiba como eles chegaram até aqui.

Após o baque em 2020, o lucro das 290 empresas listadas na B3 (bolsa de valores brasileira) mais do que triplicou em 2021, alta de 235%. Apesar disso, enquanto CEO’s e presidentes de grandes negócios viram o faturamento disparar no último ano, outros trilharam um caminho completamente oposto. No mesmo período, 622 empresas decretaram falência no Brasil. E o cenário para 2022 pode ser ainda pior, de acordo com a projeção divulgada pela Euler Hermes, líder mundial em seguro de crédito, quase 3 mil empresas estão com risco de insolvência.
 

Diante das estatísticas, a advogada Juliana Biolchi, diretora geral de um dos primeiros escritórios do País a se especializar em recuperações extrajudiciais, explica que grandes empresas não caem somente por forças externas, como pensa a maioria. “Decisões equivocadas, transição geracional e falta de planejamento são os elementos que compõem a fórmula perfeita para o declínio das organizações”, alerta. Ela defende que, por mais que uma empresa seja líder de mercado, seu gestor precisa entender que está vulnerável o tempo todo.
 

Não foi o caso da brasileira Itapemirim S/A, ou simplesmente ITA, uma das maiores e mais tradicionais empresas de transporte rodoviário da América Latina e que ingressou no mercado da aviação. Em meio à pior crise do setor aéreo gerada pela Covid-19, o grupo anunciou, em 2020, que lançaria sua própria companhia aérea. A notícia repercutiu em todo País e até autoridades do alto escalão do Governo Federal comemoraram. A promessa de voos com preços muito abaixo da concorrência gerou altas expectativas. O que ninguém esperava era que o declínio viria tão rápido, apenas 6 meses.
 

Em dezembro do ano passado, a ITA foi notificada pelo Procon-SP para prestar esclarecimentos sobre a interrupção dos voos. Na época, do dia para a noite, 514 viagens ficaram sem futuro definido. “Eles começaram as atividades com frotas e operações em aeroportos bem abaixo do anunciado. As passagens eram muito inferiores, se comparadas às de seus concorrentes e, além disso, soube-se, também, que o grupo acumula uma dívida bilionária desde 2016, quando entrou com um pedido de recuperação judicial”, explica.
 

No dia 13 de abril, a aérea foi vendida para a Baufaker Consulting por R$180 milhões. Mas, a transação não foi suficiente para apaziguar a situação e, no dia 20 de abril, o caso tomou uma proporção ainda maior. A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), emitiu um comunicado suspendendo todas as 96 linhas de ônibus da empresa, seu braço mais forte. Nesta terça-feira (03), a compradora desistiu do negócio.
 

Assim como a gigante Itapemirim, centenas de promessas nacionais protagonizaram o mesmo fim. Para Juliana, é possível elencar os erros mais comuns de gestores, que prejudicam a saúde financeira das empresas, mas que poderiam ser evitados se fossem antecipados e revertidos. Confira como esse acúmulo para o fim progride e coloca em risco a existência das companhias:
 

  • Distanciar-se da realidade do mercado

Perder a capacidade de entender os comportamentos do mercado, costuma ser um primeiro passo em falso. "Sucesso, muitas vezes, gera excesso de confiança, o que é muito perigoso. Um líder equivocado pode levar seu negócio para a ruína praticamente sozinho, e, com a rapidez da roda da história na atualidade, em um curto espaço de tempo”, acredita a especialista.
 

  • Querer mais do que pode gerenciar

Inovação é importante, mas é preciso ter cuidado quando a decisão é entrar em um mercado ou setor que a empresa não domina. Esses movimentos, em geral, comprometem as margens e, com isso, o resultado. “Evite abraçar o mundo. Mantenha o foco na geração de caixa, na qualidade do produto ou na prestação de serviço”, reforça.
 

  • Não enfrentar os problemas

Se os resultados das escolhas são negativos, muitos gestores insistem em procurar culpados externos, como a crise econômica ou uma nova lei que foi sancionada pelo governo. “É comum, ainda, buscar paliativos que não resolvem o quadro, como reorganizar o organograma da empresa, quando a principal questão, que mais contribui para comprometer o resultado, está na precificação equivocada, por exemplo. A raiz do problema é ignorada”, comenta.
 

  • Buscar soluções mágicas

Quando os problemas acumulados começam a pesar, o gestor entra num processo constante de busca “da solução definitiva”, esquecendo que não há uma só medida capaz de reverter o declínio, senão um conjunto bem estruturado delas. “O milagre do investidor, por exemplo, é uma das mais comuns formas de auto-engano neste ponto da evolução do quadro”, considera Juliana.
 

  • Entregar o jogo

Após tantas tentativas de encontrar soluções geniais que não funcionam, o desgaste e a desmotivação se generalizam. Não raro, quando chega nesse ponto, o time perde a moral; e, a empresa, o valor de mercado, enquanto seus gestores se limitam a vender as ações para tentar escapar do naufrágio. “Quando a perspectiva de revitalização vai embora, a companhia perde sua identidade e se torna uma triste lembrança do que já foi um dia”, enfatiza.
 

O que fazer?

Quanto mais cedo a empresa identificar que sua performance está comprometida, melhor. “Agindo com planejamento, cautela e estratégias bem definidas, é possível prevenir ou reverter o declínio”, garante a especialista. Ter em mente que nenhum planejamento bem estruturado dará retorno imediato e organizar a empresa para uma atuação qualificada a médio e longo prazo, ciente dos riscos, também é fundamental para entender a realidade em que o empreendimento está inserido.
 

Para auxiliar no processo de revitalização de empresas, a Biolchi criou o Portal de Renegociação Extrajudicial e o Observatório Brasileiro de Recuperações Extrajudiciais (Obre), um banco de dados nacional sobre recuperações extrajudiciais que tem por objetivo gerar informações importantes que dão respaldo para a tomada de decisão. “É gratuito, funcional e pode ser usado por qualquer gestor”, explica Juliana Biolchi, diretora geral do escritório.
 


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com informações da PressFC


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