Neste mês de maio, o Comando da Força de
Fuzileiros da Esquadra (ComFFE) realizou um grande exercício de adestramento de
suas tropas, com foco nas capacidades expedicionárias e o emprego de seus
grupamentos operativos em ambiente ribeirinho, com a maior manobra do tipo já
realizada no estado de Minas Gerais, com a terceira edição da “Operação Furnas”,
que ocorreu entre os dias 12 e 18 de maio na cidade de São José da Barra – MG,
e mais uma vez o GBN Defense esteve a bordo para acompanhar de perto o
desenvolvimento desta manobra, em mais uma missão realizada pelo nosso editor
Angelo Nicolaci, que traz para você leitor sobre as atividades de
nossas tropas e a novidades que foram implementadas neste exercício.
A missão começou logo cedo, as 7hrs da manhã
do dia 12 de maio, com nossa chegada a bordo do 3º Batalhão de Infantaria de
Fuzileiros Navais, o “Batalhão Paissandu”, de onde partimos rumo ao teatro de
operações, cruzando mais de 600km de estradas até a localidade mineira de São
José da Barra, foram mais de 16 horas de trajeto, ombreando as tropas que
participaram da Adest-OpRib Furnas 2022, ou “Operação Furnas 2022”.
O
contingente exato envolvido no adestramento, chegou ao número de 709 militares,
com a participação de grupamentos operativos oriundos de 13 Organizações
Militares (OM), reunindo Operações Especiais (ComAnf), Batalhão de Combate
Aéreo, Força Aeronaval e a Infantaria, que em conjunto desempenharam as mais
variadas atividades propostas pelo Tema Tático que deu as diretivas ao exercício
de adestramento em operações ribeirinhas. Nas palavras do CMG (FN) Max Guilherme de Andrade e Silva (Comandante do
GruCon-FFE), “O Comando e Controle para
juntar essas unidades e fazer com que essas engrenagens funcionassem de maneira
sinérgica, foi o maior desafio para nós”...
Toda
manobra de adestramento realizada pela nossa Marinha do Brasil, começa pelo
menos um ano antes das tropas e meios efetivamente serem deslocados para zona
de exercícios, tendo como ponto de partida a elaboração do contexto no qual as
atividades serão desenvolvidas e os objetivos a serem alcançados, sendo o “Tema
Tático”, o ponto chave do exercício, e este é elaborado com apoio do Comando de
Desenvolvimento Doutrinário (CDD). Para elaboração do Tema Tático, é necessário
que o Comando estabeleça os marcos a serem alcançados pelos envolvidos no
adestramento, e como ponto de partida são estabelecidos os requisitos, objetivos
e proficiência que pretende-se alcançar com o exercício, daí o Comando de
Desenvolvimento Doutrinário (CDD) em coordenação com o Grupo de Controle da
Força De Fuzileiros da Esquadra (GruCon-FFE), montam o cenário sob o qual serão
desenvolvidas todas as atividades, assim é estabelecido o Tema Tático, o qual
irá direcionar todas as ações no terreno balizadas pelos requisitos de
adestramento que a FFE pretende alcançar.
Apesar de
toda complexidade que está envolvida em uma manobra desta magnitude, tirar do
papel tudo que foi estabelecido pelo CDD e o GruCon-FFE, para colocar em
prática, não é um desafio para nossa Força de Fuzileiros da Esquadra, a qual é
por vocação expedicionária, contando com uma grande capacidade de pronta
resposta, composta por grupamentos operativos que tem por característica a
mobilidade e capacidade de pronto emprego onde e quando se faça necessário,
apoiados por uma capacidade logística eficiente provida pelo Batalhão Logístico
de Fuzileiros Navais (BtlLogFuzNav), o qual o GBN
Defense conhece muito bem e já acompanhou importantes atividades deste que é o
ponto chave da capacidade expedicionária de nossa Força de Fuzileiros. A
estrutura que conta com o Componente de Comando, Componente Terrestre,
Componente de Combate Aéreo e Componente de Apoio ao Serviço de Combate, uma estrutura
que conforme já citamos, tem como base a capacidade de pronto emprego,
capacidade expedicionária e a capacidade anfíbia, formando o conjugado anfíbio
que torna possível a mobilização e realização de inúmeras tarefas com as mais
variadas complexidades dentro um variado leque de cenários que podem ser
desenvolvidos, e a musculatura desta capacidade é repetidamente exercitada em
diversas manobras e adestramentos realizados ao longo do ano, seguindo sempre o
que reza o “Tema Tático” afim de alcançar os objetivos estabelecidos para qualificação
da tropa.
A escolha de Furnas como localidade
das atividades desenvolvidas pelo Adest-OpRib Furnas 2022, se
deve as inúmeras possibilidades de emprego que o cenário propicia, possuindo
uma massa d’água quatro vezes maior que a Baía de Guanabara, região conhecida
como “Mar de Minas”, com uma importante similaridade ao cenário encontrado nas
regiões ribeirinhas do Brasil, torna viável a realização de um vasto número de
atividades inerentes as operações fluviais e ribeirinhas, aprestando as tropas
e facilitando a qualificação em diversas modalidades, como foi o caso da
prática de Salto Livre Operacional (SLOP) sobre massa d’água, exercício que não
era desenvolvido há um longo período devido as características deste tipo de
atividade, que realizado sobre o mar, leva ao desgaste prematuro dos
equipamentos envolvidos nesta atividade, algo que não ocorre quando esta
atividade é feita em água doce.
O cenário
de Furnas também propiciou a consolidação de uma nova doutrina de emprego, com o
conceito da Base Aérea Expedicionária tomando forma na prática, onde foi
aproveitado a estrutura do aeródromo de Furnas, desativado desde julho de 2011,
o local conta com uma pista de 1.700m de comprimento por 30m de largura, um
pequeno hangar e uma torre desativada, os quais foram ocupados inicialmente
pelas forças especiais, que simularam uma tomada do local, estabelecendo a
posição e garantindo a segurança do perímetro para que as equipes do Batalhão
de Combate Aéreo (BtlCmbAe), que tem entre suas atribuições a montagem e
operação da Base Aérea Expedicionária, mobiliassem o local e tornassem possíveis
operações aéreas a partir daquele local e o controle aéreo da zona de interesse
abrangida pelo exercício Furnas 2022.
O trabalho
do BtlCmbAe não é fácil, o qual enfrenta inúmeros desafios para cumprir seu
papel e prover instalações e a segurança do voo, conforme nos contou seu
comandante, o CMG (FN)
Wagner Grund Marinho, que destacou os desafios logísticos que envolvem por
exemplo, transportar e alocar o combustível para as aeronaves, trasladar todo
material e o pessoal necessário para montar e operar a BAE, e isso inclui
também o pessoal de controle das aeronaves e
de controle de voo, assim como toda logística de sustentação ao voo: abastecimento
e manutenção de aeronaves, orientação em solo. Outro desafio envolve a
capacitação do pessoal que irá operar a BAE, neste quesito são selecionados e
enviados um grupo de militares para realizar cursos de capacitação em controle
de voo junto a FAB e outras instituições, para garantir maior eficiência e
segurança ao se desdobrar meios aéreos em qualquer ponto do território nacional
e mesmo no exterior se assim for exigido. Após o BtlCmbAe dar o pronto nas
instalações e ativar a BAE, e á hora da chegada dos meios aéreos destacados, os
quais são incumbidos de prestar apoio aéreo aproximado, apoiar a infiltração de
forças especiais, transporte de tropas, reconhecimento e ataque a supostas
posições inimigas.
O
Destacamento Aéreo presente na “Operação Furnas 2022”, foi composto por duas
aeronaves UH-15 “Super Cougar” do 2º Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral
(EsqdHU-2 “Pégasus”), uma aeronave UH-12 “Esquilo” do 1º Esquadrão de Helicópteros
de Emprego Geral (EsqdHU-1 “Águia”), que realizaram as mais variadas missões
tanto de dia, como de noite.
Neste
conceito ficou marcante a grande capacidade de se desdobrar e operar em
segurança meios aéreos em zonas de interesse da Força Naval, uma importante
amostra da sinergia entre o Comando da Força Aeronaval (ComForAerNav) e o
Comando da Força de Fuzileiros da Esquadra (ComFFE), através da operação de
unidades aéreas e apoio as operações terrestres e ribeirinhas, bem como a
proteção oferecida pelo contingente terrestre as operações aéreas (como por
exemplo, a operação de mísseis
superfície-ar MSA Mistral na defesa aérea das
instalações).
A partir
da Base Aérea Expedicionária (BAE) também foram lançadas operações de
reconhecimento com aeronaves remotamente pilotadas (ARP), as quais realizavam
missões de esclarecimento e monitoramento do teatro de operações, no qual
durante um dos cenários desenvolvidos, localizou e acompanhou o movimento de “forças
inimigas” possibilitando uma pronta resposta a ameaça, apoiando a cadeia de
comando e controle tanto nas ações progressivas como defensivas, sendo um
importante ativo as operações do componente terrestre e forças especiais, uma
importante capacidade no moderno campo de batalhas do século XXI.
Já na
localidade conhecida como “Prainha”, a Força de Fuzileiros da Esquadra realizou
um grande número de oficinas e atividades de adestramento e qualificação dos
envolvidos nesta edição da “Operação Furnas 2022”, onde conversamos com
Comandante do 3º Batalhão de Infantaria de Fuzileiros Navais, “Batalhão
Paissandu”, o CMG (FN) Casquilho, que
nos contou um pouco sobre a atuação do seu batalhão neste adestramento de
operações ribeirinhas, o qual deslocou um contingente de cerca de 200 militares
para o adestramento. Entre os desafios em ambiente ribeirinho, ele destacou que
o próprio ambiente operacional é um desafio, com a predominância de rios, e o
ambiente aquático é desafiador para se manter um alto nível operacional das
tropas, pois exige muito dos militares que operam neste ambiente.
Nós acompanhamos diversas
oficinas promovidas para capacitação da infantaria, dentre elas conhecemos um
pouco sobre as características da “Natação Utilitária” e as técnicas de
transposição que são em geral empregadas pelas tropas no ambiente ribeirinho, como
por exemplo, a
técnica “Espinha de Peixe”, esta possibilita que as tropas transporte através
de rios, lagos ou qualquer corpo d’água seu equipamento por longas distâncias,
já a técnica “Pelota” também empregada em transposição de longas distâncias,
utiliza matérias encontrados na região, como galhos, bambus, troncos e mesmos
folhas, que são empregados para aumentar a flutuabilidade de materiais mais
pesados transportados pelos militares, já a técnica de “Cabo Submerso” é
utilizada para transposição de distâncias mais curtas, auxiliando o militar a
atravessar com maior velocidade e segurança, sendo a “Natação Utilitária” de
extrema importância na qualificação do militar que opera no ambiente
ribeirinho, permitindo ao militar se deslocar bem no ambiente aquático, e nos
batalhões e unidades são muito empregados os adestramentos de “natação
utilitária” para numa situação como essa o militar precisa estar pronto para
nadar com seu equipamento e a vestimenta, o que dificulta bastante.
Também
foram realizadas oficinas de Patrulha Fluvial e Desembarque Ribeirinho, duas
práticas fundamentais para o emprego de tropas neste ambiente operacional, o
preparo começa ainda nos batalhões de infantaria, culminando em manobras como a
“Operação Furnas”, ocasião em que se recebe instrução em campo, abordando
pontos importantes, como orientação, onde os militares se qualificam a fazer a
partir de uma embarcação a orientação no terreno utilizando de pontos notáveis.
Os militares do Batalhão Paissandu participaram de várias oficinas e
qualificações, como Escola de Embarcações de Transporte de Tropas (ETT), onde
receberam instruções sobre as particularidades de operar e manutenir esse meio,
conhecendo suas limitações e pontos fortes, técnicas de desembarque ribeirinho,
nesta foram simulados assaltos ribeirinhos e resposta a emboscadas, Escola de Embarcações
de Desembarque Pneumáticas (EDPN) esse curso ministrado por militares do
Batalhão Tonelero (ComAnf), a própria natação utilitária que já foi citada
anteriormente, técnicas de infiltração por meio aéreo com técnica de rapel e helocasting,
tudo isso para capacitar ao máximo as tropas de maneira a alcançar o máximo de
eficiência em operações no ambiente ribeirinho, concluindo a prontificação do
Batalhão Paissandu como Força de Emprego Rápido da Força de Fuzileiros da
Esquadra.
Ainda na “Prainha”
ocorreram variados exercícios e oficinas voltados a qualificação de operadores
das forças especiais, os famosos Comandos Anfíbios do Batalhão Tonelero, dentre
os objetivos do exercício, estavam o incremento do expertise em infiltração
aérea e aquática, principalmente noturna, para alcançar este objetivo foram
realizados adestramentos com técnicas de
infiltração através com apoio de meios aéreos, com técnicas de “Rapel”, “Helocasting”
e “Tetheared Duck”, onde praticaram primeiro a luz do dia e depois de capacitados,
os operadores realizaram a qualificação noturna, atingindo um dos objetivos
previstos. Foram objetos de qualificações variadas modalidades de mergulho com
equipes de mergulhadores. Outro importante objetivo elencado foi a aplicação
dos Elementos de Operações Especiais (ElmOpEsp) na estrutura do Grupamento de
Operações Especiais (GOpEsp), que consistiu em fazer o Batalhão trabalhar como
Estado-Maior, detalhando ainda mais as demandas de operações especiais e
tirando um pouco da preocupação do comandante de grupamento operativo de
realizar a parte de preparação das operações especiais, deixando essa parte
para o GOpEsp e passando a se concentrar diretamente na execução da missão em
si.
Foram
realizadas diversas ações de comandos, onde vários cenários foram simulados,
desde a tomada de posições inimigas, passando pelo controle de acesso a áreas
de interesse, bem como ações de reconhecimento, infiltração através de salto
livre operacional com apoio tanto de aeronaves como o UH-15 “Super Cougar” como
UH-12 “Esquilo”. O comandante do Batalhão Tonelero, CMG (FN) Aristone, nos recebeu em suas
instalações e apresentou um pouco sobre as atividades realizadas e as inovações
implementadas neste exercício.
A “Operação
Furnas 2022” também representou um importante ganho ao preparo das tripulações
que operam o Carro sobre Largarta Anfíbio (CLAnf) do Batalhão de
Viaturas Anfíbias (BtlVtrAnf), os quais tiveram a oportunidade de
operar no ambiente ribeirinho, que apresenta desafios e características
completamente diferentes do que se encontra nas operações de desembarque
anfíbio comumente realizadas na costa, realizando o movimento navio-terra
abicando em praias e avançando sobre terra. Neste novo cenário, as
tripulações tiveram de lidar com obstáculos comuns as operações fluviais, as características
dos barrancos nas encostas de rios e lagos, além da flutuabilidade e demais
características ribeirinhas.
O
CLAnf é um meio que oferece a tropa capacidade de transposição de obstáculos e
proteção aos seus ocupantes, além de garantir poder de fogo durante o assalto
ribeirinho dentre outras qualidades, e conversamos com o Tenente De Oliveira,
que nos contou um pouco mais sobre a atuação do CLAnf neste ambiente
operacional, e será publicado em nosso próximo artigo.
As
tropas também foram adestradas em conjunto com a Delegacia Fluvial de Furnas,
com a realização de oficinas sobre Visita e Inspeção de embarcações, recebendo
instruções sobre as técnicas de abordagem e revista de embarcações, assim como
procedimentos em caso de desacato ou resistência por parte dos ocupantes da
embarcação a ser abordada pelo Grupo de Visita e Inspeção (GVI) que pode
resultar no emprego do Grupo de Presa (GP), este entrando em ação caso seja
necessário conduzir a embarcação e sua tripulação as autoridades no porto.
O
Ápice da “Operação Furnas 2022”, ocorreu no dia 16 de maio, quando foi
realizada a Demonstração Operativa (DemOp), ocasião na qual fora apresentado as
autoridades civis e militares presentes, como também a população local, uma
simulação que demonstrou o emprego prático de tudo que foi realizado durante a
manobra, contando até mesmo com duas passagens de aeronaves AF-1 Skyhawk do
Esquadrão VF-1 “Falcão”, que simularam duas surtidas de ataque e apoio aéreo
aproximado em apoio as tropas em solo, vetorados pelo Guia Aéreo Avançado (GAA),
atividade que abordaremos em nossos próximos artigos. Os presentes tiveram uma
pequena amostra da magnitude de tudo que foi realizado ali em São José da Barra
neste curto período de adestramento, mas que foi suficiente para qualificar
nossas tropas para operar neste que é um dos importantes biomas brasileiros.
Após a DemOp, foi realizada uma coletiva com a mídia presente, com a mesa formada pelo Comandante de Operações Navais, Alte.Esq. Marcos Sampaio Olsen, o Comandante da Força de Fuzileiros da Esquadra, V.Alte Carlos Chagas, Comandante do 1° Distrito Naval, V.Alte Eduardo Machado Vazquez, e o Delegado Fluvial de Furnas, Capitão de Corveta Hebert Bruno da Cunha França, que falaram sobre a presença da Marinha em Furnas com esta terceira manobra, a qual é a maior do tipo já realizada no estado de Minas Gerais, e responderam as perguntas dos jornalistas.
O Alte.Esq Marcos Sampaio Olsen, ainda assistiu demonstrações noturnas e na manhã seguinte embarcou rumo ao Rio de Janeiro, embarcando numa aeronave King Air pertencente ao governo de Minas, a qual pousou na Base Aérea Expedicionária, demonstrando mais uma vez a capacidade de operações aéreas da FFE, sendo capaz de operar tanto aeronaves de asas rotativas, como de asa fixa.
Nós
realizamos diversas entrevistas e retornamos com a bagagem cheia de
conhecimentos e informações, os quais o leitor em breve poderá disfrutar em
nossos próximos artigos e matérias.
Por Angelo Nicolaci
GBN Defense - A informação começa aqui
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