quarta-feira, 25 de maio de 2022

Operação Furnas 2022 - O GBN esteve no "Mar de Minas" e acompanhou cada detalhe do maior exercício já realizado em MG



Neste mês de maio, o Comando da Força de Fuzileiros da Esquadra (ComFFE) realizou um grande exercício de adestramento de suas tropas, com foco nas capacidades expedicionárias e o emprego de seus grupamentos operativos em ambiente ribeirinho, com a maior manobra do tipo já realizada no estado de Minas Gerais, com a terceira edição da “Operação Furnas”, que ocorreu entre os dias 12 e 18 de maio na cidade de São José da Barra – MG, e mais uma vez o GBN Defense esteve a bordo para acompanhar de perto o desenvolvimento desta manobra, em mais uma missão realizada pelo nosso editor Angelo Nicolaci, que traz para você leitor sobre as atividades de nossas tropas e a novidades que foram implementadas neste exercício.


A missão começou logo cedo, as 7hrs da manhã do dia 12 de maio, com nossa chegada a bordo do 3º Batalhão de Infantaria de Fuzileiros Navais, o “Batalhão Paissandu”, de onde partimos rumo ao teatro de operações, cruzando mais de 600km de estradas até a localidade mineira de São José da Barra, foram mais de 16 horas de trajeto, ombreando as tropas que participaram da Adest-OpRib Furnas 2022, ou “Operação Furnas 2022”.

O contingente exato envolvido no adestramento, chegou ao número de 709 militares, com a participação de grupamentos operativos oriundos de 13 Organizações Militares (OM), reunindo Operações Especiais (ComAnf), Batalhão de Combate Aéreo, Força Aeronaval e a Infantaria, que em conjunto desempenharam as mais variadas atividades propostas pelo Tema Tático que deu as diretivas ao exercício de adestramento em operações ribeirinhas. Nas palavras do CMG (FN) Max Guilherme de Andrade e Silva (Comandante do GruCon-FFE), “O Comando e Controle para juntar essas unidades e fazer com que essas engrenagens funcionassem de maneira sinérgica, foi o maior desafio para nós”...


Toda manobra de adestramento realizada pela nossa Marinha do Brasil, começa pelo menos um ano antes das tropas e meios efetivamente serem deslocados para zona de exercícios, tendo como ponto de partida a elaboração do contexto no qual as atividades serão desenvolvidas e os objetivos a serem alcançados, sendo o “Tema Tático”, o ponto chave do exercício, e este é elaborado com apoio do Comando de Desenvolvimento Doutrinário (CDD). Para elaboração do Tema Tático, é necessário que o Comando estabeleça os marcos a serem alcançados pelos envolvidos no adestramento, e como ponto de partida são estabelecidos os requisitos, objetivos e proficiência que pretende-se alcançar com o exercício, daí o Comando de Desenvolvimento Doutrinário (CDD) em coordenação com o Grupo de Controle da Força De Fuzileiros da Esquadra (GruCon-FFE), montam o cenário sob o qual serão desenvolvidas todas as atividades, assim é estabelecido o Tema Tático, o qual irá direcionar todas as ações no terreno balizadas pelos requisitos de adestramento que a FFE pretende alcançar.


Apesar de toda complexidade que está envolvida em uma manobra desta magnitude, tirar do papel tudo que foi estabelecido pelo CDD e o GruCon-FFE, para colocar em prática, não é um desafio para nossa Força de Fuzileiros da Esquadra, a qual é por vocação expedicionária, contando com uma grande capacidade de pronta resposta, composta por grupamentos operativos que tem por característica a mobilidade e capacidade de pronto emprego onde e quando se faça necessário, apoiados por uma capacidade logística eficiente provida pelo Batalhão Logístico de Fuzileiros Navais (BtlLogFuzNav), o qual o GBN Defense conhece muito bem e já acompanhou importantes atividades deste que é o ponto chave da capacidade expedicionária de nossa Força de Fuzileiros. A estrutura que conta com o Componente de Comando, Componente Terrestre, Componente de Combate Aéreo e Componente de Apoio ao Serviço de Combate, uma estrutura que conforme já citamos, tem como base a capacidade de pronto emprego, capacidade expedicionária e a capacidade anfíbia, formando o conjugado anfíbio que torna possível a mobilização e realização de inúmeras tarefas com as mais variadas complexidades dentro um variado leque de cenários que podem ser desenvolvidos, e a musculatura desta capacidade é repetidamente exercitada em diversas manobras e adestramentos realizados ao longo do ano, seguindo sempre o que reza o “Tema Tático” afim de alcançar os objetivos estabelecidos para qualificação da tropa.


A escolha de Furnas como localidade das atividades desenvolvidas pelo Adest-OpRib Furnas 2022, se deve as inúmeras possibilidades de emprego que o cenário propicia, possuindo uma massa d’água quatro vezes maior que a Baía de Guanabara, região conhecida como “Mar de Minas”, com uma importante similaridade ao cenário encontrado nas regiões ribeirinhas do Brasil, torna viável a realização de um vasto número de atividades inerentes as operações fluviais e ribeirinhas, aprestando as tropas e facilitando a qualificação em diversas modalidades, como foi o caso da prática de Salto Livre Operacional (SLOP) sobre massa d’água, exercício que não era desenvolvido há um longo período devido as características deste tipo de atividade, que realizado sobre o mar, leva ao desgaste prematuro dos equipamentos envolvidos nesta atividade, algo que não ocorre quando esta atividade é feita em água doce.


O cenário de Furnas também propiciou a consolidação de uma nova doutrina de emprego, com o conceito da Base Aérea Expedicionária tomando forma na prática, onde foi aproveitado a estrutura do aeródromo de Furnas, desativado desde julho de 2011, o local conta com uma pista de 1.700m de comprimento por 30m de largura, um pequeno hangar e uma torre desativada, os quais foram ocupados inicialmente pelas forças especiais, que simularam uma tomada do local, estabelecendo a posição e garantindo a segurança do perímetro para que as equipes do Batalhão de Combate Aéreo (BtlCmbAe), que tem entre suas atribuições a montagem e operação da Base Aérea Expedicionária, mobiliassem o local e tornassem possíveis operações aéreas a partir daquele local e o controle aéreo da zona de interesse abrangida pelo exercício Furnas 2022.


O trabalho do BtlCmbAe não é fácil, o qual enfrenta inúmeros desafios para cumprir seu papel e prover instalações e a segurança do voo, conforme nos contou seu comandante, o CMG (FN) Wagner Grund Marinho, que destacou os desafios logísticos que envolvem por exemplo, transportar e alocar o combustível para as aeronaves, trasladar todo material e o pessoal necessário para montar e operar a BAE, e isso inclui também o pessoal de controle das aeronaves e de controle de voo, assim como toda logística de sustentação ao voo: abastecimento e manutenção de aeronaves, orientação em solo. Outro desafio envolve a capacitação do pessoal que irá operar a BAE, neste quesito são selecionados e enviados um grupo de militares para realizar cursos de capacitação em controle de voo junto a FAB e outras instituições, para garantir maior eficiência e segurança ao se desdobrar meios aéreos em qualquer ponto do território nacional e mesmo no exterior se assim for exigido. Após o BtlCmbAe dar o pronto nas instalações e ativar a BAE, e á hora da chegada dos meios aéreos destacados, os quais são incumbidos de prestar apoio aéreo aproximado, apoiar a infiltração de forças especiais, transporte de tropas, reconhecimento e ataque a supostas posições inimigas.


O Destacamento Aéreo presente na “Operação Furnas 2022”, foi composto por duas aeronaves UH-15 “Super Cougar” do 2º Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral (EsqdHU-2 “Pégasus”), uma aeronave UH-12 “Esquilo” do 1º Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral (EsqdHU-1 “Águia”), que realizaram as mais variadas missões tanto de dia, como de noite.


Neste conceito ficou marcante a grande capacidade de se desdobrar e operar em segurança meios aéreos em zonas de interesse da Força Naval, uma importante amostra da sinergia entre o Comando da Força Aeronaval (ComForAerNav) e o Comando da Força de Fuzileiros da Esquadra (ComFFE), através da operação de unidades aéreas e apoio as operações terrestres e ribeirinhas, bem como a proteção oferecida pelo contingente terrestre as operações aéreas (como por exemplo, a operação de mísseis superfície-ar MSA Mistral na defesa aérea das instalações).

A partir da Base Aérea Expedicionária (BAE) também foram lançadas operações de reconhecimento com aeronaves remotamente pilotadas (ARP), as quais realizavam missões de esclarecimento e monitoramento do teatro de operações, no qual durante um dos cenários desenvolvidos, localizou e acompanhou o movimento de “forças inimigas” possibilitando uma pronta resposta a ameaça, apoiando a cadeia de comando e controle tanto nas ações progressivas como defensivas, sendo um importante ativo as operações do componente terrestre e forças especiais, uma importante capacidade no moderno campo de batalhas do século XXI.


Já na localidade conhecida como “Prainha”, a Força de Fuzileiros da Esquadra realizou um grande número de oficinas e atividades de adestramento e qualificação dos envolvidos nesta edição da “Operação Furnas 2022”, onde conversamos com Comandante do 3º Batalhão de Infantaria de Fuzileiros Navais, “Batalhão Paissandu”, o CMG (FN) Casquilho, que nos contou um pouco sobre a atuação do seu batalhão neste adestramento de operações ribeirinhas, o qual deslocou um contingente de cerca de 200 militares para o adestramento. Entre os desafios em ambiente ribeirinho, ele destacou que o próprio ambiente operacional é um desafio, com a predominância de rios, e o ambiente aquático é desafiador para se manter um alto nível operacional das tropas, pois exige muito dos militares que operam neste ambiente.


Nós acompanhamos diversas oficinas promovidas para capacitação da infantaria, dentre elas conhecemos um pouco sobre as características da “Natação Utilitária” e as técnicas de transposição que são em geral empregadas pelas tropas no ambiente ribeirinho, como  por exemplo, a técnica “Espinha de Peixe”, esta possibilita que as tropas transporte através de rios, lagos ou qualquer corpo d’água seu equipamento por longas distâncias, já a técnica “Pelota” também empregada em transposição de longas distâncias, utiliza matérias encontrados na região, como galhos, bambus, troncos e mesmos folhas, que são empregados para aumentar a flutuabilidade de materiais mais pesados transportados pelos militares, já a técnica de “Cabo Submerso” é utilizada para transposição de distâncias mais curtas, auxiliando o militar a atravessar com maior velocidade e segurança, sendo a “Natação Utilitária” de extrema importância na qualificação do militar que opera no ambiente ribeirinho, permitindo ao militar se deslocar bem no ambiente aquático, e nos batalhões e unidades são muito empregados os adestramentos de “natação utilitária” para numa situação como essa o militar precisa estar pronto para nadar com seu equipamento e a vestimenta, o que dificulta bastante.


Também foram realizadas oficinas de Patrulha Fluvial e Desembarque Ribeirinho, duas práticas fundamentais para o emprego de tropas neste ambiente operacional, o preparo começa ainda nos batalhões de infantaria, culminando em manobras como a “Operação Furnas”, ocasião em que se recebe instrução em campo, abordando pontos importantes, como orientação, onde os militares se qualificam a fazer a partir de uma embarcação a orientação no terreno utilizando de pontos notáveis. Os militares do Batalhão Paissandu participaram de várias oficinas e qualificações, como Escola de Embarcações de Transporte de Tropas (ETT), onde receberam instruções sobre as particularidades de operar e manutenir esse meio, conhecendo suas limitações e pontos fortes, técnicas de desembarque ribeirinho, nesta foram simulados assaltos ribeirinhos e resposta a emboscadas, Escola de Embarcações de Desembarque Pneumáticas (EDPN) esse curso ministrado por militares do Batalhão Tonelero (ComAnf), a própria natação utilitária que já foi citada anteriormente, técnicas de infiltração por meio aéreo com técnica de rapel e helocasting, tudo isso para capacitar ao máximo as tropas de maneira a alcançar o máximo de eficiência em operações no ambiente ribeirinho, concluindo a prontificação do Batalhão Paissandu como Força de Emprego Rápido da Força de Fuzileiros da Esquadra.


Ainda na “Prainha” ocorreram variados exercícios e oficinas voltados a qualificação de operadores das forças especiais, os famosos Comandos Anfíbios do Batalhão Tonelero, dentre os objetivos do exercício, estavam o incremento do expertise em infiltração aérea e aquática, principalmente noturna, para alcançar este objetivo foram realizados  adestramentos com técnicas de infiltração através com apoio de meios aéreos, com técnicas de “Rapel”, “Helocasting” e “Tetheared Duck”, onde praticaram primeiro a luz do dia e depois de capacitados, os operadores realizaram a qualificação noturna, atingindo um dos objetivos previstos. Foram objetos de qualificações variadas modalidades de mergulho com equipes de mergulhadores. Outro importante objetivo elencado foi a aplicação dos Elementos de Operações Especiais (ElmOpEsp) na estrutura do Grupamento de Operações Especiais (GOpEsp), que consistiu em fazer o Batalhão trabalhar como Estado-Maior, detalhando ainda mais as demandas de operações especiais e tirando um pouco da preocupação do comandante de grupamento operativo de realizar a parte de preparação das operações especiais, deixando essa parte para o GOpEsp e passando a se concentrar diretamente na execução da missão em si.


Foram realizadas diversas ações de comandos, onde vários cenários foram simulados, desde a tomada de posições inimigas, passando pelo controle de acesso a áreas de interesse, bem como ações de reconhecimento, infiltração através de salto livre operacional com apoio tanto de aeronaves como o UH-15 “Super Cougar” como UH-12 “Esquilo”. O comandante do Batalhão Tonelero, CMG (FN) Aristone, nos recebeu em suas instalações e apresentou um pouco sobre as atividades realizadas e as inovações implementadas neste exercício.




A “Operação Furnas 2022” também representou um importante ganho ao preparo das tripulações que operam o Carro sobre Largarta Anfíbio (CLAnf) do Batalhão de Viaturas Anfíbias (BtlVtrAnf), os quais tiveram a oportunidade de operar no ambiente ribeirinho, que apresenta desafios e características completamente diferentes do que se encontra nas operações de desembarque anfíbio comumente realizadas na costa, realizando o movimento navio-terra abicando em praias e avançando sobre terra. Neste novo cenário, as tripulações tiveram de lidar com obstáculos comuns as operações fluviais, as características dos barrancos nas encostas de rios e lagos, além da flutuabilidade e demais características ribeirinhas.


O CLAnf é um meio que oferece a tropa capacidade de transposição de obstáculos e proteção aos seus ocupantes, além de garantir poder de fogo durante o assalto ribeirinho dentre outras qualidades, e conversamos com o Tenente De Oliveira, que nos contou um pouco mais sobre a atuação do CLAnf neste ambiente operacional, e será publicado em nosso próximo artigo.


As tropas também foram adestradas em conjunto com a Delegacia Fluvial de Furnas, com a realização de oficinas sobre Visita e Inspeção de embarcações, recebendo instruções sobre as técnicas de abordagem e revista de embarcações, assim como procedimentos em caso de desacato ou resistência por parte dos ocupantes da embarcação a ser abordada pelo Grupo de Visita e Inspeção (GVI) que pode resultar no emprego do Grupo de Presa (GP), este entrando em ação caso seja necessário conduzir a embarcação e sua tripulação as autoridades no porto.

O Ápice da “Operação Furnas 2022”, ocorreu no dia 16 de maio, quando foi realizada a Demonstração Operativa (DemOp), ocasião na qual fora apresentado as autoridades civis e militares presentes, como também a população local, uma simulação que demonstrou o emprego prático de tudo que foi realizado durante a manobra, contando até mesmo com duas passagens de aeronaves AF-1 Skyhawk do Esquadrão VF-1 “Falcão”, que simularam duas surtidas de ataque e apoio aéreo aproximado em apoio as tropas em solo, vetorados pelo Guia Aéreo Avançado (GAA), atividade que abordaremos em nossos próximos artigos. Os presentes tiveram uma pequena amostra da magnitude de tudo que foi realizado ali em São José da Barra neste curto período de adestramento, mas que foi suficiente para qualificar nossas tropas para operar neste que é um dos importantes biomas brasileiros.

Após a DemOp, foi realizada uma coletiva com a mídia presente, com a mesa formada pelo Comandante de Operações Navais, Alte.Esq. Marcos Sampaio Olsen, o Comandante da Força de Fuzileiros da Esquadra, V.Alte Carlos Chagas, Comandante do 1° Distrito Naval, V.Alte Eduardo Machado Vazquez, e o Delegado Fluvial de Furnas, Capitão de Corveta Hebert Bruno da Cunha França, que falaram sobre a presença da Marinha em Furnas com esta terceira manobra, a qual é a maior do tipo já realizada no estado de Minas Gerais, e responderam as perguntas dos jornalistas.


O Alte.Esq Marcos Sampaio Olsen, ainda assistiu demonstrações noturnas e na manhã seguinte embarcou rumo ao Rio de Janeiro, embarcando numa aeronave King Air pertencente ao governo de Minas, a qual pousou na Base Aérea Expedicionária, demonstrando mais uma vez a capacidade de operações aéreas da FFE, sendo capaz de operar tanto aeronaves de asas rotativas, como de asa fixa.


Nós realizamos diversas entrevistas e retornamos com a bagagem cheia de conhecimentos e informações, os quais o leitor em breve poderá disfrutar em nossos próximos artigos e matérias.


Por Angelo Nicolaci


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