Como em todo conflito, a primeira vítima fatal é a verdade e transparência, o que torna o mesmo uma vasto campo para semeadura de fake news, sendo a guerra de narrativas uma importante arma desde os primórdios da humanidade. Após a notícia de um "incêndio grave" a bordo do "Moskva" pela Rússia, as forças ucranianas se apressaram em assumir a responsabilidade pelo ocorrido, alegando que teria atingido o flagship (capitânia) da Frota do Mar Negro com mísseis "Neptune", contrapondo a declaração russa que que um incêndio a bordo no paio de munições teria causado a perda do navio. Algumas fontes levantam outras suposições, como detonação de uma mina de contato contra o casco do navio, até a suposta ação de mergulhadores de combate, essa última dificilmente possível.
Apesar de não termos imagens ou informações mais precisas sobre o que aconteceu a bordo do "Moskva", podemos dizer que o principal ativo no afundamento do "Moskva" foi a própria tripulação, tenha sido um ataque de mísseis, uma mina de contato ou o suposto incidente no paiol de munições, é certo que mais de 50% da responsabilidade recai sobre a tripulação, principalmente quando o meio encontra-se operando sob ameaça inimiga.
Um navio de tamanha importância e dotado de diversos meios de contra-medida e defesa não seria um "alvo fácil", como teria sido se for confirmado o ataque por mísseis ucranianos, se a tripulação estivesse alerta e consciente das condições reais de risco em que operavam, pois há um fator chave para este tipo de atitude, a superestima de suas capacidades e subestimar o inimigo. Em qualquer cenário que esteja inserido, toda e qualquer possível ameaça deve ser considerada, a tripulação deve estar 24 horas em postos de combate e monitorando todo e qualquer contato dentro de seu perímetro de defesa, mesmo que aparentemente o inimigo não apresente-se como ameaça, não se pode subestimar a capacidade e ousadia inimiga. O mesmo se dá no caso de um suposto incidente no paiol de munições, onde toda atenção deve ser redobrada e protocolos de segurança devem ser seguidos a risca.
Não sabemos quem afundou o "Moskva", mas podemos afirmar que o que afundou o capitânia do Mar Negro com certeza foi o despreparo e excesso de confiança, aliados a uma visão míope do cenário no qual estava inseridos. Agora a Ucrânia mesmo que não tenha sido a responsável pelo afundamento do navio, embora tudo aponte realmente para ela como responsável, os russos terão de lidar com um punhal cravado no seu peito, o que irá com certeza atingir a moral dos seus combatentes em terra e no mar.
Os russos não seriam os primeiros a perder meios de grande valor por despreparo de suas tripulações, a história tem vários exemplos disso, seja por ação inimiga ou despreparo para lidar com incidentes no mar, como podemos citar o afundamento do ARA General Belgrano pelos britânicos durante a Guerra das Malvinas, ou o incêndio a bordo do USS Forrestal durante as operações na Guerra do Vietnã, este último causado por um foguete acidentalmente disparado no convoo.
A Marinha do Brasil treina constantemente suas tripulações para lidar com os mais variados cenários, e mesmo com diversas limitações devido aos equipamentos hoje operados, a mesma consegue obter expressivos resultados quando participa de exercícios internacionais, o que corrobora para o preparo e capacitação de nossas tripulações. Mas fica uma importante pergunta: Os russos estavam realmente prontos para enfrentar a Ucrânia? Os fatos falam por si, com resultados negativos e grandes perdas materiais e de pessoal, fica claro que Moscou não colocou em suas considerações anteriores a invasão, a possibilidade de reação e resistência por parte da Ucrânia, ignoraram o que o milenar estrategista Sun Tzu sabiamente escreveu há séculos atrás, e acharam que o povo ucraniano iria simplesmente abaixar a cabeça e se submeter as forças russas invadindo suas "casas", o sucesso na Crimeia deu uma falsa visão à Rússia sobre quem realmente é o povo ucraniano.
por Angelo Nicolaci
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