Neste artigo, pretendo falar um pouco sobre a importância dos investimentos contínuos nos programas estratégicos brasileiros, aqui em especial abordando o PROSUB, programa o qual conheço e acompanho de perto desde seu início, sendo urgente a conscientização de nossos representantes no congresso e senado no que diz respeito a manutenção do orçamento destinado a nossa Defesa, sob a pena de se perder bilhões já investidos em capacitação técnica e obtenção de tecnologias, além de representar mais um fracasso a coleção interminável de projetos e programas que foram vitimados pela falta de visão e consciência geopolítica e estratégica de nossos representantes, muitos dos quais não tem o minimo conhecimento do papel e importância destes programas para nossa economia, desenvolvimento e posicionamento global. Para isso recomendo aos mesmos buscarem capacitação junto a instituições como a Escola Superior de Defesa em Brasília, a qual oferece uma vasto leque de cursos e capacitações voltados para expandir o conhecimento a cerca da defesa e a importância estratégica para nosso país.
Antes de falar do programa em si, é preciso situar você leitor no cenário em que se insere esta necessidade estratégica, afinal, não adianta falarmos de meios sem expor a necessidade que nos conduziu a sua concepção, bem como o objetivo fim de se obter novos submarinos, desenvolvendo a capacidade de construção e operação de meios com propulsão nuclear.
O Brasil é uma das poucas nações que congrega os três fatores que classificam uma nação gigante, conforme o conceito formulado pelo diplomata e cientista político norte-americano George Kennan, que são: Área Territorial, Economia e População. Na convergência destes três fatores, temos além do nosso Brasil, apenas outros quatro países, EUA, China, Rússia e Índia, ou seja, dos cinco países gigantes, contando com Brasil quatro são membros do BRICS, e nós temos ainda diversos fatores econômicos, naturais e reservas minerais estratégicas, como a 6ª maior reserva de Urânio do mundo, onde apenas prospectamos 25% do território, além de mais de 90% da produção mundial de Nióbio, o que nos coloca em posição de destaque frente aos principais players mundiais, despertando a atenção e cobiça internacional.
Observando nosso entorno estratégico, temos boas relações com nossos vizinhos, com fronteiras terrestres devidamente estabelecidas e reconhecidas, além de não haver nenhum país com potencial militar capaz de representar ameaça ao nosso território, isso caso houvesse uma escalada que culminasse em confronto armado. Antes que venham falar de Venezuela, cabe aqui esclarecer que a mesma não possui capacidade militar de atacar diretamente o Brasil, por mais que alguns jogadores de super-trunfo defendam que a mesma opera aeronaves Su-30 ou sistemas de defesa aérea S-300 de origem russa, a doutrina de emprego, o preparo das tropas e o cenário geopolítico não tornam viável qualquer aventura venezuelana além dos discursos de seu ditador.
Porém, a ameaça ao nosso país vem do mar, pois qualquer dos hipotéticos cenários de conflito, envolvem atores externos, oriundos do hemisfério norte, com intuito de tomar o controle de nossa Amazônia e seus valiosos recursos minerais, hídricos e biológicos, sob a possível justificativa de "proteger" a floresta contra o desmatamento. É neste cenário que se apresenta a grande importância do PROSUB, pois umas das vantagens estratégicas de meios submarinos é a negação de mar, a dissuasão pelo alto custo que pode representar ao invasor e sua esquadra a ameaça representada por submarinos, principalmente os de propulsão nuclear, dada suas características ímpares.
O PROSUB
O programa estratégico da Marinha do Brasil, trata-se de um programa de estado, onde é garantida a continuidade do mesmo independente das mudanças no Planalto, não se trata de um feito político deste ou daquele governo, mas fruto da competência, perseverança e visão estratégica do comando de nossa Marinha, que vem há décadas mantendo em seu horizonte a importância do programa nuclear para defesa de nossa soberania e o desenvolvimento do Brasil.
Almirante Alvaro Alberto |
O Programa Nuclear da Marinha (PNM) teve inicio em 1979, tendo como propósito o domínio do ciclo do combustível nuclear e desenvolver e construir uma planta nuclear de geração de energia elétrica.
O Programa teve importantes marcos na década de 80, porém, nos idos anos 90, se viu esvaziado de recursos e praticamente descontinuado por falta de recursos orçamentários, o que só veio a mudar em 2008, quando foi assinado um acordo com a França, afim de conceber a capacitação técnica necessárias para dar prosseguimento no programa de submarinos nucleares pelo Brasil. A França foi o único país disposto a colaborar com a empreitada brasileira, apesar de não transferir qualquer tecnologia voltada ao sistema de propulsão nuclear, se limitando as estruturas do casco de pressão e demais assessórios do navio. Foi então que nasceu o PROSUB.
O Objetivo Principal
Para muitos a obtenção por construção de um submarino convencional de propulsão nuclear, trata-se de um longevo sonho brasileiro, o qual já foi acompanhado por algumas gerações de oficiais da Marinha do Brasil, superando quatro décadas, o desafio é sustentado pelos visionários estrategistas brasileiros, os quais enfrentam além das dificuldades orçamentárias e desafios técnicos, a própria opinião pública, que mal informada por uma mídia alienada, desconhecem a importância que tal programa representa a nossa nação nos mais variados campos sociais, econômicos e científicos.
O PROSUB como já citamos, é um programa ambicioso, que não busca apenas a construção de um submarino de propulsão nuclear, mas traz junto toda uma infraestrutura, capacitação técnica e domínio tecnológico, os quais permitirão o avanço em outros programas de cunho cívil e de defesa.
Atualmente, a previsão para conclusão do nossos primeiro SN-BR (Submarino Nuclear Brasileiro) é 2034, porém, não há ainda exatidão, com o cronograma podendo ser novamente dilatado de acordo com a maré político-econômica que o Brasil navegue no período previsto inicialmente.
Conclusão
O PROSUB é um dos mais importantes programas estratégicos do Brasil, alcançando a cifra de 50 bilhões de investimentos até sua conclusão, dará ao Brasil mais do que submarinos modernos para defender suas riquezas naturais, dará capacitação técnica, retorno econômico, independência em diversos segmentos científicos, industriais e comerciais, além de gerar milhares de empregos e milhões de reais em renda para população e ao próprios cofres públicos.
Mas cabe aqui deixar claro, o importante papel que temos no desenvolvimento deste e diversos outros programas nacionais, uma vez que nossas decisões nas urnas e as cobranças sobre a destinação do orçamento público, são de suma importância para continuidade e sucesso destes importantes programas, uma vez que cada episódio em que há contingenciamento de recursos, perdemos tempo e muito do dinheiro investido, uma vez que se atrasam pagamentos de fornecedores, além de abrir a porta para evasão da mão de obra especializada.
Por: Angelo Nicolaci
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