Seguindo as tendências tecnológicas no campo de defesa, onde os avanços não se limitam a automação e comando remoto, mas ao desenvolvimento e ensaios do emprego de inteligência artificial, assim como investimentos generosos em novos conceitos robóticos. Outro cenário que começa a se destacar, é o reaquecimento da corrida espacial, agora não só com as grandes potências retomando a busca pela capacidade de atuar e controlar a dimensão espacial, mas a exploração do espaço pela iniciativa privada.
O novo cenário que surge no horizonte próximo, apresenta uma série de desafios e uma complexidade nunca antes experimentada pela humanidade, onde os atores deixam de ser estritamente estatais, passando a ser compostos por diversos elementos, os quais podem ser classificados em diversas categorias, principalmente por termos descortinado novas dimensões de conflitabilidade, onde nem sempre é necessário um míssil de cruzeiro, ou mesmo um carro bomba para desencadear um conflito, considerando hoje a ameaça cibernética uma realidade com grande capacidade de impacto contra objetivos chave, os quais vão desde ativos, como usinas elétricas ou infraestruturas, até o mercado financeiro e segredos industriais ou estratégicos.
Apesar de termos assistido mais de uma década de combate ao terrorismo, com a propalada "Guerra ao Terror", não houve de fato uma redução na estrutura das organizações terroristas, pois estas ainda mantém uma forte presença e domínio em diversas regiões do planeta, vide a retomada do poder no Afeganistão.
Todo esse novo e complexo cenário demanda uma nova capacidade de resposta, que resulta em sistemas e materiais de emprego militar cada vez mais sofisticados com alto valor agregado, além da gradativa substituição de tarefas antes desempenhadas por humanos, mas com forte probabilidade de serem realizadas por meios robóticos remotamente pilotados de um local fora da zona de interesse, capazes de realizar o monitoramento em tempo real, interceptar informações, identificar e atacar objetivos estratégicos.
O SARP deixou efetivamente de ser um mero meio de coleta de inteligência e observação, assim como ocorreu com as aeronaves pilotadas nos primórdios da aviação, para se tornar efetivamente uma arma de múltiplo emprego e alta efetividade contra objetivos estratégicos. Outrora apenas um conceito, que após sua bem sucedida atuação na campanha do Azerbaijão contra a Armênia, confirmou não apenas a validade do conceito, mas sua plena efetividade e capacidade de atingir objetivos quase que impunemente e a um custo muito reduzido se comparado a vários meios sofisticados e mais complexos até então utilizados, como é o caso de aeronaves com tecnologia stealth.
- Coleta de Inteligência: monitoramento e coleta de dados (ELINT/SIGINT) por um longo período da zona de interesse, transmissão de dados em tempo real, baixo custo operacional e não exposição de pilotos a ameaça antiaérea.
- Reconhecimento / Vigilância: Monitorar e controlar uma vasta zona de interesse, identificando possíveis ameaças e atividades ilícitas, coordenando ações de resposta em tempo real por link de dados (O Brasil emprega um sistema Hermes 900 da israelense Elbit para monitorar atividades ilícitas na região amazônica e pantaneira, combatendo extração ilegal de minério, desmatamento e demais ilícitos).
- Aquisição de Alvo: O SARP também pode ser empregado para aquisição de alvos e solução de tiro, onde pode atuar com a Artilharia realizando a correção dos tiros de obuses e morteiros, sinalização de alvos com laser para ataques de precisão, iluminação de alvos para ataques com mísseis, dentre outros.
- Esclarecimento Naval / ASW / ASuW: O SARP pode ser uma importante solução para esquadra, sendo capaz de se manter em voo por um longo período e muito a frente do Grupo Tarefa (GT), possibilitando ao mesmo identificar ameaças além do alcance de seus sensores e sistemas embarcados nos navios que compõe o GT, dando uma maior consciência situacional e ampliando a capacidade de resposta. Além de ser possível implementar capacidade de guerra antissubmarina e superfície.
- Ataque / Apoio Aproximado: O SARP também se mostra uma solução efetiva contra instalações e tropas no terreno, conforme demonstrou no conflito entre o Azerbaijão e a Armênia. Sendo capaz de empregar mísseis ou bombas guiadas, além de ser capaz de atuar no modo "Camicaze", onde o próprio SARP atua como armamento.
- Defesa Aérea / Superioridade Aérea: Países como EUA e Rússia, tem trabalhado no desenvolvimento da capacidade de combate aéreo com plataformas SARP, buscando uma solução efetiva para substituição futura de aeronaves pilotadas por humanos, o que reduz não apenas o custo operacional, como também o impacto negativo gerado pela perda ou captura de seus pilotos pelo inimigo.
Essas são apenas algumas das possibilidades de emprego, não esquecendo a capacidade de prover REVO a outras aeronaves, conforme tem sido desenvolvido pelos EUA.
O Brasil ainda esta muito distante no que diz respeito ao emprego de Sistemas Aéreos Remotamente Pilotados (SARP), algo que precisa ser revisto, apesar de compreendermos que o "cobertor orçamentário" destinado as aquisições de meios para as três forças, esta muito curto e aquém de nossas necessidades reais e imediatas, resultando em recorrentes cortes orçamentários que impactam importantes programas de defesa, como ocorreu com o "KC-390", que sofreu uma significativa redução no número de aeronaves que deverão ser produzidas para Força Aérea Brasileira, ou ainda, a falta de recursos para a aquisição de novos exemplares do submarino Classe Riachuelo (S-BR).
É preciso que o governo brasileiro olhe com atenção o cenário que se desenvolve ao nosso redor, e mude a visão estratégica de defesa que atualmente se pauta pelo cenário regional imediato, passando a observar o tabuleiro como um todo, tendo em mente a importância estratégica que nossos recursos naturais representam hoje no mundo.
Vale ressaltar que os principais atores geopolíticos globais, tem investimento contínuo em Defesa, e esse investimento não retorna apenas em forma de capacidade militar, mas em ganho científico, industrial, econômico e social. Logo podemos concluir que investir em defesa se faz extremamente necessário para desenvolver não apenas nossas capacidades de defesa, mas nossa economia e a sociedade como um todo.
Os EUA ao lado de Israel, é um dos maiores operadores de SARP no mundo, sendo um dos pioneiros, tanto no emprego como ativo de coleta de informações, como também para ataque contra alvos estratégicos. Israel é um dos maiores desenvolvedores de solução baseadas em plataformas SARP, operando um grande leque de sistemas que oferecem uma vasta gama de capacidades a IDF, além de ser o maior fornecedor deste tipo de sistema no mundo, dominando plenamente a tecnologia, com grande experiência no emprego real destes meios nos mais variados cenários de conflitos nos quais atuou desde sua concepção. A Turquia apesar de ter pouco reconhecimento mundial pelos seus sistemas nativos, é um dos grandes desenvolvedores de SARP, com alguns de seus sistemas sendo protagonistas de diversos ataques bem sucedidos no conflito Azerbaijão x Armênia e também na Líbia. A China tem desenvolvido a capacidade de lançar mísseis BVR contra alvos marítimos detectados e rastreados por drones, tendo como plataforma de lançamento helicópteros de ataque Z-19 efetuando o disparo fora do alcance de seus sensores e radares.
A aquisição do SARP representa um ganho exponencial em capacidade de obtenção de inteligência, capacidade de ataque e defesa, dentre outras. Cabe aqui mais uma vez lembrar a importância que o SARP teve nas "Operações Verde Brasil II" e "Operação Samaúma", nesta última decolando da "Serra do Cachimbo", porém, sendo controlado a milhares de quilômetros em Brasilia, onde eram obtidas imagens em tempo real de atividades ilícitas que eram prontamente direcionadas as equipes de resposta em terra, resultando na prisão e fechamento de vários garimpos e zonas de desmatamento ilegais.
O Brasil tem plena capacidade de desenvolver soluções próprias, porém, se faz necessária a aquisição de meios já testados e capazes de cumprir um variado leque de missões, com estas aquisições vislumbrando a participação ativa do corpo técnico e engenheiros da Base Industrial de Defesa brasileira, bem como se estabelecer um centro de aquisição, manutenção e adestramento comum as três forças, estreitando as capacidades de interoperabilidade e otimizando os recursos.
O novo século nos trás desafios, ameaças já se mostram no horizonte, porém, não podemos esperar que estas se façam reais, é preciso responder agora as necessidades e investir no futuro de nossa nação, nos garantindo a capacidade de defender nossa soberania frente aos interesses de qualquer um que ouse tentar contra nossa nação.
por: Angelo Nicolaci
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