Infelizmente a memória histórica do brasileiro não é das melhores, prova maior disso é que no Brasil poucos realmente conhecem os fatos que levaram ao ato do Marechal Deodoro da Fonseca ao declarar a proclamação da república em 15 de novembro de 1889. O ato estava muito longe de ser um anseio do povo brasileiro, a proclamação da república estava mais voltada aos interesses de uma pequena elite, a qual estava descontente com os rumos tomados pelo Brasil sob o comando do Imperador D. Pedro II, o qual tinha uma visão geopolítica e social visionária, focado em promover importantes reformas no Brasil.
Dentre os fatores que levaram ao descontentamento resultante na proclamação da república, podemos elencar alguns dos mais importantes, a começar pelo fim da escravidão no país, o que desagradou á muitos que obtinham grandes ganhos com comercio de escravos, por exemplo. Outro posicionamento que gerava um embate entre o Imperador e a elite de sua côrte, era o plano de promover a até hoje aguardada reforma agrária. Talvez por esse e outros motivos, essa importante página de nossa história seja abordada tão superficialmente e sem receber a detida importância nas instituições de ensino, colaborando para a falsa imagem que hoje temos dos fatos ocorridos nos idos de 1880, década que foi de grande importância aos rumos de nossa nação, com importantes mudanças e a proclamação da república, o que podemos configurar como tendo sido o primeiro golpe brasileiro.
Muito longe do que aprendemos nas salas de aula, as ideias republicanas não tinham popularidade entre os brasileiros, os quais em sua grande maioria, tinham grande estima pelo imperador e o tipo de governo que havia no Brasil até então. Para termos ideia deste fato, basta lembrar que em 1884, apenas cinco anos antes da proclamação da república, só haviam três republicanos eleitos á Câmara de Deputados, e na eleição posterior esse número se reduziu a apenas um representante, um claro sinal da rejeição brasileira as ideias republicanas.
Mesmo se valendo do grande esforço em propagar os ideais republicanos no Brasil, os defensores dessa causa não lograram qualquer avanço no sentido de conquistar o apoio popular á uma instauração da república no Brasil. Assim sendo, os líderes desse movimento chegaram a conclusão que não seria possível instalar a República no Brasil por meios pacíficos, como ocorreu com nossa independência. Então, passaram a conduzir um plano para efetuar um golpe militar. Só que para que isso fosse possível, precisariam do apoio de um líder de prestígio do Exército Brasileiro. Foi ai que resolveram se aproximar do Marechal Deodoro da Fonseca e tentar persuadi-lo em apoiar a causa republicana.
O que poucos conhecem dessa parte de nossa história, é o fato que, Marechal Deodoro era amigo pessoal do Imperador Dom Pedro II, considerado um dos maiores defensores do Monarquismo no Brasil, algo que exigiu muita articulação e manipulação.
Dom Pedro II, tornou-se imperador aos 5 anos de idade quando seu pai abdicou ao trono e voltou a Portugal, então o novo Imperador brasileiro teve que passar grande parte da sua infância estudando para que fizesse um bom reinado. Como já é de conhecimento geral, um rei é preparado pra reinar desde o momento de seu nascimento, logo as longas horas de estudo e preparação que recebeu o Imperador, resultou em um líder que passou a transformar o Brasil numa grande e potente nação emergente. A estabilidade política do Brasil era notória e o Império brasileiro se destacava em relação as nações vizinhas. Tínhamos liberdade de expressão, respeito aos direitos civis, lembrando que foi durante seu reinado que foi assinada a Lei Áurea, pela sua filha Princesa Isabel.
Poucos tem conhecimento, mas Dom Pedro II se declarava publicamente contra o regime de escravidão, defendendo as ideias abolicionistas desde 1850. Fato esse corajoso, tendo em vista que poucos brasileiros na época se manifestavam á favor da abolição no Brasil. O nosso Imperador considerava a escravidão uma vergonha nacional e tampouco possuiu escravos.
A escravidão no Brasil foi extinta de forma gradual através de várias medidas. Em 1871 veio a lei do ventre livre que ajudou bastante a diminuir o percentual de população escrava no país. Todos consideravam que esse posicionamento político de Dom Pedro II em relação a escravidão seria suicídio político, pois até os mais pobres no Brasil tinham escravos como propriedade.
Em 1888, um ano antes da proclamação da república, a Princesa Isabel Decretou a Lei Áurea, o que causou indignação dos donos de escravos que sentiram-se traídos pelo regime monárquico e como forma de vingança passaram a apoiar a causa republicana.
Então, os republicanos precisavam convencer Marechal Deodoro a dar o golpe militar que daria inicio á tão "desejada" república, e tramaram uma grande rede de intriga e conspiração com a qual acabaram conseguindo levar o Marechal Deodoro a promover o golpe.
No dia 14 de novembro de 1889, os republicanos, num ato muito “honesto” fizeram correr o boato de que o primeiro ministro Visconde de Ouro Preto havia decretado a prisão do Marechal Deodoro e o líder dos oficiais republicanos o tenente-coronel Benjamim Constant. Essa falsa notícia fez com que o Marechal Deodoro decidisse se levantar contra a "ação" do Visconde de Ouro Preto. Na manhã do dia 15, Deodoro reuniu toda a tropa em direção ao centro da cidade do Rio de Janeiro, capital do Brasil Império, com o intuito de decretar a demissão do ministério de Ouro Preto. Porém, ainda não tinha a intenção de proclamar a república.
No calor dos acontecimentos, Marechal Deodoro ocupou a Câmara e depôs Ouro Preto, estava iniciado o golpe e os republicanos precisavam pensar em algo rápido para que convencessem de vez o marechal a aderir ao movimento republicano e a fazer a tão arquitetada proclamação. Mais uma vez usaram de falsas notícia e informaram-no então que Dom Pedro II teria nomeado Gaspar Silveira Martins como primeiro ministro. Gaspar era um grande rival de Deodoro, pois os dois já haviam disputado o amor da mesma mulher na juventude. Essa foi a gota d’água para que fosse feito o rompimento total com a monarquia.
O povo brasileiro por sua vez acompanhou mais uma vez em sua história todos os fatos a margem das decisões, sem ao menos ser consultado sobre seu desejo de viver ou não sob uma república, sendo o golpe claramente movido pelos interesses de uma elite restrita e com poder de influência econômica e política nas esferas mais abastardas que sofreram um grande prejuízo com as decisões políticas e sociais da monarquia que levava o Brasil á uma nova esfera, mas que teve seu destino selado pela ambição e descontentamento de uma elite rica e mesquinha.
Todas as elites provincianas apoiaram o novo regime, a maioria eram líderes dos partidos monárquicos, agora defensores fervorosos da República. Assim, a República foi estabelecida praticamente sem lutas, salvo no Estado do Maranhão, onde os antigos escravos tentaram reagir ao golpe e foram violentamente dispersos, causando o saldo de três mortos e vários feridos. Os três negros de que a História oficial não guardou os nomes foram os primeiros mortos contra o golpe da Proclamação da República no Brasil. A primeira Constituição republicana foi essencialmente conservadora e elitista, nada de democrático e popular. Quando populações nacionais levantaram-se, confusamente, contra uma ordem que compreendiam ser-lhes absolutamente injusta, como Canudos, Contestado ou na Revolta da Chibata, foram acusadas de atrasados, loucos, etc. e duramente massacradas.
Lembrando que as primeiras favelas surgiram após a proclamação da República, sendo a primeira a da Providência no centro da cidade do Rio de Janeiro, como resultado da quebra do compromisso dos republicanos com o anteriormente assumido por D. Pedro II de realizar a reforma agrária, a qual visava dar terras aos negros e soldados que retornavam das guerras as quais lutaram pelo Brasil. Começando assim um problema que só tem se agravado ao longo de décadas de descaso, culminando no que presenciamos hoje na crise de segurança do Rio de Janeiro.
A República era coisa das elites e se mantém até hoje assim, infelizmente tomada pela corrupção, representante de interesses alheios ao verdadeiro interesse nacional, onde salvaguarda com direitos controversos "criminosos" que se dizem representantes da pátria, mas a lesam com desvios de recursos, roubos e diversos crimes dos quais são protegidos pela "imunidade parlamentar".
Então, um viva a República que nasceu de um ato que pode se dizer que foi tudo, menos democrático.
Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN News, graduando em Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do oriente médio e leste europeu, especialista em assuntos de defesa e segurança.
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