segunda-feira, 5 de julho de 2021

China - Expoente do Poder Aéreo ?


A China, tem buscado conquistar cada vez maior protagonismo e se impor como uma potência capaz de contrapor as grandes potências. Para isso vemos um crescimento absurdo em seus investimentos no campo de defesa, desenvolvendo e construindo um poderio militar moderno e consistente, capaz de garantir sua defesa nas quatro dimensões do campo de batalha moderno, que denominamos "TMAC" (Terra,Mar,Ar e Cibernético). 

Nesta publicação, vamos abordar a dimensão aeroespacial, onde observamos alguns grupos de discussão e sites autodenominados como "especialistas", propagando uma visão míope em relação a China e seu poder de defesa e influência no campo tecnológico e mercadológico.

Recentemente os chineses realizaram uma bela apresentação com seus caças stealth J-20 de quinta geração, realizando um voo em formação com relevante número de exemplares operacionais sendo exibidos durante as comemorações do centenário do Partido Comunista Chinês (PCC), mais uma propaganda com claro objetivo de auto afirmar o crescente poderio aéreo de Pequim.


Apesar da China ocupar a segunda posição no ranking de maiores investidores em defesa no mundo, assumindo a posição que foi da Rússia, ainda está muito longe de ser representativa no mercado internacional de defesa, onde busca se tornar um exportador global, porém, ainda muito longe dos principais players do mercado de defesa de acordo com os dados mais recentes do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI).

Na última década, a China apareceu na quinta posição do ranking de maiores exportadores de armas do mundo, onde segue a liderança isolada da industria de defesa dos Estados Unidos, seguido por Rússia, França e Alemanha. Apesar do "voo" chinês que ocupava a nona posição no período de 2005-2009, para o quinto lugar no período 2010-2020, a China ainda vê grande dificuldade em inserir seus produtos e tecnologias de defesa no mercado internacional, mesmo com facilitações no financiamento e baixo custo de seus equipamentos, a confiabilidade, pós-venda e eficiência de seus produtos é um dos seus pontos limitantes.

De acordo com o relatório disponibilizado pelo SIPRI, a maior parte das exportações realizadas pela China, se deu no seu entorno geopolítico, atingindo a marca de 77,3% para clientes asiáticos, vale ressaltar a influência política e econômica crescente nesta região, seguida pela África que representa 19,1% das exportações, lembrando que nas últimas duas décadas, a China tem aumentado vertiginosamente os investimentos e a presença militar nesta região do planeta, o que pode justificar o aumento das exportações e os 3,6% restantes representam clientes na Europa, Américas e demais regiões. Um ponto que não pode ser ignorado, é o fato das exportações de material de defesa, também incluírem equipamentos e sistemas voltados a aplicação em segurança pública, o que dá vantagem e infla os números obtidos pela China, que hoje possui uma grande industria voltada para fornecer um vasto leque de soluções com baixíssimo custo. para outras partes do mundo, incluindo a América Latina.


Dentre as forças armadas que figuram entre os principais clientes de material de defesa chinês na Ásia, temos países como Paquistão, Bangladesh e Mianmar. Na África, países como Argélia, Tanzânia e Nigéria continuam sendo os principais importadores de armamentos e sistemas chineses.

É digno de nota, o aumento de entrada dos produtos de defesa chinês, com seu hall de clientes de exportação subindo de 40 para 53 países na segunda metade da década, e a ascensão da sua industria de defesa, com quatro das suas principais fabricantes passando a figurar no ranking das 25 maiores industrias de defesa do mundo.

A China tem adotado uma política inteligente de inserção de sua industria no mercado internacional, buscando nichos de mercado e desenvolvendo tecnologias para atender demandas pontuais, evitando uma concorrência direta com os tradicionais e consagrados fornecedores do mercado internacional, o que tem contribuído para o aumento nas exportações e capitalização de suas industrias para desenvolver novas tecnologias, estas sim voltadas a competir com os tradicionais fornecedores de soluções em segurança e defesa.

Outra abordagem inteligente por parte da China, tem sido o estreitamento de laços políticos e econômicos com nações que não contam com uma boa relação com as grandes potencias e tradicionais fornecedores, em especial nações que tem sido alvo de sanções e embargos, os quais a China tem ignorado, passando a ser vista como a saída para que estes países possam manter sua capacidade de defesa, ainda que os sistemas chineses não sejam o ápice da tecnologia de defesa.

Com relação ao alinhamento com países que tem sido alvo de sanções e embargos, figuram entre os "aliados" e clientes de Pequim, países marginalizados internacionalmente, como a Venezuela, Paquistão, Irã, Mianmar, Coréia do Norte e Argentina, dentre outros que figuram entre os excluídos e embargados do mercado internacional.

Aeronaves Hongdu K-8W

Apesar de dominar muito da tecnologia de seus produtos, a China ainda sofre em alguns aspectos com o veto de fornecimento de determinados sistemas por ela comercializados, como foi o recente caso envolvendo a oferta de aeronaves JF-17 aos argentinos, país sul-americano que sofre com os embargos impostos pelo governo britânico desde sua derrota na "guerra das Falklands/Malvinas".

A China ofereceu aos argentinos o JF-17, porém, o mesmo conta com assento ejetor britânico

A China e o potencial de exportações de aeronaves de combate

Atualmente, a principal aeronave em operação na China, é o caça stealth J-20 'Mighty Dragon', apontado como a mais poderosa e capaz aeronave de combate da China, a qual incorpora importantes inovações, fruto de pesquisa e também incorpora tecnologias desenvolvidas sob engenharia reversa, baseada em dados obtidos clandestinamente de programas de desenvolvimento norte americanos e europeus, como foi o caso envolvendo espionagem dos programas F-22 e F-35.

Apesar de despertar o interesse de potenciais clientes, o J-20 é um artigo vetado a exportação, principalmente devido ao temor de que “a tecnologia de quinta geração caia em mãos de um potencial inimigo”, mesmo que possa ser realizado o famoso "downgrade" nas variantes de exportação e a aeronave ainda não tenha incorporado um motor que atenda aos requisitos previstos pela capacidade stealth. Em resumo, a China tem adotado a mesma postura que os EUA adotaram com relação as suas aeronaves Stealth F-117, F-22 e B-2.

A Shenyang Aircraft Corp (SAC), uma empresa privada autofinanciada considerada o “berço” dos caças chineses, desenvolveu com sucesso aeronaves de combate desde a era de Mao e a Chengdu. Sendo a responsáveis pela produção durante a era da Guerra Fria, das aeronaves J-5, J-6 e J-7, variantes chinesas dos caças soviéticos MiG-17, MiG-19 e MiG-21. Vale lembrar que o J-7 Jianjiji, em sua variante de exportação F-7M Airguard chegou a ser negociado com o Brasil, tendo sido apontado como um potencial novo vetor da Força Aérea Brasileira nos anos 80, história que você pode conferir aqui no GBN Defense (MIG-21 no Brasil? Quando a FAB quase voou a versão chinesa F-7M).


A produção sob licença e os desenvolvimentos chineses com base em projetos de aeronaves soviéticas, colocaram os caças chineses no mapa global. Dentre os clientes dessas versões chinesas podemos citar o Paquistão, Vietnã, Albânia, Egito, Irã, Mianmar, Nigéria e até mesmo os Estados Unidos, que supostamente realizaram a aquisição de alguns exemplares do J-5 (versão do MIG-17) para empregar nos treinamentos aéreos como "agressors".

A Coreia do Norte  ainda opera a variante de exportação F-5, versão chinesa de exportação do Mig-17, além do F-6, que trata-se da variante chinesa de exportação do Mig-19. 

Outras aeronaves fruto de produção sob licença ou engenharia reversa, como é o caso de aeronaves como os Shenyang J-8, J-11 e J-16, até o momento tem sido de uso exclusivo pela Força Aérea chinesa. Porém, não se sabe ao certo, se isso se dá por reservas estratégicas, ou por não haver interesse em se investir na concepção de uma variante de exportação.


Por outro lado, os jatos desenvolvidos pela Chengdu Aircraft Industry Group (CAIG), como o Chengdu J-7 Airguard e o JF-17 Thunder, foram exportados para Bangladesh, Paquistão, Mianmar e Nigéria.

A China está oferecendo no mercado, sua aeronave multi-funções de quarta geração Chengdu J-10 (claramente desenvolvido com base no projeto do israelense "Lavi"), que disputa mercado com o F-16 dos Estados Unidos, mas ainda não conquistou nenhum contrato de exportação, tendo sido preterido as opções ocidentais, quando não pelo norte americano F-16.


Apesar de estudos e relatórios apontem para o crescimento da industria aeroespacial chinesa no mercado internacional de defesa, com a China podendo assumir uma posição no mercado muito próximo da Rússia, diante principalmente dos altos custos de aquisição e restrições impostas pelas potencias ocidentais, ainda há uma longa estrada a ser percorrida, e a China esta muito atrás nesta corrida.

Agora é um fato, que a industria de defesa chinesa tende a suplantar a capacidade tecnológica e qualidade apresentada pelas aeronaves desenvolvidas e ofertadas pelas fabricantes russas. Pois além de contar com um aparato industrial moderno e investimentos pesados em pesquisa e desenvolvimento, com o uso de materiais compostos para desenvolver aeronaves mais ágeis e leves, a integração de radares AESA (Active Electronically Scanned Array) e dominar um designer e sistema stealth mais maduros que os russos, a tendencia é que as China ultrapasse a posição das aeronaves russas no mercado de exportações, principalmente se conseguir oferecer uma maior confiabilidade e um serviço de pós-venda que apresente simplicidade, eficiência e uma logística aprimorada.

Os chineses tem apostado no desenvolvimento de uma nova aeronave stealth, o FC-31, que pretende ser uma avançada plataforma stealth de quinta geração. Assim como ocorre com o F-35, a China mira no mercado internacional, onde pretende abocanhar uma importante fatia do mercado para aeronaves de 5ª Geração, onde reina soberano o F-35, que tem disputado mercado com aeronaves de 4ªG++.

Apesar das capacidades chinesas e suas propostas de financiamento e facilidades, as aeronaves chinesas têm encontrado pouco sucesso no mercado internacional. Mesmo mudando a sua nova política externa e posição econômica no cenário mundial, a China tem se deparado com uma certa resistência de potenciais clientes as suas aeronaves, tendo obtido pouco sucesso para atrair novos clientes.

Citando dados revelados pelos relatórios do SIPRI, na última década, a China exportou apenas 7,2 bilhões em aeronaves militares, muito longe dos 99 bilhões registrados pelos EUA, sem falar na Rússia e França, que registraram respectivamente 61,5 Bilhões e 14,7 Bilhões, um retrato claro da posição distante do que se espera de uma potência do mercado internacional de defesa.


A postura que a China tem adotado em seu entorno estratégico imediato, é um dos grandes fatores limitantes de suas exportações, pois, nações vizinhas, principalmente na região do Mar da China, tem visto o crescimento chinês e a postura adotada em sua política externa, como uma potencial ameaça, o que tem levado estes países a investir pesado em defesa, onde grande parte dos investimentos obviamente são direcionados aos sistemas ocidentais ou russos.

O PCC mantém uma visão expansionista, prometendo expandir “as forças armadas e a influência da China” não apenas no entorno geoestratégico imediato, mas com foco global, buscando se tornar uma potencia capaz de influenciar ativamente o mercado em seu favor, principalmente no mercado de defesa, porém, ainda esta muito distante a possibilidade da China emergir como um relevante exportador no mercado de aeronaves de combate, mesmo com todo investimento em marketing, com simulações fictícias publicadas por pseudos "especialistas" e entusiastas da "Grande China".

Apesar de toda propaganda e sensacionalismo entorno dos equipamentos e capacidades dos produtos de defesa chineses, há uma conclusão óbvia e simples, a China ainda tem uma longa caminhada para se equiparar em potencial tecnológico ao ocidente e aos principais players. Não se pode ignorar o potencial desta de alcançar seus objetivos, porém, até alcançá-los, existe uma diferença grande ao que tem sido alardeado. Muitos confundem a capacidade de produção, com a capacidade efetiva de sua tecnologia e qualidade, isso sem falar no poder efetivo de seu arsenal, não podemos confundir números absolutos, com números relativos e principalmente não confundir investimento com resultado obtido pelo investimento relativo ao retorno real e não o perceptível, como presumem muitos leigos e "especialistas da China".

 

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