sexta-feira, 21 de maio de 2021

Incrível - Conheça a história do piloto soviético que fugiu com um HE-111


A Segunda Guerra Mundial foi o palco de muitas histórias e feitos heroicos, mas há muitos capítulos deste que foi um dos mais sangrentos e mortíferos conflitos da humanidade, desconhecidos ou pouco conhecidos ainda nos dias de hoje.

O GBN Defense em suas pesquisas e leituras, se deparou com uma história digna de ser contada, a qual não deixa em nada a dever aos filmes de ação e aventura hollywoodianos, trata-se da história  fantástica do piloto soviético que roubou um bombardeiro Heinkel He-111 em sua fuga inusitada de um dos campos de trabalho alemães. Confira essa história conosco:

Nascido em 1917, Mikhail Petrovitch Deviataiev era o décimo terceiro filho de um camponês russo que vivia na cidade de Kazan, desde cedo era fascinado pelas aeronaves e sonhava se tornar piloto das forças soviéticas, o que se tornou realidade após concluir a universidade e se alistar no Exército Vermelho, onde pediu para seguir na aviação, o que foi atendido.


Deviataiev não foi um piloto brilhante, tendo abatido a primeira aeronave alemã, um Ju-87 "Stuka" em 24 de junho de 1941, tendo atuado desde o principio do conflito, foi deslocado da Bielo-Rússia para defesa de Moscou, onde foi ferido em combate sobre a cidade de Tula. Após sua recuperação, saiu do hospital direto para Voronezh, onde em pouco tempo foi ferido novamente em combate, conseguindo regressar a base em setembro de 1941, onde foi hospitalizado, sendo afastado por um certo tempo dos céus.

Mikhail Petrovitch Deviataiev
Mas a história que levou a fantástica fuga do campo de trabalho alemão pilotando um bombardeiro alemão, teve inicio em 13 de julho de 1944, dia em que voava um caça P-39N "Airacobra" oriundo do apoio aos esforços de guerra soviéticos pelos norte americanos.  Naquele fatídico dia, Deviataiev cumpria mais uma missão sobre Lviv, quando teve sua aeronave atingida e o obrigando a saltar sobre o território ocupado pelos alemães. Assim que tocou o solo, Mikhail Deviataiev foi capturado por uma patrulha alemã e conduzido para o campo de concentração em Lód na Ucrânia.

Não demorou muito Deviataiev tentou sem sucesso fugir do campo de concentração nazista, com o túnel de fuga sendo descoberto pelos soldados alemães, o que levou Deviataiev a ser condenado à morte, sentença que seria executada no campo de concentração de Sachsenhausen, para onde seria transferido.

A Barbearia que mudou o destino

Com a morte o aguardando em Sachsenhausen, Mikhail P. Deviataiev já era considerado um homem morto, tendo em vista a fama do campo de concentração que seria seu destino. Mas, sua sorte mudaria após visitar o barbeiro para cortar o cabelo.

Durante sua visita ao barbeiro, outro prisioneiro, o ucraniano Grigori Nikitenko, não teria muita sorte, sendo morto por seus colegas após ignorar a proibição de acender cigarros no recinto. Durante a confusão, Nikitenko acabou sendo morto durante a briga, e sabendo da condenação do piloto soviético ao campo de Sachsenhausen, onde seria morto, o barbeiro teve a ideia de substituir as plaquetas de identificação de Deviataiev e Nikitenko, dando assim um novo destino ao piloto soviético.

Assim, o corpo de "Deviataiev" foi incinerado na fornalha do campo, enquanto o ex-professor Stepan Grigori Nikitenko era transferido para o campo de trabalho em  Karlshagen I , na ilha báltica de Usedom. Uma mudança que seria providencial à inusitada fuga de Deviataiev. 

No ninho das Bombas "V" 

O campo de trabalho Karlshagen I, era onde se concentravam parte dos esforços de desenvolvimento, testes e fabricação de armas avançadas do Terceiro Reich, como as primeiras aeronaves a jato, as bombas voadoras V-1 e  V-2. Lá os prisioneiros soviéticos trabalhavam até a exaustão. Os nazistas mandavam os presos para a câmara de gás ou espancavam-nos até a morte quando deixassem de ser "produtivos" devido à exaustão.

Linha de produção da "bomba voadora" V1

Ali também havia um campo de aviação, onde eram estocadas algumas aeronaves, porém, a maioria era sucata, em grande maioria aeronaves avariadas ou usadas em testes. Mas uma aeronave em especial chamava a atenção de Deviataiev, um bombardeiro Henkel He-111 novo em folha, o qual constantemente realizava voos e tinha uma periódica manutenção.

A vida era muito dura para os prisioneiros, Deviataiev foi escolhido para trabalhar nas instalações, sendo selecionado por seu porte robusto e a condição física. Dentre as tarefas, o piloto soviético ajudava a carregar equipamentos e materiais, além de remover bombas não detonadas lançadas por aeronaves aliadas. Um piloto soviético jamais teria permissão para se aproximar do campo de aviação e de aeronaves, mas a providencial nova identidade, colocava o "professor" Nikitenko acime de qualquer suspeita.

Deviatáiev conheceu outros prisioneiros dispostos a tentar uma fuga e encontrou nove homens que concordaram em tentar uma fuga ousada roubando uma aeronave alemã bem debaixo dos seus narizes. A aeronave escolhida para essa fuga era o bombardeiro Heinkel He 111 que atraia a atenção do piloto soviético. “Tomamos a decisão no início de janeiro de 1945 e desde então nos referíamos ao bombardeiro apenas como nosso Heinkel", diz o relato de Mikhail Deviataiev em seu livro “Poliot k solntsu”, ou, "Voo rumo ao Sol" em português.

Dentre os prisioneiros, Deviataiev era o único piloto, o que o fazia a peça chave do sucesso da tentativa de fuga do inferno nazista. E durante algum tempo, entre janeiro e fevereiro de 1945, os prisioneiros faziam o possível para que Deviataiev pudesse chegar próximo da aeronave e fazer um reconhecimento dos comandos. 

No dia 8 de fevereiro de 1945, Deviataiev junto com seus companheiros decidiram que era o momento de fugir, e escolheram a hora do almoço, quando a maioria dos alemães estavam no refeitório e a aeronave ficava desguarnecida, dando inicio ao plano. O prisioneiro Krivonógov agarrou um pé de cabra e atingiu um guarda do campo, o matando. Outro prisioneiro chamado Peter Kutergin, arrancou o uniforme do alemão e se vestiu. O plano estava caminhando como planejado, com Kutergin disfarçado como soldado alemão conduzindo o grupo de trabalhadores até a aeronave sem despertar a atenção.

Os fugitivos tiveram tempo de embarcar na aeronave e ainda procurar a bateria da aeronave, a qual estava fora de sua posição, o que impossibilitaria o acionamento dos motores e frustraria a fuga. Mas os soviéticos conseguiram instalar a bateria, acionar os motores, dando tempo de Deviataiev ainda testar os motores, acelerando e desacelerando aos mesmos por diversas vezes. 

Hora de finalmente decolar rumo a liberdade! 

Após os testes de motor, o confiante piloto soviético taxiou até a cabeceira da pista e iniciou a corrida de decolagem, porém, nesta primeira tentativa não conseguiu levantar voo, quase varando a pista. Tal tentativa despertou a atenção dos alemães, que correram para cabeceira oposta tentando entender o que acontecia. Foi então que Deviataiev manobrou a aeronave alinhando na cabeceira e dando potencia total nos motores, só neste momento os alemães se deram conta que os prisioneiros estavam fugindo, e com sua aeronave!

Quando Deviataiev liberou os freios e partiu a toda percorrendo a pista, os alemães saíram da frente para não ser atropelados e acionaram as sirenes da base, com as baterias anti-aéreas sendo guarnecidas, mas não há tempo de disparar contra o He-111 de Deviataiev. A única oposição a fuga, seria o Focke-Wulf que retornava de uma missão, já quase sem munição, o caça alemão pouco pode fazer, atingindo sem gravidade o bombardeiro em fuga e logo regressando a base para reabastecer e remuniciar, o que daria tempo suficiente para que Deviataiev e seus companheiros fugissem impunemente pelos céus do Báltico,

A sorte sorria mais uma vez

Após voar para espaço aéreo soviético, os fugitivos agora teriam outro desafio, sobrevoar a URSS com um bombardeiro alemão sem ser abatidos pelas defesas anti-aéreas soviéticas.

Durante o voo a baixa altitude, já com os trens de pouso baixos, o He-111 seria mais uma vez interceptado por um Focke-Wulf alemão, porém, desta vez o piloto alemão não sabia se tratar de uma fuga, e tentava alertar o bombardeiro que voava "inadvertidamente" rumo as posições do "inimigo" onde estavam as defesas soviéticas e com trem de pouso baixo. 

Logo o fogo antiaéreo lançou ataque contra as duas aeronaves alemãs, onde o Focke-Wulf conseguiu evadir sem ser atingido, porém, o bombardeiro havia sido atingido levando o mesmo a fazer um pouso forçado em território soviético.


Finalmente de volta a pátria

Após ser atingidos e cair em território soviético, os fugitivos sobreviveram a mais esse desafio, sendo cercados e presos pela infantaria do Exército Vermelho. Deviataiev e seus companheiros foram encaminhados para um campo de prisioneiros, onde permaneceram até que suas identidades fossem confirmadas. 

A fuga havia sido bem sucedida, e logo Deviataiev e seus companheiros foram liberados, porém, todos foram enviados novamente a frente de combate, e a maioria foi morto em combate, com exceção de Deviataiev, que seria ouvido e passaria importantes informações sobre o que os alemães estavam fazendo, dando a localização e informações valiosas para que a URSS lançasse um pesado ataque contra as instalações no Báltico responsáveis pela construção das bombas "V".

Presente para Stalin

A aeronave protagonista da fuga inusitada, representaria um grande ganho aos soviéticos, pois o Heinkel He-111 roubado por Deviataiev e seus companheiros de cativeiro, tratava-se de uma aeronave especialmente modificada para ser empregada no centro de testes alemão. 

O He-111 estava repleto de equipamentos de comunicação secretos e instrumentos especiais para controle e supervisão de lançamentos das bombas "V", além de possuir capacidade de lançamento de bombas V1 e muita documentação técnica.

Após a injustiça, o merecido reconhecimento

Deviatayev, foi classificado pelo Exército como "criminoso", demorou muito para mudar essa alcunha, tendo ido trabalhar em sua cidade natal como operário. Após algum tempo, foi convidado pelo pai da cosmonáutica soviética, o designer Serguei Koroliov, para ajudar em suas pesquisas sobre os mísseis balísticos e de cruzeiro alemães, contribuindo para o desenvolvimento de sistemas avançados de armas de mísseis da União Soviética. E somente em 1957, após a morte de Stalin, por iniciativa do cientista, Mikhail Petrovitch Deviatáiev foi agraciado com o título de Herói da União Soviética.  O protagonista da fabulosa fuga morreu em 2002, aos 85 anos.

Recentemente o cinema lançou suas lentes sobre essa fantástica história, com lançamento do filme que relata essa que com certeza é uma das fugas mais ousadas de um campo de concentração nazista durante a Segunda Guerra Mundial, intitulado “V-2. Escape from Hell”, o filme que conta a história da fuga de Deviataiev com bombardeiro alemão é dirigido pelo proeminente diretor russo Timur Bekmambétov.


Por: Angelo Nicolaci


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