domingo, 2 de maio de 2021

EUA inicia fase final de retirada do Afeganistão, entenda o cenário.

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Após quase vinte anos do inicio da "Guerra ao Terror" e a ocupação norte-americana com apoio de uma coalizão internacional do Afeganistão. Finalmente os EUA iniciam a fase final do que parecia ser uma “guerra sem fim”.

A operação de retirada de tropas começou formalmente no sábado (1), com a retirada das últimas tropas dos EUA e da OTAN, seguindo o anunciado pelo presidente norte-americano Joe Biden, que havia definido o dia 1º de maio como o início oficial da retirada das forças remanescentes, cerca de 3.500 soldados dos EUA e aproximadamente 7.000 soldados da OTAN.

Os militares tem ainda uma grande tarefa em sua logística de desmobilização no país, tendo de preparar um inventário, onde será discriminado o que será enviado de volta aos Estados Unidos, o que será entregue às forças de segurança afegãs e o que será baixado e vendido como lixo no Afeganistão. Nas últimas semanas, já é notório o grande fluxo aéreo de cargueiros militares no Afeganistão, com diversos equipamentos sendo embarcados e despachados a bordo dos gigantescos cargueiros C-17.

Estima-se que nas quase duas décadas de conflito, os EUA gastaram mais de 2 trilhões de dólares no Afeganistão, segundo o estudo "Costs of War" da Brown University, que documenta os custos do envolvimento militar dos EUA naquele teatro de operações.

Oficiais do Departamento de Defesa e diplomatas disseram à Associated Press que a retirada envolveu o fechamento de bases menores no ano passado. Eles disseram que desde que Biden anunciou a data de retirada em meados de abril, apenas cerca de 60 militares deixaram o país.

Os Estados Unidos e seus aliados da OTAN invadiram o Afeganistão em 7 de outubro de 2001 para caçar os extremistas ligados a Al Qaeda, responsável  pelos ataques de 11 de setembro, os quais tinham no país um de seus refúgios e principal centro de treinamento, onde tinham o apoio e proteção dos talibãs que mantinham o domínio do país. Dois meses depois, o Talibã havia sido derrotado e os combatentes da Al Qaeda e seu líder, Osama bin Laden, estavam fugindo.

Em seu anúncio de retirada no mês passado, Biden disse que a missão inicial foi cumprida há uma década, quando os SEALS da Marinha dos EUA eliminaram Osama Bin Laden em seu esconderijo no Paquistão. Desde então, a Al Qaeda foi perdendo força, enquanto o terrorismo internacional passou por mudanças, com surgimento de novos grupos e a ameaça representada pelo "Estado Islâmico", repercutindo em um fenômeno global que não se pode conter mantendo milhares de soldados em um país, segundo o discurso de Biden.

Até agora, os EUA e a OTAN não receberam promessas do Talibã de que não atacariam as tropas durante a retirada. Em resposta às perguntas da Associated Press, o porta-voz do Talibã, Suhail Shaheen, disse que a liderança do Talibã ainda está refletindo sobre sua estratégia.

O grupo insurgente continua acusando Washington de violar o acordo que assinou com o antecessor de Biden há mais de um ano. Nesse acordo, os EUA disseram que retirariam todas as tropas em 1º de maio.

Em uma declaração no sábado (1), o porta-voz do Talibã Zabihullah Mujahid, disse que a passagem do prazo de 1º de maio para uma retirada completa "abriu o caminho para os mujahidin tomarem todas as contra-ações que considerar adequadas contra as forças de ocupação".

No entanto, ele disse que os combatentes no campo de batalha vão esperar por uma decisão da liderança antes de lançar qualquer ataque, e que a decisão será baseada na “soberania, valores e interesses superiores do país”.

Força Italiana no Afeganistão realizando patrulha com sua viatura LMV "Lince", similar as viaturas adquiridas pelo Exército Brasileiro

A violência aumentou no Afeganistão desde que o acordo de fevereiro de 2020 foi assinado. As negociações de paz entre o Talibã e o governo afegão, que faziam parte do acordo, pararam rapidamente. Na sexta-feira (30), a detonação de um caminhão-bomba na província de Logar matou 21 pessoas, muitas delas policiais e estudantes.

Os afegãos pagaram o preço mais alto desde 2001, com 47.245 civis mortos, de acordo com o estudo "Costs of War". Outros milhões foram deslocados dentro do Afeganistão ou fugiram para o Paquistão, Irã e Europa.

As forças de segurança do Afeganistão devem ficar sob crescente pressão do Talibã após a retirada total dos EUA e as forças da OTAN se nenhum acordo de paz for alcançado nesse ínterim, de acordo com observadores afegãos.

Desde o início da guerra, eles sofreram pesadas perdas, com estimativas variando de 66.000 a 69.000 soldados afegãos mortos. Os militares afegãos foram castigados pela corrupção. Os EUA e a OTAN pagam 4 bilhões de dólares por ano para manter a força afegã.

Cerca de 300 mil soldados afegãos estão registrados, embora se acredite que o número real seja menor. Descobriu-se que os comandantes aumentaram os números para coletar os contracheques dos chamados “soldados fantasmas”, de acordo com o órgão de vigilância dos EUA que monitora os gastos de Washington no Afeganistão.

O ano passado foi o único ano em que as tropas dos EUA e da OTAN não sofreram perdas. O Departamento de Defesa afirma que 2.442 soldados dos EUA foram mortos e 20.666 feridos desde 2001. Estima-se que mais de 3.800 contratados de empresas militares privadas dos EUA foram mortos. O Pentágono não contabiliza suas mortes. O conflito também matou 1.144 funcionários de países da OTAN.

Enquanto isso, o Talibã está mais forte desde que foi deposto em 2001. Embora seja difícil mapear seus ganhos e controle territorial, acredita-se que eles controlam quase metade do Afeganistão.

“Estamos dizendo aos americanos que estão partindo ... vocês travaram uma guerra sem sentido e pagaram um preço por isso, e também oferecemos enormes sacrifícios por nossa libertação”, disse Shaheen na sexta-feira (30).

Em um tom mais conciliador, ele acrescentou: “Se você ... abrir um novo capítulo de ajuda aos afegãos na reconstrução e reabilitação do país, os afegãos vão apreciar”.

Ao anunciar a partida, Biden disse que aguardar as condições ideais para partir consignaria aos Estados Unidos uma permanência indefinida naquele país.

Na capital afegã e em todo o país, há um medo crescente de que o caos se instale com a saída das últimas tropas estrangeiras. Depois de bilhões de dólares e décadas de guerra, muitos afegãos se perguntam se valeu a pena.


GBN Defense - A informação começa aqui

com informações da "Associated Press" e "The Canadian Press"

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