Há sessenta e um anos atrás, uma aeronave U-2 que havia decolado de uma pista em Badabada no Paquistão com Francis Gary Powers nos comandos, foi abatida pelas Forças de Defesa Aérea Soviética enquanto cumpria uma missão de inteligência e reconhecimento fotográfico em profundidade na hoje extinta URSS, fotografando bases e silos de mísseis balísticos intercontinentais nucleares (ICBM) nas regiões perto de Sverdlovsk e Plesetsk.
A aeronave U-2 monoposto foi atingida por um míssil terra-ar S-75 "Dvina", conhecido como SA-2 "Guideline" na classificação da OTAN em 1 de maio de 1960, caindo próximo do que é hoje Yekaterinburg. Powers conseguiu ejetar em segurança, mas foi capturado pelos soviéticos e condenado a 10 anos de prisão.
O incidente causou frenesi internacional, com as operações de inteligência com aeronaves U-2 sobre a URSS sendo suspensas. Gary Powers conseguiu regressar aos EUA após ser trocado pelo espião soviético Rudolf Abel em 1962.
Aquele fatídico 1 de maio marcou a última vez que os Estados Unidos empregaram o U-2 sobre a União Soviética, pois o risco de ter suas aeronaves abatidas pelos novos sistemas de defesa aérea não compensavam, já que os satélites começavam a desempenhar a mesma função depois de 1961, mas os EUA não abandonariam os voos sobre a URSS, agora com a ameaça dos SAMs soviéticos, surgia no horizonte uma aeronave que assim como o U-2 entraria para história, mas o SR-71 "Blackbird" é tema de outro artigo.
O abate do U-2 e suas consequências
O Lockheed U-2 pilotado por Powers decolou de sua base em Badabada, no Paquistão, com a missão de sobrevoar a União Soviética, fotografando bases e silos de ICBM, e deveria pousar no norte da Noruega. Porém, as defesas soviéticas estavam em alerta e aguardando a iminente invasão do espaço aéreo por uma aeronave U-2 proveniente do sul. Então, logo após a detecção do intruso, o Tenente-General da Força Aérea Soviética Yevgueny Savistky ordenou aos comandantes das unidades aéreas que interceptassem a aeronave intrusa e se necessário abatessem o U-2.
Mas aquela época, o U-2 era quase imbatível, capaz de operar a grandes altitudes que o colocava fora do alcance de praticamente todos os meios disponíveis naquele teatro de operações, sejam aeronaves ou sistemas de misseis terra-ar. Mesmo sabendo de suas limitações, os soviéticos tentaram interceptar o U-2 empregando as soluções convencionais, o que não obteve resultado. O único sistema que teria capacidade não estava em operação por conta das comemorações do dia do Trabalho.
Segundo a versão oficial divulgada pelos soviéticos, o U-2 foi atingido e derrubado perto da cidade de Degtyarsk, nos Urais, por um dos catorze mísseis S-75 Dvina (SA-2 Guideline de acordo com a classificação da NATO), o que surpreendeu os norte-americanos.
Gary Powers ejetou com sucesso, porém, como não houve tempo hábil, Powers não acionou a carga explosiva que teria eliminado os equipamentos de inteligência e os registros feitos em seu voo, com isso a aeronave caiu no solo com os equipamentos de inteligência praticamente intactos, revelando a real missão da aeronave e servindo de prova incriminatória.
Outro fato que saiu dos planejamentos da CIA, foi que Powers sobreviveu a queda no território soviético e não cumpriu o protocolo, segundo o qual deveria cometer suicídio para evitar ser capturado, a substância tóxica estava escondida em uma moeda de um dólar, tratando-se de uma agulha embebida em uma substância tóxica chamada curare.
Um segundo míssil atingiu e danificou o U-2 ainda mais, e provavelmente teria matado Powers se ele ainda estivesse na nacele. Ele foi capturado, depois de ter sido encontrado por alguns agricultores soviéticos, que logo perceberam que estavam lidando com um estrangeiro que não falava russo.
Um fato muito curioso, é que as defesas aéreas soviéticas haviam abatido também um dos caças Mig-19 que operavam na missão de interceptação do U-2 de Powers. E o Comando só confirmou o abate da aeronave espiã após 30 minutos de ocorrido.
Um estudo cuidadoso do voo de Powers mostra que uma das principais metas era a espionagem da instalação de produção de plutônio conhecida como Chelyabinsk-65. Devido à sua extrema sensibilidade , várias baterias antiaéreas foram instaladas ao redor da planta industrial, que embora fosse bem localizada dentro do vasto território da União Soviética perto dos Urais, ainda eram passíveis de espionagem pelos U-2 norte-americanos.
Depois que o piloto americano Francis Gary Powers foi abatido sobre a União Soviética, os Estados Unidos tentaram encobrir de todos as formas sua missão de espionagem. A NASA divulgou um comunicado à imprensa afirmando que a aeronave U-2 estava realizando pesquisas meteorológicas e que havia se desviado do curso depois que o piloto relatou dificuldades com seu equipamento de oxigênio. Para reforçar o encobrimento, um avião U-2 foi rapidamente pintado com as insignias da NASA e um número de série fictício. Ele foi exibido para a mídia em 6 de maio de 1960, no Centro de Pesquisa de Voo da NASA na Base Aérea de Edwards.
O líder soviético Nikita Khrushchev exigia um pedido de desculpas dos Estados Unidos durante uma entrevista coletiva em 18 de maio de 1960, em Paris. O avião espião dos EUA foi abatido cerca de duas semanas antes da cúpula dos líderes Leste-Oeste na capital francesa. A reunião entre Khrushchev, o presidente dos EUA Dwight D. Eisenhower, o presidente francês Charles de Gaulle e o primeiro-ministro britânico Harold Macmillan desmoronou e levou a um aumento nas tensões da Guerra Fria.
Três meses depois de ser abatido, Powers foi ao banco dos réus da Suprema Corte da URSS e foi julgado pelo Conselho Militar Soviético em 19 de agosto de 1960. Powers era um oficial da Agência Central de Inteligência (CIA). Apesar dos esforços de seus advogados e as negativas norte americanas sobre a missão de espionagem realizada por Powers e seu U-2, o piloto foi condenado por espionagem e sentenciado a 10 anos de prisão, dos quais seriam três em regime fechado e sete num campo de trabalhos forçados.
Durante o julgamento que ganhou os holofotes do mundo, as autoridades soviéticas colocaram o que disseram ser os destroços do U-2 abatido em uma exposição no Parque Gorky em Moscou. Powers foi forçado a inspecionar os destroços da aeronave.
Durante seu julgamento, o capacete, o traje pressurizado e o pára-quedas de Powers foram apresentados como evidências físicas de que ele era um espião dos Estados Unidos. Após horas de julgamento, Powers ouviu o veredicto lido em 20 de agosto de 1960. Powers se declarou culpado e foi condenado.
Powers não chegou a cumprir sua sentença de 10 anos, pois o advogado do Brooklyn, James B. Donovan desempenhou um grande papel na libertação de Powers. O influente advogado negociou uma troca entre o governo dos EUA e a URSS, onde os soviéticos libertariam Powers em troca da libertação do soviético Rudolf Abel condenado em 1962 por espionagem. Rudolf Abel foi preso em agosto de 1957 e mais tarde condenado por ser um espião soviético. Abel morava há nove anos no Brooklyn, em Nova York, onde posou como artista.
Em 10 de fevereiro de 1962, Abel foi secretamente trocado por Powers na ponte Glienicke entre Berlim Ocidental e a Alemanha Oriental, onde ocorreu a troca. A troca de espiões inspirou o filme "Ponte dos Espiões" (Bridge Of Spies de 2015), dirigido por Steven Spielberg.
Após retornar aos Estados Unidos, Powers trabalhou como piloto de testes na Lockheed entre 1962 e 1970. Mais tarde passou a trabalhar como piloto de helicóptero e repórter de transito da KNBC News em Los Angeles.
No dia 1 de agosto de 1977 um acidente aéreo tirou a vida de Powers, quando seu helicóptero caiu enquanto fazia a cobertura de incêndios florestais, matando Powers e seu cameraman. Alguns teóricos de conspirações, afirmam que o acidente de Garry Powers havia sido fruto de uma ação de sabotagem.
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