A US Navy (Marinha dos EUA) já deu inicio aos planos para substituir o valente F/A-18 E/F "Super Hornet", e a próxima geração de caças de ataque embarcados dos EUA "provavelmente ainda será tripulado". A futura aeronave naval da USN deverá operar ao lado de plataformas remotamente pilotadas ou mesmo autônomas, comandadas por Inteligência Artificial. Essa nova doutrina de emprego misto, deverá representar uma grande revolução no poder aéreo, onde se especula que seis em cada dez aeronaves embarcadas devam ser remotamente pilotadas, onde seus operadores podem até mesmo estar à milhas de distância em bases terrestres, representando também uma redução no número de pilotos embarcados.
O Next-Gen Air Dominance, mais conhecido pela sigla NGAD, trata-se na verdade de um novo conceito de domínio aéreo, o qual esta amparado numa rede composta por vários sistemas, a qual terá como principal plataforma a futura aeronave que surgirá para atender aos requerimentos do F/A-XX, a qual ainda não foi definido se será ou não tripulada, apesar de tudo indicar que a nova geração ainda seja composta por aeronaves tripuladas, sendo a única certeza que a geração seguinte ao NGAD, com certeza será uma plataforma não tripulada.
A família F/A-18 tem dominado o convoo dos navios-aeródromos da USN há quase três décadas, tendo substituindo uma série de plataformas dedicadas, representando o ápice do conceito multifuncional, com apenas uma plataforma sendo capaz de desempenhar um vasto mix de missões que antes demandavam diversos tipos de aeronaves. A última variante do F/A-18 (E/F) denominada "Super Hornet", foi uma grande evolução dos "Hornet" em suas primeiras variantes, podendo ser classificada não apenas como uma nova variante do bem sucedido projeto lançado pela extinta McDonnell Douglas que voou pela primeira vez nos idos de 1978, para ser exato no dia 18 de novembro daquele ano, mas sim uma nova aeronave. O F/A-18 E/F Super Hornet foi a solução encontrada para concluir a renovação dos meios aéreos embarcados, substituindo os icônicos F-14 Tomcat e posteriormente as variantes anteriores C/D, que substituíram os A-4 Skyhawk, A-6 Intruder, A-7 Corsair, F-4 Phantom e os exemplares mais antigos do F-14 Tomcat.
O F/A-18 E/F predomina na frota de aeronaves de ataque da USN, composta de aeronaves que podem executar missões de superioridade aérea e ataque. Apesar da Marinha dos EUA ter encomendando vários exemplares do F-35C Joint Strike Fighter , esta compra esta limitada a apenas um número suficiente de aeronaves para substituir os F/A-18 E/F de um ou dois dos quatro esquadrões de aeronaves de ataque de navios-aeródromos (NAe) desdobrado. A Marinha acredita que precisa substituir o Super Hornet e sua variante de guerra eletrônica, o EA-18G Growler, já na próxima década, e o F-35C com seus custos operacionais exorbitantes, somados aos diversos problemas ao longo do desenvolvimento da aeronave, não são encarados como uma opção, devendo-se ter uma nova geração de caças-bombardeiros navais no início de 2030.
O NGAD representa os esforços da USN para substituir o "Super Hornet". Apesar de compartilhar alguns requisitos, o programa caminha completamente separado do próprio NGAD em desenvolvimento pela USAF, que recentemente projetou, testou e voou uma nova aeronave secreta, devendo resultar na produção de uma aeronave completamente distinta.
As duas aeronaves resultantes dos conceitos NGAD desenvolvidas pela USAF e USN, certamente resultarão em aeronaves bem diferentes, com a aeronave da USAF mais otimizada para superioridade aérea. É provável que os dois caças, desenvolvidos aproximadamente no mesmo período de tempo, compartilhem muito da mesma tecnologia.
O NGAD da USN deve fazer parte de uma "família de sistemas", onde aeronaves tripuladas e não tripuladas devem operar em conjunto, com elemento não tripulado atuando como um porta-mísseis, aliando ao NGAD maior poder de fogo, conferindo maior capacidade e superioridade aérea ao porta-aviões.
Os trabalhos no novo conceito de emprego do poder aéreo pela USN, apontam na direção de uma força aeronaval composta inicialmente por 60% de aeronaves tripuladas e 40% não tripuladas, porém, esses números podem ser revertidos para 60% de aeronaves remotamente pilotadas compondo o destacamento aéreo embarcado (DAE) nos navios-aeródromos da USN porta-aviões.
O conceito por trás do NGAD, não se limitará as missões de caça (superioridade aérea) e ataque, onde as plataformas não tripuladas (drones) poderiam assumir as funções de guerra eletrônica (Growler) e de alerta aéreo antecipado (E-2D Hawkeye).
A nova doutrina objetivada pelo NGAD, representará uma verdadeira mudança nos paradigmas operativos a bordo dos navio-aeródromos (NAe) hoje em operação. Enquanto o destacamento aéreo embarcado padrão da USN hoje é composto basicamente por um corpo aéreo de 76 aeronaves de asa fixa e alguns meios de asas rotativas, esse número deverá ser facilmente ampliando, podendo ser duplicado de acordo com a demanda e as missões que seja objetivo da Força Tarefa. Para exemplificar, durante o turbulento período da Guerra Fria, os NAe da classe Nimitz com aproximadamente o mesmo espaço de convés e volume foram rotineiramente para o mar com um DAE composto por cerca de 90 aeronaves.
Dependendo das dimensões e custos operativos dos novos meios propostos pelo NGAD, a capacidade de projeção de poder e o domínio aéreo representado por uma força tarefa nucleada por um NAe, fará com que forças oponentes repensem qualquer ataque contra a Força Tarefa, forçando hipotéticos inimigos dos EUA a investirem pesadamente em armas e sistemas defensivos com maior raio de ação, que sejam capazes de operar além do alcance das Forças Tarefas da USN e forças conjuntas no âmbito da OTAN.
Um importante ganho proposto pelo NGAD, diz respeito a capacidade de absorver perdas materiais, além de expor menos o elemento humano as ações inimigas, garantindo a capacidade de manter o moral e o poder aéreo diante de perdas. Com a perda material sendo mais facilmente assimilada que a risco de perder pessoal.
O investimento na solução representada pelo emprego de meios aéreos mistos (Aeronaves Tripuladas + Drones), traz a oportunidade de equilibrar os custos compreendidos em manter uma força aeronaval capaz de entregar projeção de força e domínio aéreo. O custo da aviação embarcada de um navio-aeródromo é extremamente alto, com um NAe da classe Gerald R. Ford custando algo em torno de 12 bilhões de dólares, e DAE composto geralmente por 44 caças-bombardeiros chegam a aproximadamente 100 milhões cada (F-35C). Esse custo não considera os demais meios de apoio, como aeronaves de comando e controle aéreo E-2D Hawkeye, reabastecedores MQ-25A Stingray, helicópteros MH-60 Seahawk e de transporte CMV-22 Osprey, que custam por volta de 1,5 bilhões de dólares. Limitando-se ao NAe e seu DAE, por que se formos considerar os meios de escolta que compões um Grupo Tarefa, o valor vara facilmente os 10 bilhões de dólares, tendo em vista a necessidade de operar em conjunto com pelo menos um cruzador de mísseis guiados, dois ou três destróier de mísseis guiados e um submarino nuclear de ataque.
Nesse contexto, aeronaves remotamente tripuladas representam a melhor opção para USN de reverter os custos colossais de toda estrutura de seu poderio. O custo de drones é invariavelmente muito menor que o de aeronaves tripuladas hoje, podendo embarcar 20 UCAV propostos pelo NGAD, o que dá maior flexibilidade de emprego do poder aéreo, ampliando o número de aeronaves de combate no DAE capazes de disparar mísseis ou lançar bombas em quase 50%. Esse ganho pode ser amplificando se forem substituídas plataformas tripuladas por mais plataformas remotamente tripuladas. Dinate de um orçamento mundial de defesa cada vez mais enxuto, o futuro do NAe como o conhecemos dependerá em grande parte do sucesso no desenvolvimento do NGAD e a nova doutrina de emprego do poder aéreo embarcado.
Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN News, graduando em Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do oriente médio, leste europeu e América Latina, especialista em assuntos de defesa e segurança.
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