sábado, 10 de abril de 2021

KF-21 Boramae: Coréia do Sul apresenta ao mundo seu caça de 5ª geração


A Coreia do Sul revelou oficialmente ao mundo o protótipo do seu novo caça de combate na última sexta-feira (9), denominado oficialmente como KF-21 Boramae, a aeronave é fruto do programa conhecido como KF-X, o qual representa um grande salto para industria de defesa e aerospacial do país asiático.

A cerimonia contou com a presença do presidente Moon Jae-in, que compareceu ao evento promovido pela Korea Aerospace Industries (KAI) em Sacheon, Província de Gyeongsang do Sul, marcando a apresentação oficial do primeiro protótipo do avançado KF-21 Boramae. O ministro da Defesa da Indonésia, Prabowo Subianto, e mais de 230 membros do governo de ambos os países também participaram da cerimônia. A Indonésia é parceira do projeto que visa desenvolver uma aeronave stealth de 5ª geração.

“Uma nova era em autodefesa chegou e estabelecemos um marco histórico no progresso de nossa indústria de aviação”, disse Moon. “Também expresso minha sincera gratidão ao governo da Indonésia por confiar na capacidade da Coréia e se tornar um parceiro neste projeto de co-desenvolvimento. Até que o desenvolvimento esteja completo e os dois países estejam prontos para a produção em massa para fazer incursões em mercados de outros países, a Coreia e a Indonésia trabalharão juntas. ”

O mais novo desenvolvimento aerospacial asiático, apresenta-se como um caça bimotor com tecnologia stealth, garantindo baixo assinatura radar (RCS). O KF-21 terá duas variantes, uma monoplace e outra biplace, cobrindo um variado leque de missões, marcando a entrada da Coréia do Sul com o desenvolvimento da Korea Aerospace Industries no seleto grupo de países que hoje possuem capacidade tecnológica de produzir aeronaves de 5ª geração, status que até o momento só três potências dominam (EUA, China e Rússia), onde os asiáticos saltam à frente dos europeus, onde além da China, agora a Coréia do Sul também passa a fazer parte deste "clube".

O novo KF-21 é um dos projetos estratégicos sul-coreanos de maior importância, visando substituir várias aeronaves operadas pela sua força aérea atualmente, conferindo capacidades inéditas ao país, que projeta e produzirá uma aeronave de última geração, a qual esta pronta para os desafios impostos pelo moderno campo de batalha, com conceito tecnologicamente avançado.

O "Boramae" é uma aeronave multifuncional, resultando de um intenso programa de desenvolvimento que teve inicio em 2016. A Indonésia embarcou no programa de desenvolvimento financiando 20% custo total de desenvolvimento do KF-21, estimado em 1,55 bilhões de dólares, devendo receber 50 aeronaves para Força Aérea da Indonésia, além de um extenso programa de transferência de tecnologia.

Quando o KF-21 "Boramae" completar a fase de testes e certificações, a Coreia do Sul será a oitava nação do mundo a desenvolver uma aeronave supersônica avançada com sua própria tecnologia,e a terceira a desenvolver e produzir uma aeronave Stealth. Segundo foi anunciado a produção em série terá início logo após cumprir a fase de testes e certificações, com cronograma inicial de 40 KF-21 entregues em 2028 e 80 em 2032, somando uma força composta por 120 aeronaves.

“O governo pretende se tornar uma das sete maiores potências da aviação na década de 2030 e fortalecerá a independência tecnológica do país em motores de aerospaciais e outras tecnologias essenciais”, disse Moon. “Além disso, o governo fará investimentos de longo prazo em tecnologias para aeronaves elétricas ou a hidrogênio e mobilidade aérea urbana.”

De acordo com o governo, 719 empresas coreanas participaram do desenvolvimento do KF-21. Cerca de 65% das mais de 30.000 peças usadas no protótipo do "Boramae" foram feitas na Coréia, e a Administração do Programa de Aquisição de Defesa e a KAI planejam aumentar essa porcentagem ao longo do programa.

Entre os componentes construídos pela indústria sul-coreana estão o radar AESA; a suíte de guerra eletrônica; o pod infravermelho de busca e rastreamento; e o pod de mira eletro-óptica.

O governo estima que o projeto criou um impacto positivo na economia do país asiático, gerando retorno financeiro a várias indústrias do país e criando mais de 12.000 empregos entre 2016 e 2020. Quando atingir a produção em série, estima-se que 100.000 novos empregos serão criados e sua economia receberá uma injeção de bilhões de dólares de acordo com o governo.

O KF-21 apesar de exibir conceitos e tecnologias de redução de assinatura radar, é considerado por alguns especialistas como uma aeronave de 4,5 geração, comparável em capacidades as últimas variantes do F-16 e menos capaz e furtivo do que o F-35 Lightning II, comparável a proposta de 5ª geração russa com seu Su-57.

Segundo a KAI a aeronave será submetida a testes em solo este ano, com seu voo inaugural programado para julho de 2022. A produção em série do KF-21 block-I terá início quando os seis protótipos completarem 2.200 surtidas nos próximos quatro anos, de acordo com a empresa. Quase 11 bilhões de dólares devem ser gastos para o desenvolvimento do KF-21 entre 2015 e 2028.

Com peso máximo de decolagem de 25.600 quilos, a aeronave terá 10 hardpoints podendo ser armada com mísseis ar-ar e outros armamentos. Capaz de atingir Mach 1.8, com um raio de ação de 2.900 quilômetros. O caça será impulsionado por dois motores F414 desenvolvidos pela General Electric.

O radar AESA foi lançado em agosto de 2020. De acordo com a Hanwha Systems, o radar tem um módulo de cerca de 1.088 receptores transmissores, com um ângulo de direção do feixe de 60-70 graus. O número de receptores de transmissores deve aumentar para cerca de 1.300.

Os Riscos do Programa

Apesar das expectativas aventadas com lançamento do protótipo dentro do cronograma proposto, a nova aeronave assim como qualquer projeto aerospacial, não esta livre dos imprevistos e riscos envolvidos no desenvolvimento de novas tecnologias.

Apesar da Indonésia figurar como único parceiro dos sul-coreanos na empreitada, o país ainda pode deixar o programa KF-X . Embora a Indonésia tenha se comprometido em arcar com 20% dos custos de desenvolvimento através do acordo firmado em 2016, onde ficou prevista a aquisição 50 aeronaves, além do programa de transferência de tecnologias para os indonésios no âmbito do IF-X (como é denominado o KF-X na Indonésia) . Os indonésio não cumpriram com  sua parte no acordo, tendo arcado até o momento com apenas 13% do seu compromisso financeiro. 

Jacarta tenta justificar o atraso no cumprimento de suas obrigações no programa de desenvolvimento alegando restrições orçamentárias domésticas e supostamente estaria renegociando os termos dos acordos sobre o KF-X/IF-X com foco em impulsionar a transferência de tecnologia.

Outro ponto sensível do programa esta ligado ao desenvolvimento do míssil ar-solo de longo alcance que esta previsto para ser integrado ao KF-21 Block-II, que esta previsto para 2032. Disputas entre centros de desenvolvimentos e agência do governo, tem emperrado o desenvolvimento do ALCM.

Apesar dessa disputa interna entre instituições do governo, a iniciativa privada tem se mostrado interessada em desenvolver o ALCM, com a Hanwha Corporation, LIG ​​Nex1 e KAI demonstrando interesse no desenvolvimento em parceria com fabricantes estrangeiros, porém, ainda não está claro se o ALCM poderia ser desenvolvido antes da implantação do Block I em 2028.

Mais uma ponta solta que preocupa, diz respeito ao radar AESA desenvolvido localmente, apesar dos avanços no desenvolvimento do hardware, ainda há o desafio em integrar o mesmo aos sistemas da aeronaves. Desenvolver o software e integrá-lo ao radar AESA é considerado um ponto chave do programa, segundo os especialistas um ponto complexo que pode comprometer o andamento do programa, podendo resultar em atrasos e aumento nos custos previstos inicialmente.

Apesar da inovação e tudo que traz consigo, o KF-21 "Boramae" ainda tem um longo caminho a percorrer até atingir sua maturidade e conquistar o status plenamente operacional. Os custos ainda se limitam a uma previsão, a qual como em todo programa de defesa, esta suscetível a superar o previsto, não faltam exemplos de programas que superaram o custo previsto, haja visto o norte americano F-35. Vamos aguardar o caminhar do programa.


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