domingo, 28 de março de 2021

Canal de Suez - Ever Given, uma visão sobre o acidente e seu impacto

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Na última terça-feira (23), o M/V Ever Given que partiu da China rumo ao porto de Rotterdam na Holanda, após enfrentar fortes ventos na entrada do Canal de Suez, sofreu um sinistro e encalhou atravessado no Canal, interrompendo o tráfego de embarcações naquele importante corredor marítimo.

O Ever Given é um navio porta-contêiner construído em 2018, um gigante com a capacidade de carga de 20.000 TEU (Twenty-foot Equivalent Unit - unidade que se refere a um contêiner de 20 pés, ou seja, equivale a um contêiner padrão de 6.10m (comprimento) x 2.44m (largura) x 2.59m (altura), ou aproximadamente 39m³) e seu calado atual é de 15,7 metros. O comprimento total (LOA - refere-se ao comprimento máximo de uma embarcação, entre as partes do casco mais salientes à proa e à popa, medido perpendicularmente à linha de água) é de 399,94 metros e sua largura (Boca Máxima) é de 59 metros. 


Para entendermos um pouco sobre o sinistro com o navio que está bloqueando o canal de Suez desde o dia 23, é preciso entender um pouco sobre o cenário que se desenvolveu naquele dia, quando um vento sul muito forte, atingindo aproximadamente 26 nós (50km/h) na entrada do canal atingiu o navio por boreste, o lançando perpendicularmente contra a margem do canal. 

O M/V Ever Given quando carregado, como se encontra no momento, possui uma área vélica de aproximadamente 23mil m², o que maximiza os efeitos do vento sobre o navio, principalmente se o mesmo navega num estreito canal como o de Suez, tornando muito difícil e perigosa a tarefa de governar o navio. 

Como foi atingido pela rajada de vento à Boreste (BE - Bordo direto) a tendencia do navio foi seguir perpendicularmente para Bombordo (BB - bordo esquerdo),  levando o navio perigosamente aproximo da margem, onde sofreu o efeito chamado “bank effect”, ou efeito de banco, que em termos práticos faz com que a popa do navio seja puxada em direção a margem e a proa empurrada para fora dela. 

O complexo cenário exigiu muito da tripulação na tentativa de manter o rumo do navio, o qual passou a guinar rapidamente para longe da margem, e ainda sob o forte vento de través, navegando pelo canal que é estreito, demandou uma manobra arriscada para tentar vencer o efeito Bank Effect que agora agia de ambos os lados conforme o navio se aproximava da outra margem e o vento forte de través fustigava por BB. 

As dimensões do Ever Given se comparam ao edifício Empire States

Segundo relatos, a decisão adotada foi dar máquina à vante, elevando a velocidade para aproximadamente 12 nós (22 km/h) o efeito sobre a governabilidade do navio foi similar ao que ocorre com um automóvel em alta velocidade que derrapa em pista molhada, e a cada movimento de aproximação e afastamento das margens o efeito Bank Effect foi ganhando mais força, até o ponto de tornar impossível de controlar o navio naquele canal estreito, foi então que após uma guinada adentrou a margem, um impacto de 220 mil toneladas à 12 nós. A energia cinética do Ever Given no impacto contra a margem do Canal de Suez foi de aproximadamente 415.306 ton/m (Energia cinética do navio, expressa em Ton/m), com base nesse dado temos a dimensão das dificuldades enfrentadas pelas equipes de desencalhe do navio.

Neste domingo (28), haviam 327 embarcações fundeadas nas proximidades do canal aguardando a liberação do trafego, segundo informou a agência LETH. O impacto gerado pela interrupção do trafego no canal que liga Ásia e a Europa, tem gerado o atraso no transporte de mercadorias, criando um prejuízo avaliado em 9,6 bilhões por dia, segundo a consultoria Lloyd's List Intelligence, o trafego médio de 50 navios por dia foi completamente interrompido, isso logo terá impacto direto em mercados consumidores ao redor do globo, ressaltando que aproximadamente 12% do comércio mundial trafega pelo Canal de Suez.



A operação de remoção do navio pode demandar dias ou até mesmo algumas semanas segundo especialistas. Caso não obtenha sucesso na atual manobra, que consiste em drenar a areia ao redor da proa do navio, onde se trabalha na perspectiva de esvaziar os tanques de lastro da proa afim de garantir maior flutuabilidade na seção que se encontra presa a margem, usando a maré alta e rebocadores potentes para tentar remover o navio na próxima segunda-feira (29). Até agora a dragagem deslocou pelo menos 27.000 metros cúbicos de areia e lama ao redor do navio

Outra solução plausível e eficiente demanda um longo período de tempo, e também apresenta enormes desafios técnicos e logísticos, onde a remoção de parte da carga do navio auxiliaria no alivio de peso da proa e facilitaria a operação. Mas, esta alternativa tem sérios gargalos na capacidade logística de se efetivar a operação, demandando cábreas de grande capacidade e dimensões para remover os contêiner de bordo, o problema em si não seria nem tanto o deslocamento das cábreas, mas onde seriam posicionadas, o mesmo se dá com relação aos contêiner, não havendo espaço útil nas margens que facilite a operação.  

Diante das incertezas geradas pelo insucesso das primeiras tentativas de remover o Ever Given, alguns armadores optaram por contornar o sul da África retomando a antiga rota mercantil que demanda aproximadamente 12 dias de viagem além do previsto pelo uso do Canal de Suez.

O acidente mostra um grave ponto de fragilidade das rotas de comercio internacional, o que demanda atenção e investimento internacional afim de minimizar o impacto gerado pela interrupção do trafego, quer seja por acidentes como o sofrido pelo Ever Given, ou mesmo ações que possam ser realizadas por grupos terroristas. 

Desde sua inauguração em 1869, o Canal de Suez no Egito é fonte de orgulho para os egípcios e já foi foco de conflitos internacionais. O Canal de Suez é um dos maiores atalhos marítimos do mundo, conectando os mares Vermelho e Mediterrâneo através de uma passagem estreita que reduzindo em milhares de quilômetros a maioria das rotas de comércio leste-oeste.

Em 1956 o Brasil teve papel relevante participando da UNEF-I, onde 20 contingentes do Exército Brasileiro atuaram na força de paz da ONU que garantiu o cumprimento do cessar fogo decorrente da escalada que levou ao conflito, após a nacionalização do Canal de Suez por Gamal Abdel Nasser em 26 de julho de 1956. A decisão celebrada pelos egípcios como uma ruptura desafiadora com o imperialismo europeu, levou o Reino Unido, França e Israel a intervir militarmente e ocupar a zona do canal.

Enquanto os combates se intensificavam, navios afundados isolaram o canal por meses. Os Estados Unidos e a União Soviética, que se opuseram abertamente à invasão, acabaram forçando os três países a se retirarem. O Egito conseguiu reabrir o canal em março de 1957, no que foi visto em toda a região como uma vitória do nacionalismo pan-árabe.

Dez anos depois, a Guerra dos Seis Dias em 1967, levou o Egito a fechar o canal para a navegação internacional quando forças israelenses atacaram a zona do canal e se entrincheiraram na Península do Sinai. Este episódio resultou no mais longo período em que o Canal esteve fechado, permanecendo por oito anos bloqueado. 

Navios afundados pelo Egito durante a Guerra dos Seis Dias

Durante a Guerra dos Seis Dias, o canal acumulou minas, bombas e navios naufragados, com a hidrovia sendo transformada numa trincheira fortificada. Foi somente em 1975 após negociações de paz entre o presidente egípcio Anwar Sadat e o governo de Israel que o canal voltou a ser aberto ao trafego marítimo internacional.

Naquela ocasião, o fechamento do canal resultou na perda de 1,7 bilhões de dólares ao comércio internacional e aumentou os custos do frete marítimo, lembrando que se tratava do auge da Guerra Fria e não se tinha uma demanda como a que se apresenta no mundo hoje.

O terrorismo internacional já tentou atacar o trafego no Canal de Suez em 2013, quando duas embarcações foram atacadas na hidrovia com granadas propelidas por foguete, causando pequenos danos. Apesar das repetidas promessas de mirar na hidrovia, o terrorismo internacional e grupos radicais que operam na região até agora não conseguiram impactar o tráfego marítimo, mas são uma ameaça que não pode ser ignorada.

Não é plausível ignorar a hipótese de um ataque terrorista contra um navio mercante de grande porte como o Ever Given para atingir o trafego marítimo internacional, onde o afundamento de um navio de grade dimensões no meio do Canal de Suez, ou mesmo outros canais de importância ao comercio internacional seria um grande pesadelo, ocasionando impacto econômico em escala mundial. Diante dessa hipótese, fica clara a necessidade de se criar vias alternativas que possam minimizar o impacto de um sinistro como o que se desenvolve no Canal de Suez, ou mesmo um ataque terrorista.


Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN News, graduando em Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do oriente médio, leste europeu e América Latina, especialista em assuntos de defesa e segurança.


Colaboraram para o artigo:

Renato Henrique Marçal de Oliveira é químico e trabalha na Embrapa com pesquisas sobre gases de efeito estufa. Entusiasta e estudioso de assuntos militares desde os 10 anos de idade, escreve principalmente sobre armas leves, aviação militar e as IDF (Forças de Defesa de Israel), articulista do GBN Defense

Rodiceia Rodrigues - Química Industrial e Licenciada em Química

Cristine Bezerra da Costa - Assistente editorial GBN Defense

Tatiana Gonçalves -  Bacharel em Administração, Engenharia de Produção, atuando no setor Offshore


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quinta-feira, 18 de março de 2021

As 'super armas' da Rússia não passam de fumaça e espelhos

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Apesar do fim da Guerra Fria décadas atrás, e da grande ameaça que antes era a União Soviética dando lugar a uma Federação Russa financeiramente anêmica, o regime russo de Vladimir Putin conseguiu permanecer na vanguarda das preocupações de defesa americanas de forma consistente durante a era moderna. Hoje, a Rússia compartilha o papel de antagonista nas discussões de estratégia militar e no treinamento de oponentes de quase igual nível com a China, outra nação com uma pegada militar significativamente menor do que os EUA. A ameaça real que essas nações representam para a segurança e os interesses americanos no exterior servem como um lembrete valioso que uma nação não precisa igualar os gastos com defesa da América para representar uma ameaça legítima ao aparelho de defesa da América.

Mas os esforços de modernização militar de longo alcance e expansão da China, juntamente com políticas agressivas em lugares como o Mar do Sul da China, tornam o enorme Exército de Libertação do Povo da China talvez a ameaça mais potente ao domínio americano globalmente. A Rússia, por outro lado, representa principalmente uma ameaça militar direta na Europa, onde a proximidade do aliado russo Bielorrússia e do enclave russo de Kaliningrado cria uma passagem estreita entre a Polônia e a Lituânia, chamada de Falha Suwalki.

 

Pontos fortes da Rússia na 'Zona Cinzenta'

Oficiais da OTAN já reconhecem que um esforço conjunto para capturar a Falha Suwalki feito pelas forças russas provavelmente teria sucesso, separando os Estados Bálticos de seus aliados da OTAN. Enquanto esforços estão em andamento para mitigar essa ameaça, a verdadeira força da posição da OTAN vem do conhecimento de que a economia da Rússia provavelmente não poderia sustentar uma guerra prolongada na escala que um conflito com a OTAN exigiria. Simplificando, a agressão da Rússia costuma ser mais moderada por seu próprio bolso do que pela presença de forças da OTAN.

Então, por que a Rússia parece dominar as discussões americanas sobre defesa e segurança, quando o objetivo declarado da China de substituir os Estados Unidos como líder diplomático e econômico mundial representa uma ameaça mais direta aos interesses americanos? Embora uma questão desta magnitude possa ser respondida de várias maneiras, uma das razões mais significativas pelas quais a Rússia continua sendo o assunto de nossa preocupação coletiva não é nada mais, nada menos do que o bom e velho marketing.

Como a União Soviética antes dela, a Rússia colocou uma ênfase significativa nas operações da 'zona cinzenta' e na gestão narrativa em sua política externa e esforços militares. A zona cinzenta, neste caso, significa operações militares que levam até o limite de atos de guerra declarados, mas param a um passo de iniciar um conflito real. Exemplos desse tipo de operação incluem obter acesso à rede elétrica da América, conduzir assassinatos em solo estrangeiro e até mesmo tentativas de coibir investigações sobre suas violações do direito internacional, entre muitos outros.

 

Controle reflexivo e a narrativa russa

A Rússia fez um progresso considerável no reino narrativo da geopolítica graças à adoção de uma prática conhecida como “controle reflexivo”, que remonta à era soviética. O controle reflexivo foi talvez melhor resumido pela redatora da Georgetown Security Studies Review, Annie Kowalewski, que também citou o trabalho de Mark Mateski em sua descrição:

“O controle reflexivo é um conceito 'exclusivamente russo' baseado em maskirovka , uma velha noção soviética em que se 'transmite a um oponente informações especificamente preparadas para incliná-lo a tomar voluntariamente a decisão predeterminada desejada pelo iniciador da ação.'”

O controle reflexivo não é uma teoria da conspiração imaginada por pesquisadores ocidentais, mas sim uma estratégia militar legítima ensinada em escolas militares russas e programas de treinamento, bem como incluída na Doutrina Gerasimov da Rússia, que faz parte da estratégia de segurança nacional do país. O controle reflexivo é uma quantidade conhecida na esfera da defesa há décadas, mas apesar da familiaridade dos Estados Unidos com essa prática, a nação ainda se mostrou suscetível a ser influenciada por campanhas na era digital, reforçada pela adoção da mídia social pela Rússia como meio para os mesmos fins.

Embora muitos atribuam os esforços da Rússia para se intrometer na eleição presidencial dos Estados Unidos de 2016 a essa prática, um exemplo talvez mais valioso poderia ser o caos político que se seguiu. Os esforços narrativos russos vão muito além de uma eleição ou candidato e, na verdade, envolvem quase todas as facetas do conflito tecidas na cultura americana. Campanhas de influência russa foram atribuídas a candidatos de ambos os partidos políticos, ao debate americano sobre vacinação e até mesmo a filmes de sucesso de verão . Em qualquer lugar que a Rússia veja uma cisão existente entre o povo americano (ou o povo de qualquer outra nação adversária), eles trabalham para exacerbar o conflito, enfraquecendo as nações opostas por dentro.

Mas os esforços de controle narrativo da Rússia não se limitam a dar um grande impulso ao conflito latente. Essas mesmas práticas também são utilizadas para fazer a Rússia parecer um oponente mais ameaçador para alguns e um distribuidor valioso de tecnologia militar para outros.

 

Usando a narrativa para transmitir força

O orçamento anual de defesa da Rússia tende a girar em  torno de US$ 60 bilhões, o que a coloca em pé de igualdade com nações como o Reino Unido, apesar de manter uma força que é significativamente maior do que a de seus pares que gastam valores parecidos. Como resultado, a Rússia foi forçada a tomar decisões difíceis em relação à alocação de seu magro orçamento - por exemplo, sacrificando as capacidades de sua frota de superfície para aumentar os gastos em novos submarinos, e limitar os pedidos de plataformas tecnologicamente avançadas, como o MBT¹ T-14 Armata tanque e caça stealth Su-57 para pouco mais do que números "simbólicos", como alguns exemplos.

O único porta-aviões da Rússia, o almirante Kuznetsov, provavelmente nunca mais navegará. (WikiMedia Commons)

A Rússia continua a desenvolver esses sistemas, apesar da incapacidade de financiar sua produção em massa, em parte porque simplesmente  ter uma capacidade militar costuma ser suficiente para que seu nome seja mencionado na mídia ao lado de oponentes mais formidáveis ​​como os Estados Unidos ou a China. O problemático caça stealth da Rússia, o Su-57, serve como um bom exemplo de como a Rússia desenvolve “capacidades”, que não são práticas em um conflito, mas ganham manchetes.

Um dos pouco mais de 10 Sukhoi Su-57 da Rússia. (WikiMedia Commons)
A lista de caças operacionais de quinta geração em todo o mundo não é longa: a América e seus aliados têm o F-35, a América tem o F-22, a China tem o J-20 e a Rússia tem o Su-57. A maioria não acharia essa lista surpreendente, mas o que muitos podem se surpreender ao saber é que os Estados Unidos mantêm uma frota de literalmente  centenas de jatos operacionais de quinta geração, enquanto a Rússia tem apenas uns 10 ou pouco mais (e apenas um com o motor definitivo da plataforma). A minúscula frota de caças stealth da Rússia não representaria nenhuma capacidade militar digna de nota, mas apenas ter o jato faz com que sejam mencionados lado a lado com os EUA.

Armata T-14 da Rússia (WikiMedia Commons)

Acontece o mesmo com o T-14 Armata, que ao contrário do Su-57, é amplamente visto como uma plataforma altamente capaz e tecnologicamente avançada, digna da fanfarronice da mídia que o cerca. No entanto, tal como o Su-57, a Rússia não pode se dar ao luxo de colocar o T-14 em produção em massa. Mais uma vez, apesar de não oferecer qualquer capacidade militar real, a Rússia consegue se manter relevante na conversa global sobre tanques porque possui  um punhado de tanques avançadas.
 
 
Tecnologias criadas especificamente para narrativa
É claro que o T-14 e o Su-57 não são os únicos programas de defesa russos de alto nível a ganhar as manchetes nos últimos anos. Na verdade, pode-se argumentar que ambos são pequenos se comparados a esforços como o UUV² do “dia do juízo final”, o Poseidon, assim como seu "imenso" ICBM³ nuclear RS-28 Sarmat e, claro, seu "invencível" míssil de cruzeiro de propulsão nuclear Burevestnik.
Embora cada uma dessas armas represente ameaças reais aos oponentes da Rússia, elas são mais uma vez prejudicadas pela incapacidade russa de produzir qualquer uma delas em massa qualquer (ou, em alguns casos, até mesmo fazê-las funcionar), mas isso em última análise não importa. Cada uma dessas plataformas foi construída com o propósito de oferecer ao governo russo uma influência específica ao lidar com nações estrangeiras.
 
O “submarino do juízo final” UUV Status-6 'Poseidon'

(Mídia estatal russa)

Houve um tempo em que o UUV Status-6 da Rússia (frequentemente chamada de Poseidon) era considerada uma lenda urbana, mas depois que foi divulgado que os EUA incluíram a arma em um relatório de inteligência, a Rússia aproveitou a cobertura da imprensa e anunciou que seu “Submarino do juízo final” era de fato verdadeiro.
O Poseidon é um UUV equipado com uma ogiva termonuclear cuja potência varia entre 50 a100 megatons (dependendo da sua fonte) e que pode ser implantado por grandes submarinos da Rússia. Para fornecer um quadro de referência, a maior arma nuclear  já  detonada teve um rendimento de 50 megatons, tornando a afirmação russa de 100 megatons ainda mais desconcertante. Na prática, a plataforma entraria furtivamente nas águas costeiras americanas e detonaria, combinando a destruição de uma grande arma nuclear com um tsunami irradiado que desabaria em comunidades costeiras.
Embora essa plataforma possa realmente funcionar, na prática ela não oferece à Rússia nenhum aumento na capacidade nuclear. Suas armas nucleares já são mais que suficientes para manter sua parte na barganha de "destruição mútua assegurada", tornando o Status-6 menos uma arma estratégica (já que seu uso daria início à mesma guerra nuclear com a qual nos preocupamos por décadas), e muito mais sobre narrativas. O Poseidon, assim como o RS-28 Sarmat, visa instilar medo nos inimigos da Rússia.
 
O Sarmat RS-28 ou “Satan II”
(WikiMedia Commons)
O mais recente míssil intercontinental termonuclear pesado da Rússia carrega várias ogivas projetadas para escapar dos modernos sistemas de defesa contra mísseis e pode fornecer incríveis 50 megatons de energia nuclear combinada contra um alvo. A Rússia, notoriamente, qualificou o escopo de seu novo míssil como poderoso o suficiente para destruir uma massa de terra do tamanho do Texas ou da França, e é importante notar que esta arma pode realmente passar até mesmo pelas maiores armas nucleares do arsenal da América.
Mais uma vez, porém, esta arma não dá realmente à Rússia uma  nova capacidade. Apesar de seu tamanho maciço e nome intimidante (Satan II), o uso dessa arma provocaria uma resposta nuclear total, levando ao mesmo cenário de fim do mundo que uma arma de menor rendimento incitaria. Simplificando, não importa se a Rússia lança uma ou cem armas nucleares nos Estados Unidos, nem importa o tamanho relativo de cada uma. O resultado permanece o mesmo.
 
O míssil nuclear 9M730 Burevestnik “Skyfall”
O problemático míssil nuclear da Rússia ainda não funcionou adequadamente em nenhum dos testes da Rússia e pode ter potencialmente causado uma explosão na costa norte da Rússia enquanto equipes de recuperação tentavam resgatar um míssil do fundo do mar. Em teoria, a propulsão nuclear poderia dar ao míssil um alcance extremamente longo, permitindo-lhe fazer mudanças radicais em sua trajetória para evitar sistemas de defesa antimísseis. Na prática, porém, até agora provou ser um perigo maior para as tropas russas do que a qualquer outro.
Essa plataforma poderia dar à Rússia um aumento de capacidade em termos de plataformas ofensivas se algum dia conseguissem fazê-la funcionar e produzi-la em massa. No entanto, com o limitado financiamento para o desenvolvimento e o improvável financiamento para a produção, o valor real desta plataforma pode estar em atrair mais atenção da mídia para os esforços de alta tecnologia da Rússia.
 
Transformando narrativa em financiamento

O UGV⁴ Uran-9 da Rússia foi implantado na Síria, onde falhou terrivelmente. (WikiMedia Commons)

Neste ponto, estabelecemos firmemente que muitos dos esforços de defesa de alto nível da Rússia são mais orientados para a percepção da Rússia como um inimigo poderoso e formidável, mas essa está longe de ser a única razão pela qual a Rússia trabalha duro para manter seu lugar à mesa de tecnologia de defesa. Embora a fanfarronice da Rússia possa ajudá-la a manter um ar de intimidação ao lidar com oponentes, o valor real para a defesa de longo prazo da Rússia está em garantir o investimento estrangeiro.
A recente decisão da Turquia de comprar sistemas de defesa aérea S-400 russos em detrimento do acesso ao caça F-35 Joint Strike Fighter dos Estados Unidos é um exemplo brilhante de como a Rússia está tentando se posicionar como fornecedor de armas para nações que não estão nas boas graças da América. Existem muitas nações para as quais os Estados Unidos não estão dispostos a vender armas avançadas e, ao transmitir uma imagem de poder tecnológico ao mundo, a Rússia espera se posicionar como fornecedor de nações que estejam na 'lista americana de indesejáveis'.
Este esforço levou a Rússia a anunciar um bando de plataformas que chamam a atenção nas manchetes, como o UGV Uran-6, e alegações de “camuflagem ativa” que permitiria que as tropas se misturassem ao ambiente como o 'Predador' dos filmes de ficção científica. Embora essas tecnologias tendam a falhar no uso real, os meios de comunicação globais controlados pelo Estado da Rússia as veiculam como sucessos para mostrar ao mundo que a Rússia é um parceiro valioso no desenvolvimento de armas.
E aí jaz o 'X da questão'. Muitos dos recursos mais destacados da Rússia são menos sobre estratégia e mais sobre percepção. Mas, ao colocar essa ênfase em garantir relacionamentos de vendas internacionais, a Rússia pode ser capaz de alavancar as vendas para financiar os aspectos mais sérios de seu aparato militar, como sua crescente frota de submarinos nucleares. Portanto, a Rússia pode estar fingindo até que a fantasia se torne realidade, e a mera perspectiva de que fazer isso pode funcionar é uma ameaça muito real aos interesses americanos no exterior.

Notas do tradutor:

¹ MBT: Main Battle Tank, ou carro de combate principal; frequentemente denominado 'tanque'

² UUV: Unmanned Underwater Vehicle, ou veículo subaquático remotamente pilotado; frequentemente denominado "drone submarino"

³ ICBM: Inter Continental Ballistic Missile, ou míssil balístico intercontinental

⁴UGV: Unmanned Ground Vehicle, ou veículo terrestre remotamente pilotado; frequentemente enominado "drone terrestre"


Original: Russia’s high profile weapons are all smoke and mirrors. O autor, Alex Hollings, é um veterano dos Marines, e escreve artigos sobre análise de tecnologias e política externa.
Tradução e adaptação: Renato Henrique Marçal de Oliveira*

*Renato Henrique Marçal de Oliveira é químico e trabalha na Embrapa com pesquisas sobre gases de efeito estufa. Entusiasta e estudioso de assuntos militares desde os 10 anos de idade, escreve principalmente sobre armas leves, aviação militar e as IDF (Forças de Defesa de Israel)

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segunda-feira, 15 de março de 2021

Inusitada colisão: Mig-29 e um Volkswagen colidem na Ucrânia.

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Uma colisão inusitada envolvendo um Mig-29 ganhou destaque nas redes sociais. O fato ocorreu no dia 10 de março numa base aérea ucraniana, onde uma aeronave Mig-29 da Força Aérea Ucraniana foi atingida na seção traseira por um Volkswagen Touran dirigido por um oficial bêbado.

O Mig-29 estava sendo rebocado para um dos hangares quando foi atingido na seção traseira, o impacto nas tubeiras dos motores causou um incêndio que deixou o caça irrecuperável. Segundo informações obtidas pelas agências de notícias, o Volkswagen Touran também ficou bastante danificado, o motorista sofreu ferimentos no rosto e no peito mas passa bem.

Imagens do Mig-29 e do carro destruídos foram compartilhadas nas redes sociais.



As fotos mostram a tubeira do lado direito do caça foi esmagada e dobrada, queimando a cauda do avião. Danos significativos pareciam ter sido causados ​​em toda a frente do carro. Relatórios obtidos por mídias locais dizem que o caça foi inutilizado.

O Centro de Comando Aéreo da Ucrânia postou um comunicado em sua página no Facebook sobre o incidente de 10 de março, dizendo que o jato estava sendo rebocado para uma área de estacionamento quando o carro bateu nele. O motorista ficou ferido, recebeu tratamento médico e estava em condições "satisfatórias", disse o comunicado, uma investigação sobre o incidente foi aberta.


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Chineses perto de obter tecnologia ucraniana avançada de motores

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A China pode estar à poucos passos de um verdadeiro salto tecnológico no campo de motores aeronáuticos. Com a possibilidade em breve de concluir um negócio da "China" entre a chinesa B
eijing Skyrizon e a ucraniana Motor Sich, o que daria aos chineses acesso a um vasto know-how e condições técnicas para desenvolver e produzir motores aeronáuticos modernos e capazes de sanar a lacuna em sua capacidade tecnológica de prover um motor local para suas aeronaves de combate, colocando fim a dependência dos motores de origem russa e produzidos sob licença.

Apesar de pouco conhecida fora da Ucrânia, a Motor Sich é uma das maiores empresas de motores aéreos remanescentes da ex-URSS e hoje é provavelmente uma das poucas que poderiam projetar e construir um novo motor por conta própria. Tal capacidade técnico-industrial reverteria o atual cenário chinês, eliminando o calcanhar de Aquiles do seu poderio aéreo, a dependência de motores importados da Rússia.

A atual incapacidade de Pequim em projetar e construir motores a jato confiáveis para suas aeronaves, vem sendo nas últimas décadas o foco de muitos esforços e investimentos na capacitação de sua industria aeronáutica neste quesito que é fundamental para que as modernas aeronaves projetadas e construídas pela China, possam de fato alcançar um alto nível de confiabilidade e capacidade.

Mas, Washington e Kiev estão fazendo esforços para que o intento chinês de adquirir a Motor Sich não saia do papel. Ambos governos tem tentado bloquear a aquisição chinesa da fabricante de motores a jato ucraniana, o que se for aprovada, permitirá que a China obtenha uma tecnologia de defesa fundamental que a limitou por décadas, em uma dos poucos campos restantes em que os EUA e seus aliados mantêm uma vantagem competitiva e os chineses não possuem nem de perto domínio da tecnologia.

Os esforços chineses nesse sentido tem sido bloqueados pelos governos dos EUA e da Ucrânia, com os EUA atuando de forma a impedir que Pequim sanasse sua deficiência tecnológica em motores aeronáuticos, a Ucrânia por sua vez, busca não perder um empreendimento importante do ponto de vista estratégico.

O governo dos Estados Unidos indica que a Beijing Skyrizon, entidade chinesa que tenta adquirir a Motor Sich, não é uma empresa privada, mas uma extensão do império militar-industrial do governo chinês. As autoridades americanas e ucranianas afirmam que a PLA (Exército de Libertação Popular) querem a empresa ucraniana, pois seus fornecedores russos tradicionais não têm interesse comercial ou nacional em fornecer aos chineses o know-how técnico que lhes daria a autonomia que procuram.

Pesquisa e desenvolvimento 

Conseguir desenvolver e produzir motores a jato avançados tecnologicamente  tem sido um enorme desafio para Pequim, principalmente na última década, com importantes desenvolvimentos no campo da aviação de combate, como seu caça de 5ª geração Chengdu J-20, o qual ao passo que se apresenta como uma grande revolução na capacidades da PLAAF, ainda não conta com um motor confiável e que entregue as capacidades requisitadas pelo programa.

Atualmente a aeronave de 5ª geração chinesa voa com dois motores Salyut/Lyulka AL-31F de fabricação russa, os mesmos motores que equipam os caças de origem russa Su-27 e Su-30, assim como a variante chinesa do caça russo, o Chengdu J-10. Uma lacuna tecnológica que remete aos 80, empregando tecnologia considerada de 3ª geração no campo de motores, enquanto as aeronaves ocidentais já dispõe de motores de 4ª e 5ª geração para propulsão de suas aeronaves.

Apesar de muito promissor, o desenvolvimento do motor WS-15 para equipar o J-20, o mesmo se mostra ainda distante de atender aos requisitos e envelope de capacidades para dotar o novo caça chinês de um autêntico motor avançado de tecnologia local. Uma análise das falhas dos chineses em desenvolver o motor WS-15 Emei, que deveria ter sido exibido no China Air Show 2018 em Zhuhai, porém, foi excluído da exposição devido a sucessivos problemas de confiabilidade incluindo um protótipo que supostamente explodiu no banco de testes.

Segundo várias fontes que apresentam informações a respeito do desenvolvimento do WS-15, citam que o novo motor experimenta uma queda acentuada no empuxo quando a temperatura da seção da turbina se aproxima dos parâmetros operacionais máximos. O motor experimenta essa queda quando a temperatura ultrapassa 1350 graus Celsius, com essa queda nas versões iniciais do motor chegando a 25%, o que se mostra como uma falha de desempenho catastrófica para um piloto durante uma missão real de combate.

Mesmo com os esforços das equipes de engenharia que buscaram empregar diferentes ligas metálicas para as lâminas usadas nas seções quentes do motor, o resultado ficou muito longe do esperado, com a queda no empuxo para apenas 18%l. Outra deficiência relatada diz respeito ao pós-combustor, que quando é acionado, acumula combustível no motor e não queima adequadamente.

A PLAAF não conta com soluções locais afim de obter motor nacional, agora uma das linhas de estudo tem apontado para as possibilidades de comprar alguns dos motores Izdeliye-30 de fabricação russa, os mesmos que vem sendo testados no caça de 5ª geração russa, o Sukhoi Su-57.

A tecnologia de motores chinesas estão distantes de atingir seu objetivo, mas se conseguirem concretizar a aquisição da Motor Sich, os chineses podem conseguir um verdadeiro salto rumo a tecnologia que se persegue por pelo menos uma década. Agora nos resta observar o desenrolar das negociações, bem como as influências externas que serão aplicadas sobre o negócio na tentativa de frustar os intentos chineses.


por: Angelo Nicolaci


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domingo, 14 de março de 2021

USAF admite que F-35 custa muito caro. Por isso, quer investir em soluções

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Apesar dos desafios envolvidos e estudos que tem por objetivo encontrar uma solução para substituir grande parte das aeronaves do seu inventário, a USAF está considerando a substituição do F-16 por uma nova variante da aeronave ao invés do F-35 como era pretendido.

Com um custo de vida útil estimado em 1,6 trilhões de dólares, o F-35 Lightning II, concebido como um avião de combate de última geração com capacidade de cumprir um vasto mix de missões, o caça stealth (furtivo), é o sistema de armas mais caro já desenvolvido. Quando o programa teve inicio em 1992, o F-35 era para ser uma solução acessível e atendesse tanto a USAF (Força Aérea), como o USMC (Corpo de Fuzileiros Navais) e a US Navy (Marinha). Demorou até fevereiro deste ano para a USAF admitir publicamente que a substituição do F-16 falhou no quesito de acessibilidade.

No dia 5 de março, o deputado Adam Smith, principal democrata no Comitê de Serviços Armados da Câmara, verbalizou a frustração de longa data com os enormes custos do programa e os persistentes problemas técnicos quando disse que queria “parar de jogar dinheiro naquele buraco de rato em particular. … Existe uma maneira de não gastar tanto dinheiro com uma capacidade tão baixa?”

Mas a solução que a USAF está considerando pode piorar o problema: gastar mais dinheiro em conceber uma nova aeronave para substituir o F-16Desenvolver e adquirir um caça não stealth totalmente novo para economizar nos custos operacionais só faz sentido se não custar tanto quanto o F-35. E isso significaria desafiar a história.

Os programas de defesa são suscetíveis a imprevistos o tempo todo, e não há maneira segura de evitar isso. Tanto operadores, como fabricantes, freqüentemente promovem programas ambiciosos com avaliações de custos excessivamente otimistas, apenas para evitar que as dificuldades de desenvolvimento, atrasos crescentes e excessos de custos não comprometam o programa. Às vezes programas como o programa que resultou no LCS (Navio de combate Litorâneo), demoram tanto que a lógica estratégica por trás deles não é mais relevante no momento em que estão prontos.

Mas o Pentágono e os membros do Congresso que supervisionam o orçamento de defesa têm pelo menos uma vantagem ao projetar outra aeronave: eles podem aprender com os erros no desenvolvimento do F-35.

É importante reconhecer que parte da promessa do F-35 foi cumprida, o preço da variante do F-35 operado pela USAF caiu para menos de 80 milhões de dólares, mais barato do que algumas aeronaves de 4ª geração que não contam com a tecnologia stealth.

Enquanto muitos críticos adoram dizer que o F-35 esta acima do orçamento e menos ágil do que seus predecessores, na verdade nem tudo sobre o F-35 é um fracasso. Suas características stealth o tornam muito melhor do que um F-16 para penetrar no espaço aéreo protegido por modernos mísseis de defesa aérea, vide a experiência de IsraelO "Lightning" também possui sensores avançados e sistemas de comunicação que podem interagir com forças amigas para aumentar sua eficácia.

Mas também há muitas missões, como patrulha do espaço aéreo dos EUA e bombardeios contra insurgentes que não representam nenhuma ameaça para um caça convencional dos EUA, os tipos de missões de combate voadas pelo F-35 que não exigem as capacidades oferecidas pela aeronave. O F-35 não é uma aeronave otimizada para cumprir missões de longa distância, importante ao enfrentar as atividades militares da China no Oceano Pacífico, e pode ser vulnerável se for pego em um combate ar-ar de curta distância.

E mesmo o preço relativamente baixo de 80 milhões por F-35 é enganoso, porque o F-35 provou ser tão caro e difícil de manter, com cada hora que um F-35 voa custando em média 36 mil dólares, cerca de 22 mil dólares a mais que um F-16Por uma métrica alternativa, o F-35 é três vezes mais caro por hora de voo que o F-16.

A Lockheed Martin, afirma que pode reduzir os custos operacionais para 25 mil por hora/voo até 2025, mas apenas se for concedido um contrato de manutenção exclusivo. Pentágono parece estar muito cético.

Os altos custos operacionais estão ligados a uma falta persistente de peças sobressalentes e a mais de 800 defeitos contínuos que ainda estão sendo corrigidos. Neste exato momento, as frotas de F-35 estão recebendo uma atualização de 16 bilhões para software e outros componentes que já está dois anos atrasada e que já esta custando 1,5 bilhão acima do orçamento.

Todos esses desenvolvimentos aparentemente fizeram com que a Força Aérea chegasse à conclusão de que a conta para operar o F-35 em missões de rotina é muito alta. A USN já reduziu sua compra de F-35 e o USMC também deve (embora a USAF reduza seu pedido, como parece provável, centenas de outros ainda devem entrar no serviço nos EUA, e também continuará sendo produzido em escala para exportação).

Como disse o chefe do Estado-Maior da Força Aérea, Charles Q. Brown Jr., ao anunciar um novo estudo que examinava as opções de substituição do F-16: “Você não dirige sua Ferrari para o trabalho todos os dias, só dirige aos domingos. Este é o nosso 'topo de linha' (F-35). Queremos ter certeza de que não usaremos para a missões de baixo custo.”

Este é um problema legítimo. Mas a Força Aérea precisa considerar seriamente se precisa desenvolver uma aeronave do zero mais uma vez. Em vez disso, ela poderia solicitar o modelo F-16 Block-70/72 atualizado e já desenvolvido, o qual apresenta novos computadores e um novo radar. Força Aérea também está adquirindo atualmente aeronaves Boeing F-15EX mais pesados ​​e de longo alcance, que devem estar entre o F-16 e o ​​F-35 em custos operacionais, representando um custo de 27 mil por hora de voo .

Mas Brown indicou que ele quer uma nova aeronave com sistema de computador mais facilmente atualizável, maior velocidade e algumas características stealth de nível inferior ao F-35. Essas melhorias só valem a pena se puderem ser alcançadas dentro de um custo e prazo razoáveis, incorporando tecnologias comprovadas.

Uma das principais falhas do programa F-35 era que ele tentava desenvolver muitas tecnologias novas ao mesmo tempo. Como os sistemas do Lightning estavam em constante evolução, eles nunca tiveram uma linha de base consistente a partir da qual integrá-los a todos. Isso resultou em grandes atrasos quando uma evolução interrompeu o planejamento de outras.

No futuro, a Força Aérea poderia economizar tempo e dinheiro concentrando-se em apenas uma ou duas inovações importantes, enquanto em outros lugares aplicar tecnologias que já foram desenvolvidas. 

O avião substituto também não deve ter um compromisso de atender aos requisitos da Marinha e dos Fuzileiros Navais, bem como da Força Aérea. A suposta economia de custos de fazer isso com o F-35 provou ser ilusória, já que os três modelos acabaram compartilhando apenas 20% de seus componentesO resultado foi um avião que representou problemas para todas as partes envolvidas.

O Pentágono também precisa reter os direitos do usuário não apenas sobre as fuselagens, mas também sobre os sistemas de suporte da aeronave que está encomendando. No momento, a Lockheed continua reivindicando a propriedade dos sistemas de computador e documentação do F-35Portanto, quando uma equipe de programação da Força Aérea desenvolveu um substituto para o sistema de computador notoriamente disfuncional do Lightning, a Lockheed enfrentou disputas de propriedade intelectual .

Finalmente, a Força Aérea não pode empreender um processo de desenvolvimento de várias décadas como fez para o F-35. O chefe de aquisições da Força Aérea que está saindo, Will Roper, sugeriu que novas tecnologias de modelagem por computador poderiam ser usadas para reduzir drasticamente o tempo e os custos de desenvolvimento. Existem riscos com essa abordagem, como testes menos extensos que podem resultar em aeronaves mais sujeitas a acidentes e vidas úteis mais curtas. Mas valeria a pena tentar, desde que o novo programa não se torne “grande demais para falhar” como o F-35.

Se este novo programa para substituir o F-16 se mostrar incapaz de produzir uma aeronave viável dentro do orçamento e no prazo, deve ser possível eliminá-la antes que ganhe muito ímpeto político e custos irrecuperáveis, liberando a Força Aérea para perseguir um solução mais viável, e libertando os contribuintes de arcar com outro programa de defesa descontrolado.

Afinal, a Força Aérea tem outros ferros no fogo, variando de versões melhoradas de caças mais antigos a um caça stealth avançado de próxima geração, além dos novos drones operados por Inteligência ArtificialPara que uma substituição de baixo custo seja realmente bem-sucedida, deve-se permitir a possibilidade de tentativa e erro.


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com informações do Think

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