Para aqueles que temiam Trump e sua política externa, onde muitas vezes se especulou que este mergulharia os EUA em conflitos mundo afora, parece que o novo ocupante da Casa Branca surpreendeu seus eleitores e os defensores de seu posicionamento "pacifista". Sob o comando de Joe Biden, atual presidente norte americano e sua vice, Kamala Harris, a primeira mulher negra a ocupar um cargo de tamanha importância, forças americanas lançaram um ataque aéreo no leste da Síria contra supostas instalações usadas por milícias apoiadas pelo Irã.
O bombardeio realizado na última quinta-feira (25) marcou a primeira ação militar ordenada pelo presidente Joe Biden desde que assumiu o poder.
Segundo informações divulgadas pelo Pentágono, os ataques aéreos destruíram várias instalações localizadas num posto de controle fronteiriço próximo ao Iraque e utilizado pelo Kata'ib Hisbolá e outras milícias pró-iranianas.
Porém, não revelaram se houve danos colaterais e vítimas entre civis. Segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos 22 radicais foram mortos na ação, além da destruição de três caminhões que transportavam munições e armas que tinham acabado de cruzar a fronteira da Síria com o Iraque na província síria de Deir Zor.
Segundo o Departamento de Defesa dos EUA, a ação foi uma resposta aos ataques recentes contra tropas americanas e instalações no Iraque.
Relembrando os fatos
Em janeiro de 2020, os EUA realizaram um ataque cirúrgico que neutralizou um dos líderes militares iranianos mais influentes no Oriente Médio. A morte do general Qasem Soleimani, líder da poderosa Força Quds, e um comandante iraquiano das milícias pró-iranianas num ataque aéreo nas proximidades do aeroporto de Bagdá foi o estopim para escalada nos ataques contra posições dos EUA no Iraque.
Como resposta ao assassinato de Soleimani, no dia 8 de janeiro de 2020, mísseis balísticos atingiram as bases aéreas de Al Asad e Erbil, no Iraque, na chamada "Operação Mártir Soleimani". Segundo a mídia iraniana, foi relatado que os mísseis foram lançados pelo Irã em retaliação pela morte de Qasem Soleimani no ataque aéreo próximo ao Aeroporto Internacional de Bagdá.
Segundo a Agência de Notícias ISNA, o Irã disparou "dezenas de mísseis" contra as bases americanas em território iraquiano e o governo do país rapidamente assumiu a responsabilidade pelo ataque. As autoridades americanas confirmaram que esses mísseis balísticos foram disparados a partir do território Iraniano contra alvos no Iraque. O primeiro-ministro do Iraque, Adel Abdul Mahdi, havia sido avisado previamente do ataque pelos iranianos.
Segundo informações, entre 6 e 10 mísseis Fateh-313, de curto alcance, foram disparados pelos iranianos contra as instalações militares na Base aérea de Al Asad e no Aeroporto Internacional de Erbil. Um míssil Qiam 1 atingiu o aeroporto de Erbil mas não detonou, com três outros Qiam 1 falhando no ar e um outro explodiu a cerca de 20 milhas do aeroporto. De acordo com o exército iraquiano, cerca de 22 mísseis balísticos foram disparados de duas localidades entre 01h45 e 02h15 da manhã contra as instalações de al-Asad e Erbil. Eles afirmaram que dezessete foram lançados contra Ayn al-Asad e cinco contra Erbil.
Relatórios iniciais divulgados pelos EUA mostraram que os ataques iranianos em Erbil e na base de Al Asad não causaram baixas ou danos extensos. porém, uma semana após o ataque, foi reportado que mais de 100 militares dos Estados Unidos foram evacuados e tratados com sintomas de concussão e traumatismo cranioencefálico.
Trump diante do cenário optou por não embarcar numa escalada que poderia resultar num conflito direto com o Irã, adotando um discurso mais firme e ampliando a presença militar no Iraque, com adoção de novos sistemas de defesa contra mísseis nas bases situadas no Iraque, além de aumentar o estado de alerta da força na região.
No último dia 15 de fevereiro, um míssil atingiu o aeroporto de Erbil, no Iraque, causando a morte de um prestador de serviços de origem filipina que trabalhava para os EUA, deixando outras seis pessoas feridas (quatro funcionários civis americanos e um membro da guarda nacional dos EUA entre eles).
Uma semana depois no dia 25 de fevereiro, houve um novo ataque com mísseis, esse atingindo a Zona Verde de Bagdá, região onde foi estabelecido o centro do governo no Iraque durante a ocupação do país em 2003, hoje a zona abriga embaixadas e organizações internacionais. O alvo deste ataque era o complexo da embaixada dos EUA. Ninguém ficou ferido.
Embora o Kait'ib Hisbolá não tenha assumido a responsabilidade pelos ataques, o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, disse que Washington "está confiante" de que a organização pró-iraniana está por trás da ação.
Os ataques contra instalações americanas no Iraque tem registrado um aumento desde o assassinato de Soleimani em 2020.
A postura adotada por Joe Biden mostra que seu discurso na prática não é tão "pacifista" como muitos acreditavam, e apontam para o retorno da postura intervencionista e o hipotético aumento nas ações militares norte americanas contra alvos no Oriente Médio, não podendo se descartar que um aumento nas tensões no Mar da China também seja questão de tempo, o que pode elevar o atrito também nas relações com a China.
Por: Angelo Nicolaci
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