terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Índia impulsiona Tejas com nova aquisição da variante Mk1A, conheça mais sobre o Tejas e o futuro da IAF


Recentemente a Índia deu mais um importante passo no seu Programa LCA (Light Combat Aircraft – Aeronave de Combate Leve) que vem desenvolvendo o “Tejas”, caça indiano que se pretende ocupar um importante lugar no inventário daquela força aérea.

O novo contrato prevendo a aquisição de 83 aeronaves Tejas Mk 1A foi assinado no último dia 3 de fevereiro, em cerimônia realizada durante esta edição da “Aero Índia”. 

O contrato, que já está sendo anunciado há algum tempo, inclusive sendo citado em matérias publicadas aqui no GBN Defense, se mostra um passo importante naquele programa, o qual vem se arrastando por décadas. A grande pergunta que ganhou a maioria das publicações sobre este contrato é: A HAL (Hindustan Aeronautics Limited) será capaz de cumprir os prazos estabelecidos para entrega dos 83 exemplares previstos pelo contrato firmado no último dia 3 de fevereiro?

A HAL está bem avançada no que diz respeito ao desenvolvimento da nova variante do Tejas, denominada Mark 2, a qual tem por objetivo substituir aeronaves como os Mirage 2000 e os Mig-29 que estão chegando ao fim de seu ciclo de vida operacional.

O Tejas Mk2 deverá dividir o protagonismo com outra aposta local, uma solução que se pretende obter com o desenvolvimento de uma aeronave de 5ª geração, fruto do programa denominado Advanced Medium Combat Aircraft (AMCA).

O negócio fechado constitui a aquisição de 73 aeronaves Tejas Mk 1A monoplace, que devem incorporar recursos avançados previstos originalmente para a variante Mk2 e 10 aeronaves da variante biplace de treinamento.

O programa, que teve início na década de 80 (1983) para substituir a frota de veteranos caças Mig-21 soviéticos, só agora, quase 38 anos depois após seu lançamento, ganha impulso e começa a se mostrar uma realidade. 

Nesse ínterim, o Tejas foi, por diversas vezes, desacreditado pela mídia internacional, principalmente devido aos consecutivos atrasos em seu desenvolvimento, chegando a ser considerado um conceito que já “nasceu” defasado.

Seu primeiro voo ocorreu somente em 4 de janeiro de 2001, e o primeiro dos 40 exemplares da variante Mk1 encomendados entrou em operação em 15 de janeiro de 2015, com as entregas desse lote inicial ainda em andamento.

Se considerarmos que diversos programas de desenvolvimento em sua época já decolaram, com muitos já sendo aposentados e substituídos por desenvolvimentos mais recentes, o Tejas realmente merece o título de mais longevo e lento programa de desenvolvimento, mas cabem algumas ressalvas.

Hoje a IAF (Força Aérea Indiana) conta com 16 exemplares dos primeiros 40 Tejas Mk1 da primeira aquisição, com a aquisição dos 83 novos exemplares da variante Mk1A, somados aos exemplares remanescentes da variante Mk1 ainda a serem entregues, o número total de Tejas no inventário do IAF chegará aos 123 exemplares, bem distante do planejamento inicial de 260 aeronaves do tipo. É bem provável que o total produzido não supere as 180 unidades após a conclusão do desenvolvimento da variante mais avançada, denominada Mk2.

Correndo contra o tempo

O grande desafio para HAL será entregar os novos caças dentro do cronograma previsto, com a primeira aeronave da variante Tejas Mk 1A sendo entregue no início de 2024 e a última em 2029.

Uma segunda linha de montagem do Tejas foi aberta, a fim de duplicar a capacidade de produção, saltando das atuais 8 aeronaves por ano para 16.

A grande preocupação da IAF se deve ao fato que seus vetustos MiG-21 Bison estão voando no limite, e não deverá ser possível mantê-los operando além de 2025, o que ocasionará uma lacuna no poder aéreo indiano. Para piorar a  situação, os veteranos “Bison” já são defasados frente às atuais ameaças do entorno estratégico indiano.

O Mig-21 deverá ser substituído pelo Tejas na IAF

O primeiro voo do protótipo do Tejas MK 2 deverá ocorrer em 2023, com algumas fontes dando conta de que esse tempo pode ser abreviado e o Mk2 voar já no segundo semestre de 2022, com a previsão de ganhar a linha de produção já em 2025.

Conhecendo um pouco sobre o Tejas

Relembrando, o programa que deu origem ao Tejas surgiu nos idos de 1983, tendo como objetivo desenvolver localmente uma aeronave que substituiria a frota de MiG-21 soviéticos, comprados na década de 60.

O Tejas deveria contar com um índice de nacionalização de componentes superior aos 60%, mas até o momento alcançou apenas 50% de nacionalização, ainda contando com motores de origem norte americana General Electric GE 404 F2J3, o qual pretende-se substituir na variante Mk2 pelo GTRE GTX-35VS Kaveri indiano, embora os primeiros protótipos do Mk2 adotem o GE F414 INS6 devido aos problemas e atrasos no desenvolvimento do Kaveri.

O Tejas Mk1 deixou a desejar no que diz respeito ao seu desempenho, tendo sua variante naval rejeitada pela Marinha Indiana.

Mesmo com a aquisição inicial pela IAF de 40 exemplares do Tejas Mk1, o caça foi muito criticado, deixando de atender a nada menos que 53 requisitos previstos inicialmente pelo programa, incluindo graves deficiências em seus sistemas RWR (Receptor Alerta Radar), limitada capacidade de combustível interno, baixa relação potência-peso e a ausência de uma suíte EW eficiente, dentre diversos pontos apontados.

Mesmo se mostrando aquém do esperado em relação aos requisitos que se pretendia atender, o Tejas entrou em operação na IAF e conquistou os pilotos da Força Aérea Indiana, os quais em sua maioria voaram anteriormente no MiG-21.

As deficiências iniciais identificadas resultaram no desenvolvimento da variante Mk1A como solução intermediária ao Mk2, a qual corrige boa parte das principais deficiências identificadas no Mk 1, integrando uma nova suíte aviônica e soluções que visam atender às necessidades operativas e simplificar a cadeia logística e manutenção, com a variante Mk2 atualmente em desenvolvimento, sanando todas as lacunas apresentadas pela variante inicial e intermediária do Tejas.

Algumas soluções simples foram implementadas no Mk1A, como a adoção da sonda de reabastecimento, a qual proporcionará maior alcance ao Tejas, permitindo que o mesmo permaneça mais tempo no ar e realize missões que demandem maior autonomia, apesar do perfil de operação indiano em sua doutrina já consagrada por inúmeras escaramuças e conflitos com vizinho Paquistão, contemple como solução adequada o emprego de caças de curto alcance, com a maior parte de suas missões ocorrendo em suas fronteiras.

A variante Mk1A substitui o radar pulso doppler israelense Elta EL/M-2032 pelo moderno radar AESA Elta EL/M-2052 que, além de mais resistente a interferências eletrônicas, apresenta maior alcance e menor escopo de detecção pelos sistemas inimigos quando operando fora do modo de busca ativo.

Outro ponto importante é que o EL/M-2052 pode escanear alvos aéreos e de superfície e pode acompanhar 64 contatos simultaneamente. Fontes não oficiais afirmam um alcance de 180 milhas para grandes alvos de superfície e até 124 milhas para alvos aéreos com RCS de 1m².

A grande aposta indiana será a variante definitiva Tejas Mk2, a qual se pretende ser a variante local e de exportação, contando com importantes mudanças estruturais, integrando diversos sistemas, muitos dos quais já vem sendo adotados na variante Mk1A.

Apesar de se apresentar como uma aeronave competitiva no mercado, superando o desempenho do JF-17 Sino-Paquistanês, alcançando capacidades cinemáticas similares aos caças F-16 e J-10 operados pelo Paquistão e China, respectivamente, exibe um custo de aquisição relativamente baixo se comparado aos concorrentes, só não superando o JF-17 Thunder nesse quesito, mas por integrar sistemas de diversas origens, com componentes americanos, israelenses e russos, o Tejas Mk2 poderá ver suas exportações barradas devido ao veto de sua venda a determinados países por conta da tecnologia embarcada sob licença.

O Tejas Mk 2 traz avanços significativos em relação ao Mk1A, como sensor infravermelho de longo alcance, um radar AESA indiano, canards para melhor manobrabilidade, novo sistema EW, uma carga útil máxima de 14.300 libras em 11 hardpoints e maior capacidade de combustível, permitindo o dobro do alcance do Tejas atual.

Seria algo comparado ao que vemos ao comparar o Boeing F/A-18 C/D “Hornet” e o F/A-18 E/F “Super Hornet”, exibindo muitas alterações estruturais.

“Super Tejas"

Diante da recusa do Tejas Mk1 pela Marinha da Índia, que emitiu requerimento para uma aeronave bimotora diante do pífio desempenho apresentado pelo Tejas, o qual em parceria com a IAF dá origem ao programa ORCA (Omni-Role Combat Aircraft), apelidado "Super Tejas", que tem como objetivo uma nova aeronave que atenderia não apenas aos requisitos da Marinha Indiana, mas também da IAF, que deverá oferecer uma solução similar ao que se tornou o “Super Hornet”.

Mas o ORCA pode não sair do papel, caso a Marinha opte por aeronaves já consagradas como o F/A-18 E/F “Super Hornet”, Dassault Rafale M ou Mig-29K.

O Advanced Medium Combat Aircraft (AMCA).

O futuro caça de 5ª geração da Índia, denominado AMCA, deverá ter seu primeiro protótipo apresentado em 2026 e sua produção deverá começar em 2030.



O AMCA vem na sequência da saída da Índia do programa conjunto com os russos, que deu origem ao Sukhoi Su-57, sendo alegada como justificativa pelos indianos para sua saída os custos elevados do programa em relação ao desempenho abaixo do esperado inicialmente quando se embarcou no desenvolvimento do PAK-FA/FGFA, com o caça resultante decepcionando em vários aspectos como RCS e diversos requisitos que não foram alcançados.


Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN News, graduando em Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do oriente médio, leste europeu e América Latina, especialista em assuntos de defesa e segurança.

 

GBN Defense - A informação começa aqui

com informações de agências indianas de notícias

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