O Departamento de Defesa do Canadá anunciou que a primeira das 15 novas fragatas que estão sendo construídas para a Marinha Real do Canadá será entregue muito após o prazo esperado. O programa bilionário (estimado em 60 bilhões dólares) enfrenta desafios inesperados referentes ao design e construção.
O atraso significa que o Canadá precisará manter ainda por um bom tempo em operação suas vetustas 12 fragatas da classe Halifax, o que resultará em acalorados debates e críticas sobre à maior aquisição militar da história canadense.
Mesmo diante dos atrasos no programa, o chefe de compras do Departamento de Defesa insiste que o projeto permanece dentro do orçamento graças às contingências, enquanto o comandante da Marinha, o vice-almirante Craig Baines, expressou confiança de que sua força não seria afetada pelo atraso na entrega do primeiro navio.
O grande "x" da questão paira sobre as incertezas diante do estado avançado de obsolescência das atuais fragatas da Classe Halifax, principalmente após um relatório recente que delineou preocupações sobre a idade avançada destas fragatas, que tornam mais difícil encontrar peças de reposição e realizar determinadas manutenções e reparos nestes navios construídos durante a década de 80.
“Quando você coloca navios operando em água salgada ao longo do tempo, haverá um efeito”, disse Baines durante uma entrevista concedida ao "The Canadian Press", e continuou tranquilizando: “Mas agora, com base em todas as nossas estimativas sobre as condições destes navios, estamos muito confortáveis de que seremos capazes de fazer a transição com este plano.”
O atraso na construção das novas fragatas canadenses é o mais recente revés para a renovação da esquadra daquele país, os quais deverão servir como espinha dorsal da Marinha Real do Canadá durante boa parte do século XXI.
O programa para substituição da Classe Halifax ganhou forma há quase uma década quando a Irving Shipbuilding foi selecionada em outubro de 2011 como vencedora da concorrência visando a renovação dos meios de escolta daquela Marinha, inicialmente o programa de construção das novas fragatas estava estimado em cerca 26 bilhões de dólares, com a previsão inicial da primeira fragata entregue em meados de 2020. Mas como acontece com muitos programas de defesa ao redor do mundo, o custo do programa disparou para 60 bilhões!
O atraso e o aumento vertiginoso no custo do programa ainda resultou na necessidade de se realizar contratos para construção de navios menores afim de sustentar a capacidade técnica e financeira da Irving, até que o projeto dos novos meios de superfície estivessem prontos para construção.
Segundo revelado por Troy Crosby, vice-ministro de material do Departamento de Defesa no dia 1 de fevereiro, o primeiro navio está programado para ser entregue apenas no início de 2030, justificando que o projeto final apresentou diversos problemas e demanda um tempo de construção maior do que o esperado.
Os novos navios de escolta canadenses são baseados no projeto da fragata britânica Type-26, que também está sendo construída pelo Reino Unido e Austrália, mas as autoridades canadenses têm feito várias alterações no projeto para atender aos requisitos exclusivos do Canadá.
Tanto a construção do exemplares britânicos, como australianos mostraram que a construção das novas fragatas demandará sete anos e meio, dois anos e meio acima da estimativa original de cinco anos.
“Então, quando olhamos para o cronograma geral, estamos olhando para um cronograma um pouco mais longo”, disse Crosby. “Estamos olhando para o primeiro navio sendo entregue a nós no início de 2030. Neste caso, estamos realmente olhando mais especificamente para o período entre 2030 e 2031. ”
O atraso no cronograma ocorre quando o parlamento está se preparando para lançar uma atualização antecipada sobre o custo estimado do programa de obtenção das novas fragatas, o que leva a preocupação de que a revisão mostre um aumento considerável nos custos envolvidos.
Segundo Crosby, o programa não corre risco de exibir um novo aumento nos custos, justificando que o contingenciamento feito no programa, previa justamente esse tipo de problema, e disse que Ottawa não vai desembolsar mais qualquer investimento para Irving reter sua capacidade de trabalho, já que o plano atual é começar a cortar aço do primeiro navio conforme programado em 2023.
Uma abordagem semelhante está sendo feita com os dois novos navios de abastecimento da Marinha, que estão sendo construídos em Vancouver.
A Irving está atualmente trabalhando em uma frota de navios de patrulha ártica muito menores para a Marinha. Originalmente planejava construir cinco, antes do governo realizar a encomenda de um sexto exemplar em novembro de 2018 com objetivo de manter os trabalhadores de Irving ocupados até que o projeto de construção das novas fragatas estivesse pronto para construção.
O governo então comprometeu 1,5 bilhões de dólares para construção de mais dois navios de patrulha do Ártico em maio de 2019, desta vez para a Guarda Costeira canadense, pelo mesmo motivo.
O atraso significa que a Marinha precisará continuar operando suas fragatas da classe Halifax por mais tempo, o que significa investir mais dinheiro nos navios e gerenciar como e quando eles serão empregados para minimizar o máximo possível o desgaste a que são submetidos seus cascos.
O analista de defesa David Perry, do Canadian Global Affairs Institute, expressou preocupação com o novo atraso e o que isso significa para as fragatas, algumas das quais estão lidando com corrosão e fadiga de metal que podem limitar o tempo que podem permanecer em serviço.
Um relatório interno do Departamento de Defesa publicado no ano passado ecoou algumas dessas preocupações, dizendo que as instalações de manutenção da Marinha estavam tendo cada vez mais dificuldade para consertar as fragatas, em parte devido à falta de peças sobressalentes e à idade da frota.
E enquanto Crosby disse que o governo está trabalhando com as autoridades britânicas e australianas, bem como com as indústrias para encontrar maneiras de economizar tempo, Perry disse que o projeto do navio tem uma longa história de atrasos e custos excessivos. “Neste momento, este projeto não atingiu um único de seus principais marcos”, disse Perry.
Ottawa rejeitou repetidos apelos para descartar seu plano de construir os navios no Canadá, que os defensores dizem que pode economizar dezenas de bilhões de dólares ao país.
O cenário canadense de obsolescência em bloco remete muito ao que se enfrenta no Brasil, porém, por aqui tudo indica que logo começaremos a construção da nova Classe Tamandaré, a qual deverá dar um alívio momentâneo ao quadro avançado de obsolescência que enfrenta a esquadra brasileira, onde esperamos que o Governo Federal, juntamente com o Congresso e o Senado deem a devida atenção ao programa de renovação de nossa esquadra, a qual esta necessitando urgentemente de investimentos pesados na obtenção de novos meios modernos de superfície, para que a Marinha do Brasil possa cumprir com sua missão.
Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN News, graduando em Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do oriente médio, leste europeu e América Latina, especialista em assuntos de defesa e segurança.
GBN Defense - A informação começa aqui
com informações do "National Post"
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