domingo, 31 de janeiro de 2021

Pantsir-S1: O que muda com a captura pelos EUA?

Há alguns dias ganhou a manchete dos principais sites de defesa do mundo, a informação que um sistema de defesa aérea de curto alcance Pantsir-S1 de origem russa, havia sido capturado após ser abandonado por seus operadores na Líbia. Tal “troféu” foi secretamente entregue aos EUA, conforme relatou a matéria publicada pelo "The Times". A aquisição de um Pantsir, projetado para defesa contra aeronaves dos EUA e da OTAN, é uma sorte inesperada para a inteligência dos EUA.

A missão secreta foi realizada em junho de 2020, quando o Pantsir-S1 foi transportado para a Base Aérea de Rammstein na Alemanha a bordo de uma aeronave C-17 “Globemaster III”. Segundo ao que se relata, tal fato se deu rapidamente devido à preocupação de que o Pantsir-S1, fornecido pelos Emirados Árabes Unidos aos líbios, pudesse cair nas mãos de milícias ou traficantes de armas, após seu abandono, o qual pode facilmente derrubar aeronaves civis se cair nas mãos de terroristas

O Pantsir foi inicialmente apreendido por uma milícia, no entanto, as forças leais ao ministro do Interior Fathi Bashagha, forçaram a milícia de Bahroun a entregar o Pantsir e depois o transportaram para uma base que hospedava as forças turcas. Na sequência o sistema foi entregue no aeroporto de Zuwara, onde uma equipe dos EUA havia chegado a bordo de um C-17 “Globemaster III” com a missão de extrair o precioso “troféu”, decolando após o embarque do Pantsir-S1 rumo à Rammstein.

O sistema provavelmente pode acabar em Wright Patterson AFB, a casa do Centro Nacional de Inteligência Aérea e Espacial da USAF, onde é mantido um centro de estudos de material estrangeiro com o propósito de estudar sistemas estrangeiros capturados, roubados ou adquiridas de outra forma.

O Pantsir-S1 em questão, é uma variante de exportação, o qual foi inicialmente fornecido aos Emirados Árabes Unidos, que supostamente o enviaram como parte de seu apoio a ofensiva LNA em Trípoli, sendo destinado ao emprego por operadores da “Wagner” (Empresa Militar Privada russa, ou Private Military Contractor –PMC). Este seria um dos Pantsir operados pela PMC Wagner, sendo creditado ao sistema Pantsir-S1 o abate de um UAV MQ-9 Reaper. Segundo publicou o The Times, o líder do LNA Khalifa Haftar negou qualquer conhecimento sobre o destino dos destroços do "Reaper" quando solicitada sua entrega pelos EUA, o que contrariou os norte-americanos.

Apesar de muitos sites tratarem como uma conquista para os EUA obter um exemplar do Pantsir-S1 para realizar os mais diversos estudos, fontes russas alegam que a Rússia está ciente da extração do Pantsir pelos Estados Unidos, e informam que o sistema capturado não representa qualquer ameaça as capacidades do Pantsir operado pelas forças russas, uma vez que trata-se de uma variante de exportação, o que daria um ganho de inteligência muito limitado, pois a variante não possui em seu banco de dados os códigos de transponder IFF (Identificação amigo ou inimigo) utilizados ​​pelas forças russas, lembrando que os Estados Unidos já obtiveram acesso as informações sobre o sistema durante exercícios conjuntos realizados com os Emirados Árabes Unidos.

Porém, vale ressaltar que há de fato um grande ganho envolvido na obtenção do exemplar, o qual poderá ser minuciosamente desmontado e estudado pela equipe de inteligência dos EUA sem quaisquer restrições, o que irá conferir um amplo conhecimento sobre o funcionamento e capacidades do sistema, revelando suas fragilidades, tornando o mesmo futuramente mais vulnerável aos novos sistemas de contra medidas norte-americanos. 

Ainda como “bônus”, um manual em árabe para o Pantsir foi capturado, algo que dá um maior valor de inteligência a nova “aquisição” dos EUA. 

Muitos “especialistas” tentam justificar o baixo desempenho apresentado pelos Pantsir na Líbia, alegando baixa qualidade no treinamento recebido pelo operadores, afirmando ainda que os Pantsir em sua variante de exportação possuem deficiência em seu sistema de aquisição de alvos por radar, sendo guiados exclusivamente por sensores eletro-ópticos, ou ainda que os exemplares atingidos estariam desativados, argumentos facilmente derrubados, uma vez que os mesmos são operados por experientes profissionais da Wagner Group, muitos oriundos das forças russas, e com relação a suposta justificativa que os sistemas não estariam operando com seu sistema radar de busca, ou mesmo que os sistemas estariam desativados, há várias imagens capturadas por drones que mostram o radar de busca em operação quando atingidos.

A análise técnica dos EUA pode ajudar ainda no desenvolvimento de respostas às novas variantes do Pantsir, como o S1M ou SM. Enquanto KBP Tula, fabricante do Pantsir, afirma que os modelos mais novos são significativamente mais eficazes devido à incorporação das lições aprendidas durante as pífias atuações na Líbia e Síria, eles mantêm o design do sistema básico Pantsir e possivelmente retêm os mesmos pontos fracos exploráveis.

Outro ponto interessante que devemos atentar na divulgação sobre a captura do Pantsir-S1 cerca de seis meses após o ocorrido, é que o episódio pode ser de relevância para justificar a revisão de Washington em relação à venda de aeronaves F-35 aos EAU, vindo o anúncio da decisão de Biden sobre a revisão no mesmo dia em que o The Times revelou a secreta aquisição do Pantsir, relatando que o mesmo havia sido fornecido pelos EAU para ser operados pela PMC russa Wagner no teatro Líbio, o que levanta muitas dúvidas sobre o negócio, tal qual ocorreu em relação a venda do F-35 aos turcos, que tiveram as entregas de seus F-35 canceladas e a exclusão do programa JSF.

O Pantsir S-1 é um dos primeiros sistemas de defesa aérea de baixa altitude da Rússia após a queda da URSS, destinado a defesa aérea de bases e instalações sensíveis e estratégicas contra ameaças representadas por aeronaves, helicópteros, drones e mísseis de cruzeiro. O sistema consiste em lançador com capacidade para 12 mísseis de curto alcance, complementado por um par de canhões automáticos de 30 milímetros direcionados por radar. O Pantsir-S1 é montado sobre um chassi 8x8, possibilitando ao mesmo grande mobilidade.

O Pantsir chegou a ser oferecido ao Exército Brasileiro, inclusive com a possibilidade de produção local do sistema pelo braço de defesa do Grupo Odebrecht, porém, após quase cinco anos de negociações, a ideia foi abandonada, sendo um dos grandes pontos contrários à sua aquisição o alto custo envolvido, chegando a custar 1 bilhão de dólares, além de sua eficiência dúbia e limitações técnicas, se comparado a outras opções no mercado, estando fora dos requisitos emitidos pelo EB, que vê a necessidade de um sistema de maior alcance efetivo.


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com agências

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