terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Comparativo caças médio/ligeiros:Gripen E x JF-17

O GBN tem a tradição de cobrir os assuntos mais relevantes das nossas valorosas FFAA Forças Armadas (FFAA), e a Força Aérea Brasileira (FAB) não é exceção.

Apesar de, evidentemente, ainda termos várias lacunas que devemos resolver na FAB e demais ramos das FFAA, estamos caminhando bem, como é provado com a chegada do Gripen. 

chegada do primeiro Gripen-E da FAB ao Brasil em setembro de 2020 é o primeiro passo para mantê-la numa posição de destaque na região por muitos anos.

O GBN tem diversas matérias sobre o nosso novo caça, entre as quais destacamos [1, 2, 3, 4], que contam um pouco da longa trajetória para que o Gripen chegasse à FAB, desde o Programa FX de 1995 até a escolha do Gripen no final de 2013.

A versão monoplace (um assento) de produção do Gripen NG é chamada pela FAB de F-39E e pela Suécia de JAS-39E; o primeiro exemplar da FAB chegou ao Brasil em setembro de 2020, e seguirá fazendo os testes de homologação na Embraer, em Gavião Peixoto.

A versão biplace (dois assentos), que até o momento é exclusiva da FAB, se chamará F-39F; a construção da primeira unidade já começou, e deve ser entregue em 2023. Daqui em diante, quando falarmos sobre o Gripen, estaremos nos referindo ao Gripen E, a menos que outra versão seja informada.

Primeiro F-39E Gripen da FAB sobrevoando Brasília

Se você acha que a situação da FAB é ruim, sugiro prestar atenção a situação de nossos vizinhos argentinos, que praticamente não adquiriu novas capacidades para a Força Aérea Argentina (FAA) e COAN (Comando de Aviação Naval) desde a Guerra das Falklands de 1982.

Neste sentido, a FAB está muito melhor posicionada, pois já recebeu a primeira unidade daquele que será o caça mais avançado da América Latina pelos próximos anos.

A Argentina ainda não definiu qual será seu novo caça, mas o custo-benefício do caça sino-paquistanês JF-17 Thunder é por demais vantajoso para que outro caça seja seriamente considerado, especialmente depois que as negociações envolvendo o FA-50 sul-coreano terem "melado" diante da pressão britânica. [5]

Daqui em diante, quando falarmos sobre o Thunder, estaremos nos referindo ao Thunder monoplace Block 2 (versão atualmente em serviço), a menos que outra versão seja informada.

Estamos cientes de que a versão Block 3 (ou posterior) seria a adquirida pela Argentina, mas no momento há poucas informações confiáveis sobre esta versão.

O JF-17 pode ser o futuro caça da FAA e/ou COAN

O articulista Ricardo Barbosa escreveu um artigo primoroso sobre o Gripen [6], cuja leitura é fortemente recomendada. Não vamos entrar em detalhes aqui, apenas nos referir ao artigo para algumas considerações.

Neste artigo, faremos uma breve comparação de algumas características técnicas desses caças médio/ligeiros. Sabemos que a única forma real de se comparar caças é no campo de batalha, mas como o Gripen E ainda não foi usado em combate, e muitas informações sobre o Thunder são escassas e até contraditórias, não nos restam alternativas.


DIMENSÕES, PESOS E MOTORES

Em termos de dimensões e pesos, as duas aeronaves são bastante similares, conforme tabela a seguir.

Observe-se que o Gripen é ligeiramente maior e mais pesado, mas também apresenta maior empuxo do motor. Com isso, os parâmetros mais importantes para determinar a agilidade em potencial de uma aeronave - principalmente carga alar e relação peso/potência - também são parecidos.

Algumas fontes apontam que o Thunder pode levar até 4,6 ton de cargas, mas para isso deveria levar pouco mais de 1 ton de combustível interno, sob risco de exceder o MTOW (PMD, peso máximo de decolagem).

Para que as duas aeronaves realmente sejam comparáveis nestes parâmetros, deve-se levar em consideração o fato de que o Gripen leva cerca de 1,1 ton de combustível interno a mais que o Thunder. Se considerarmos uma situação em que ambas as aeronaves levem armamentos e combustível idênticos: 2 AIM-9 + 2 AIM-120 para o Gripen, ou os equivalentes chineses para o Thunder (PL-5E II e SD-10, respectivamente), mais 3 mil libras (1.361 kg) de combustível interno, os resultados são os seguintes.
Observa-se que o Gripen apresenta carga alar ligeiramente menor, e relação peso/potência sem usar o PC (pós combustor) ligeiramente maior, e que os valores com PC são praticamente idênticos.

Na prática, as diferenças entre os valores são pequenas demais para serem decisivas, ou seja, podemos considerar que são equivalentes neste sentido, embora a real utilidade da agilidade em combates aéreos seja um tema para vários debates acalorados em tempos de armas e sensores com alcances de centenas de km.

O motor GE-F414 que equipa o Gripen é derivado do mesmo utilizado no F/A-18 Super Hornet, e é um dos motores mais confiáveis atualmente em uso.

O motor RD93 que equipa o Thunder é derivado do empregado pela família Mig-29, e também é tido como confiável.

Há rumores de que o Thunder Block 3, cuja primeira unidade ainda está sendo construída, será equipado com um motor com empuxo cerca de 10% maior do que o utilizado atualmente (o RD-93MA, uma variante modernizada do RD-93 atualmente em uso), mas isso ainda não foi confirmado.

Já houve, inclusive, testes de voo do RD-93MA em Thunder Block 2, mas não localizamos confirmação oficial de que o novo motor será, de fato, usado nos Block 3 de série.

De qualquer forma, tal aumento ainda não seria suficiente para mudar drasticamente os valores acima, exceto a relação potência:peso com PC, cuja utilidade é relativa, devido ao elevado consumo em tal regime do motor. 

Além disso, como é típico de motores desenvolvidos pela extinta URSS (como atualmente na Rússia e China), apresentam uma vida útil relativamente curta, com apenas 1.400 h, com um MTBO (tempo médio entre revisões gerais) de apenas 700 h [7], o que significa que, a cada 10 anos voando 140 h por ano (padrão da FAB), um motor extra seria necessário.

Considerando-se que o motor corresponde a aproximadamente 35% do custo de um caça, a cada 30 anos de operação seria gasto o equivalente a um novo caça, somente em reposição de motores.

Em situações de alta utilização, por exemplo uma crise com um país vizinho (como se vê atualmente na fronteira entre China e Índia), pode-se facilmente ultrapassar as 400 ou 500 h de voo em um ano, o que significa que o motor duraria ainda menos 

Isso representa um custo muito significativo, e que deve ser levado em consideração ao se adquirir uma aeronave com motores russos ou chineses.


SUÍTE DE SENSORES, COCKPIT E INTERFACE HOMEM-MÁQUINA

O Gripen dispõe de uma excelente suíte de sensores embutidos, que incluem um radar Raven ES-05, um sistema AESA (varredura eletrônica ativa), refrigerado a líquido, com um sistema 'swashplate' que permite o reposicionamento mecânico da antena, além de um sensor IRST (busca e rastreio por infravermelhos) SkyWard-G (ambos da Leonardo italiana).

Swashplate em ação no Vixen, precursor do Raven

Ainda em termos de sistemas ofensivos, o Gripen E já vem integrado com o sistema HMS (mira montada no capacete) Targo, da israelense Elbit, uma evolução do DASH presente nos vetustos F-5M da FAB.

O "glass cockpit" (cockpit de vidro, apelido dado aos cockpits que usam telas multifunção ao invés de mostradores analógicos) do Gripen é um dos mais modernos no mercado, e é dominado por um WAD (display de área ampla), que aumenta bastante a consciência situacional (SA) do piloto.

O WAD foi desenvolvido no Brasil pela AEL sistemas, e posteriormente selecionado para equipar também os Gripen suecos. O HUD e demais sistemas também são muito modernos, resultando em uma interface homem-máquina bastante eficiente. [6]

WAD durante testes

Além de controles do tipo 'fly by wire' (controles das superfícies móveis mediados por computador) com HOTAS (mãos no manche e no manete, ou seja, boa parte dos controles ficam no manche e no manete, diminuindo a carga de trabalho do piloto), o Gripen também conta com FADEC (sistema de controle de motor eletrônico com autoridade total, o que significa que o motor é comandado de forma semelhante ao 'fly by wire').

O Gripen possui um sistema EW (guerra eletrônica) bastante completo, com RWR (receptor de alerta de radar) e ESM (medidas de apoio à guerra eletrônica) da Saab (MFS-EW / Sistema Multifuncional de Guerra Eletrônica) e MAWS (sistema de alerta de ataque por mísseis) da Elbit israelense (PAWS-2; os Gripen suecos usam sistemas da Hensoldt alemã).

Outras opções para EW podem incluir sistemas externos Arexis da Saab, mas até o momento não há informações se o Brasil vai adquirir tais sistemas. É importante notar que o F-39F poderia utilizar os sistemas Arexis para funcionar como jammer (interferidor), de modo semelhante ao que os EUA fazem com o EA-18G Growler, o que daria ao Brasil uma capacidade única na América Latina.

Em todos os parâmetros, o Gripen representa um salto de qualidade operacional gigantesco para a FAB, que finalmente contará com uma aeronave tão atual como as usadas pela OTAN - a última vez que a FAB esteve tão parelha com as principais forças aéreas do mundo foi na época da Segunda Guerra, quando introduziu o P-47 Thunderbolt.

JF-17

O Thunder, pelo menos até a variante Block 2, não dispõe nem de IRST nem de radar com AESA, mas de um radar pulso doppler KLJ-7, refrigerado a ar. [8, 9]

O Block 3 deverá utilizar uma versão atualizada do motor (o RD-93MA) [10]  e do radar (o KLJ-7A, com antena AESA, mas ainda refrigerado a ar). [11]

Conforme explicado no artigo [6], o desempenho do radar é sensivelmente melhor quando o mesmo é refrigerado a líquido, portanto podemos supor que o JF-17 Block 3, apesar de usar AESA, terá desempenho de radar inferior ao do Gripen. As versões anteriores, que não usam AESA, certamente terão desempenho pior neste quesito.

O Thunder tem um "glass cockpit" bastante moderno, embora não disponha de WAD nem de HMS (há rumores de que os Block 3 terão HMS). Também dispõe de HUD, 'fly by wire', HOTAS e FADEC. [8, 9, 10] Neste quesito, pode-se considerar que as aeronaves são, grosso modo, equivalentes, mas o Gripen tem a vantagem do WAD, que poucos aviões de combate já possuem.

Muitos sistemas deverão ser atualizados no Block 3. [11, 12] Há poucas informações disponíveis sobre a suíte EW do Thunder, mas é certo dizer que ele conta com um sistema integrado, que inclui RWR e MAWS, além de poder levar pods externos. [13] Como as informações são limitadas, não é possível comparar as aeronaves.

Usar a versão biplace de modo similar ao Growler, teoricamente é possível, embora não pareçam existir, no momento, planos para tal.

Assim como o Gripen para o Brasil, o Thunder representaria um salto qualitativo tal qual a Argentina só viu com a introdução do F-86 Sabre na FAA em 1960 e do Super Étendard no COAN em 1981.

O cockpit do Thunder é bastante moderno

Ambas as aeronaves são capazes de receber REVO (reabastecimento em voo), o que pode aumentar significativamente seu alcance. O sistema é do tipo probe and drogue (haste e funil), o mesmo utilizado no Brasil e na Argentina.

Ambas aeronaves dispõem de sistemas de comunicação, data link (comunicação criptografada) e IFF (identificação amigo-inimigo) bastante completos e muito superiores aos atualmente em serviço nos respectivos países.


SISTEMAS DE ARMAS

Tanto o Gripen como o Thunder são capazes de levar uma ampla gama de armas, inclusive diversas PGM (munições guiadas de precisão, 'armas inteligentes') em seus hard points.
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O Gripen é um caça verdadeiramente multifuncional, sendo capaz de executar missões contra alvos aéreos, em terra e no mar, capacidade que é cada vez mais importante no mundo moderno. Mas para isso ele precisa de armas capazes de realizar tais missões. [6]
Algumas das armas que o Gripen pode levar; nem todas foram integradas ainda (clique para ampliar)

O Gripen conta com 10 hard points, sendo que o 4, pequeno e situado sob a tomada de ar direita, é exclusivo para pods leves como o Litening (LDP, pod com laser para designação de alvos) e o Recce Lite (reconhecimento). [6] A estreia do Gripen em missões de combate, aliás, aconteceu quando os Gripen C da Força Aérea Sueca foram usados em missões de reconhecimento sobre a Líba [14]. Desta forma, o Gripen pode substituir não apenas o F-5 na missão de caça, mas também o A-1 em missões de reconhecimento e ataque.

Entre as armas e sistemas compatíveis com o Gripen, podemos destacar:
  • Ar-ar
    • IRIS-T*
    • A-Darter**
    • Sidewinder#
    • Meteor*
    • AMRAAM
    • Python 5#
    • R-Darter#
  • Ar-solo
    • Bombas guiadas
      • Família de bombas guiadas Paveway
      • Família de bombas guiadas JDAM
      • Família de bombas guiadas Lizzard#
      • Família de bombas guiadas SPICE**
      • JSOW
      • DWS-39
      • GBU-39 SDB
      • GBU-53 SDB2
    • Míssil anti-navio RBS-15
    • Mísseis ar-superfície
      • KEPD 350
      • Brimstone
      • SPEAR 2
      • SPEAR 3
      • JASSM
      • Maverick
  • Sensores
    • LDP Litening*#
    • LDP Sniper
    • Pod de reconhecimento Recce Lite*#
    • Pod de reconhecimento DJRP
    • Pod de reconhecimento MRPS
    • Jammer Arexis e despistadores programáveis (como o MALD)
  • Armas não guiadas
    • Canhão BK-27, um cano, 27 mm
    • Bombas série Mk80#
    • Lança foguetes#
  • Drop tanks
    • Até 3 tanques de 450 galões (1.368 kg) nos hard points 3R / 3L (subalares) e 5C (centerline)
    • Até 3 tanques de 300 galões (912 kg) nos hard points 3R / 3L (subalares) e 5C (centerline)
* Comprado pelo Brasil no pacote do Gripen e já integrados
** Comprado pelo Brasil no pacote do Gripen mas ainda não integrados, ou seja, o Brasil terá que integrar essas armas aos aviões
# Em uso pela FAB nas plataformas atuais

Armas sendo desenvolvidas pelo Brasil também poderão ser integradas ao Gripen, como versões do MANSUP, AV-TM300, MICLA...

Para a missão de defesa aérea, a arma mais significativa é o Meteor, já que nenhum país da América Latina opera um míssil com tamanho alcance. Some-se o enorme alcance do Meteor com a capacidade de operar junto aos E-99, e o resultado é uma capacidade de combate BVR (além do alcance visual) muito superior ao de qualquer vizinho. Embora o IRIS-T seja um excelente míssil, os rumores de que o A-Darter não será produzido no Brasil são preocupantes.

Para a missão de ataque ao solo, fazem falta os mísseis de cruzeiro, como o KEPD-350, que não faz parte do pacote inicial de armas do Gripen. Agora é torcer para que o MICLA, ou algum outro projeto nacional, cubra esta lacuna. O mesmo pode ser dito de armas como SPEAR 2, SPEAR 3...

Para ataque antinavio, apesar de historicamente a FAB não utilizar tais armas, o RBS-15 tem capacidades esplêndidas. O desenvolvimento de uma versão do MANSUP lançada por jatos seria muito importante para esta função.

Mas a maior de todas as lacunas, na opinião deste articulista, é a ausência de mísseis anti-radar. O cancelamento do desenvolvimento do MAR-1 nacional é revoltante numa era em que tais armas fazem toda a diferença. O fato de o projeto ter sido cancelado mesmo com o Paquistão tendo escolhido a arma para integrar no Thunder, mais o fato de aumentar ainda mais a capacidade de um eventual 'Gripen Growler', tornam tal cancelamento ainda mais esdrúxulo.

Cabe aqui mencionar um ponto que é frequentemente debatido, mas pouco entendido, que é a capacidade de carga de armas de uma aeronave e sua relação com o raio de combate.

Na ficha técnica mais acima, é mencionado o fato de que o Gripen pode levar até 5 ton de cargas, mas o que muitos não sabem é que tal carga resulta em uma redução significativa do raio de combate.

Suportes múltiplos para armas geralmente resultam em maior arrasto aerodinâmico do que a mesma quantidade de armas em hard points distintos, o que também deve ser levado em conta no planejamento de missão.

Além disso, e embora a capacidade interna de combustível do Gripen (3,4 ton) seja bem maior que as do F-5 (2,0 ton) e do A-1 (2,7 ton), ainda é insuficiente para um país tão grande como o Brasil, e provavelmente o Gripen precisará de drop tanks (tanques descartáveis) nos hard points 3 e/ou 5C, ao invés de armas.

Isso significa que, na prática, o Gripen provavelmente levará 2 ou 3 ton de armas, ou até menos. O que não é um problema tão sério ao se pensar em termos de PGM, conforme já destacamos em artigos como [16] e [17]. Além disso, o Gripen dispõe de um payload range (alcance x carga) bem superior aos atuais F-5 e A-1 da FAB.

Lembre-se que levar um tanque no hard point 5C acaba inutilizando também os hard points 5L e 5R, então isso também deve ser levado em conta.

Finalmente, o Gripen dispõe de uma sonda REVO sobre a tomada de ar esquerda, que pode ser utilizada quando necessário.
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É importante notar que, ao contrário do Gripen, o Thunder não dispõe de um hard point para pods leves como o Aselsan Aselpod (pod turco similar ao Litening). Isso significa que, se precisar levar um desses pods, o Thunder precisa sacrificar um dos hard points 2 / 6 (subalares) ou 4 (centerline). Isso deve ser levado em consideração ao se planejar a configuração de armamentos.

As demais considerações que afetam o payload range, como arrasto de lançadores múltiplos e pesos de decolagem, também devem ser levados em consideração. O Thunder também dispõe de uma sonda REVO ao lado do cockpit, do lado direito.

O Thunder pode utilizar armas chinesas, paquistanesas e turcas, que de modo geral semelhantes às ocidentais, além de algumas armas ocidentais usadas pelo Paquistão. [18]

Entretanto, até o momento apenas os PL-5EII e SD-10 já foram vistas em uso; as demais só foram sugeridas ou vistas em forma de mock-up. Parte disso se deve ao fato que os paquistaneses, no momento, usam o Thunder principalmente para defesa aérea, com as missões de ataque ao solo ainda estando aos cuidados dos Mirage com upgrades ROSE [19].
  • Ar-ar
    • PL-5EII e PL-9 (semelhantes externamente ao AIM-9 Sidewinder)
    • SD-10 (semelhante externamente ao AMRAAM)
    • PL-15 (míssil de longo alcance)
  • Ar-solo
    • Mísseis anti radar
      • CM-102
      • LD-10 (versão anti radar do SD-10)
    • Mísseis de cruzeiro
      • Ra'ad
    • Mísseis anti-navio
      • CM-400AKG
      • C-705KD
      • C-802AK
    • Bombas guiadas
      • Família Paveway
      • LT-2
      • H-2 SOW
      • H-4 SOW
      • GB-6
      • LS-6
      • GIDS Takbir
      • GIDS Range Extension Kit
  • Sensores
    • LDP Aselsan Aselpod
    • LDP WMD-7
    • Jammer ALQ-500P
    • Jammer KG300G
  • Armas não guiadas
    • Canhão GSh-23, cano duplo, 23 mm
    • Bombas da família Mk80
    • Bombas anti-pista da família Durandal
    • Foguetes
  • Drop tanks
    • Até 3 tanques de 800 kg nos hard points 3 / 5 (subalares) e 4 (centerline)
    • Até 2 tanques de 1100 kg nos hard points 3 / 5 (subalares)
Observa-se que o Thunder, potencialmente, é capaz de levar diversas armas, inclusive PGM, o que lhe confere grande versatilidade.

Merecem destaque nessa lista o PL-15, com alcance tão ou mais elevado que o Meteor, além dos diversos mísseis anti-radar.

A ausência do MAR-1 também nesta lista não deixa de ser irônica. Outros dois mísseis brasileiros, cancelados, fariam parte do arsenal do Thunder, o MAA-1 e MAA-2.

De modo geral, a mesma observação em relação ao Gripen se aplica ao Thunder - como é capaz de utilizar PGM, a carga bélica "bruta" não é tão crítica como já foi no passado, e as várias armas disponíveis fazem com que o Thunder seja uma opção excelente para vários países, inclusive a Argentina.

Ainda no caso dos argentinos, "resolver" militarmente o contencioso das Ilhas Falklands está sempre sob consideração e, conforme dissemos no artigo [5], o Thunder tem capacidade de sobra para atacar as Ilhas, principalmente com REVO.

Neste sentido, os diversos mísseis antinavio, anti-radar e de cruzeiro podem fazer toda a diferença, especialmente o CM-400AKG (antinavio supersônico) e os anti radar.


CONCLUSÃO

Com esta breve análise, pode-se perceber duas coisas principais, que foram mencionadas diversas vezes ao longo do texto:
  • As duas aeronaves, apesar de leves, são "bichinhos ferozes", com grande capacidade de combate e dispõem de algumas das tecnologias mais avançadas disponíveis
  • Apesar das limitações, as duas aeronaves representam um salto qualitativo gigantesco para seus respectivos países
Entretanto, conforme apontado em outros artigos no GBN, devemos lembrar do seguinte fato - "andorinha sozinha não faz verão". Trazendo esse ditado para a aviação militar, o caça multifunção, por melhor que seja, é apenas parte da equação.

As armas escolhidas, e seus quantitativos, são tão ou mais importantes que os caças em si, já que, em última análise, a função do caça é ser um vetor para que as armas, que são os verdadeiros efetores, atinjam seus alvos.

Além da escolha de um bom binômio vetor/efetor, a quantidade dos caças em si também é importante, pois é necessário levar em consideração não só o fato que a qualquer momento algumas das aeronaves estarão indisponíveis, mas também o fato do Brasil e a Argentina serem os dois maiores países da América Latina, com milhões de km² de área e milhares de km de litoral e fronteiras para vigiar.

Outro ponto importante a se considerar é a questão de proficiência das tripulações, tanto dos pilotos como equipes em terra. Nas guerras do passado, tais profissionais, de ambos os países, mostraram muita perícia e coragem, e cabe aos atuais e futuros operadores manter vivo esse honroso legado.

Além disso tudo, há de se levar em consideração dois fatores cruciais, CONOPS (conceitos de operações, que incluem doutrinas, estratégias, táticas...) e ORBAT (ordem de batalha, ou seja, os meios à disposição para lutar conforme os CONOPS). Ambos devem estar muito bem alinhados entre si, para que se extraia o máximo dos caças e demais meios disponíveis.

Uma deficiência de ORBAT compartilhada por ambos os países é a reduzida quantidade de MPA (aeronaves de patrulha marítima), especialmente ao se considerar os milhares de km de litoral e milhões de km² de ZEE (zona econômica exclusiva) de cada país. Gripen e Thunder podem carregar mísseis antinavio eficientes, mas tais armas de nada servem se não se localizar os navios inimigos. Aliás, foi justamente a dupla Neptune MPA e Super Étendard lançando Exocet que conquistaram o maior sucesso da Argentina durante a guerra de 1982, o afundamento do Sheffield.

Outro elemento da ORBAT dos dois países que ainda é deficiente trata-se da capacidade REVO. No momento, cada país dispõe de apenas um par de antigos KC-130 Hercules para a missão, e a idade já se faz sentir. Cumpre destacar, entretanto, que o Brasil já está caminhando para sanar esta lacuna, com o KC-390 se mostrando um excelente vetor, além da perspectiva de adquirir aeronaves estratégicas de transporte e REVO, apesar do recente cancelamento do leasing do C-767.

Finalmente, e ainda falando sobre ORBAT, a Argentina tem deficiências sérias em relação a seus meios C3ISTAR (comando, controle, comunicações, inteligência, vigilância, aquisição de alvos e reconhecimento), principalmente em relação a sistemas AEW&C (comando e alerta aéreo antecipado). O Brasil conta com os excelentes E-99 para esta função. Conforme dissemos acima, um caça não passa de um vetor para suas armas, e se esse vetor não conseguir localizar seus alvos a tempo, pode virar presa ao invés de predador.


REFERÊNCIAS

[1]http://www.gbnnews.com.br/2020/06/para-atender-nossas-necessidades-no.html

[2]http://www.gbnnews.com.br/2020/12/o-brasil-e-o-gripen-ef-um-pouco-sobre-o.html

[3]http://www.gbnnews.com.br/2020/09/o-sonho-comeca-se-tornar-realidade.html

[4]http://www.gbnnews.com.br/2009/09/fx-2-os-rumos-do-brasil.html

[5]http://www.gbnnews.com.br/2020/11/opcoes-de-lift-e-caca-leve-para_19.html

[6]https://tecnomilitar.wordpress.com/2020/12/15/gripen/

[7]https://www.uecrus.com/eng/products/military_aviation/rd93/

[8] https://pac.org.pk/jf-17

[9]https://www.airforce-technology.com/projects/fc1xiaolongjf17thund/

[10]https://www.defenseworld.net/news/27376/RD_93MA_Engine__to_Power_Pakistan_JF_17_Block_III_Jets__Enters_Thermal_Chamber_Tests#.YA944LDmMVF

[11] https://twitter.com/warnesyworld/status/1225066712741171201

[12]https://threader.app/thread/1257965955856175104

[13]https://www.militaryfactory.com/aircraft/detail.asp?aircraft_id=758

[14]https://www.airforcemag.com/PDF/MagazineArchive/Documents/2017/February%202017/0217northern.pdf

[15]https://www.youtube.com/watch?v=cp1C2AgJHms

[16]http://www.gbnnews.com.br/2020/07/pequenas-e-letais-revolucao-das-mini-pgm.html

[17]http://www.gbnnews.com.br/2020/05/qual-sera-o-substituto-do-10.html

[18]https://thaimilitaryandasianregion.wordpress.com/2015/10/23/jf-17-thunder-fighter-or-cac-fc-1-xiaolong-jets/amp/

[19]https://defence.pk/pdf/threads/mirage-iii-5-do-seculo-xxi-o-projeto-rose-da-forca-aerea-paquistanesa.619832/


Renato Henrique Marçal de Oliveira é químico e trabalha na Embrapa com pesquisas sobre gases de efeito estufa. Entusiasta e estudioso de assuntos militares desde os 10 anos de idade, escreve principalmente sobre armas leves, aviação militar e as IDF (Forças de Defesa de Israel).

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