terça-feira, 8 de dezembro de 2020

O Exército Real Holandês eliminou todos os seus tanques - mas depois percebeu que tinha cometido um enorme erro

Leopard 2 alemão

Se o BA (Exército Real Britânico) eliminar seus cerca de 200 tanques (MBT, carros de combate) Challenger 2 restantes - uma possibilidade distinta sob a próxima Revisão Integrada do governo do Reino Unido, que já está em andamento - será o segundo país da OTAN a abandonar blindados pesados.

Como parte de uma medida de redução de custos em 2011, a Holanda cortou toda a sua força de 60 tanques Leopard 2.

A mudança foi, para dizer o mínimo, bastante polêmica - e não durou. A experiência holandesa pode ser informativa, já que o ministério da defesa do Reino Unido considera seu próprio futuro sem MBT.

A recessão de 2008 atingiu duramente na Holanda. O orçamento militar foi reduzido em US$ 40 bilhões a partir de 2009. Entre outros cortes, o Exército eliminou seus batalhões de tanques e seus MBT Leopard 2A6.

O Leopard 2 disparou seus últimos tiros de canhão durante um treinamento em maio de 2011. “Parecia um funeral”, disse o capitão Johnny Romein, oficial de um dos batalhões de tanques.

A Holanda rapidamente vendeu para a Finlândia 100 dos cerca de 120 Leopard 2 que tinha em estoque. O plano na época também era vender os últimos 20 ou mais tanques.

Mas, em 2014, a Rússia invadiu a Ucrânia. E as atitudes do governo holandês começaram a mudar.

Embora o KL (Exército Real Holandês) tivesse mantido seus IFV (veículos de combate de infantaria) e SPA (artilharia autopropulsada), a falta de tanques significava grandes deficiências de capacidade contra um inimigo de alta tecnologia como a Rússia.

Havia coisas que o KL não podia mais fazer. “Sem o tanque, manobras como uma abertura de brecha ou um movimento envolvente não são mais possíveis”, disse o capitão Chiel Nieuwenhuis, comandante de uma companhia de tanques.

A abertura de brecha é um ataque direto às fortificações inimigas. O movimento envolvente é uma operação de movimento rápido pelos flancos e requer velocidade, mobilidade e poder de fogo. Depois de 2014, o exército holandês percebeu que precisava ser capaz de realizar essas manobras em caso de guerra entre a OTAN e a Rússia.

Então, em 2015, apenas quatro anos depois de armazenar seus últimos tanques, o governo holandês decidiu trazer alguns deles de volta. Mas o dinheiro ainda era um problema. Oficiais holandeses viram uma oportunidade em um plano do Heer (Exército Alemão) de adquirir tanques.

O Heer, na época, operava cerca de 200 Leopard 2 - e pretendia aumentar essa força para cerca de 330 tanques. Mas Berlim teve dificuldade em recrutar soldados suficientes para suas formações de tanques em expansão.

Os governos holandês e alemão acabaram costurando um acordo.

A Holanda transferiu para a Alemanha seus últimos 18 Leopard 2A6 holandeses armazenados. Os alemães atualizaram os tanques para o padrão 2A7, em seguida, formaram um novo esquadrão sob o batalhão de tanques 414 do exército alemão. Cem soldados holandeses se juntaram ao batalhão, diminuindo um pouco a escassez de mão de obra do exército alemão.

O batalhão está sob o comando alemão, mas, em tempo de guerra, poderia apoiar as tropas holandesas como parte de uma operação mais ampla da OTAN. Ou seja, na prática o KL está alugando alguns dos seus tanques para o Heer.

"Os valores que estamos defendendo são europeus", disse o tenente-coronel Marco Niemeyer, comandante alemão do batalhão, ao The New York Times no ano passado. "A fronteira que estamos defendendo não é entre a Holanda e a Alemanha. É a fronteira leste da OTAN."

O BA deve se preparar para a mesma ameaça russa que obrigou o KL a restaurar parcialmente sua força de tanques. Se os britânicos desistirem de seus tanques, eles também podem descobrir que não podem mais fazer manobras de brecha ou movimento de giro contra as defesas inimigas.

Não é difícil imaginar que em algum momento, num futuro próximo, quando um BA sem tanques se veja obrigado a fazer o que o KL fez - elaborar algum plano desesperado para comprar de volta a força de blindados pesados que eliminou na esperança de economizar um punhado de dinheiro.


Agradecimentos ao jornalista Alexandre Fontoura, um dos maiores especialistas em Defesa no Brasil, pelo apoio na tradução.
Nota do tradutor - Este artigo é um lembrete àqueles que apregoam "a morte do tanque". O resultado, invariavelmente, é o arrependimento ao perceber, tarde demais, que há certas missões que só os tanques podem executar.

Muitos já "previram o fim dos tanques" em outros momentos na história. Isso acontece cada vez que uma tecnologia potencialmente disruptiva tem grande efeito em combate, como já aconteceu com o uso de armas como o Panzerfaust, munições 'flecha', helicópteros de ataque, mísseis antitanque lançados a partir do ombro, e agora com os drones. Certamente ocorrerá novamente quando outra tecnologia potencialmente disruptiva for usada em combate.

Renato Henrique Marçal de Oliveira é químico e trabalha na Embrapa com pesquisas sobre gases de efeito estufa. Entusiasta e estudioso de assuntos militares desde os 10 anos de idade, escreve principalmente sobre armas leves, aviação militar e as IDF (Forças de Defesa de Israel).

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