As primeiras PGM (munições guiadas de precisão, 'armas inteligentes') surgiram na Segunda Guerra Mundial, mas dificuldades técnicas impediram seu uso generalizado até a Guerra do Vietnã.
Entretanto, foi na Guerra do Golfo de 1991 que as PGM tiveram impacto realmente decisivo. Armas como a monstruosa Paveway GBU-28 de 5 mil libras (cerca de 2.260 kg) foram essenciais na destruição das forças iraquianas.
As PGM cresceram tanto de importância, especialmente nas guerras modernas onde reduzir o dano colateral é cada vez mais importante, que em operações recentes as PGM foram usadas em quase 100% das missões. [1]
O IMPACTO DOS DRONES
Os 'drones' (VANT - Veículos Aéreos Não-Tripulados, ARP, RPA, UAV) surgiram mais ou menos na mesma época que as PGM, e foi também na Guerra do Vietnã que começaram a ter maior impacto, sendo que, atualmente, o uso maciço de drones é feito até por players como o Houthis.
No começo do Século 21, os EUA estudavam formas de usar os drones mais extensivamente, e um dos primeiros obstáculos encontrados foi justamente armar as pequenas aeronaves - de modo geral, os drones são menores e mais leves que as aeronaves táticas, o que impõe sérias restrições às cargas que podem levar.
A USAF se deparou com este problema ao fazer testes com o drone RQ-1 Predator - a menor PGM no seu inventário era a GBU-12, uma LGB (bomba guiada a laser) de 500 libras (cerca de 227 kg) da família Paveway (feitas pela Raytheon), que ainda assim era mais que o Predator podia carregar.
Uma rápida busca nos inventários dos demais ramos das FFAA (Forças Armadas) americanas apontou para o AGM-114 Hellfire, um ATGM (míssil guiado antitanque) já em uso pelo US Army (Exército dos EUA) e USMC (Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA).
O Hellfire usa guiagem SAL (laser semi-ativo), como as Paveway, mas pesa apenas 100 libras (cerca de 45 kg), permitindo que o MQ-1 Predator (RQ-1 modificado para carregar armas) leve um Hellfire sob cada asa. O Hellfire tem um alcance de cerca de 8 km.
A combinação Predator + Hellfire chegou bem a tempo de ser amplamente utilizada na GWOT (Guerra Mundial Contra o Terror) que se seguiu ao 11 de setembro (ataques terroristas de 2001).
Mas isso era apenas o começo.
OUTRAS MINI PGM
Embora o Hellfire ainda seja importante como arma de drones, outras mini-PGM vem ganhando espaço, inclusive em aeronaves 'tradicionais'.
Algumas PGM muito avançadas foram introduzidas nas últimas décadas, e outras seguem em desenvolvimento.
Uma dessas é a Boeing GBU-39 SDB (bomba de pequeno diâmetro), uma pequena bomba de 1,8 m de comprimento, 18 cm de diâmetro (tal como o Hellfire) e peso de 250 libras (cerca de 113 kg), mas ainda tem um alcance superior a 70 km, graças a suas asas integradas. A SDB foi desenvolvida especificamente para uso a partir do pequeno paiol interno de armas do F-22, junto com um suporte quádruplo ('quad pack') BRU-61. A SDB foi desenvolvida para igualar a capacidade perfurante da BLU-109 de 2 mil libras (cerca de 907 kg) dos anos 1980.
Um BRU-61 carregado com 4 SDB pesa 1460 libras (cerca de 670 kg), comparável às 1013 libras (cerca de 460 kg) da Boeing GBU-32, uma JDAM (munição conjunta de ataque direto) que usa o mesmo sistema de guiagem EGI (INS / sistema de navegação inercial combinado com GNSS / sistema de navegação global com satélites). A GBU-32 é a maior arma que pode ser levada no paiol de armas do F-22.
A 'irmã' da SDB é a Raytheon GBU-53 SDB2 Stormbreaker. Ela emprega uma configuração diferente da SDB - corpo e ogiva sem as mesmas capacidades perfurantes, mas ainda eficientes, e um sistema de guiagem que combina EGI com um sensor triplo - SAL, IIR (imagens infra vermelhas) e MMW (radar de onda milimétrica). É compatível com o BRU-61.
O Hellfire está sendo substituído pelo Lockheed Martin AGM-179 JAGM (míssil ar-solo conjunto), de dimensões e pesos semelhantes, mas que usa um sensor triplo como o do SDB2. O JAGM pode alcançar alvos a mais de 20 km.
Não são só os EUA que desenvolvem mini PGM. O Reino Unido desenvolve o MBDA Brimstone, parecido com o JAGM, mas com guiagem apenas SAL e MMW.
A MBDA também desenvolve o SPEAR 3 (efeitos selecionados de precisão a longo alcance), combinando o sensor do Brimstone com um motor turbojato, permitindo-lhe atingir alvos a mais de 100 km. Uma versão EW (guerra eletrônica) está em desenvolvimento.
Mas mesmo armas como JAGM, Brimstone, Stormbreaker e SPEAR 3 são relativamente grandes para vários drones, o que levou ao desenvolvimento de PGM ainda menores.
PGM CADA VEZ MENORES
Quando a USAF procurou por armas ainda menores, tanto para armar drones como para aumentar o poder de fogo das plataformas atuais, voltou-se a programas como o Raytheon AGM-176 Griffin. O Griffin é um míssil bastante pequeno e compacto, pesando 15 kg e 1,10 m de comprimento. O Griffin é lançado a partir de um CLT (tubo comum de lançamento), que também pode ser usado para disparar outras armas. Seu alcance é comparável ao do JAGM [15]
O CLT é compatível não apenas com o Griffin, mas com diversas outras armas. Uma delas, que está ganhando admiração pelas Forças Especiais dos EUA, é a Dynetics GBU-69 SGM (munição planadora compacta). Apesar de pesar cerca de metade do Hellfire, facilitando assim seu uso a partir de drones, a SGM tem alcance superior e ogiva maior, respectivamente 16 kg e 40 km.
Outra arma em desenvolvimento na Europa, e cuja foto já apareceu na abertura deste artigo, é a LMM (munição leve multifunção), que é desenvolvida pela Thales e Leonardo, e que conta com apoio americano da Textron. A versão com motor foguete é a Martlet, com dimensões semelhantes aos foguetes Hydra.
Uma versão do Martlet sem propulsão é oferecido pela Textron, o Fury, que é uma bomba planadora. 3 Fury podem ser instaladas num suporte para 1 Hellfire.
Mas a mini PGM que parece ter maior potencial é a Northrop Grumman Hatchet, ainda em desenvolvimento. Ela é tão pequena que é possível levar 3 Hatchet em um único CLT, ou 12 mesmo espaço de um Hellfire, ou 54 no mesmo espaço de uma GBU-12!
Outra mini PGM já em uso é o BAE Systems APKWS (sistema letal avançado e preciso), que modifica os foguetes Hydra, os quais os EUA e aliados dispõem em grandes quantidades, com guiagem SAL, a um custo relativamente baixo. Um pod com 19 APKWS tem dimensões e pesos semelhantes a 4 Hellfire. [20]
Outros países, além de EUA e Reino Unido também desenvolvem armas compactas. Um destes é Israel, do qual já destacamos algumas de suas PGM em outro artigo.
Israel já opera, sabidamente, duas armas similares à APKWS, ambas da Elbit (GATR e STAR), uma semelhante à Stormbreaker (IMI SPICE 250), e outra semelhante às Paveway (Elbit Lizard).
Mas duas das armas israelenses, ambas feitas pela IMI, merecem destaque especial - a Delilah e a Fastlight
A MBDA SmartGlider está sendo desenvolvida pela França. É uma arma da mesma categoria da Stormbreaker, e um suporte para 6 bombas, o Hexabomb Smart Launcher (HSL), também está sendo desenvolvido. O conjunto completo terá aproximadamente o mesmo peso e tamanho de uma bomba de 2 mil libras (cerca de 1 tonelada)
A Turquia também fabrica diversas PGM, como os Cirit (foguetes guiados similares aos APKWS), UMTAS (similares aos Hellfire), e o MAM-L, um míssil equivalente ao Hellfire em alcance mas à SGM em dimensões e pesos.
A Turquia, inclusive, tem usado seus drones e PGM com grande eficiência na Síria e na Líbia.
China, Rússia e Paquistão estão entre os países que também desenvolvem mini PGM e drones, muitos com características semelhantes às dos sistemas apresentados até o momento. Estes drones tem sido usados com grande eficiência na Líbia, Síria e outros lugares.
CONCLUSÃO
A 'revolução das mini PGM' está apenas no seu começo, e sem dúvidas ainda tem muito para crescer.
Conforme apontamos no artigo 'Qual será o substituto do A-10', drones e outras aeronaves leves com essas mini PGM terão aplicação crescente no campo de batalha.
Por: Renato Henrique Marçal de Oliveira - Químico e trabalha na Embrapa com pesquisas sobre gases de efeito estufa. Entusiasta e estudioso de assuntos militares desde os 10 anos de idade, escreve principalmente sobre armas leves, aviação militar e as IDF (Forças de Defesa de Israel).
REFERÊNCIAS
[24]https://www.roketsan.com.tr/wp-content/uploads/2020/03/2019-Roketsan-Product-Catalogue_Eng_v02.pdf (arquivo de 121 MB!!)
GBN Defense - A informação começa aqui
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