Nos últimos 100 anos, o Navio Aeródromo (NAe), ou “porta
aviões”, como é popularmente conhecido, tem sido o ponto focal do poder da US Navy
(Marinha dos EUA) e dos USMC (Comando de Fuzileiros Navais da Marinha dos EUA)
, ambos partes do Departamento da Marinha (DoN), algo como o antigo Ministério
da Marinha no Brasil, que por sua vez estão subordinados ao Departamento de
Defesa (DoD), que em certa ponto se equivale ao Ministério da Defesa no Brasil.
Neste período, o NAe evoluiu e cresceu bastante, desde o USS
Langley lançado em 1922, deslocando 11,500 mil toneladas, medindo 165 m, capaz
de operar 36 pequenas aeronaves nos primórdios da aviação naval, chegando hoje
aos monstruosos navios da classe USS Gerald R. Ford, deslocando 90 mil toneladas,
com impressionantes 333 m, capazes de operar um destacamento aéreo (DAE)
composto por 90 aeronaves como os F/A-18E Super Hornet.
Enquanto parecia que a tendência de aumento no tamanho e/ou
poder de fogo não teria fim, a realidade é que o mundo hoje é bem diferente do
mundo na época em que o primeiro dos “super carriers”, como o USS Forrestal,
foram lançados ao mar em meados da década de 50.
NOVOS TEMPOS, NOVAS
REALIDADES
A Guerra Mundial ao Terror (GWOT), que começou logo após os ataques
terroristas ao World Trade Center em 11 de setembro de 2001, chega ao fim da
forma que a conhecemos em 2020, após a assinatura do acordo de paz entre os EUA
e o Talebã em 29 de fevereiro deste ano. Conforme será explanado em artigo
futuro, os EUA não vão abandonar o Oriente Médio, mas sua presença diminuirá
drasticamente.
O provável fim da GWOT no momento em que o orçamento do DoD,
embora ainda gigantesco, começa a sofrer sucessivos cortes e reduções em seus
programas, os quais podem diminuir nos próximos anos - inclusive, a barreira na
fronteira entre EUA e México sugou 3,8 bilhões de dólares destinados ao
orçamento militar, sem aviso prévio, o que levou o DoD a reavaliar e reestruturar
vários de seus programas e objetivos.
Ao mesmo tempo em que o orçamento militar enfrenta
restrições, o USMC começa a revisar, profundamente, seu CONOPS (conceito de operações,
que inclui doutrina e estratégia), o que certamente causará mudanças na ORBAT
(ordem de batalha, ou seja, os meios com os quais o CONOPS deve ser cumprido),
a US Navy estuda mudanças na doutrina de emprego dos seus Navios Aeródromos, e
talvez até opte pelo emprego de “lightning carriers” (“NAe leves” para o padrão
dos EUA), mais próximos do USS América (LHA 6), deslocando suas 45 mil t, ao invés
dos “super carriers”.
O USS America (LHA-6),
é um porta-helicópteros de assalto anfíbio de alta capacidade, o primeiro da
Classe América. Note que, além dos helicópteros AH-1Z Viper e tilt rotors
MV-22B Osprey, ele também opera aeronaves STOVL, F-35B Lightning II
Com o Oriente Médio, e as guerras assimétricas, assumindo
uma importância mais baixa na lista de prioridades do DoD, o próximo alvo é bem
evidente para todos, a China. Com crescimento do poder chinês nas esferas
geopolítica, econômica e militar, em nível qualitativo e quantitativo, já
preocupa os EUA faz algum tempo, e com as dificuldades econômicas recentes, o
DoD tem um grande desafio, como enfrentar uma China cujo poder não para de
crescer com um orçamento cada vez mais restrito?
O DoN, em particular, tem sido criticado pelos enormes
custos (e atrasos) dos novos NAe da Classe Gerald Ford, além de outros projetos
muito caros que não tem apresentado resultados práticos, como o bilionário
programa da classe Zumwalt. Outro fato que foi duramente criticado é que os NAe
da Classe Gerald Ford, ainda não estão prontos para operar com F-35C. O fato de
metade dos “super carriers” estarem nos estaleiros, simultaneamente, para
reparos, também levantou críticas. Finalmente, as ondas de cortes de gastos
acabaram por comprometer os planos para os novos destroyers da US Navy,
inclusive com cancelamento da extensão na vida útil dos meios atualmente em
serviço.
NOVOS CAMINHOS PARA O
DoN?
Um dos principais pontos das críticas do DoD, com o
Secretário da Defesa, Mark Esper, anunciando publicamente a revisão dos planos
do DoN, é que os NAe são um alvo atraente demais, pois concentram, numa única
embarcação, 4900 tripulantes e 90 aeronaves. Junte-se isso ao desejo do DoD que
o DoN possua 355 belonaves de linha de frente, e os planos de reestruturação do
USMC, chega-se a algumas conclusões principais:
- Os dias de monstros como o
Gerald Ford estão contados
- “NAe leve” como o LHA 6 ou,
mais realisticamente, como o HMS Queen Elizabeth (65 mil toneladas),
deverão ser o foco do DoN
- A “distância” entre USMC e
a US Navy, com cada um adquirindo meios diferentes, cumprindo missões
distintas, deve reduzir cada vez mais, o que deve gerar economias de
escala
Chama a atenção que, pelos planos, o USMC deverá de certa
forma, emular as “ilhas artificiais chinesas”. As forças do DoN e USAF deverão
se espalhar por várias bases relativamente pequenas, permitindo que um força
naval baseada em “NAe leve” cumpra boa parte das funções que hoje são cumpridas
por “super carriers”.
Além da mudança na doutrina de emprego dos meios mais
pesados, o USMC deve mudar bastante sua forma tática de operar, inclusive
cancelando pedidos dos seus tradicionais navios anfíbios, vistos hoje como
vulneráveis demais em regiões contestadas. Nas palavras de Chris Brose, ex-diretor
do Comitê das Forças Armadas do Senado, “tem sangue de vacas sagradas em cada página
do documento”.
Claro que, além da inércia institucional, há muito trabalho
pela frente. Um exemplo é a dificuldade de navios da classe USS Wasp em lidar
com o ruído e outros impactos operacionais dos F-35B. Outro ponto é o constante
atraso na entrada em serviço do F-35C, e do futuro caça da US Navy, que talvez
nem venha a ser operado a partir de NAe, o que faz bastante sentido ao se
pensar nas “bases dispersas” do USMC.
O uso de UCAV (“drones de combate”) deve se intensificar cada
vez mais, conforme explanaremos no artigo que se seguirá a esse, tornando as
“bases dispersas” ainda mais interessantes, e diminuindo a necessidade de
“super carriers”. Isso não impediu a US Navy de iniciar estudos visando um novo
caça e de investir metade de seus 380 bilhões de dólares dos próximos 30 anos
em novos caças.
CONCLUSÃO
Ao que tudo indica, os “Lightning Carrier Groups” tem
grandes chances de assumir boa parte das funções atualmente cumpridas pelos
monstruosos “super carrier groups”
Com isso, podemos esperar que o DoN no futuro tenha uma
doutrina de emprego bastante diferente da que faz uso atualmente. Resta-nos
saber como os potenciais inimigos, como China e Rússia, vão reagir e isso.
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