A
“Operação Mikado” foi o codinome de um ambicioso plano militar do Reino Unido
para usar as tropas do Serviço Aéreo Especial (SAS) para atacar a base onde
estavam situados os cinco (quatro operacionais e um usado como fonte de peças
de reposição) caças Super Étendard da Aviação Naval da Argentina situadas em
Río Grande, Terra do Fogo, durante a Guerra das Falklands/Malvinas em 1982. O
homem encarregado do planejamento foi o brigadeiro Peter de la Billière, então comandante
do SAS.
O
objetivo da operação era destruir os três mísseis antinavio Exocet
remanescentes que a Argentina ainda possuía (um já havia sido usado no ataque
que resultou no afundamento do HMS Sheffield) e as aeronaves que os
transportavam, e matar os pilotos em seus alojamentos. Para conseguir isso, o
brigadeiro Peter de la Billière propôs uma operação semelhante à “Operação Thunderbolt”
(o famoso resgate israelense dos reféns em Entebbe, Uganda), que consistia em
pousar aproximadamente 55 soldados da SAS em duas aeronaves Lockheed C-130
Hercules da Royal Air Force (RAF) diretamente na pista da base aérea de Río
Grande.
De
acordo com o plano, os Hercules seriam mantidos na pista com os motores
funcionando enquanto os 55 homens da Esquadrão B do SAS realizavam sua missão.
Se os Hercules não fossem danificados, então eles iriam voar até a base aérea
chilena em Punta Arenas. Caso contrário, os membros sobreviventes do Esquadrão
SAS e da tripulação se deslocariam até a fronteira chilena, a cerca de 80 quilômetros
de distância, uma tarefa quase impossível de ser realizada.
PREPARATIVOS DA
MISSÃO E RECONHECIMENTO PRELIMINAR
Localização da Terra do Fogo, Argentina, onde ficava a BAM Río Grande durante a Guerra das Malvinas. (Reprodução Internet) |
Uma
missão preliminar de reconhecimento em Río Grande, codinome “Operação Plum Duff”,
foi lançada do HMS Invincible na noite de 17/18 de maio, como um prelúdio para
o ataque. A operação consistia em transportar uma pequena equipe do SAS para o
lado argentino da Terra do Fogo em um helicóptero Westland Sea King HC.4 da
Royal Navy. A equipe então marcharia até a base aérea de Río Grande e montaria
um posto de observação para coletar informações sobre as defesas da base.
A
missão exigia que o helicóptero Sea King viajasse a uma distância além do seu raio
operacional, então essa seria uma missão sem a possibilidade do retorno da
aeronave ao porta-aviões. Portanto, as ordens da tripulação consistiam em
deixar a equipe do SAS na Argentina, indo depois para o Chile e descartar a
aeronave afundando-a em águas profundas.
A
aeronave, com três tripulantes e oito operadores da equipe SAS, decolou da
Invencible às 00:15h de 18 de maio. Devido a um inesperado encontro com uma
sonda de perfuração em um campo de gás offshore argentino, ela foi forçada a
desviar, acrescentando mais vinte minutos ao translado. Ao aproximar-se da
costa argentina após quatro horas de voo, a neblina reduziu a visibilidade a
menos de um quilômetro. Ao se aproximarem de doze milhas do ponto de
desembarque planejado do SAS, a visibilidade foi reduzida a tal ponto que o
piloto foi forçado a pousar. O piloto e o comandante da patrulha da SAS
discordaram sobre sua posição exata, enquanto o comandante do SAS também tinha
certeza de que haviam sido vistos por uma patrulha argentina: ele pediu para
ser deixado na fronteira entre a Argentina e o Chile. Os pilotos foram forçados
a voar usando instrumentos para o Chile neutro. A equipe do SAS foi deixada na
costa sul da Bahia Inútil, na Terra do Fogo, onde eles tentariam alcançar a fronteira
a pé. A tripulação do helicóptero voou para uma praia mais próxima de Punta
Arenas, onde aterrissaram. Um dos dois pilotos e a tripulação desembarcaram na
praia. Eles fizeram buracos no helicóptero para permitir que ele afundasse uma
vez que seria descartado. O outro piloto, em seguida, voou sobre a água, mas
foi incapaz de afundá-lo. Ele voou de volta para a praia, a fim de fazer mais
buracos, mas estava cego em seus óculos de visão noturna por uma luz piscando “Low
Fuel” e aterrou bruscamente na praia, danificando a aeronave. A tripulação
ateou fogo ao helicóptero e detonou cargas explosivas antes de deixar o local.
Eles caminharam ao longo de várias noites até a cidade de Punta Arenas, onde
tentaram fazer contato com a embaixada britânica. Eles foram descobertos e
recolhidos pelo exército chileno enquanto se deslocavam pela cidade e foram
entregues a funcionários britânicos, que os enviaram de volta a Inglaterra,
juntamente com os operadores SAS que haviam cruzado a fronteira chilena.
Segundo
fontes argentinas, na noite de 17/18 de maio, o helicóptero foi rastreado pelo
radar do destroier ARA Bouchard, que enviou uma mensagem a seu navio irmão, o
ARA Piedrabuena patrulhando ao norte, e depois para a base de Río Grande. Membros
do 24º Regimento de Infantaria da Argentina afirmaram em 2007 que atingiram o
helicóptero inglês com armas de fogo leves em meio a névoa espessa ao sul de Río
Gallegos. A missão de reconhecimento da SAS acabou sendo abortada.
CANCELAMENTO DA
MISSÃO
A
falta de ter havido uma missão de reconhecimento no local significava que as
forças britânicas não tinham uma ideia clara de como Río Grande era defendida,
nem quaisquer garantias de que os Super Étendards ou os Exocets estariam lá
quando a operação ocorresse. As forças britânicas também não tinham informações
sobre como a base estava organizada, e não sabiam onde os Exocets estavam armazenados
ou até mesmo onde ficavam os alojamentos dos pilotos.
A
essa altura, a Operação Mikado, que já era vista por experientes membros do SAS
como uma missão suicida, era considerada impossível de ser realizada, devido à
perda do elemento surpresa (principalmente pela notícia da descoberta dos
destroços do Sea King inglês em Punta Arenas) e a inteligência britânica
descobrindo que os argentinos desfrutavam de uma melhor e mais eficiente
cobertura de radar do que inicialmente esperado. Como consequência, o plano de
assalto aerotransportado atraiu considerável hostilidade de alguns membros do
SAS, o que levou a um princípio de motim por parte de alguns operadores (prontamente
enviados de volta para a Inglaterra) e para o próprio comandante do Esquadrão B
ser demitido e substituído pelo segundo em comando.
Em
última análise, o governo britânico reconheceu que havia uma forte
probabilidade de que a operação teria falhado. Ao contrário dos rumores, não
foi planejado nenhum plano para infiltrar operadores SAS na Argentina com a
ajuda do submarino da Marinha Real Britânica HMS Onyx. A Marinha argentina
alega que o Bouchard tinha bombardeado um submarino e vários barcos infláveis durante
uma patrulha a duas milhas de distância do Río Grande, na posição 53° 43′38.04″
S 67° 42′0″ W, na noite de 16 de maio de 1982.
A
área de Río Grande era defendida por quatro batalhões de infantaria do Corpo de
Fuzileiros da Marinha da Argentina, além de vários experientes comandos e
mergulhadores de combate, alguns dos quais tinham sido treinados no Reino Unido
pelo Special Boat Service (SBS) anos antes.
AVALIAÇÃO E
CONCLUSÕES
Depois
da guerra, os comandantes da marinha argentina admitiram que esperavam algum
tipo de ataque das forças da SAS, principalmente depois do ataque a Ilha Pebble,
mas nunca esperavam que aeronaves C-130 Hercules pousassem diretamente na pista
da base aérea, embora eles provavelmente teriam perseguido as forças britânicas
até mesmo em território chileno em caso de ataque. O fracasso da operação teria
sido um desastre de propaganda para as forças britânicas e, inversamente, um
impulso moral para a Argentina.
Pilotos argentinos de Super Étendard da Aviação Naval Argentina; eles também seriam alvos da Operação Mikado. (Foto site Tropas e Armas) |
A
Operação Mikado, devido aos problemas enfrentados, seria um grande fracasso
para a Inglaterra, pois dificilmente eles não conseguiriam atingir seus objetivos,
devido aos problemas já relatados no texto. Mesmo assim, forçou os argentinos a
montarem um forte esquema de vigilância de suas aeronaves de caça e ataque,
tanto da Marinha quanto da Força Aérea, retendo no continente experientes
tropas, armas, equipamentos e valiosos suprimentos que poderiam ser utilizadas
no conflito nas ilhas.
Além
disso, com as missões de bombardeio de longa distância dos Avro Vulcan nas
ilhas realizados pela RAF (a “Operação Black Buck”) sendo realizadas, havia o
medo dessas aeronaves também atacarem o continente, principalmente a capital
Buenos Aires, e mais ainda, de serem ataques nucleares, pois o Vulcan também
poderia realizar esse tipo de bombardeio, mas bombas nucleares nunca foram
sequer cogitadas, nem pela Primeira-ministra Margaret Thatcher nem pelo
Ministério da Defesa britânico, para serem usadas nesse conflito, devido as
terríveis consequências de seu uso. Devido a esses ataques, as bases argentinas
eram fortemente defendidas com mísseis e canhões antiaéreos direcionados por
radar.
Podemos
então afirmar que a Operação Mikado seria realmente uma missão suicida, tanto
que muitos operadores SAS, que eram bastante experientes e preparados para o
combate, se recusaram a realizá-la. O bom senso das autoridades inglesas
imperou e se evitou um grande desperdício de homens e equipamentos a troco de
um resultado incerto e provavelmente insatisfatório e adverso.
FOTO DE CAPA: Os alvos da "Operação Mikado", o Dassault Super Étendard e o missil antinavio Aerospatiale Exocet. (Foto: Site Cristandad y Patria)
Com informações retiradas da Wikipedia.
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Por Luiz Reis, Professor de História da Rede Oficial de Ensino do Estado do Ceará e da Prefeitura de Fortaleza, Historiador Militar, entusiasta da Aviação Civil e Militar, fotógrafo amador. Brasiliense com alma paulista, reside em Fortaleza-CE. Luiz colaborou com o Canal Arte da Guerra e o Blog Velho General e atua esporadicamente nos blogs da Trilogia Forças de Defesa, também fazendo parte da equipe de articulistas do GBN Defense. Presta consultoria sobre História da Aviação, Aviação Militar e Comercial. Contato: [email protected]
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