A tripulação está tensa no passadiço, atentos
aos contatos no radar, quando uma mensagem irrompe o silêncio da fonia de rádio
do cargueiro, o qual leva uma carga de petróleo contrabandeado de um país
sul-americano. A tripulação fica ainda mais nervosa diante do questionamento de
sua identificação, intenções e rumo, passando a adotar uma abrupta guinada no
curso afim de estabelecer uma tentativa de fuga. Do outro lado da fonia, um
oficial da Marinha do Brasil repete o alerta ao navio pirata, sem respostas
cabe ao Grupo Tarefa brasileiro adotar uma postura mais enérgica. Após uma breve
avaliação das informações obtidas e uma análise de riscos, o Comandante do Grupo Tarefa diante do cenário, decide pelo emprego do destacamento de abordagem, dada
a distância e nível de risco envolvido neste tipo de abordagem, com objetivo de tomar o controle do navio “pirata” que
está a algumas milhas de distância do GT brasileiro que realizava exercícios, e garantir assim a segurança e soberania na costa
Nordeste do Brasil.
Poucos minutos após ser acionados, os
operadores do Grupamento de Mergulhadores de Combate (GruMeC) já estão equipados e realizando o briefing
da missão, no convoo um helicóptero UH-15 “Pégasus” do EsqdHU-2 já está acionado e pronto para receber e conduzir a força de elite brasileira e seguir a ordem para decolar do PHM
“Atlântico” rumo a "ameaça", locaizado a cerca de 35 milhas de distância. No COC
(Centro de Operações de Combate) a equipe monitora a tentativa de fuga do navio
“pirata” que ruma ilegalmente em águas jurisdicionais brasileiras. Todos à bordo, tudo pronto e checado, o “Pégasus” decola para mais uma missão de infiltração do GRUMEC.
O cenário acima descrito é fictício, mas
serve para ilustrar o exercício de tomada do controle do navio pela equipe MeC
que participou da ASPIRANTEX 2020, embarcados no PHM “Atlântico”, a equipe de oito militares altamente qualificados nas mais diversas missões, estão sempre
prontos para atender as mais diversas missões, nos mais complexos cenários de
emprego que demande equipes qualificadas em operações especiais no mar ou em terra.
Durante a edição 2020 da ASPIRANTEX, o Destacamento
de Abordagem do GruMeC realizou uma demonstração para os Aspirantes embarcados
no NDM Bahia e posteriormente no PHM Atlântico, onde realizaram a simulação de
uma operação de retomada do controle do navio, utilizando a técnica de Fast
Hope para realizar infiltração por meio aéreo, com emprego da aeronave UH-15
“Pégasus” que compõe parte do Destacamento Aéreo Embarcado (DAE) no PHM
Atlântico. Nesta situação, por se tratar de uma demonstração aos aspirantes,
fora empregado apenas um meio para infiltração da equipe MeC, quando em
situação normal de adestramento ou emprego real, são comumente empregados
sempre dois elementos, podendo ser constituídos por duas lanchas, ou dois
helicópteros ou ainda uma lancha e um helicóptero, dependendo do cenário, como
parte da doutrina que prevê que um elemento realize a cobertura da equipe,
geralmente um sniper, que dá cobertura de fogo e fornece informações a equipe
na ação.
A constituição de uma equipe de Mergulhadores
de Combate pode variar de acordo com a missão a ser desenvolvida, empregando um
contingente que pode variar, sendo a sua dotação básica de oito operadores para
missão de patrulha, mas pode ser constituída por mais militares de acordo com a
complexidade e demanda para o cumprimento da missão.
O sincronismo e a sinergia entre os membros
da equipe MeC é algo marcante e essencial para o sucesso da operação, com
utilização de técnicas próprias à progressão dentro do teatro de operações,
garantido um rápido e seguro avanço dentro do navio ou instalações alvo, rumo
aos objetivos previamente estabelecidos no Briefing, sendo em uma ação comum de
retomada do navio, a casa de máquinas e o passadiço objetivos primários,
garantindo o controle do navio em uma missão típica. Conforme é possível notar
durante a demonstração realizada a bordo do PHM “Atlântico”, todos os
movimentos são coordenados, mantendo sempre os membros da equipe cobertos
avante e a ré da formação, mantendo uma pronta resposta a qualquer ameaça que
venha a surgir durante a progressão.
Após realizar a tomada do navio, a equipe
reporta ao navio “mãe” que a situação está sob controle, para só então ser
enviada uma “equipe de presa” que irá guarnecer o navio até o porto mais
próximo para que sejam entregues as autoridades em terra dando prosseguimento
aos processos legais.
Como surgiu o GRUMEC?
Tudo começou há 56 anos atrás, quando nos
idos de 1964, a Marinha do Brasil enviou quatro militares, sendo dois oficiais
e dois praças, para realizar o curso UDT-SEAL (Equipes de Demolição Subaquática
que surgiram nos idos da 2ªGuerra Mundial, que tinham por missão realizar a
limpeza da praia antes do desembarque das tropas anfíbias, estes operavam
desarmados e plantavam explosivos para destruir obstáculos que dificultassem as
operações anfíbias, foram os precursores dos SEALS como os conhecemos hoje, os
quais ganharam forma após o presidente Kennedy, determinar que o UDT recebesse
treinamento para operar armado e tivesse condições de contrapor posições
inimigas e levar a cabo um variado leque de operações especiais nos meados da
década de 60, dando origem ao curso UDT-SEAL) com a US Navy nos EUA.
No início da década de 1970,
foi criada a Divisão de
Mergulhadores de Combate na Base Almirante Castro e Silva, fruto direto
da experiência adquirida pela qualificação dos primeiros quatro militares da
Marinha do Brasil no UDT-SEAL norte americano. A nova unidade, tinha como
finalidade dar suporte às operações anfíbias, apoiando as manobras de
desembarque de tropas na praia levadas a cabo pela Marinha do Brasil. No ano
seguinte a criação da unidade, em 1971, a Marinha do Brasil visando a maior
qualificação de seus homens e obter um maior ganho em capacidade operativa
dessa nova e importante unidade, enviou dois oficiais e três praças para
realizar o curso de “Nageurs de Combat” (Nadador de Combate), também conhecido
como “Plogeurs de Combat” (Mergulhador de Combate) na Marine Nationale francesa.
Nesta nova qualificação, a nova
unidade de elite brasileira ganhou importantes conhecimentos que somavam ao
foco combativo do UDT-SEAL norte americano, a doutrina de operações de resgate, trabalho subaquático que envolvem a
capacidade de realizar reparos submarinos, o adestramento para realizar a remoção de minas, somando as qualificações
de combate similares as obtidas nos EUA, recebendo importante qualificação em operações de assalto anfíbio, sendo capaz de se infiltrar no território inimigo pela costa, além de realizar operações de sabotagem, que inclui a implantação de minas e explosivos em instalações e meios inimigos, além da eliminação de alvos
estratégicos e ou operações de resgate, causando no inimigo não apenas baixas
materiais, afetando sua capacidade operativa, como também minando o moral inimigo atingindo o psicológico das tropas inimigas. Por fim os Mergulhadores de
Combate foram qualificados para missões de reconhecimento da
costa ou exploração em profundidade no
território de interesse clandestinamente.
No ano de 1974 foi criado o
primeiro Curso Especial de
Mergulhador de Combate pelo atual Centro de Instrução e Adestramento Almirante
Átilla Monteiro Aché (CIAMA), o qual mesclava as técnicas do curso francês, com as técnicas do
curso norte-americano, unindo duas doutrinas distintas que deram forma a
doutrina brasileira do emprego de Mergulhadores de Combate.
Naqueles idos o mundo estava imerso na “Guerra Fria”, onde as
guerras de procuração ganhavam força e surgiam novas ameaças assimétricas, as
quais ganhavam forma com a ascensão da guerra irregular, manifestada em diferentes
conflitos assimétricos travados em decorrência da Guerra Fria.
Diante dos inúmeros desafios e
a crescente demanda por parte da Esquadra e dos Distritos Navais, no ano de
1983, a Divisão de Mergulhadores de Combate foi transformada em Grupo de
Mergulhadores de Combate, passando a ser subordinada diretamente ao Comando da
Força de Submarinos, sendo em 1997 finalmente transformado em Grupamento.
A sorte acompanha os audazes! “Fortuna Audaces Sequitur”, esse é o lema dos Mergulhadores de Combate da Marinha do Brasil, nosso GRUMEC!!!
A sorte acompanha os audazes! “Fortuna Audaces Sequitur”, esse é o lema dos Mergulhadores de Combate da Marinha do Brasil, nosso GRUMEC!!!
Em breve o GBN Defense irá realizar uma
matéria especial com GruMeC e trazer ao nosso público um pouco mais sobre estes
bravos guerreiros anônimos.
Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN News, graduando em Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do oriente médio, leste europeu e América Latina, especialista em assuntos de defesa e segurança.
GBN News - A informação começa aqui
Poxa, legal! Mas gostaria de ler uma matéria sobre o ComAnf, afinal é a unidade dentro dos aspectos OpEsp da MB com maior estrutura e meios, além de ser um Batalhão...
ResponderExcluirInteressantíssimo o emprego dos nossos Mergulhadores de Combate, homens muito esforçados! mas para ser franco seria mais interessante uma matéria com o Batalhão Tonelero, pelo fato de ser uma organização ´´Tier 1´´ e informações sobre os operadores serem mais ocultas...
ResponderExcluir