DADOS COLHIDOS NO DIA 22/03 ÀS 18H -
Como é de conhecimento geral, o “Novo Coronavírus” (mais tecnicamente SARS-CoV-2) e a doença causada por ele, a COVID 19, que para efeitos de simplicidade vamos chamar de covid-19, estão afetando o mundo inteiro numa pandemia de proporções que lembram a gripe espanhola de um século atrás.
Assim como nos assuntos militares, aparece todo tipo de informações, com fatos e mitos se misturando e causando grande confusão e angústia nas pessoas, com cenas lamentáveis de pessoas se agredindo em mercados e farmácias.
Como prezamos pelos fatos, além de um artigo sobre cuidados com a doença (Coronavírus (COVID-19) chega ao Brasil - Confira como se prevenir), resolvemos fazer uma pequena análise matemática sobre a evolução dos casos no Brasil, comparando os dados com os da China (país de origem da doença e que, aparentemente, já superou o primeiro surto) e a Itália (que ganhou uma triste notoriedade com os elevados números de casos).
Os dados serão apresentados em forma de gráficos, e as conclusões vão logo em seguida.
Mas, para diminuir a ansiedade, informamos desde já que o avanço da epidemia no Brasil não segue a tendência italiana, ou seja, é improvável termos aqui o caos que se abateu sobre a querida Itália.
Ademais, a própria China, com quase 7 vezes a população do Brasil, teve menos de 90 mil pessoas infectadas até o momento, e é improvável que tenhamos tantos casos por aqui.
Ou seja, nada de pânico, e nada de achar que teremos milhões de casos por aqui!
METODOLOGIA
Como os três países são obviamente diferentes em quase tudo, resolvemos fazer a comparação igualando várias coisas.
A primeira é o tempo - nos três países, avaliaremos os primeiros 30 dias com dados disponíveis, que apresentem mínima variação entre fontes. Como em qualquer doença nova, é neste período que apresentam-se as maiores variações, inclusive de metodologias dos serviços de saúde em relação a diagnóstico e tratamento, o que explica os vários ‘altos e baixos’ dos gráficos. Falaremos disso com mais detalhes depois.
O segundo ponto é a normalização dos dados. Os números de casos foram divididos pelas populações dos países, depois multiplicados por 100 mil. Com isso, a diferença de população entre os países é eliminada. Isso é feito porque, por exemplo, mil casos em São Paulo tem um impacto muito menor do que mil casos em uma cidade do interior.
O terceiro ponto é a escala dos dados é logarítmica, outra forma de corrigir as distorções. O caso da Itália é tão grave que seus dados normalizados ficam numa escala muito alta, fazendo os dados de Brasil e China quase desaparecerem. Com a escala logarítmica, a distorção italiana diminui muito de importância, e é mais fácil visualizar os dados
Outro ponto importante é que o Brasil apresentou a doença muito depois daqueles países, e foi mais rápido (em termos de casos absolutos) ao implementar medidas de quarentena - China começou em 23/01 (2 meses, 830 casos, 25 mortes - com ressalvas que serão discutidas mais adiante), Brasil começou já em 12/03 (11 dias, 77 casos, nenhuma morte; a primeira morte foi em 17/03), e a Itália somente em 09/03 (19 dias, 9.172 casos, 463 mortes). Embora a quarentena brasileira seja, até o momento, mais branda que a italiana e muito mais branda que a chinesa, Estados e Municípios já adotaram medidas mais assertivas, inclusive com o cancelamento de aulas.
Os efeitos das quarentenas chinesa e italiana começaram a aparecer, timidamente, 5 dias depois do começo. Isso se deve ao fato que o vírus leva, em média, em torno de 14 dias para manifestar os sintomas, mas já aos 7 dias é transmissível. Espera-se que, após 20 dias, os efeitos da quarentena já sejam mais perceptíveis.
Uma última observação - há divergências de dados entre as várias fontes, às vezes até mesmo dentro do mesmo país. Os dados usados para nossa análise foram retirados do site https://www.worldometers.info/coronavirus/. É um site excelente e muito interativo, mas está todo em inglês, o que pode ser um impedimento para muitas pessoas.
GRÁFICO
Gráfico 1: novos casos de covid-19 no Brasil (círculos azuis), China (quadrados vermelhos) e Itália (triângulos amarelos); dados normalizados para 100 mil habitantes e em escala logarítmica. Percebe-se que o Brasil está muito mais próximo da China que da Itália neste sentido.
Nesse gráfico, a China implementou medidas de quarentena no 8º dia, e percebe-se uma tendência de queda até o 25º dia, com um novo salto entre o 25º e o 26º dia; falaremos disso mais adiante.
Brasil e Itália apresentam menos pontos de dados porque a doença está no 31º dia na Itália e no 21º dia no Brasil.
Um lembrete - cada unidade na escala vertical, devido à escala logarítmica, representa um aumento de 10 vezes; como exemplo, no dia 11 o valor aproximado é de 0,01 no Brasil, 0,05 na China (4 vezes maior) e 0,94 na Itália (94 vezes maior).
Gráfico 2: total de casos de covid-19 no Brasil (círculos azuis), China (quadrados vermelhos) e Itália (triângulos amarelos); dados normalizados para 100 mil habitantes e em escala logarítmica. Percebe-se que o Brasil está muito mais próximo da China que da Itália neste sentido.
Como a China foi o primeiro país com a doença, já estão numa fase de equilíbrio epidemiológico, ou seja, a doença já faz parte do normal do país, não mais um surto, e o número de casos praticamente não aumentou, o que é consequência da queda contínua de novos casos, conforme o Gráfico 1. Embora sutil, há uma variação no gráfico chinês, também entre os dias 25 e 26. Falaremos disso mais adiante.
Percebe-se, novamente, que o Brasil está mais próximo da China que da Itália. Vale novamente o lembrete da escala logarítmica. Por exemplo, aos 20 dias, Brasil apresenta um valor normalizado de 0,56, China de 1,70 (3 vezes maior) e Itália de 16,83 (30 vezes maior).
RESSALVAS
A primeira ressalva é que a covid-19 apresenta um grande número de portadores assintomáticos, ou seja, pessoas infectadas mas que não apresentam sintomas. Dessa forma, só é possível saber com um nível razoável de certeza se a pessoa está infectada com exames laboratoriais. Como é impossível testar toda a população, e várias vezes ao longo do tempo para complicar ainda mais, em todos os lugares do mundo há uma subnotificação, ou seja, o número real de casos é maior do que os relatados. O Brasil, por exemplo, só faz os testes confirmatórios em casos moderados a graves, enquanto que a recomendação da OMS (Organização Mundial de Saúde) é que todos os casos suspeitos sejam testados, o que tem sido impossível devido à pouca disponibilidade de kits para testes.
A disponibilidade de kits pode levar a protocolos diferentes protocolos de exames, e o Brasil tinha poucos kits no início da epidemia, realizando testes apenas nos casos mais graves. Entretanto, como o Brasil adquiriu uma grande quantidade de kits em 21/03, e espera-se que estejam distribuídos até 29/03. Isso deve mudar os dados brasileiros.
A segunda ressalva é que os protocolos podem mudar ao longo do tempo, seja pela disponibilidade de kits, seja porque os serviços de saúde mudam os protocolos de teste ao longo do tempo, com diferenças potencialmente grandes nos resultados. A China fez isso, e comentaremos mais adiante.
A terceira ressalva se aplica principalmente à China. Há relatos de que o surto de covid-19, na verdade, começou em novembro, mas o regime chinês só divulgou a situação a partir de janeiro. Ainda assim, os dados divulgados pelo governo central parecem não ter sido os reais, e a mudança de protocolo de teste entre os dias 25 e 26 da análise acima (9 e 10/02/2020) levou a um aumento enorme dos casos relatados (40.171 casos no dia 9 para 48.315 no dia 10), um aumento de 20% nos casos, depois de o aumento dos casos estar em queda. O aumento já tinha atingido um patamar de aumento na ordem de 8-11%.
SITUAÇÃO BRASILEIRA
A mídia relata, incessantemente, a situação ao redor do mundo, e percebe-se um grande nível de incertezas, e de acertos e erros pelos países. Em relação ao Brasil, é inegável que houve muitos acertos, mas também que houve muitos erros.
O primeiro erro do Brasil é a ausência de um plano de contingência para tais casos, o que já foi observado no derramamento de óleo no litoral brasileiro em 2019. Sem um plano unificado de contingência, há uma discrepância nas ações tomadas nos Estados e Municípios, o que pode complicar o combate à epidemia. Isso se estende também à postura pública dos governantes, que muitas vezes apresentam falas e atitudes contraditórias.
O segundo erro do Brasil, e isso é mais questionável, foi a demora em implementar medidas restritivas em relação a viagens internacionais e fronteiras. Seja devido a questões legais, seja por outros motivos, o Brasil demorou muito para implementar medidas de maior vigilância nas viagens e fronteiras. Como a doença se originou na China, e depois se espalhou para outros países, restrições a viagens internacionais poderiam ter tido um impacto significativo na contenção da doença. Vale ressaltar, porém, que há divergências entre os especialistas no impacto de tais medidas.
O terceiro erro no Brasil é a demora na implementação de medidas mais severas de quarentena e distanciamento social. Tais medidas, aparentemente, tem um impacto bastante pronunciado na disseminação da doença, mas também há divergências entre os especialistas em relação aos resultados.
Mas não são só observações negativas.
O repatriamento de brasileiros que estavam presos na China quando do início da quarentena naquele país, Operação "Regresso à Pátria Amada Brasil", foi muito bem planejada e executada. O assunto foi explorado no GBN: Operação "Regresso à Pátria Amada Brasil" retorna com brasileiros oriundos da China e inicia nova fase com apoio das equipes NBQR da Marinha do Brasil.
Além do repatriamento, as Forças Armadas também estão participando do combate à epidemia, conforme noticiado no GBN: Centro de Operações Conjuntas do Ministério da Defesa é ativado para ações de combate ao COVID-19.
O trabalho do Ministério da Saúde, no sentido de orientar a população, tem sido muito elogiado. A produção de medicamentos usados no tratamento experimental da covid-19 e importação de kits de testes para o diagnóstico foram feitos em um espaço de tempo bastante curto. Isso deve ajudar tanto no monitoramento da doença como na redução de impactos da epidemia.
POR QUÊ A SITUAÇÃO ITALIANA É TÃO GRAVE?
A Itália se encontra na Europa, em que assuntos como controle de imigração e restrição de viagens de determinados países são tabus ou até mesmo crimes.
Isso levou o país a tomar medidas no mínimo controversas, como a iniciativa “Abrace um chinês”, em que as pessoas, sem máscaras, abraçavam os chineses com quem se encontravam na rua.
Tais medidas, junto com a demora italiana em implementar restrições à entrada de imigrantes e de impor medidas de controle de imigração e de viagens internacionais, levou a um aumento explosivo no número de casos na Itália.
Uma situação parecida, embora menos drástica, pode ser observada em outros países europeus, como Alemanha e Espanha. Os motivos são os mesmos - tais países são refratários a medidas mais austeras de controle de imigração e viagens internacionais.
Gráfico 3: novos casos de covid-19 na Espanha (círculos azuis), Espanha (quadrados vermelhos) e Itália (triângulos amarelos); dados normalizados para 100 mil habitantes e em escala logarítmica. Observe-se que os três gráficos são assustadoramente próximos. Valores relativos do dia 25: Espanha (4,03), Alemanha (3,37) e Itália (5,95).
Gráfico 4: total de casos de covid-19 na Espanha (círculos azuis), Espanha (quadrados vermelhos) e Itália (triângulos amarelos); dados normalizados para 100 mil habitantes e em escala logarítmica. Observe-se que, novamente, os três gráficos são assustadoramente próximos. Valores relativos do dia 25: Espanha (25,31), Alemanha (13,23) e Itália (41,03).
CONCLUSÃO
Este é um momento que exige de todos cooperação, cautela e colaboração com as orientações das autoridades. Entretanto, queremos confortar os leitores com a informação de que a situação brasileira, embora ainda inspire cuidados, não é nem de longe catastrófica como alguns querem fazer parecer. Mesmo na Itália, onde a situação é, proporcionalmente, uma das mais críticas, a situação está começando a se estabilizar, e em poucos dias o pior já terá sido superado, tanto lá como aqui.
Sugerimos aos leitores que busquem informações em sites confiáveis, como do Ministério da Saúde (https://coronavirus.saude.gov.br/).
Nunca é demais lembrar os cuidados básicos:
- Siga as instruções das autoridades, e lembre-se que quarentena não são férias; evite sair de casa!
- Lave as mãos com frequência, com água e sabão mesmo, e caso disponível, sanitizantes como álcool gel
- Evite contato com mucosas (boca, olhos e nariz), mesmo com as mãos limpas
- Cubra a boca ao tossir com o braço; evite usar as mãos pra isso
- Não recorra à automedicação
- Isolamento social absoluto, ou seja, fique em casa o máximo possível e interaja com o menor número possível de pessoas
- Faça compras através de serviços delivery tanto quanto possível, evitando fazer compras pessoalmente
- Evite aglomerações
- Evite contato com pessoas sabidamente doentes
- Procure o serviço de saúde se tiver os seguintes sintomas:
- Tosse seca
- Febre
- Fadiga
- Dificuldade para respirar (se estiver com dificuldade para respirar, procure imediatamente auxílio médico)
- Outros sintomas menos comuns: nariz entupido ou escorrendo, dor de garganta, diarreia, dores pelo corpo
- Mesmo se não estiver sabidamente doente nem com sintomas, evite contato com pessoas dos grupos de risco
- Idosos
- Diabéticos
- Hipertensos
- Quem tem insuficiência renal crônica
- Quem tem doença respiratória crônica
- Quem tem doença cardiovascular
- Pessoas com a imunidade comprometida (quimioterapia, leucemia, AIDS, etc)
E o principal: não entre em pânico! A humanidade já sobreviveu a outras pandemias, como peste negra e gripe espanhola, em tempos com muito menos recursos; venceremos mais esse desafio!
Por Renato Marçal
GBN Defense - A informação começa aqui
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