terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

PHM "Atlântico" - Conheça os bastidores das Operações Aéreas com GBN Defense


A operação de aeronaves embarcadas representa uma série de desafios desde os primórdios, sendo necessário o cumprimento de vários protocolos e procedimentos para que possa cumprir sua missão. A segurança é um ponto primordial quando se fala em operações aéreas embarcadas, o que leva a uma constante de adestramentos e qualificações, não apenas das equipagens das aeronaves, mas toda equipe envolvida, desde a recepção da aeronave, passando por sua movimentação, hangaragem e manutenção.

Nicolaci acompanhou de perto a rotina a bordo do PHM "Atlântico"
Durante a ASPIRANTEX 2020, acompanhamos a rotina das operações aéreas a bordo do PHM “Atlântico”, hoje o navio com maior capacidade de operações aéreas da América Latina. Capaz não apenas de receber até 18 aeronaves embarcadas no hangar e operar simultaneamente três dos sete spots disponíveis em seu convoo, o “Atlântico” possui capacidade de coordenar todo trafego aéreo em cerca de 120 milhas náuticas, graças ao poderoso radar ARTISAN 3D Type 997, contando com um departamento dedicado as operações aéreas composto por profissionais altamente qualificados.

Aeronaves UH-15 "Super Cougar" do EsqdHU-2"Pégasus" 
Como todo navio destinado as operações aéreas, o “Atlântico” tem seu departamento de aviação, o qual está dividido em três divisões, a “V-1” (Victor Uno) que é responsável pelo convoo, a “V-2” (Victor Dois) responsável pelo hangar e a “V-3” (Victor Três) que é a responsável pela segurança de aviação no PHM “Atlântico”. Assim estão designadas para cumprir funções específicas, as quais podem ser facilmente identificadas quando operando no convoo pela cor de seus coletes. A coordenação entre essas três divisões é de extrema importância para segurança do voo e a capacidade de projeção do poder aéreo naval representado pelas aeronaves embarcadas.

O GBN Defense conferiu de perto a complexidade demandada pelas operações aéreas, onde tudo começa muito antes da movimentação das aeronaves para o convoo, iniciando em geral no dia anterior, com uma reunião entre o Departamento de Aviação e o Departamento de Operações do navio, que estabelece o planejamento de todas as missões que se pretende realizar, esta tarefa cabe ao Grupo de Operações Aéreas (GRUOPA).

Equipes de convoo realizando varredura em busca de objetos estranhos que podem ocasionar DOE
O Grupo de Operações Aéreas (GRUOPA), é parte do departamento de operações do navio, mas ele trabalha intimamente ligado ao departamento de aviação, sendo o setor responsável por planejar, coordenar e controlar as operações aéreas em curso no navio, assim como as operações aéreas previstas. Para isso o grupo conta com dois oficiais, dois sargentos e dois marinheiros. O GRUOPA também é responsável pela meteorologia aeronáutica do navio, com três sargentos sendo responsáveis pela meteorologia aeronáutica no PHM “Atlântico”.

Diariamente é realizada uma reunião entre os setores afetos as operações aéreas do navio, sendo geralmente realizada na noite anterior as operações, com a participação do pessoal dos esquadrões, equipe de convoo, controle aéreo, segurança de voo e demais setores ligados diretamente a operação prevista. Nessa reunião são discutidas e planejadas as operações que serão realizadas no dia seguinte. Nessa ocasião se verifica se há necessidade de alguma mudança ou ajustes para que as missões transcorram conforme o previsto, sendo denominada “Reunião de Blue Sheet”, que resulta na concepção do programa de voo, um documento que compila os dados necessários para as operações aéreas disponibilizado na Intranet do navio, além de ser entregue aos departamentos e fixada em quadros dispostos em vários pontos do navio, dando conhecimento da programação de operações aéreas. Qualquer alteração que ocorra na programação, leva a rápida retificação do documento em todos os pontos onde está exposto.

A “Blue Sheet” contém informações como: número de voos previstos, aeronaves envolvidas, horário de decolagens e pousos, quem vai controlar o voo, abastecimento, horário de briefing e a descrição sucinta da missão que será realizada.

Antecedendo qualquer movimentação, o fonoclama transmite a ordem de “guarnecer postos de voo”, momento no qual todos departamentos e divisões envolvidos no planejamento e execução da missão assumem seus postos, iniciando os preparativos para movimentação e preparação das aeronaves. Após todos os preparativos antecedentes ao horário previsto pelo briefing e planejamento, o fonoclama muda o status de operações do navio para “Postos de Voo”, quando toda rotina a bordo passa a adotar medidas protocolares inerentes a segurança da aviação, com restrição do trânsito no convoo apenas as pessoas envolvidas nas operações aéreas, nesse momento também é restrito o acesso as áreas externas e do convoo sem a autorização prévia, a qual em geral só ocorre com supervisão de um dos membros da equipe de segurança da aviação. É obrigatório o uso do Equipamento de Proteção Individual (EPI – Abafador, Colete salva-vidas e Óculos de proteção).

O PHM “Atlântico” possui capacidade de realizar operações diurnas e noturnas, sendo possível realizar operações visuais ou por instrumentos, na aproximação os controladores de voo fazem o CCAP, se houver a necessidade de realizar uma aproximação controlada, quem assume é o CCAT, composto por militares homologados para conduzir esse tipo de operação,

CF Castelo - Chefe de Aviação (CHEAVI) no PHM Atlântico
O Chefe do Departamento de Aviação do PHM “Atlântico”, Capitão de Fragata Castelo, nos apresentou um pouco sobre como funcionam as operações aéreas, nos mostrando um pouco o dia a dia no período que estivemos a bordo, nos permitindo conhecer as particularidades e desafios que envolvem essa que é uma das mais importantes capacidades de nosso Nau Capitânia.

O papel do Chefe do Departamento de Aviação (CHEAVI) do navio, é o gerenciamento de todas as estações de operações aéreas, dentre elas a Manobra, o Centro de Controle Aéreo Tático (CCAT), Centro de Controle de Aproximação e Partida (CCAP), equipe de salvamento, Meteorologia, e o CHEAVI tem a função de gerenciar além de todas essas estações, a Zona de Aeródromo, onde há o afastamento de 5 milhas e o teto de 2.500 pés. O CHEAVI possui grandes responsabilidades, e isso é conseguindo graças a todo preparo e formação que o oficial recebe para desempenhar essa função. Para se tornar CHEAVI, primeiramente é preciso possuir aperfeiçoamento em aviação e ser piloto, tendo realizado o Curso de Estado Maior para Oficiais Superiores (CEMOS), tendo notório conhecimento sobre a parte de operações aéreas.

O grande desafio da função de CHEAVI, primeiramente é ter essa continuidade nas operações aéreas embarcadas, com a baixa do NAe “São Paulo” e a chegada do PHM “Atlântico”, foi possível dar continuidade a esse grande desafio que é manter as operações aéreas de um navio de grande porte, como o PHM “Atlântico”, o maior navio do tipo operado na América Latina e um dos maiores do hemisfério sul, sendo um grande desafio para toda equipe do Departamento de Aviação, uma capacidade que é mantida por poucas marinhas no mundo.

O Departamento de Aviação do PHM “Atlântico” é bastante enxuto, o que traz consigo um enorme desafio e mostra o alto grau de eficiência e profissionalismo dos envolvidos. Contando com três divisões que somadas possuem um total de cerca de 80 militares desempenhando as funções necessárias para que seja possível lançar, coordenar e recolher as asas rotativas de nossa Força Aeronaval embarcada. O Departamento é constituído pela equipe de torre, composta pelo Oficial do Ar (CHEAVI) junto com o Controlador de Voo e o seu Auxiliar, no Convoo temos a equipe de Manobra, equipe de “CRASH”, o Contramestre, o Oficial do Convoo, e ainda o Oficial do Hangar e o Supervisor do Hangar, essa é a composição das equipes do Departamento de Aviação.

O CC Rafael Peixoto observa atentamente as operações
Com relação a Segurança da Aviação, o PHM “Atlântico” conta com Oficial de Segurança de Aviação (OSAV), e buscamos conhecer um pouco melhor sobre essa importante atividade conversando com OSAV, Capitão de Corveta Rafael Peixoto, que nos explicou sobre o papel do OSAV e como é constituído o núcleo de segurança de aviação embarcado no “Dragão”.

O Oficial de Segurança da Aviação (OSAV), tem como papel assessorar o comandante em todos assuntos correlatos à segurança da aviação, sendo o grande desafio a bordo do PHM “Atlântico” conscientizar a tripulação e o grande número de destacados, sobre a importância do cumprimento das normas de segurança de aviação, visando operações aéreas seguras.

Movimentando o "Pégasus 01" do hangar para o convoo
A formação do Oficial de Segurança da Aviação (OSAV) é feita com base no curso ministrado pelo CENIPA (Centro de Investigação e prevenção de Acidentes Aeronáuticos) Força Aérea Brasileira, reconhecido pelo SIPAAerM (Serviço de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos da Marinha) que faz parte da estrutura da Diretoria de Aeronáutica da Marinha (DAerM) na Marinha do Brasil, o que habilita o oficial a cumprir a função de Oficial de Segurança da Aviação (OSAV) nos esquadrões de aeronaves, bases aéreas e também a bordo do PHM “Atlântico”.

Minemônico "HAREM"
Treinamento é uma constante na rotina a bordo do maior navio da esquadra brasileira, sendo de suma importância para que as equipes mantenham um nível adequado de adestramento e qualificação para o cumprimento dos procedimentos normais, bem como lidar com situações de emergência com alguma aeronave durante as operações de pouso e decolagem, ou pane que a aeronave possa apresentar em qualquer fase do voo. Para que todos possam reagir de acordo com as ordens internas e procedimentos operativos do navio.

Como curiosidade, quando uma aeronave apresenta pane e não consegue estabelecer comunicação com navio, ela realização aproximação com navio, se não houver necessidade de pouso imediato, a mesma se posiciona a “boreste” e através de um código de sinais visuais informa sobre o tipo de pane que está ocorrendo, durante o dia a sinalização é feita com a mão, sinalizando com minemônico “HAREM”, onde apenas o dedo indicador levantado significa que a aeronave se encontra com pane no sistema hidráulico, sinalizando com dois dedos o sistema de armamento, três o sistema de rádio, quatro o sistema elétrico e cinco dedos uma pane no motor. A noite o esquema de sinalização é realizado com as luzes de sinalização da aeronave, a qual possui um código de sinais luminosos específico para cada tipo de ocorrência.

A equipe do convoo é constituída por diversos militares, que atuam em funções específicas, as quais são identificadas pelas cores de seus coletes, sendo os responsáveis pela movimentação  os “Orientadores”, esses usam o colete na cor amarela, sendo seu papel manter o posicionamento da aeronave durante as operações de pouso e decolagem, a equipe trajando o colete na cor azul é a responsável por manter a aeronave em posicionamento seguro no convoo, realizando a tarefa de calçar e pear a aeronave após os pousos e ao final das movimentações das mesmas entre o elevador e o spot onde será operada e vice-versa, a equipe responsável pelo abastecimento das aeronaves é identificada pelo colete púrpura, já os responsáveis pelo armamento e medidas em caso de “Crash” (acidente aéreo no convoo) utilizam os coletes na cor vermelha, o colete verde identifica a equipe que lida com a parte eletro-eletrônica, a equipe de manutenção dos esquadrões (GAerNavMan) é identificada pelos coletes marrons, enquanto o pessoal médico usa o colete branco com uma cruz vermelha, já o CHEAVI (Chefe de Aviação), o OSAV (Oficial de Segurança de Aviação) e o SupSAV (Supervisor de Segurança da Aviação) são identificados pelo colete branco com sua função identificada nas costas do colete. Todos militares que compõe a equipe de operações aéreas no convoo, são coordenados por um contra-mestre, um supervisor e um oficial do convoo, que possuem a responsabilidade de manter essa equipe adestrada em nível adequado para poder cumprir os procedimentos previstos nas normas internas e procedimentos operativos.


As operações aéreas embarcadas demandam perícia e constante qualificação dos militares envolvidos
No “Atlântico” as operações aéreas encontram mais facilidades que desafios, contando com uma infraestrutura que torna muito segura a operação de diversos tipos de aeronaves, sendo capaz de lançar e recolher qualquer vetor de asas rotativas hoje em operação com a Marinha do Brasil. O navio dispõe de grande capacidade de monitoramento e comunicação, com sete spots no convoo (posição de 1-6 e o spot “Alfa”), vários pontos de abastecimento, fontes externa de energia (Aprestos), contando com 25 tomadas de combate à incêndios com capacidade de geração de espuma, pontos de água desmineralizada para lavagem do compressor e das aeronaves, dois elevadores para movimentar as aeronaves entre o Hangar e o Convoo, um vasto número de equipamentos e facilidades para movimentação e manutenção das aeronaves, sendo possível realizar inspeções e reparos, o hangar é relativamente grande, podendo receber até 16 aeronaves, sendo até doze de grande porte e quatro de menor porte, podendo aumentar o número de acordo com o mix de aeronaves embarcadas, chegando ao máximo de 18 aeronaves, conta com uma equipe completa para atender as operações aéreas, sendo capaz de operar simultaneamente três aeronaves em pouso e/ou decolagem, além de controlar e coordenar o espaço aéreo ao seu redor.

As dificuldades que podemos elencar são as mesmas inerentes a qualquer meio que opere aeronaves no mar, podendo ser listadas a distância de terra, o que pode resultar em determinados momentos que o navio seja único ponto de pouso para a aeronave, o que torna necessário o planejamento sempre considerar um convoo alternativo, ou procedimento adequado caso se faça necessário, bem como o posicionamento do navio de maneira favorável, buscando sempre atender da melhor maneira o envelope de voo da aeronave. Outro desafio é com relação a manutenção, onde o ambiente marítimo expõe muito as aeronaves a corrosão causada pela maresia, o que eleva a atenção com a limpeza dos compressores e demais componentes da aeronave ao fim das operações, sendo notável ao fim do dia uma fina camada de sal depositada sobre a fuselagem das aeronaves, demandando a lavagem das mesmas como prevenção do processo de corrosão.

Essa é a primeira parte de nossa série de matérias sobre as operações aéreas no “PHM Atlântico”, e uma de nossa série prevista sobre operações navais e capacidades de nossa Marinha, onde no período de 21 dias a bordo do Capitânia da Esquadra, pudemos aprender e conhecer muito sobre o funcionamento e operação do maior e mais importante navio da Marinha do Brasil, somado ao expertise assimilado com a operação dentro de um Grupo Tarefa (GT).


Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN News, graduando em Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do oriente médio, leste europeu e América Latina, especialista em assuntos de defesa e segurança, membro da Associação de Veteranos do Corpo de Fuzileiros Navais (AVCFN), Sociedade de Amigos da Marinha (SOAMAR), Clube de Veículos Militares Antigos do Rio de Janeiro (CVMARJ) e Associação de Amigos do Museu Aeroespacial (AMAERO).


Agradecemos ao V.Alte Mello – comandante em chefe da Esquadra (ComemCh), Alte Kerr - ComDiv-1, C Alte Valicente - ComDiv-2, C.Alte Rohwer – ComForAerNav, Comte Giovani Corrêa – Comandante do PHM Atlântico, o departamento aéreo, CF Castelo, CC Rafael Peixoto, CC Munaretto, equipes do hangar, convoo, Torre, COC, ACR e todos envolvidos na ASPIRANTEX 2020, que nos receberam e apoiaram, tornando possível a realização desta matéria que abre a série que visa trazer ao nosso público um pouco mais sobre o trabalho e preparo de nossos homens e mulheres que defendem nossa “Amazônia Azul”.


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5 comentários:

  1. Matéria excelente, com o alto padrão do GBN! E parabéns à Marinha por adquirir e manter estas capacidades essenciais ao Brasil!

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  2. Qual a possibilidade de ser adquirido pela marinha do Brasil aviões de pouso e decolagem verticais?
    Se nao me engano o japao e o reino unido usam embarcações semelhantes para o uso dessas aeronaves.

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    1. Boa tarde,
      Esta possibilidade é inexistente, pois o convoo do "Atlântico" não prevê operações de aeronaves de asa-fixa, mesmo de pouso e decolagem vertical. Tal fato se deve a estrutura do convoo e limitações de projeto nesse sentido, pois foi concebido para operar asas-rotativas.

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  3. Muito bom texto Nicolaci parabéns!

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