A operação de aeronaves embarcadas representa
uma série de desafios desde os primórdios, sendo necessário o cumprimento de vários
protocolos e procedimentos para que possa cumprir sua missão. A segurança é um
ponto primordial quando se fala em operações aéreas embarcadas, o que leva a
uma constante de adestramentos e qualificações, não apenas das equipagens das
aeronaves, mas toda equipe envolvida, desde a recepção da aeronave, passando
por sua movimentação, hangaragem e manutenção.
Nicolaci acompanhou de perto a rotina a bordo do PHM "Atlântico" |
Aeronaves UH-15 "Super Cougar" do EsqdHU-2"Pégasus" |
O GBN Defense conferiu de perto a
complexidade demandada pelas operações aéreas, onde tudo começa muito antes da
movimentação das aeronaves para o convoo, iniciando em geral no dia anterior,
com uma reunião entre o Departamento de Aviação e o Departamento de Operações
do navio, que estabelece o planejamento de todas as missões que se pretende
realizar, esta tarefa cabe ao Grupo de Operações Aéreas (GRUOPA).
Equipes de convoo realizando varredura em busca de objetos estranhos que podem ocasionar DOE |
Diariamente é realizada uma reunião entre os
setores afetos as operações aéreas do navio, sendo geralmente realizada na
noite anterior as operações, com a participação do pessoal dos esquadrões, equipe
de convoo, controle aéreo, segurança de voo e demais setores ligados
diretamente a operação prevista. Nessa reunião são discutidas e planejadas as
operações que serão realizadas no dia seguinte. Nessa ocasião se verifica se há
necessidade de alguma mudança ou ajustes para que as missões transcorram conforme
o previsto, sendo denominada “Reunião de
Blue Sheet”, que resulta na
concepção do programa de voo, um documento que compila os dados necessários
para as operações aéreas disponibilizado na Intranet do navio, além de ser
entregue aos departamentos e fixada em quadros dispostos em vários pontos do
navio, dando conhecimento da programação de operações aéreas. Qualquer
alteração que ocorra na programação, leva a rápida retificação do documento em
todos os pontos onde está exposto.
O PHM “Atlântico” possui capacidade de realizar
operações diurnas e noturnas, sendo possível realizar operações visuais ou por
instrumentos, na aproximação os controladores de voo fazem o CCAP, se houver a
necessidade de realizar uma aproximação controlada, quem assume é o CCAT,
composto por militares homologados para conduzir esse tipo de operação,
CF Castelo - Chefe de Aviação (CHEAVI) no PHM Atlântico |
O papel do Chefe do Departamento de Aviação
(CHEAVI) do navio, é o gerenciamento de todas as estações de operações aéreas,
dentre elas a Manobra, o Centro de Controle Aéreo Tático (CCAT), Centro de Controle
de Aproximação e Partida (CCAP), equipe de salvamento, Meteorologia, e o CHEAVI
tem a função de gerenciar além de todas essas estações, a Zona de Aeródromo,
onde há o afastamento de 5 milhas e o teto de 2.500 pés. O CHEAVI possui
grandes responsabilidades, e isso é conseguindo graças a todo preparo e
formação que o oficial recebe para desempenhar essa função. Para se tornar
CHEAVI, primeiramente é preciso possuir aperfeiçoamento em aviação e ser
piloto, tendo realizado o Curso de Estado Maior para Oficiais Superiores (CEMOS),
tendo notório conhecimento sobre a parte de operações aéreas.
O grande desafio da função de CHEAVI,
primeiramente é ter essa continuidade nas operações aéreas embarcadas, com a
baixa do NAe “São Paulo” e a chegada
do PHM “Atlântico”, foi possível dar continuidade
a esse grande desafio que é manter as operações aéreas de um navio de grande
porte, como o PHM “Atlântico”, o
maior navio do tipo operado na América Latina e um dos maiores do hemisfério
sul, sendo um grande desafio para toda equipe do Departamento de Aviação, uma
capacidade que é mantida por poucas marinhas no mundo.
O Departamento de Aviação do PHM “Atlântico” é bastante enxuto, o que
traz consigo um enorme desafio e mostra o alto grau de eficiência e
profissionalismo dos envolvidos. Contando com três divisões que somadas possuem
um total de cerca de 80 militares desempenhando as funções necessárias para que
seja possível lançar, coordenar e recolher as asas rotativas de nossa Força
Aeronaval embarcada. O Departamento é constituído pela equipe de torre,
composta pelo Oficial do Ar (CHEAVI) junto com o Controlador de Voo e o seu
Auxiliar, no Convoo temos a equipe de Manobra, equipe de “CRASH”, o
Contramestre, o Oficial do Convoo, e ainda o Oficial do Hangar e o Supervisor
do Hangar, essa é a composição das equipes do Departamento de Aviação.
O CC Rafael Peixoto observa atentamente as operações |
O Oficial de Segurança da Aviação (OSAV), tem
como papel assessorar o comandante em todos assuntos correlatos à segurança da
aviação, sendo o grande desafio a bordo do PHM “Atlântico” conscientizar a tripulação e o grande número de destacados,
sobre a importância do cumprimento das normas de segurança de aviação, visando
operações aéreas seguras.
Movimentando o "Pégasus 01" do hangar para o convoo |
Minemônico "HAREM" |
Como curiosidade, quando uma aeronave
apresenta pane e não consegue estabelecer comunicação com navio, ela realização
aproximação com navio, se não houver necessidade de pouso imediato, a mesma se
posiciona a “boreste” e através de um
código de sinais visuais informa sobre o tipo de pane que está ocorrendo,
durante o dia a sinalização é feita com a mão, sinalizando com minemônico “HAREM”, onde apenas o dedo indicador
levantado significa que a aeronave se encontra com pane no sistema hidráulico,
sinalizando com dois dedos o sistema de armamento, três o sistema de rádio,
quatro o sistema elétrico e cinco dedos uma pane no motor. A noite o esquema de
sinalização é realizado com as luzes de sinalização da aeronave, a qual possui
um código de sinais luminosos específico para cada tipo de ocorrência.
A equipe do convoo é constituída por diversos
militares, que atuam em funções específicas, as quais são identificadas pelas
cores de seus coletes, sendo os responsáveis pela movimentação os “Orientadores”,
esses usam o colete na cor amarela, sendo seu papel manter o posicionamento da
aeronave durante as operações de pouso e decolagem, a equipe trajando o colete
na cor azul é a responsável por manter a aeronave em posicionamento seguro no
convoo, realizando a tarefa de calçar e pear a aeronave após os pousos e ao
final das movimentações das mesmas entre o elevador e o spot onde será operada
e vice-versa, a equipe responsável pelo abastecimento das aeronaves é
identificada pelo colete púrpura, já os responsáveis pelo armamento e medidas
em caso de “Crash” (acidente aéreo no convoo) utilizam os coletes na cor
vermelha, o colete verde identifica a equipe que lida com a parte
eletro-eletrônica, a equipe de manutenção dos esquadrões (GAerNavMan) é identificada pelos coletes marrons, enquanto o pessoal médico usa o colete branco com uma cruz
vermelha, já o CHEAVI (Chefe de Aviação), o OSAV (Oficial de Segurança de
Aviação) e o SupSAV (Supervisor de Segurança da Aviação) são identificados
pelo colete branco com sua função identificada nas costas do colete. Todos
militares que compõe a equipe de operações aéreas no convoo, são coordenados
por um contra-mestre, um supervisor e um oficial do convoo, que possuem a
responsabilidade de manter essa equipe adestrada em nível adequado para poder
cumprir os procedimentos previstos nas normas internas e procedimentos
operativos.
As operações aéreas embarcadas demandam perícia e constante qualificação dos militares envolvidos |
No “Atlântico”
as operações aéreas encontram mais facilidades que desafios, contando com uma
infraestrutura que torna muito segura a operação de diversos tipos de aeronaves,
sendo capaz de lançar e recolher qualquer vetor de asas rotativas hoje em
operação com a Marinha do Brasil. O navio dispõe de grande capacidade de
monitoramento e comunicação, com sete spots no convoo (posição de 1-6 e o spot “Alfa”),
vários pontos de abastecimento, fontes externa de energia (Aprestos), contando
com 25 tomadas de combate à incêndios com capacidade de geração de espuma, pontos
de água desmineralizada para lavagem do compressor e das aeronaves, dois elevadores
para movimentar as aeronaves entre o Hangar e o Convoo, um vasto número de
equipamentos e facilidades para movimentação e manutenção das aeronaves, sendo
possível realizar inspeções e reparos, o hangar é relativamente grande, podendo
receber até 16 aeronaves, sendo até doze de grande porte e quatro de menor
porte, podendo aumentar o número de acordo com o mix de aeronaves embarcadas,
chegando ao máximo de 18 aeronaves, conta com uma equipe completa para atender as
operações aéreas, sendo capaz de operar simultaneamente três aeronaves em pouso
e/ou decolagem, além de controlar e coordenar o espaço aéreo ao seu redor.
As dificuldades que podemos elencar são as
mesmas inerentes a qualquer meio que opere aeronaves no mar, podendo ser
listadas a distância de terra, o que pode resultar em determinados momentos que
o navio seja único ponto de pouso para a aeronave, o que torna necessário o
planejamento sempre considerar um convoo alternativo, ou procedimento adequado
caso se faça necessário, bem como o posicionamento do navio de maneira
favorável, buscando sempre atender da melhor maneira o envelope de voo da
aeronave. Outro desafio é com relação a manutenção, onde o ambiente marítimo expõe
muito as aeronaves a corrosão causada pela maresia, o que eleva a atenção com a
limpeza dos compressores e demais componentes da aeronave ao fim das operações,
sendo notável ao fim do dia uma fina camada de sal depositada sobre a fuselagem
das aeronaves, demandando a lavagem das mesmas como prevenção do processo de
corrosão.
Essa é a primeira parte de nossa série de
matérias sobre as operações aéreas no “PHM Atlântico”, e uma de nossa série
prevista sobre operações navais e capacidades de nossa Marinha, onde no período
de 21 dias a bordo do Capitânia da Esquadra, pudemos aprender e conhecer muito
sobre o funcionamento e operação do maior e mais importante navio da Marinha do
Brasil, somado ao expertise assimilado com a operação dentro de um Grupo Tarefa
(GT).
Agradecemos ao V.Alte Mello – comandante em
chefe da Esquadra (ComemCh), Alte Kerr - ComDiv-1, C Alte Valicente - ComDiv-2,
C.Alte Rohwer – ComForAerNav, Comte Giovani Corrêa – Comandante do PHM
Atlântico, o departamento aéreo, CF Castelo, CC Rafael Peixoto, CC Munaretto,
equipes do hangar, convoo, Torre, COC, ACR e todos envolvidos na ASPIRANTEX
2020, que nos receberam e apoiaram, tornando possível a realização desta
matéria que abre a série que visa trazer ao nosso público um pouco mais sobre o
trabalho e preparo de nossos homens e mulheres que defendem nossa “Amazônia
Azul”.
GBN Defense - A informação começa aqui
Matéria excelente, com o alto padrão do GBN! E parabéns à Marinha por adquirir e manter estas capacidades essenciais ao Brasil!
ResponderExcluirTop! Fly Brazilian Navy!
ResponderExcluirQual a possibilidade de ser adquirido pela marinha do Brasil aviões de pouso e decolagem verticais?
ResponderExcluirSe nao me engano o japao e o reino unido usam embarcações semelhantes para o uso dessas aeronaves.
Boa tarde,
ExcluirEsta possibilidade é inexistente, pois o convoo do "Atlântico" não prevê operações de aeronaves de asa-fixa, mesmo de pouso e decolagem vertical. Tal fato se deve a estrutura do convoo e limitações de projeto nesse sentido, pois foi concebido para operar asas-rotativas.
Muito bom texto Nicolaci parabéns!
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