A Itália está algum tempo em busca de um comprador para duas de suas fragatas FREMM, sendo os últimos exemplares de dez navios encomendados ao estaleiro Fincantieri. Após oferecer ao Brasil sem sucesso, a Itália esta negociando a venda das fragatas para o Egito, nação que vem nos últimos anos investindo pesado na modernização de suas forças armadas.
O negócio é atraente para as duas partes, tendo em vista que o Egito já conta com uma fragata FREMM, esta de origem francesa, e os exemplares ofertados pelos italianos encontram-se em estágio final de construção, o que representa um curto período de espera pela entrega dos navios. Para Itália o negócio representa a solução para mudança em sua visão estratégica, a qual passa a demandar por navios mais especializados, diferente dos dois últimos exemplares, que estão sendo concebidos como fragatas de emprego geral. Com a venda dos dos navios para o Egito, a Itália poderia completar o número de dez fragatas FREMM, com a encomenda de duas unidades especializadas em Guerra Antissubmarino (ASW).
A venda que representa o montante estimado em 1,3 bilhões de dólares, será revertida na construção de dois navios que terão importante papel na visão estratégica italiana diante do cenário que se desenvolve no Mediterrâneo, que reflete tensões aumentadas na região com desenvolvimento de atividades que confrontam os interesses comerciais e de seguridade da Itália, tendo sido registrado um aumento exponencial nas atividades da frota de submarinos russos na região, somando a redução da presença norte americana imposta pela nova postura adota pelo governo de Donald Trump com relação à OTAN e seus parceiros, que tem pressionado os mesmos a aumentar os gastos com defesa e a presença de suas forças no cenário geopolítica regional, além do conflito civil líbio no norte da África.
O conflito na Líbia é um ponto sensível com relação à venda dos navios ao Egito, apesar de sofrer inúmeras críticas devido as questões envolvendo os direitos humanos no Egito, o que levou o governo francês a congelar acordos no campo de defesa, o alinhamento do Egito com general Khalifa Haftar, que está tentando derrubar o governo de Fayez al-Sarraj, legitimado pela ONU e apoiado pela Itália, pode resultar em atritos com seus aliados naquele cenário geopolítico, onde a Itália esta atuando em cooperação com a Turquia e o Catar na defesa do governo Líbio de Trípoli.
Porém, a aliança com os turcos pode estar com dias contados, depois que a Turquia e Al Sarraj assinaram um acordo marítimo bilateral que dividi a área do Mediterrâneo entre a Turquia e a Líbia, tal acordo inclui águas reconhecidas como pertencentes à Grécia e à Chipre. Tal acordo levou a Itália a tomar posição ao lado de seus vizinhos e do Egito ao condenar o acordo, sendo outro ponto de atrito entre Roma e Ancara, a prospecção de gás nas zonas marítimas pertencentes à Chipre por empresas turcas, áreas que fazem parte de um acordo de prospecção entre a Itália e Chipre, envolvendo a empresa de energia italiana ENI.
A Itália possui inúmeros desafios, e a atual situação que se abate sobre a OTAN e a UE, são fatores que corroboram para o posicionamento italiano de buscar meios que atendam as suas necessidades estratégicas, tornando o país capaz de lidar com variados cenários estratégicos que podem se desenvolver em seu "quintal", tendo em vista o atual estágio de letargia que atravessa a OTAN e os estados europeus signatários da aliança.
Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN News, graduando em Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do oriente médio, leste europeu e América Latina, especialista em assuntos de defesa e segurança, membro da Associação de Veteranos do Corpo de Fuzileiros Navais (AVCFN), Sociedade de Amigos da Marinha (SOAMAR), Clube de Veículos Militares Antigos do Rio de Janeiro (CVMARJ) e Associação de Amigos do Museu Aeroespacial (AMAERO).
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