Enquanto aumenta a percepção de ameaças, EUA e China puxam alta global nos gastos militares em 2019, sendo que Washington investiu quase quatro vezes mais que Pequim no setor. Brasil se mantém na 11ª posição no ranking.
Em 2019, os gastos globais com defesa deram o maior salto registrado em uma década, aumentando 4% em relação ao ano anterior, segundo um levantamento realizado pelo Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês) divulgados nesta sexta-feira (14). Ao todo, os gastos globais somaram 1,73 trilhão de dólares.
"Os gastos aumentaram enquanto as economias se recuperam dos efeitos da crise financeira, mas também foram motivados pelas acentuadas percepções de ameaças", diz o chefe do IISS, John Chipman, durante o lançamento do relatório anual na Conferência de Segurança de Munique
Tanto os Estados Unidos quanto a China aumentaram seus gastos em 6,6%, segundo o estudo anual. No ano passado, os americanos investiram quatro vezes mais em compras de armamentos e pesquisa e desenvolvimento armamentício do que a soma de todos os países europeus.
Washington destinou 684,6 bilhões de dólares a seu orçamento para a defesa, com 275 bilhões dedicados à aquisição de armas e investimentos de defesa. Essa última soma supera, por si só, os gastos totais com defesa da China (185,1 bilhões de dólares).
O programa chinês de modernização militar – que inclui o desenvolvimento de novos mísseis hipersônicos de difícil detecção – gera preocupações em Washington e contribui para os aumentos dos gastos americanos, avalia o IISS. Apesar do menor orçamento em relação aos EUA, a entidade avalia os investimentos chineses como "impressionantes por sua escala, velocidade e ambição".
Em outubro do ano passado, a China exibiu suas novas tecnologias militares, incluindo o míssil supersônico DF-17, projetado para transportar ogivas em velocidades que não permitem que seja interceptado.
A Rússia, que também iniciou um processo de modernização de seu arsenal, anunciou a entrada em serviço de seu próprio míssil hipersônico, O orçamento militar do país, que aparece em quarto lugar no ranking de investimentos com a defesa, é quase dez vezes menor do que o americano. Em testes, o sistema batizado de Avangard atingiu a velocidade de Mach 27, ou seja, 33 mil quilômetros por hora, segundo Moscou.
Os mísseis hipersônicos preocupam as autoridades ocidentais por serem tão rápidos e manobráveis que tornam praticamente inúteis sistemas de defesa e não permitem quase nenhum alerta de ataque iminente. Um oficial da Otan ressaltou recentemente que não seria possível sequer saber o alvo do ataque "até que haja um 'boom' no solo".
Outra demonstração das dimensões do orçamento militar nos EUA é o fato de que apenas o aumento dos gastos do país com a defesa entre 2018 e 2019 (53,4 bilhões de dólares) quase se iguala ao total dos investimentos registrados no Reino Unido.
A Europa aumentou seus gastos em 4,2%, mas esse salto apenas recupera a lacuna deixada a partir de 2008, quando os orçamentos foram cortados em meio à crise financeira global.
O estudo do IISS destacou ainda que os EUA diminuíram a ajuda financeira aos orçamentos de seus aliados. O aumento nos gastos europeus com a defesa pode significar uma resposta às reclamações do presidente americano, Donald Trump, de que os países membros da Otan na Europa – especialmente a Alemanha– estariam contribuindo com menos do que deveriam para a aliança militar do Atlântico Norte.
Segundo o IISS, os 15 países que mais investiram em defesa em 2019 seguem sendo os mesmos do ano anterior, apenas com a Itália (12º) trocando de posição com a Austrália (13º). Após EUA e China, aparecem no topo do ranking Arábia Saudita, Rússia, Índia, Reino Unido, França, Japão, Alemanha e Coreia do Sul.
O Brasil se manteve na 11ª posição do ranking, com 27,5 bilhões de dólares gastos. A diferença, porém, é que 80% do orçamento brasileiro é destinado aos gastos com pessoal, que também inclui pensões e aposentadorias. Os investimentos militares continuam em um patamar baixo no país.
Fonte: Deutsche Welle
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