sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

"Fúria sobre Balakhot", o combate aéreo entre Índia e Paquistão


As relações entre Índia e Paquistão sempre foram tensas, em especial pela questão da região da caxemira, estas duas nações possuem forças armadas muito bem preparadas e equipadas, além do fato de ambos possuírem armas nucleares, o que torna qualquer eventual atrito sempre preocupante com um possível prolongamento das animosidades.

Mas onde é Balakot? É uma cidade no distrito de Mansehra, na província de Khyber Pakhtunkhwa do Paquistão. Está localizado no norte do pais na região da Caxemira, na margem direita do rio Kunhar. Com um clima subtropical úmido e com verões quentes e invernos frios. As chuvas em Balakot são muito maiores do que na maioria das outras partes do Paquistão. As chuvas mais intensas ocorrem no final do inverno (fevereiro a março) ou na estação das monções (junho a agosto); no entanto, todos os meses têm uma pluviosidade significativa em média.

Foi assim em fevereiro de 2019 os dias 26 e 27 foram marcados como os mais tensos na relação entre Índia e Paquistão desde a eclosão da Guerra do Kargill, em 1999. Isto após um ataque terrorista contra um posto militar indiano em Pulwama – ataque este reivindicado pelo Jaish-e-Mohammed (JeM), com sede no Paquistão – no dia 14 de fevereiro, em que 40 militares perderam a vida, a Índia prontamente acusou o Paquistão pelo atentado e respondeu com força, através de ataques aéreos contra os supostos campos de treinamento terroristas no lado paquistanês da Caxemira. No dia seguinte, o Paquistão foi à desforra, enviando 24 aeronaves para um ataque de retaliação a alvos em território indiano. Daí por diante, iniciou-se uma sucessão de acontecimentos ainda pouco conhecidos, mas típicos de uma guerra aérea aberta, com combates BVR entre aeronaves de caças de diversos modelos, disparos de mísseis ar-ar, ejeções, fogo-amigo, um prisioneiro de guerra e até mesmo um combate aéreo dogfight, algo que não era visto por ambos desde a guerra de 1971.

Patch comemorativo paquistanês
O Paquistão reivindicando o abate de duas aeronaves indianas (um Su-30 e um MiG-21 Bison), enquanto os indianos negam a perda de uma de suas aeronaves e reivindicam o abate de um caça F-16 paquistanês. Porém, apesar de as perdas materiais e humanas parecerem uma simples escaramuça de baixa intensidade, o que se viu foi uma guerra de informação entre os dois lados, numa intensidade jamais vista pelos países em questão: blogers, youtubers, fontes oficiais, influenciadores digitais, aldeões e a imprensa formal tentaram “moldar” a opinião pública de seus países. Desse modo, selecionamos alguns dos fatos mais controversos, protagonizados por esses “atores”, na tentativa de encontrar respostas e juntar as peças desse grande “quebra-cabeças”. Iniciaremos com a argumentação paquistanesa e a contra-argumentação indiana. Em seguida, faremos a ordem inversa.



As bombas Spice não atingiram os alvos

Balakot ainda sentira o “cheiro da guerra” quando o major-general do Paquistão Asif Ghafoor usou sua conta de twitter, em 26 de fevereiro de 2019, para mostrar fotos dos prováveis locais de impacto das 5 bombas inteligentes Spice, lançadas por Mirages 2000 da IAF, provenientes de Gwalior (no total 16 aeronaves participaram da ação, armadas com bombas Spice e Crystal Maze). Ghafoor alegou que as bombas caíram numa área aberta, sem causar danos, e não sobre edificações, como foi alegado pela Índia. Vídeos da área atingida pelas bombas também foram divulgados. Os indianos, inicialmente, alegaram que as condições do tempo eram ruins para gravar vídeos da ação ou obter fotos de satélite. Segundo o militar aposentado Air-Commodore Kaiser Tufail, três pesquisadores australianos do Instituto de política Estratégica da Austrália (ASPI) alegaram que havia uma incompatibilidade entre a elevação do alvo detectada pelo GPS e a elevação ortométrica (acima do nível médio do mar), conforme indicariam as cartas aeronáuticas. Imagens da European Space comprovariam que as bombas indianas caíram nos locais errados, indicando erro de cálculo no planejamento da missão. Contudo, em 26 de abril de 2019, fontes indianas divulgaram fotos de satélite mostrando possíveis danos a edificações de Balakot. Testemunhas também relataram que haviam visto um grande número de ambulâncias enviadas para prestar socorro às possíveis centenas de vítimas do bombardeio. Muitas dessas vítimas estariam dentro do que seria, segundo os indianos, uma “escola de terrorismo” chamada Madrassa. Após a notícia dos supostos danos, jornalistas foram proibidos de entrar na POK (Pakistan Occupied Kashmir) durante um mês. Tempos depois, o Paquistão apresentou imagens do prédio o qual os indianos alegam ter danificado. O prédio parecia intacto e reformado, mas testemunhas locais disseram que ninguém frequentava a edificação desde o início de 2018. Talvez os extremistas do JEM não usassem mais o prédio (e as fotos de satélite indianas mostrem fotos do que seria uma “Nova Madrassa”), ou então nenhuma das fotos de satélite fosse da tal “Madrassa”.


Acima a esquerda: imagem divulgada pelo Paquistão de Madrassa intacta, a direita  foto de satélite revelado pela Índia, em destaque é possível identificar os danos causados, possível notar quatro perfurações no telhado de uma edificação
Caças F-16 não participaram da ação

Logo após o encerramento dos combates aéreos, no dia 27 de fevereiro de 2019, o diretor geral de relações públicas da força aérea paquistanesa, major-general Asif Ghafoor, afirmou que durante todas as operações aéreas nenhum F-16 foi utilizado. Em contradição à afirmação anterior, no dia 1 de abril, o mesmo Asif Ghafoor voltou atrás e disse que; “...Mesmo que o F-16 tenha sido usado até aquele momento, a PAF completa estava no ar, incluindo o F-16; o fato é que a Força Aérea do Paquistão derrubou dois jatos indianos em legítima defesa. Podemos assumir qualquer tipo de escolha, até o F-16. O Paquistão mantém o direito de usar tudo e qualquer coisa em sua legítima defesa...”. A mudança de discurso provavelmente se deveu ao fato de autoridades indianas terem apresentado partes de um míssil AIM-120-C5, o qual, dentro do inventário paquistanês, só pode ser usado pelos F-16.

Nouman Ali Khan visto várias vezes ao lado de caças f-16

O mistério do segundo piloto

Abhinandan capturado com macacão verde e ferido apenas no nariz
No início do dia 28 de fevereiro de 2019, numa coletiva de imprensa, o major-general Asif Ghafoor alegou que seu país estava com dois pilotos indianos sob custódia: um capturado e preso e o outro ferido, recebendo tratamento num hospital. O primeiro-ministro paquistanês Imran Khan reiterou as afirmações de Ghafoor, mas horas depois Ghafoor escreveu em sua conta no Twitter que apenas um piloto indiano (Abhinandan Varthaman), havia sido capturado, sem explicar o motivo da alegação sobre dois pilotos sob custódia, feita no início do dia. Vários vídeos em que se fala de um “segundo piloto”, gravados na POK, apareceram: num deles os aldeões gritando “onde está o outro cara”, enquanto um militar com macacão caqui ensanguentado (aparentemente muito ferido) entra num carro e é retirado do local. Como a alegação inicial do Ghafoor era de que “dois aviões indianos foram abatidos”, é possível que os populares falassem de um segundo piloto, mesmo sem contato visual com ele. Para fontes indianas, as menções ao segundo piloto foram removidas do discurso oficial por ser paquistanês, e não indiano, como o afirmado no início. Os rumores são de que o piloto da PAF teria sido linchado por engano (devido ao fato de as cores do paraquedas do F-16 serem parecidas com as da bandeira indiana) e falecendo num hospital. Porém, nenhum vídeo conclusivo sobre a existência de um segundo piloto (mostrando o rosto, patches ou plaqueta) foi apresentado. Vários aldeões relatam também que viram três paraquedas no ar, o que poderia indicar que algum paraquedas de frenagem de algum caça poderia ter sido acionado durante a queda, ou mesmo que isso seja a evidência da queda de uma aeronave biplace. Porém, mais uma vez, não foi apresentado nenhum registro dos dois ou três paraquedas descendo no céu.



Repare no vídeo que postamos, a cor da roupa do piloto não identificado. Se assemelha mais ao uniforme paquistanês do que ao indiano. O detalhe do sangue na parte de trás do macacão, perceptível no vídeo.

Os JF-17 abateram 2 jatos indianos ?

No dia 6 de março de 2019, o ministro das Relações Exteriores do Paquistão Shah Mahmood Qureshi identificou os pilotos Nouman Ali Khan e Hassan Siddiqui como os responsáveis pelos abates de Su-30 e MiG-21, respectivamente. O ministro fez tal declaração após o presidente do Partido Popular do Paquistão, Bilawal Bhutto Zardari, elogiar o líder do esquadrão Siddiqui por derrubar o jato MiG-21 do comandante de ala Abhinandan Varthaman da IAF em 27 de fevereiro. 

“Um esclarecimento: Bilawal prestou homenagem a Hassan Siddiqui como absolutamente um herói nacional”, disse Qureshi. “Mas eu gostaria de esclarecer que dois aviões indianos foram abatidos. O outro foi derrubado pelo comandante-chefe Nouman Ali Khan”, acrescentou, pedindo que o segundo piloto também receba o devido crédito. Em 25 de março de 2019, o Paquistão, através de seu homem de relações públicas, Asif Ghafoor, afirmou para a agência russa Sputnik Internacional que “as aeronaves que combateram e atingiram os dois alvos (caças) indianos foram os JF-17” Block II. No Twitter, um vídeo de supostos pilotos paquistaneses posando ao lado de um JF-17 (comemorando as vitórias) viralizou.

Tudo parecia ter coerência, ainda que ninguém informasse precisamente como esses jatos indianos foram abatidos, e sem que qualquer parte do Su-30 tenha sido mostrada como prova. A dúvida aumentou ainda mais após a aparição de fotos comprometedoras: uma de Nouman Ali Khan com macacão de voo dentro de um caça F-16 e outras de um suposto memorial da PAF exibidas na internet. No memorial, haviam placas comemorativas dos abates de Su-30 e MiG-21. Porém o F-16 AM constava como sendo o algoz do MiG-21 e um F-16 BM como algoz do Su-30. Um artigo do ex-militar paquistanês Kaiser Tufail também desmente a versão oficial da PAF: descreve Nouman Ali Khan e Hassan Sidiqqui como pilotos de F-16, no entanto, confirma os abates das duas aeronaves IAF. Patches comemorativos foram feitos para “celebrar” a derrubada dos aviões inimigos.

Nos memoriais, consta que as duas aeronaves indianas foram ‘’abatidas’’ por mísseis AIM-120 disparado por  F-16


Todos caças F-16 da PAF foram contados

A revista americana Foreign Policy veiculou no seu website, no dia 4 de abril de 2019, a notícia de que dois militares norte-americanos não identificados estiveram em instalações militares paquistanesas e verificaram que todos os caças F-16 vistos desde a última contabilização (descartando eventuais acidentes) constavam no inventário. Nenhum havia sido perdido no dia 27 de fevereiro. Contudo, um suposto porta-voz do departamento de defesa norte-americano (também não identificado) teria afirmado que o Pentágono não sabia de qualquer investigação conduzida para a contagem dos F-16 paquistaneses. A notícia foi amplamente divulgada na mídia indiana.


Todos os mísseis do MiG-21 foram encontrados nos destroços

Aproximadamente um mês depois das hostilidades, oficiais paquistaneses começaram a divulgar no Twitter imagens do que seriam os quatro mísseis do avião de Abhinandan em cima de camas. Em pelo menos duas fotos os mísseis são mostrados de longe, em baixa resolução e sob apenas um ângulo. Noutras fotos, dá pra ver de perfil alguns pedaços de R-73 e R-77. Segundo o ex-militar paquistanês Kaiser Tufail, Abhinandan decolou de Srinagar, desligou o IFF e se aproveitou da cordilheira Parmal para tentar fugir dos radares inimigos. Porém, não conseguiu escapar da detecção do Erieye do awacs paquistanês, sendo visto e abatido por AIM-120, enquanto tentava travar um dos dois F-16 que estavam próximos. Portanto, não teria havido tempo para disparo de míssil algum. Essas seriam “provas definitivas” de que Abhinandan foi abatido sem atirar.

Mas uma análise mais detalhada de um vídeo de alta resolução, feito aparentemente quando nenhuma das peças do MiG-21 haviam sido removidas, mostram apenas 3 mísseis entre os destroços e alguns projéteis de GSh-23. Um dos R-73 apresentados nas fotos das camas não é visto em qualquer trecho do vídeo dos destroços (nenhum de seus fragmentos pode ser identificado nas filmagens), assim como é pouco possível que os paquistaneses tenham removido apenas um míssil do meio dos destroços. Visto em fotos de melhor resolução, o R-73 parece novo, não se assemelhando com o restante dos pedaços do avião. Nos pedaços de R-77, outra surpresa: existem dois atuadores/controles de cauda nos destroços, mas apenas um desses pedaços aparece nas fotos das camas. Um dos R-77 apresentados pelos paquistaneses parece ter um terceiro atuador que não foi queimado durante a queda, divergindo das cenas vistas no vídeo. Resumindo: são três atuadores/controles de cauda diferentes para apenas dois mísseis.

A seção que abriga o combustível sólido desse mesmo R-77 parece recém saída de fábrica, não combinando com as partes chamuscadas dos outros mísseis. É possível que, em se tratando de uma falsificação, o R-73 tenha sido “plantado” e o R-77 original tenha sido “maquiado” com partes em melhor estado, para parecer mais novo e combinar com o R-73 em bom estado, para dar a ideia de que ambos estavam do mesmo lado da asa e se desprenderam do avião após o impacto. Existe outro vídeo que mostra as partes da deriva, tanque subalar e exaustor. Porém, não se pode ver qualquer fragmento de míssil dentre essas partes.

No dia 25 de fevereiro de 2020, a Força Aérea Paquistanesa voltou a apresentar as mesmas partes de mísseis, novamente uma foto única de baixa qualidade, para reforçar a tese de que o MiG-21 Bison teria caído com todos os mísseis intactos. A PAF agora reconhece o “27 de fevereiro” como “The Surprise Day”.


Destroços reapresentados pelos paquistaneses dia 26 de fevereiro de 2020, número serial do R-73 incompleto, proposital?

Um F-16 B ou D foi abatido

Imagens de radar indianas comprovariam suposto abate do F-16
Dessa vez não foi uma declaração oficial, mas um conjunto de histórias contadas por estudiosos de aviação indiana (todos indianos), que chegaram inclusive a programas de TV na Índia, mesmo sem embasamento em declarações oficiais: foi veiculada a versão de que um F-16B ex-jordaniano, que supostamente fora atualizado na Turquia em 2014, seria a aeronave atingida. Foram feitas menções ao F-16B número 606, o qual, ironicamente, teria como um de seus tripulantes Hassan Siddiqui (o mesmo que a PAF alega ter sido o algoz do MiG-21). Depois, vieram à tona versões alegando que o aparelho era um F-16D Block-52, proveniente do Sqn. 19 “Sherdils”. Estudos recentes de pesquisadores como Sameer Joshi não confirmam nenhuma das duas coisas: deixam aberta a possibilidade de a aeronave abatida ter sido tanto um F-16 monoplace como um biplace, ou mesmo um Jf-17. Apenas duas ejeções teriam sido identificadas em vídeos gravados na POK. Se realmente um avião biplace caiu, o outro piloto não conseguiu ejetar. A Índia alega ter detectado e abatido a aeronave enquanto a mesma (armada com bombas Raptor-3D) rumava para atacar um depósito de armas do Exército Indiano em Narian. O provável local da batalha teria sido Jhangar, com os destroços caindo sobre Khuiratta, em frente ao Vale do Lam.


Fontes indianas alegam que um F-16 biplace teria sido abatido por abhinandan

Os indianos sabem a identidade do piloto

No dia 12 de março de 2019, a ministra da Defesa da União Nirmala Sitharaman disse, num programa de Tv, que os militares indianos conheciam a identidade do suposto piloto paquistanês abatido. Porém até o momento, nenhum nome foi revelado.


Caminhões cinza e laranja: O caminhão que levou destroços do Mig-21 era cinza. O caminhão Laranja visto no vídeo, não carrega os restos do Mig-21, mas de outra aeronave ainda não identificada


IAF interceptou conversas entre paquistaneses

Em 6 de abril de 2019, a IAF alegou possuir trechos de três conversas de rádio entre militares paquistaneses, que comprovavam a captura de dois pilotos e a remoção do – suposto – segundo piloto para um hospital. Aparentemente, apenas alguns jornalistas indianos tiveram acesso a esses diálogos, que não foram disponibilizados ao público em geral.


Um pedaço de F-16 comprova a queda da aeronave?

Esse talvez seja o maior equívoco do discurso indiano: os principais canais de noticias do país divulgaram que partes do F-16 haviam sido encontradas. Uma foto controversa foi excessivamente divulgada, com a alegação de que seria realmente uma parte de F-16. Para uns, é uma parte de motor GE-F110; para outros, é parte da fuselagem que reveste o motor, localizada na parte de baixo da aeronave, que envolve o gancho de frenagem. A primeira versão parece infundada, já que os motores dos F-16 paquistaneses não são do tipo GE-F110. A outra afirmação parece um caso clássico de ilusão de ótica: quando observamos o vídeo “the mystery of the missing F-16” de Shiv Sastry dá para ver que o pedaço de fuselagem que alegam ser de F-16 é, na verdade, um pedaço de fuselagem do MiG-21 Bison de Abhinandan. Fanboys indianos foram além: usaram outras partes do MiG-21 Bison abatido para alegar que essas partes eram de F-16. A IAF manteve o silêncio sobre as alegações. O site Bellingcat desmente, com bastante clareza, a alegação de que as peças pertenciam a alguma aeronave PAF.


Blogglers , Vloggers  e canais de TV indianos viralizaram com possíveis ‘’destroços do f-16’’ que nada mais eram que partes do Mig-21 abatido de abhinandan.

Um Su-30 indiano escapou de pelo menos quatro disparos de AIM-120?

Provável momento que o F-16 dispara AIM-120 contra o Su-30MKI
De acordo com algumas fontes indianas, incluindo ex-militares (há uma norma na IAF que proíbe militares da ativa de se manifestarem), um Su-30 perseguia um F-16, na tentativa de abatê-lo. Porém, inesperadamente, os pilotos de F-16 “viraram o jogo”, possivelmente contra-atacaram com quatro ou cinco disparos de AIM-120. Não está claro quantos F-16 estiveram envolvidos nessa ação, mas fontes indianas atestam para o lançamento de pelo menos quatro AIM-120 C-5 contra um único Su-30. Os mísseis teriam sido lançados no limite máximo do alcance eficaz da arma (pouca PK) e despistados por contramedidas e manobras do Su-30. Os su-30 ganharam o apelido carinhoso de “Amraam Dodgers” , porém essa façanha está longe de ser comprovada: a única prova mostrada pela  Índia que possa ter a ver com o fato foi a apresentação de pedaços de um AIM-120, que pode ter sido lançado contra qualquer dos aviões IAF que estiveram em ação, inclusive contra o MiG-21 de Abhinandan. Outra versão é a de que o quinto míssil lançado pelos F-16 tinha como alvo o Ala de Abhinandam. Não conseguindo acertar o alvo, o míssil teria caído sobre a aldeia de Mamankote Mallas, causando uma explosão que fez suas partes se espalharem dentro de um raio de 100 metros.

Patches AMRAAM Dodgers indianos alusivos a 27/02



Mas então, que conclusão podemos tirar sobre a escaramuça dos dias 26 e 27 de fevereiro de 2019? Foram ações que ficaram  marcadas por movimentos previsíveis, de ambas as partes: os militares paquistaneses contradizem alguns pontos, omitindo  detalhes sobre suas alegações, enquanto os indianas repetem a mesma história desde o início e tentam apresentar alguma comprovação sobre suas alegações, apesar de não terem levado a público as várias provas que afirma ter. O Paquistão possui a vantagem de ter os destroços de um avião de combate consigo e o fato de todas as ações ocorrerem em seu território (tem mais propriedade para falar sobre o que aconteceu dentro de seu território), e a Índia tem a mais coerente narrativa dos fatos. Porém, devemos ponderar o fato de que a manipulação do fluxo de informações é uma tarefa fácil e bem real na Caxemira: Em dezembro, várias contas de WhatsApp de moradores locais (Caxemira Indiana) foram canceladas, após os indianos cortarem o fornecimento de serviços de internet por quatro meses, o que levanta dúvidas sobre a real credibilidade das informações disponibilizadas pelos indianos.


Mig-21 de abhinandan. Destroços pouco chamuscados e partes da aeronave facilmente identificáveis. Teria caído com pouco combustível ou colidido em baixa velocidade?

Hasan Siddiqui e Nauman Ali Khan juntos, notar o Patch
Quem estuda sobre combates aéreos sabe que às vezes a comprovação de um kill dura décadas. A Índia se antecipou e deu um Vir-Chakra para Abhinandan Varthaman, entendendo que sua ação contribuiu diretamente para o pacote de ataque PAF abortar a missão, despejando 11 bombas a esmo. O Paquistão condecorou Ali Khan e Siddiqui também. Para a IAF, o legado do 27 de fevereiro parece refletir diretamente no planejamento e aquisições de armas: o desenvolvimento dos mísseis BVR Astra aparenta estar acelerado (equiparará os Su-30, inicialmente), bem como foi feita a exigência de que os novos Dassault Rafale já sejam entregues aptos para dispararem mísseis Meteor. Os paquistaneses estão interessados em modernizar seus F-16 A/C com novas armas ar-solo, versões mais recentes do míssil Sidewinder e radares de varredura eletrônica. Nunca se pode desprezar o aprendizado de uma missão de combate real, pela qual um adversário de nível similar emprega o que tem de mais moderno de seu arsenal no que talvez seja uma das únicas vezes na história(talvez a única) em que duas forças aéreas adversárias utilizaram simultaneamente aeronaves AWACS natas, uma contra a outra.


Documento oficial do Estado Indiano oficializando a comenda Vir-Chakra e descrevendo o mérito.



Por: Everton Pedroza – Bancário, bacharel em desenho industrial, escritor, articulista e pesquisador em assuntos militares desde 1998. Escrevendo principalmente sobre aviação militar, consagrado por artigos publicados em vários sites de renome, chega ao GBN Defense .


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