sábado, 29 de fevereiro de 2020

Paquistão saúda acordo de paz entre EUA e Talibã

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Neste sábado (29), o Paquistão saudou a assinatura do acordo de paz EUA-Taliban, que visa acabar com a guerra que se arrasta por 18 anos no Afeganistão.
Os EUA assinaram um acordo histórico com o Taliban no início do dia em Doha, no Catar, estabelecendo um cronograma para a retirada total de tropas do Afeganistão dentro de 14 meses.
Espera-se que o acordo leve ao diálogo entre o Talibã e o governo de Cabul, buscando o fim do conflito que teve inicio em 2001, durante a "Guerra ao Terror" que se sucedeu aos atentados de 11 de setembro daquele ano nos EUA.
Em comunicado, o primeiro-ministro do Paquistão, Imran Khan, chamou o acordo de "início de um processo de paz e reconciliação para acabar com décadas de guerra e sofrimento do povo afegão".
"Sempre afirmei que uma solução política, por mais complexa que seja, é o único caminho significativo para a paz", disse Khan através de sua conta no Twitter.
Sem nomear nenhum país ou grupo, Khan instou todas as partes interessadas a garantir que "os spoilers sejam mantidos à distância".
"Minhas orações pela paz pelo povo afegão que sofreu quatro décadas de derramamento de sangue. O Paquistão está comprometido em desempenhar seu papel de garantir que o acordo seja mantido e tenha sucesso em trazer a paz ao Afeganistão", acrescentou Khan.
O Paquistão foi representado na cerimônia pelo ministro das Relações Exteriores do país, Shah Mahmood Qureshi.
Qureshi disse que o acordo carrega imensa importância - tanto em simbolismo quanto em substância - para o Afeganistão, a região e além.
"O Acordo de Paz refletiu um avanço significativo dos EUA e do Taleban no avanço do objetivo final de paz e reconciliação no Afeganistão", afirmou ele em comunicado.

Fonte: Agência Anadolo
Tradução e Adaptação: Angelo Nicolaci - GBN Defense
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Acordo histórico assinado entre EUA e Taliban, abre caminho para retirada de tropas

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Os Estados Unidos assinaram um acordo com os insurgentes do Taliban neste sábado (29) que pode abrir caminho para uma retirada total de soldados estrangeiros do Afeganistão nos próximos 14 meses e representar um passo em direção ao fim da guerra de 18 anos no país.

Embora o acordo crie um caminho para que os Estados Unidos se retirem gradualmente de sua guerra mais longa, muitos esperam que as negociações entre os lados afegãos sejam muito mais complicadas.

O acordo foi assinado em Doha, capital do Catar, pelo enviado especial dos EUA Zalmay Khalilzad e pelo chefe político do Taliban, Mullah Abdul Ghani Baradar. O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, esteve presente para testemunhar a cerimônia.

O secretário de Defesa dos EUA, Mark Esper, disse que, embora o acordo seja um bom passo, o caminho a seguir não será fácil.

“Este é um momento de esperança, mas é apenas o começo. O caminho a seguir não será fácil. Alcançar uma paz duradoura no Afeganistão exigirá paciência e compromisso entre todas as partes”, disse Esper, que se encontrou com o presidente afegão, Ashraf Ghani, em Cabul, onde eles anunciaram uma declaração conjunta paralela ao acordo EUA-Taliban.

Aperto de mão histórico que pode representar o fim da Guerra do Afeganistão para os EUA após 18 anos da invasão

Os Estados Unidos disseram que estão comprometidos em reduzir o número de suas tropas no Afeganistão para 8.600 — do número atual de 13 mil— dentro de 135 dias após a assinatura do acordo e que estão trabalhando com seus aliados para reduzir proporcionalmente o número de coalizões no Afeganistão durante esse período, se os talibãs cumprirem seus compromissos.

Uma retirada total de todas as forças dos EUA e da coalizão ocorrerá dentro de 14 meses após a assinatura do acordo, se o Taliban se mantiver no acordo, disse o comunicado conjunto.

Para o presidente dos EUA, Donald Trump, o acordo de Doha representa uma chance de cumprir sua promessa de trazer as tropas dos EUA para casa.

Mas especialistas em segurança também o chamaram de aposta na política externa que daria legitimidade internacional ao Taleban.

“Hoje é um dia monumental para o Afeganistão”, disse a embaixada dos EUA em Cabul no Twitter. “Trata-se de fazer a paz e criar um futuro melhor e comum. Estamos com o Afeganistão.”

Ghani disse esperar que o acordo de Doha abra caminho para uma paz duradoura.

 “Esperamos que a paz entre EUA e Talibã leve a um cessar-fogo permanente... O país está ansioso por um cessar-fogo completo”, disse ele em entrevista coletiva em Cabul.

O governo afegão disse estar pronto para negociar e concluir um cessar-fogo com o Taleban e afirmou seu apoio à retirada gradual das forças dos EUA e da coalizão, sujeita ao cumprimento pelo Taliban de seus compromissos.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, chamou o acordo assinado entre os Estados Unidos e o Talibã neste sábado de um importante desenvolvimento na busca por um entendimento político duradouro no Afeganistão, destacando a importância de manter a redução nacional da violência.

“O secretário-geral considera bem-vindos os esforços para chegar a um acordo político duradouro no Afeganistão. Os eventos de Doha e Cabul marcam um desenvolvimento importante nesse sentido”, disse o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, em um comunicado.

“O secretário-geral sublinha a importância de manter a redução nacional da violência, em benefício de todos os afegãos. Ele encoraja esforços contínuos em todas as partes para criar um ambiente para negociações intra-afegãs e um amplo processo de paz.”

Fonte: Reuters
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Missil BVR "Astra" equipará Rafale, Su-30 e Mig-29 da IAF

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Na tarde da última sexta-feira (28), o site de notícias "India Today" publicou a reportagem intitulada: "Precisa olhar além do Rafale, armar Su-30 e Mig com mísseis nacionais Astra", na qual apresenta o posicionamento da Força Aérea Indiana (IAF) após as lições obtidas no embate aéreo com aeronaves paquistanesas sobre Balakhot há um ano atrás. É interessante ressaltar que boa parte do que foi apresentado pelo Comandante da IAF, RKS Bhadauria, confirma as conclusões apresentadas no artigo "Fúria sobre Balakhot, o combate aéreo entre Índia e Paquistão" publicado aqui no GBN Defense.

Durante o seminário "Poder aéreo em guerra, sem cenário de paz", organizado pelo Center for Air Power Studies, o Comandante da IAF abordou as questões que envolvem as necessidades indianas no que diz respeito ao poder aéreo daquele país. O evento que também contou com a participação do ministro da Defesa Indiano, Rajnath Singh e do Chefe do Comitê de Defesa, o General Bipin Rawat, colocou em voga o desenvolvimento da tecnologia de defesa indiana.

Segundo Bhadauria, os 36 caças Rafale que em breve serão introduzidos na Força Aérea Indiana (IAF), não fornecerão uma solução para as necessidades da IAF, e deixa clara a necessidade indiana de se concentrar no desenvolvimento de soluções próprias, se referindo ao desenvolvimento do míssil BVR "Astra" de produção local, apontando a necessidade de integrar esse novo desenvolvimento da indústria de defesa indiana em suas aeronaves, dotando o Su-30 MKI e outras aeronaves, como os caças Mig-29 com este missil BVR, garantindo um melhor desempenho do poder aéreo.

Ele disse que a Força Aérea da Índia ficará "muito feliz" se, no próximo conflito aéreo, as armas e mísseis usados ​​pela Força Aérea forem desenvolvidos e fabricados localmente na Índia.
  
Comandante da IAF, RKS Bhadauria
A Força Aérea Indiana ganhará um relativo aumento em suas capacidades com a introdução dos novos caças Dassault Rafale, que incorporam o míssil BVR europeu "Meteor" ao arsenal indiano, porém, Bhaduria deixa claro que apesar do "Meteor" ser uma arma de primeira linha, não deve ser visto como a solução para as necessidades da IAF, esclarecendo que a solução não pode se resumir apenas ao Rafale e aos misseis "Meteor", mas no desenvolvimento local de novas tecnologias e soluções, as quais possam ser integradas aos Su-30 e Mig-29, e também complementar o leque de opções disponíveis para os Rafales indianos.

As lacunas identificadas durante o confronto em Balakhot levaram a uma reformulação não apenas nas táticas de combate aéreo, mas também no que diz respeito aos meios e tecnologias que compõem o poder aéreo indiano, conforme apresentado no artigo escrito por Everton Pedroza, que em sua análise conclui que o hiato na capacidade BVR indiana, foi um dos fatores que levaram a uma mudança de paradigmas na IAF, a qual agora volta seu foco se concentrar no desenvolvimento de novas capacidades, estabelecendo novos requisitos em busca de alcançar vantagem em termos de armas e tecnologia de origem indiana, como o Missil BVR "Astra".
Sobre o primeiro aniversário do ataque aéreo de Balakhot, Bhaduria, disse: "Foi uma demonstração clara de que existe um espaço dentro dos limites subconvencionais de conflito em que a Força Aérea pode ser usada para mirar e ainda assim ter a escalada sob controle."
Enquanto isso, o ministro da Defesa Rajnath Singh referindo-se ao ataque aéreo de Balakhot, disse: "Balakhot continuará a reiterar a intenção da Índia de empregar os recursos mais adequados para o impacto pretendido, com um elemento de imprevisibilidade e inovação como parte integrante do esforço. esse fator que deve permanecer no topo de nossas mentes ".

GBN Defense - A informação começa aqui
Com informações do site "India Today"
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Marinha do Brasil recebe primeiro UH-17 da Helibrás

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Nesta sexta-feira (28), a Helibrás entregou o primeiro dos três helicópteros H135 á Marinha do Brasil, a cerimônia de transferência da aeronave para o Comando de Operações Navais (CON), foi realizada no heliponto da Base Naval do Rio de Janeiro. 

A nova aeronave de asas rotativas possui capacidades multimissão, onde pode rapidamente ser configurada para cumprir um vasto leque de atividades,  o novo helicoptero representa enorme ganho em capacidade operacional, e será empregado no apoio as operações do PROANTAR, substituindo os veteranos UH-13 Esquilo biturbina do EsqdHU-1. O H135 passa a ser denominado UH-17 pela Marinha do Brasil.


O UH-17 trás consigo grande versatilidade e resistência, apresentando um baixo custo de operação, sendo capaz de operar nos ambientes mais complexos com segurança e praticidade, capaz de cumprir um vasto leque de missões, que vão desde o transporte de tropas e carga, operações especiais, SAR, inspeção naval  á evacuação aeromédica (EVAM), particularmente em condições "High & Hot", levando mais carga a distancias maiores do que outras aeronaves da mesma categoria.

A nova aeronave ficará baseada em São Pedro da Aldeia, na famosa "Macega", a Base Aerea Naval de São Pedro da Aldeia ( BAeNSPA). Em breve o GBN Defense irá conhecer de perto nosso novo helicóptero.

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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Tiger - 45 anos do Northrop F-5 na FAB

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No dia 28 de fevereiro de 1975, a exatos 45 anos atrás, eram entregues em Palmdale nos EUA, primeiros três exemplares do caça mais longevo em operação no Brasil, o qual possui uma bela folha de bons serviços prestados sob o cocar da Força Aérea Brasileira, acumulando até o momento mais de 285 mil horas de voo e muitas missões voadas, escrevendo páginas importantes de nossa aviação de caça.

No 45º aniversário de seu recebimento, o GBN Defense conta um pouco sobre essa pequena, mas fantástica aeronave, que apesar da idade, ainda se mostra um vetor muito capaz e letal nas mãos de profissionais preparados, como os pilotos de caça brasileiros.


Nada melhor do que começarmos apresentando o cenário que levou ao desenvolvimento da aeronave que se tornou um ícone da aviação de caça moderna, sendo um grande sucesso de exportações e operando ainda hoje em muitas forças ao redor do mundo.

Apesar do sucesso alcançado, o F-5 não surgiu como um programa do governo americano como muitos pensam, sendo fruto de pesquisas realizadas pela equipe da Northrop nos idos de 1954, onde o mundo vivia sob o manto da Guerra Fria e a ameaça comunista. Neste período, uma equipe da Northrop visitou vários países signatários do Tratado do Atlântico Norte, aquele que em 1949 deu origem a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), com intuito de identificar as necessidades de defesa desses países.

Com base nos dados obtidos, foram elaborados estudos onde se identificou a nítida necessidade de uma aeronave com capacidade multifuncional que apresentasse um baixo custo operacional, Como resultado, as equipes de projetistas e engenheiros se debruçaram sobre as pranchetas, resultando na criação do caça leve N156F. Apesar de apresentar uma aeronave com amplas capacidades e custo/benefício atraente, a USAF não se mostrou interesse no projeto naquele momento.

As necessidades naquele momento era a aquisição de uma aeronave de treinamento para substituir sua frota de treinadores Lockheed T-33, os quais já e mostravam ineficientes para preparar os futuros pilotos da USAF no início da era dos caças supersônicos. Diante desta oportunidade, a equipe da Northrop ofereceu uma moderna aeronave de treinamento avançado, a qual era um desenvolvimento do projeto N156F, a qual venceu a concorrência em 1956 e conquistou o contrato para fornecer a USAF, dando origem ao T-38 Talon, se tornando a primeira aeronave de treinamento supersônica, entrando em operação em março de 1961, atingindo uma produção total de 1146 células produzidas, mas esta será objeto de outra matéria.
Northrop T-38 Talon

Apesar da USAF não ter se mostrado interessada no projeto do caça leve, a Northrop resolveu investir por conta própria no desenvolvimento da aeronave, confiante no potencial mercado que havia identificado para o tipo, o que levou no dia 30 de julho de 1959, a realização do primeiro voo do F-5, o qual ocorreu dentro do previsto e demonstrando as qualidades do projeto N156F.

O momento da virada

Mas foi apenas três anos após a realização do primeiro voo que o F-5 finalmente atraiu os olhares do Departamento de Defesa dos EUA, o qual buscava uma aeronave para atender a necessidade de apoiar os aliados de Washington com uma aeronave de combate que pudesse oferecer através do Military Assistance Program (Programa de Assistência Militar), o caça deveria apresentar um baixo custo de aquisição/operação, e relativa capacidade de combate,  neste cenário, o F-5 despontava como uma atraente opção, conforme apontavam os estudos da Northrop quase uma década antes, sendo um caça pequeno e ágil.

Primeiro protótipo do F-5A
Em 25 de abril de 1962, o Departamento de Defesa anunciou a escolha do projeto N-156F da Northrop como aeronave escolhida para o Programa de Assistência Militar (MAP).o qual no dia 9 de agosto do mesmo ano foi designado oficialmente como F-5A Freedom Fighter, sendo oferecido aos aliados da OTAN, que poderiam adquirir um caça supersônico que apresentava capacidades de realizar missões ar-ar, ataque ao solo e treinamento (F-5B) com preços razoáveis.

Apesar de apresentar uma limitada capacidade na arena aérea, o F-5A/B se mostrava capaz para missões de ataque ao solo. Parte dessa limitação se devia ao fato de não estar equipado com um radar de controle de fogo (FCR). Sua variante biplace, o F-5B era mais voltado a missões de treinamento e ataque.

Batismo de fogo no Vietnã

Em outubro de 1965 a USAF enviou 12 aeronaves F-5A oriundas dos estoques do MAP para o Vietnã, as quais operaram com a 4503º Ala de Caças Táticos (4503º TFW) com intuito de realizar testes operacionais. Foi dado ao programa o nome código Skoshi Tiger ("Pequeno" Tigre), e foi durante essas operações que o F-5 ganhou o apelido de Tiger.

Foi no Vietnã que os “Tiger” ganharam sua fama, se mostrando aeronaves de grande manobrabilidade e capazes de cumprir suas missões nos bem defendidos céus do Vietnã. Ao passo que os norte americanos sofriam pesadas perdas com aeronaves como o F-4 Phanton e F-105 Thunderchief, os “Tigers” embora se mostrassem aeronaves mais limitadas do ponto de vista técnico, registravam as menores perdas, o que levou a encomenda de 200 aeronaves F-5A pela USAF.

O emprego dos “Tigers” na Guerra do Vietnã, levaram a identificação de várias modificações pelas quais deveria passar o F-5. Com isso, a USAF resolveu promover um programa que tinha por objetivo garantir novas capacidades ao F-5A, principalmente com relação a sua capacidade de combate aéreo, tendo como foco tornar a aeronave capaz de contrapor o MiG-21 soviético na arena aérea. A aeronave soviética era vista como uma ameaça pelos aliados de Washington, tendo em vista a larga escala de produção da aeronave soviética e seu envio em grandes quantidades aos aliados de Moscou.

O primeiro F-5E produzido, hoje opera com as cores da FAB
Mais uma vez as equipes de projetistas e engenheiros da Northrop se debruçaram sobre as pranchetas e em outubro de 1970 era apresentado à USAF a nova variante do F-5 “Tiger”, a qual apresentava capacidade de realizar missões de superioridade aérea e enfrentar os temíveis MiG-21 do Pacto de Varsóvia. Essa nova versão avançada do F-5, passou a ser denominada F-5E Tiger II, realizando seu primeiro voo em 11 de agosto de 1972, essa nova versão incluía motores mais potentes, maior capacidade de combustível, maior alar e extensões aprimoradas da borda de ataque para melhorar a capacidade de curva, sendo capaz de realizar reabastecimento aéreo (REVO) e contando com aviônicos aprimorados, incluindo um novo radar ar-ar. As entregas dos primeiros exemplares desta nova versão começaram a ser entregue ainda no final deste ano, tendo recebido uma encomenda inicial de nada menos que 325 aeronaves, onde os primeiros exemplares entregues entraram em serviço no início de 1973.


Os Tigers no Brasil

A história do F-5 e o Brasil, remonta uma década antes de seu recebimento pela Força Aérea Brasileira há 45 anos, tendo sido estudado pela FAB nos idos de 1965, onde foi cogitada a aquisição pelo Brasil de exemplares do “Freedom Fighter” tanto na variante F-5A como a variante biplace F-5B, porém, as intenções não se concretizaram.

Ainda nos anos 60, a Força Aérea Brasileira buscava um novo vetor no âmbito do projeto SISDACTA, Em 1967, ele foi novamente cogitado, desta vez como vetor do projeto SISDACTA (Sistema de Defesa Aérea e Controle de Trafego Aéreo). Em 1967 a FAB sonhava com a possibilidade de operar o caça norte americano F-4 Phantom da McDonnell Douglas, mas essa possibilidade foi vetada pelos americanos, que em contrapartida ofereceram o F-5 em sua variante “Charlie”, que se tratava da versão que foi desenvolvida pela Northrop incorporando diversas melhorias em relação a variante “Alfa”, assim o F-5C assimilava lições aprendidas nos céus do Vietnã.

Um dos primeiros F-5B "Freedom Fighter" do Brasil
Mas como a FAB tinha predileção pelo “Phanton”, acabou recusando a oferta do “Tiger” e optando em maio de 1970 pela proposta dos franceses, que ofereceram o Dassault Mirage III, do qual adquirimos 17 aeronaves inicialmente, assim pondo fim a chance naquele momento do “Tiger” operar no Brasil.

No ano seguinte à derrota do “Tiger” na concorrência do projeto SISDACTA, uma nova lacuna em nossa Força Aérea abria uma nova oportunidade, onde se buscava uma aeronave substituta aos vetustos AT-33A, o que levou a abertura de concorrência internacional naquele ano de 1971. Desta vez a Northrop ofereceu a variante mais moderna do “Tiger”, o F-5E, que disputou o milionário contrato com os italianos Fiat G-91 e MB-326K, os britânicos Harrier Mk-50Jaguar GR1 e o também norte americano McDonnell Douglas A-4F. Desta vez o caça da Northrop finalmente recebia um contrato para equipar a Força Aérea Brasileira, iniciando assim uma história que já perdura por 45 anos de bons serviços prestados ao Brasil. Neste contrato adquirimos 36 exemplares do monoplace F-5E “Tiger II” e 6 aeronaves biplace F-5B “Freedom Fighter”. Antes que questionem o porquê de não ter adquirido a variante biplace F-5F “Tiger II”, lembremos que a mesma só começou a ser produzida em meados de 1975.

Foi no dia 28 de fevereiro de 1975, que os três primeiros F-5B do primeiro lote de 42 aeronaves (36 F-5E “Tiger II” e 6 F-5B “Freedom Fighter”) adquiridas novas de fábrica através do contrato avaliado em 115 milhões de dólares, oficialmente entregues a nossa Força Aérea Brasileira, iniciando o traslado em voo para o Brasil, onde pousaram em 6 de março, os três F-5B remanescentes chegariam ao Brasil em 13 de maio, enquanto os primeiros exemplares do F-5E “Tiger II” chegariam em 12 de junho do mesmo ano, com os últimos exemplares sendo entregues em 12 de fevereiro de 1976, totalizando os 36 F-5E “Tiger II” brasileiros.

Nossos F-5 possuem muita história e casos curiosos, alguns até se tornaram folclóricas, como o ocorrido em setembro de 1980, quando um dos nossos F-5 sofreu uma pane e sua alternativa era realizar um pouso de emergência numa estrada “deserta”, porém, durante o pouso a aeronave atingiu um pobre fusquinha, uma curiosa história que já contamos aqui no GBN Defense e você confere clicando a seguir, “O dia que um fusca e um F-5 se envolveram numa inusitada colisão”.

Outra história ocorreu no dia 3 de junho de 1982, quando nossos F-5E protagonizaram a interceptação de um dos bombardeiros britânicos que participaram na Guerra das Malvinas, a aeronave em questão era o bombardeiro em delta Avro Vulcan B.MK.2 XM597, que participará da Operação Black Buck 6, um ataque ao sistema de radares argentinos nas longevas Ilhas Falklands (Malvinas), viajando desde a Ilha de Ascenção no meio do Atlântico, percorrendo mais de 6mil quilômetros. Porém, essa aeronave sofreu pane no sistema de sonda, impossibilitando seu reabastecimento aéreo, a única alternativa seria realizar um pouso de emergência no Brasil.

Após as negativas brasileiras de autorizar a entrada da aeronave em território nacional, os ingleses resolveram tentar a sorte e seguiram rumo à cidade do Rio de Janeiro, na região sudeste do Brasil. Mas o Vulcan já estava sendo monitorado pelo CINDACTA e ao se aproximar de nossa costa, foi soado o alerta na Base Aérea de Santa Cruz (BASC) na zona oeste do Rio de Janeiro, o 1ºGAvCa estava em alerta constante durante o conflito das Malvinas, em cinco minutos um elemento composto por duas aeronaves F-5E Tiger II decolava, ás 10:50 daquela manhã os dois rompendo a barreira do som logo após a decolagem, o estrondo gerado resultou em muitas vidraças quebradas, e às 11:04 o intruso britânico foi interceptado pelos nossos “Tigers”, armados e prontos para se necessário abater o intruso, mas os britânicos rapidamente responderam aos questionamentos da dupla de “Tigers” e declarou emergência, então sendo escoltado até a Base Aérea do Galeão, onde o Vulcan pousou, após se certificar que os ingleses haviam completado o pouso, os F-5E retornaram à sua casa com mais uma missão cumprida.

O F-5E se mostrava uma aeronave fantástica que se enquadrava perfeitamente as necessidades operacionais da FAB, aliando desempenho e baixo custo de operação, apresentando um alto nível de disponibilidade e a simplicidade de manutenção. Com isso logo se viu a necessidade de adquirir um novo lote destas aeronaves, o qual deveria atender a demanda de nossa aviação de caça, a qual nos idos de 1985 necessitava ampliar suas capacidades e contava apenas com os 17 exemplares do Mirage III francês, os quais apresentavam um alto custo de operação, além dos 36 F-5E Tiger II e seis biplace F-5B.

A primeira alternativa foi buscar um novo lote junto aos EUA, porém, o governo Reagan dificultou as tratativas, o que levou a FAB a busca de alternativas, com a escassez de células do F-5 no mercado internacional, chegou-se a cogitar a aquisição de aeronaves chinesas, com o F-7M chegando a quase se tornar uma realidade, o que seria um tanto inusitado, pois o F-7M era uma variante do Mig-21 soviético. Mas, apesar das avançadas tratativas e vantagens oferecidas pelos chineses, no final de 1987 os norte americanos resolveram liberar a venda de um novo lote de F-5E/F “Tiger II” ao Brasil, o que resultou em 22 aeronaves monoplace F-5E e outras 4 biplace, desta vez a versão F-5F, os quais substituiriam posteriormente os F-5B. Esta segunda compra envolvia aeronaves oriundas dos estoques da USAF, avaliadas em 13,1 milhões de dólares.

Os F-5E Tiger II brasileiros ganhavam notoriedade nos exercícios internacionais que participava, obtendo bom desempenho frente aeronaves mais modernas e capazes, sempre mostrando suas garras, como ocorreu durante sua participação na Red Flag, um dos mais importantes exercícios aéreos dos EUA, somando a estes as várias edições da CRUZEX, onde surpreendeu várias vezes, realizando “abates” de aeronaves como F-16, Mirage 2000 e o moderno Rafale francês.

A última aquisição de F-5 pelo Brasil ocorreu em 2008, quando foi adquirido um lote de 11 aeronaves junto a Real Força Aérea da Jordânia, onde se juntou ao nosso inventário 8 aeronaves F-5E e 3 F-5F, as quais foram transladadas direto para o PAMA-SP, os quais foram totalmente revisados e modernizados para o padrão F-5M.

Ainda em 2008, o “Tiger” realizaria mais uma de várias missões de interceptação ao longo de sua carreira, desta vez um F-5EM Tiger II do 1ºGavCa decolou da BASC às 14:54 rumo a Região dos Lagos, onde no través de Cabo Frio interceptou um cargueiro DC-8 britânico oriundo das Ilhas Falklands, a qual transportava 20 toneladas de carga e pretendia realizar escala no aeroporto de Cabo Frio antes de seguir para o destino na Ilha de Ascensão, porém, por não possuir as documentações necessárias e não cumprir os trâmites previstos, foi encarado como intruso e sete minutos após a decolagem da BASC, o F-5EM interceptava o cargueiro, ordenando que o acompanhasse até a Base Aérea do Galeão no Rio de Janeiro.

F-5BR - O “Tiger” ganha nova vida (F-5M)

Após 25 anos em serviço contínuo, a Força Aérea Brasileira viu a necessidade de atualizar sua frota de F-5E/F Tiger II no ano 2000, pois não havia no horizonte um substituto para o caça que se tornara a espinha dorsal brasileira. Os constantes cortes no orçamento da Defesa, os adiamentos no Programa FX, que tinha por objetivo a aquisição de um novo vetor que dotaria a FAB de uma aeronave moderna, levaram mais uma vez a busca por alternativas, e essa viria através do Programa F-5BR, onde a Embraer e a AEL (subsidiaria do Grupo Elbit) apresentaram um pacote de atualização que iria garantir ao “Tiger” a capacidade de atuar no moderno teatro de operações aéreas.

A proposta previa transformar o veterano caça de 3ª Geração, numa moderna aeronave de 4ª Geração, incorporando uma nova e moderna aviônica digital, novo radar e sistemas, o F-5 brasileiro ganhou novas capacidades, garantindo ao mesmo contrapor aeronaves de projetos mais recentes, conferindo novas “garras” ao tigre brasileiro.

O F-5 brasileiro, passou a contar com avançado radar multimodo italiano FIAR Grifo-F pulso Doppler, com capacidade look-up e look-down e alcance de 70 km, possibilitando a utilização de mísseis ar-ar, BVR e bombas inteligentes guiadas por GPS ou laser, foram incorporados dois computadores de missão que recebem e analisam os dados de todos os sensores da aeronave, o painel analógico deu lugar a um novo digital, com duas telas de cristal líquido (LCD), além do moderno HUD (Head-UP Display) que permite ao piloto controlar os parâmetros de voo e de combate sem desviar o olhar do ambiente externo, os instrumentos receberam especial atenção, sendo compatíveis com o uso de óculos de visão noturna (OVN), os pilotos passaram a contar com capacetes com sistema de mira HMD (Helmet Mounted Display), no campo de comunicações, o F-5M recebeu rádios digitais V/UHF Rohde & Schwartz integrados a capacidade DataLink com as aeronaves AEW&C E-99 da FAB, garantindo comunicações totalmente seguras, novo sistema de alerta radar (RWR), novo sistema de navegação Inertial/GPS Rockwell H-764G a laser e um avançado computador de voo, em termos de ergonomia a integração do sistema HOTAS que reúne os principais comandos no manche e na manete de potência facilitam e muito a vida do piloto, em resumo trata-se de uma “nova” e moderna aeronave.


O programa de modernização foi iniciado em 2001, com primeiro exemplar modernizado sendo apresentado em setembro de 2005, passando agora a ser designado oficialmente como F-5EM Tiger II, levando a Força Aérea Brasileira a um novo patamar de tecnologia e capacidades.

A última aeronave modernizada foi entregue a FAB em 2017 após o programa sofrer inúmeros atrasos devido aos constantes contingenciamentos de recursos , mas apesar de todos obstáculos estão operacionais, inclusive atuando na defesa aérea, sendo substitutos do Mirage 2000, desativada em 2013, deixando uma lacuna que vem sendo ocupada provisoriamente pelo F-5EM Tiger II, devido ao atraso na definição do Programa FX-2, o qual se arrastou até 2013, quando finalmente foi tomada a decisão pela aquisição do caça sueco Gripen E/F, o qual pretende futuramente também substituir nossos veteranos F-5EM.


No total Força Aérea Brasileira recebeu 79 aeronaves Northrop F-5, somando as variante F-5B "Freedom Fighter" e F-5E/F "Tiger II", dos quais boa parte dos F-5E/F modernizados para o padrão F-5EM/FM continuam em operação, dentre eles, curiosamente está o primeiro F-5E de produção em série do mundo, o F-5EM matrícula FAB 4856.

O Tiger ainda deve continuar ainda por mais de uma década defendendo os céus do Brasil, o qual ainda irá realizar muitas missões e escrever muitas histórias até sua completa substituição pelos novos F-39E/F Gripen, as quais serão eternamente lembradas pelos amantes do “Bicudo”, como é carinhosamente chamado por alguns.


Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN News, graduando em Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do oriente médio, leste europeu e América Latina, especialista em assuntos de defesa e segurança, membro da Associação de Veteranos do Corpo de Fuzileiros Navais (AVCFN), Sociedade de Amigos da Marinha (SOAMAR), Clube de Veículos Militares Antigos do Rio de Janeiro (CVMARJ) e Associação de Amigos do Museu Aeroespacial (AMAERO).


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"Fúria sobre Balakhot", o combate aéreo entre Índia e Paquistão

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As relações entre Índia e Paquistão sempre foram tensas, em especial pela questão da região da caxemira, estas duas nações possuem forças armadas muito bem preparadas e equipadas, além do fato de ambos possuírem armas nucleares, o que torna qualquer eventual atrito sempre preocupante com um possível prolongamento das animosidades.

Mas onde é Balakot? É uma cidade no distrito de Mansehra, na província de Khyber Pakhtunkhwa do Paquistão. Está localizado no norte do pais na região da Caxemira, na margem direita do rio Kunhar. Com um clima subtropical úmido e com verões quentes e invernos frios. As chuvas em Balakot são muito maiores do que na maioria das outras partes do Paquistão. As chuvas mais intensas ocorrem no final do inverno (fevereiro a março) ou na estação das monções (junho a agosto); no entanto, todos os meses têm uma pluviosidade significativa em média.

Foi assim em fevereiro de 2019 os dias 26 e 27 foram marcados como os mais tensos na relação entre Índia e Paquistão desde a eclosão da Guerra do Kargill, em 1999. Isto após um ataque terrorista contra um posto militar indiano em Pulwama – ataque este reivindicado pelo Jaish-e-Mohammed (JeM), com sede no Paquistão – no dia 14 de fevereiro, em que 40 militares perderam a vida, a Índia prontamente acusou o Paquistão pelo atentado e respondeu com força, através de ataques aéreos contra os supostos campos de treinamento terroristas no lado paquistanês da Caxemira. No dia seguinte, o Paquistão foi à desforra, enviando 24 aeronaves para um ataque de retaliação a alvos em território indiano. Daí por diante, iniciou-se uma sucessão de acontecimentos ainda pouco conhecidos, mas típicos de uma guerra aérea aberta, com combates BVR entre aeronaves de caças de diversos modelos, disparos de mísseis ar-ar, ejeções, fogo-amigo, um prisioneiro de guerra e até mesmo um combate aéreo dogfight, algo que não era visto por ambos desde a guerra de 1971.

Patch comemorativo paquistanês
O Paquistão reivindicando o abate de duas aeronaves indianas (um Su-30 e um MiG-21 Bison), enquanto os indianos negam a perda de uma de suas aeronaves e reivindicam o abate de um caça F-16 paquistanês. Porém, apesar de as perdas materiais e humanas parecerem uma simples escaramuça de baixa intensidade, o que se viu foi uma guerra de informação entre os dois lados, numa intensidade jamais vista pelos países em questão: blogers, youtubers, fontes oficiais, influenciadores digitais, aldeões e a imprensa formal tentaram “moldar” a opinião pública de seus países. Desse modo, selecionamos alguns dos fatos mais controversos, protagonizados por esses “atores”, na tentativa de encontrar respostas e juntar as peças desse grande “quebra-cabeças”. Iniciaremos com a argumentação paquistanesa e a contra-argumentação indiana. Em seguida, faremos a ordem inversa.



As bombas Spice não atingiram os alvos

Balakot ainda sentira o “cheiro da guerra” quando o major-general do Paquistão Asif Ghafoor usou sua conta de twitter, em 26 de fevereiro de 2019, para mostrar fotos dos prováveis locais de impacto das 5 bombas inteligentes Spice, lançadas por Mirages 2000 da IAF, provenientes de Gwalior (no total 16 aeronaves participaram da ação, armadas com bombas Spice e Crystal Maze). Ghafoor alegou que as bombas caíram numa área aberta, sem causar danos, e não sobre edificações, como foi alegado pela Índia. Vídeos da área atingida pelas bombas também foram divulgados. Os indianos, inicialmente, alegaram que as condições do tempo eram ruins para gravar vídeos da ação ou obter fotos de satélite. Segundo o militar aposentado Air-Commodore Kaiser Tufail, três pesquisadores australianos do Instituto de política Estratégica da Austrália (ASPI) alegaram que havia uma incompatibilidade entre a elevação do alvo detectada pelo GPS e a elevação ortométrica (acima do nível médio do mar), conforme indicariam as cartas aeronáuticas. Imagens da European Space comprovariam que as bombas indianas caíram nos locais errados, indicando erro de cálculo no planejamento da missão. Contudo, em 26 de abril de 2019, fontes indianas divulgaram fotos de satélite mostrando possíveis danos a edificações de Balakot. Testemunhas também relataram que haviam visto um grande número de ambulâncias enviadas para prestar socorro às possíveis centenas de vítimas do bombardeio. Muitas dessas vítimas estariam dentro do que seria, segundo os indianos, uma “escola de terrorismo” chamada Madrassa. Após a notícia dos supostos danos, jornalistas foram proibidos de entrar na POK (Pakistan Occupied Kashmir) durante um mês. Tempos depois, o Paquistão apresentou imagens do prédio o qual os indianos alegam ter danificado. O prédio parecia intacto e reformado, mas testemunhas locais disseram que ninguém frequentava a edificação desde o início de 2018. Talvez os extremistas do JEM não usassem mais o prédio (e as fotos de satélite indianas mostrem fotos do que seria uma “Nova Madrassa”), ou então nenhuma das fotos de satélite fosse da tal “Madrassa”.


Acima a esquerda: imagem divulgada pelo Paquistão de Madrassa intacta, a direita  foto de satélite revelado pela Índia, em destaque é possível identificar os danos causados, possível notar quatro perfurações no telhado de uma edificação
Caças F-16 não participaram da ação

Logo após o encerramento dos combates aéreos, no dia 27 de fevereiro de 2019, o diretor geral de relações públicas da força aérea paquistanesa, major-general Asif Ghafoor, afirmou que durante todas as operações aéreas nenhum F-16 foi utilizado. Em contradição à afirmação anterior, no dia 1 de abril, o mesmo Asif Ghafoor voltou atrás e disse que; “...Mesmo que o F-16 tenha sido usado até aquele momento, a PAF completa estava no ar, incluindo o F-16; o fato é que a Força Aérea do Paquistão derrubou dois jatos indianos em legítima defesa. Podemos assumir qualquer tipo de escolha, até o F-16. O Paquistão mantém o direito de usar tudo e qualquer coisa em sua legítima defesa...”. A mudança de discurso provavelmente se deveu ao fato de autoridades indianas terem apresentado partes de um míssil AIM-120-C5, o qual, dentro do inventário paquistanês, só pode ser usado pelos F-16.

Nouman Ali Khan visto várias vezes ao lado de caças f-16

O mistério do segundo piloto

Abhinandan capturado com macacão verde e ferido apenas no nariz
No início do dia 28 de fevereiro de 2019, numa coletiva de imprensa, o major-general Asif Ghafoor alegou que seu país estava com dois pilotos indianos sob custódia: um capturado e preso e o outro ferido, recebendo tratamento num hospital. O primeiro-ministro paquistanês Imran Khan reiterou as afirmações de Ghafoor, mas horas depois Ghafoor escreveu em sua conta no Twitter que apenas um piloto indiano (Abhinandan Varthaman), havia sido capturado, sem explicar o motivo da alegação sobre dois pilotos sob custódia, feita no início do dia. Vários vídeos em que se fala de um “segundo piloto”, gravados na POK, apareceram: num deles os aldeões gritando “onde está o outro cara”, enquanto um militar com macacão caqui ensanguentado (aparentemente muito ferido) entra num carro e é retirado do local. Como a alegação inicial do Ghafoor era de que “dois aviões indianos foram abatidos”, é possível que os populares falassem de um segundo piloto, mesmo sem contato visual com ele. Para fontes indianas, as menções ao segundo piloto foram removidas do discurso oficial por ser paquistanês, e não indiano, como o afirmado no início. Os rumores são de que o piloto da PAF teria sido linchado por engano (devido ao fato de as cores do paraquedas do F-16 serem parecidas com as da bandeira indiana) e falecendo num hospital. Porém, nenhum vídeo conclusivo sobre a existência de um segundo piloto (mostrando o rosto, patches ou plaqueta) foi apresentado. Vários aldeões relatam também que viram três paraquedas no ar, o que poderia indicar que algum paraquedas de frenagem de algum caça poderia ter sido acionado durante a queda, ou mesmo que isso seja a evidência da queda de uma aeronave biplace. Porém, mais uma vez, não foi apresentado nenhum registro dos dois ou três paraquedas descendo no céu.



Repare no vídeo que postamos, a cor da roupa do piloto não identificado. Se assemelha mais ao uniforme paquistanês do que ao indiano. O detalhe do sangue na parte de trás do macacão, perceptível no vídeo.

Os JF-17 abateram 2 jatos indianos ?

No dia 6 de março de 2019, o ministro das Relações Exteriores do Paquistão Shah Mahmood Qureshi identificou os pilotos Nouman Ali Khan e Hassan Siddiqui como os responsáveis pelos abates de Su-30 e MiG-21, respectivamente. O ministro fez tal declaração após o presidente do Partido Popular do Paquistão, Bilawal Bhutto Zardari, elogiar o líder do esquadrão Siddiqui por derrubar o jato MiG-21 do comandante de ala Abhinandan Varthaman da IAF em 27 de fevereiro. 

“Um esclarecimento: Bilawal prestou homenagem a Hassan Siddiqui como absolutamente um herói nacional”, disse Qureshi. “Mas eu gostaria de esclarecer que dois aviões indianos foram abatidos. O outro foi derrubado pelo comandante-chefe Nouman Ali Khan”, acrescentou, pedindo que o segundo piloto também receba o devido crédito. Em 25 de março de 2019, o Paquistão, através de seu homem de relações públicas, Asif Ghafoor, afirmou para a agência russa Sputnik Internacional que “as aeronaves que combateram e atingiram os dois alvos (caças) indianos foram os JF-17” Block II. No Twitter, um vídeo de supostos pilotos paquistaneses posando ao lado de um JF-17 (comemorando as vitórias) viralizou.

Tudo parecia ter coerência, ainda que ninguém informasse precisamente como esses jatos indianos foram abatidos, e sem que qualquer parte do Su-30 tenha sido mostrada como prova. A dúvida aumentou ainda mais após a aparição de fotos comprometedoras: uma de Nouman Ali Khan com macacão de voo dentro de um caça F-16 e outras de um suposto memorial da PAF exibidas na internet. No memorial, haviam placas comemorativas dos abates de Su-30 e MiG-21. Porém o F-16 AM constava como sendo o algoz do MiG-21 e um F-16 BM como algoz do Su-30. Um artigo do ex-militar paquistanês Kaiser Tufail também desmente a versão oficial da PAF: descreve Nouman Ali Khan e Hassan Sidiqqui como pilotos de F-16, no entanto, confirma os abates das duas aeronaves IAF. Patches comemorativos foram feitos para “celebrar” a derrubada dos aviões inimigos.

Nos memoriais, consta que as duas aeronaves indianas foram ‘’abatidas’’ por mísseis AIM-120 disparado por  F-16


Todos caças F-16 da PAF foram contados

A revista americana Foreign Policy veiculou no seu website, no dia 4 de abril de 2019, a notícia de que dois militares norte-americanos não identificados estiveram em instalações militares paquistanesas e verificaram que todos os caças F-16 vistos desde a última contabilização (descartando eventuais acidentes) constavam no inventário. Nenhum havia sido perdido no dia 27 de fevereiro. Contudo, um suposto porta-voz do departamento de defesa norte-americano (também não identificado) teria afirmado que o Pentágono não sabia de qualquer investigação conduzida para a contagem dos F-16 paquistaneses. A notícia foi amplamente divulgada na mídia indiana.


Todos os mísseis do MiG-21 foram encontrados nos destroços

Aproximadamente um mês depois das hostilidades, oficiais paquistaneses começaram a divulgar no Twitter imagens do que seriam os quatro mísseis do avião de Abhinandan em cima de camas. Em pelo menos duas fotos os mísseis são mostrados de longe, em baixa resolução e sob apenas um ângulo. Noutras fotos, dá pra ver de perfil alguns pedaços de R-73 e R-77. Segundo o ex-militar paquistanês Kaiser Tufail, Abhinandan decolou de Srinagar, desligou o IFF e se aproveitou da cordilheira Parmal para tentar fugir dos radares inimigos. Porém, não conseguiu escapar da detecção do Erieye do awacs paquistanês, sendo visto e abatido por AIM-120, enquanto tentava travar um dos dois F-16 que estavam próximos. Portanto, não teria havido tempo para disparo de míssil algum. Essas seriam “provas definitivas” de que Abhinandan foi abatido sem atirar.

Mas uma análise mais detalhada de um vídeo de alta resolução, feito aparentemente quando nenhuma das peças do MiG-21 haviam sido removidas, mostram apenas 3 mísseis entre os destroços e alguns projéteis de GSh-23. Um dos R-73 apresentados nas fotos das camas não é visto em qualquer trecho do vídeo dos destroços (nenhum de seus fragmentos pode ser identificado nas filmagens), assim como é pouco possível que os paquistaneses tenham removido apenas um míssil do meio dos destroços. Visto em fotos de melhor resolução, o R-73 parece novo, não se assemelhando com o restante dos pedaços do avião. Nos pedaços de R-77, outra surpresa: existem dois atuadores/controles de cauda nos destroços, mas apenas um desses pedaços aparece nas fotos das camas. Um dos R-77 apresentados pelos paquistaneses parece ter um terceiro atuador que não foi queimado durante a queda, divergindo das cenas vistas no vídeo. Resumindo: são três atuadores/controles de cauda diferentes para apenas dois mísseis.

A seção que abriga o combustível sólido desse mesmo R-77 parece recém saída de fábrica, não combinando com as partes chamuscadas dos outros mísseis. É possível que, em se tratando de uma falsificação, o R-73 tenha sido “plantado” e o R-77 original tenha sido “maquiado” com partes em melhor estado, para parecer mais novo e combinar com o R-73 em bom estado, para dar a ideia de que ambos estavam do mesmo lado da asa e se desprenderam do avião após o impacto. Existe outro vídeo que mostra as partes da deriva, tanque subalar e exaustor. Porém, não se pode ver qualquer fragmento de míssil dentre essas partes.

No dia 25 de fevereiro de 2020, a Força Aérea Paquistanesa voltou a apresentar as mesmas partes de mísseis, novamente uma foto única de baixa qualidade, para reforçar a tese de que o MiG-21 Bison teria caído com todos os mísseis intactos. A PAF agora reconhece o “27 de fevereiro” como “The Surprise Day”.


Destroços reapresentados pelos paquistaneses dia 26 de fevereiro de 2020, número serial do R-73 incompleto, proposital?

Um F-16 B ou D foi abatido

Imagens de radar indianas comprovariam suposto abate do F-16
Dessa vez não foi uma declaração oficial, mas um conjunto de histórias contadas por estudiosos de aviação indiana (todos indianos), que chegaram inclusive a programas de TV na Índia, mesmo sem embasamento em declarações oficiais: foi veiculada a versão de que um F-16B ex-jordaniano, que supostamente fora atualizado na Turquia em 2014, seria a aeronave atingida. Foram feitas menções ao F-16B número 606, o qual, ironicamente, teria como um de seus tripulantes Hassan Siddiqui (o mesmo que a PAF alega ter sido o algoz do MiG-21). Depois, vieram à tona versões alegando que o aparelho era um F-16D Block-52, proveniente do Sqn. 19 “Sherdils”. Estudos recentes de pesquisadores como Sameer Joshi não confirmam nenhuma das duas coisas: deixam aberta a possibilidade de a aeronave abatida ter sido tanto um F-16 monoplace como um biplace, ou mesmo um Jf-17. Apenas duas ejeções teriam sido identificadas em vídeos gravados na POK. Se realmente um avião biplace caiu, o outro piloto não conseguiu ejetar. A Índia alega ter detectado e abatido a aeronave enquanto a mesma (armada com bombas Raptor-3D) rumava para atacar um depósito de armas do Exército Indiano em Narian. O provável local da batalha teria sido Jhangar, com os destroços caindo sobre Khuiratta, em frente ao Vale do Lam.


Fontes indianas alegam que um F-16 biplace teria sido abatido por abhinandan

Os indianos sabem a identidade do piloto

No dia 12 de março de 2019, a ministra da Defesa da União Nirmala Sitharaman disse, num programa de Tv, que os militares indianos conheciam a identidade do suposto piloto paquistanês abatido. Porém até o momento, nenhum nome foi revelado.


Caminhões cinza e laranja: O caminhão que levou destroços do Mig-21 era cinza. O caminhão Laranja visto no vídeo, não carrega os restos do Mig-21, mas de outra aeronave ainda não identificada


IAF interceptou conversas entre paquistaneses

Em 6 de abril de 2019, a IAF alegou possuir trechos de três conversas de rádio entre militares paquistaneses, que comprovavam a captura de dois pilotos e a remoção do – suposto – segundo piloto para um hospital. Aparentemente, apenas alguns jornalistas indianos tiveram acesso a esses diálogos, que não foram disponibilizados ao público em geral.


Um pedaço de F-16 comprova a queda da aeronave?

Esse talvez seja o maior equívoco do discurso indiano: os principais canais de noticias do país divulgaram que partes do F-16 haviam sido encontradas. Uma foto controversa foi excessivamente divulgada, com a alegação de que seria realmente uma parte de F-16. Para uns, é uma parte de motor GE-F110; para outros, é parte da fuselagem que reveste o motor, localizada na parte de baixo da aeronave, que envolve o gancho de frenagem. A primeira versão parece infundada, já que os motores dos F-16 paquistaneses não são do tipo GE-F110. A outra afirmação parece um caso clássico de ilusão de ótica: quando observamos o vídeo “the mystery of the missing F-16” de Shiv Sastry dá para ver que o pedaço de fuselagem que alegam ser de F-16 é, na verdade, um pedaço de fuselagem do MiG-21 Bison de Abhinandan. Fanboys indianos foram além: usaram outras partes do MiG-21 Bison abatido para alegar que essas partes eram de F-16. A IAF manteve o silêncio sobre as alegações. O site Bellingcat desmente, com bastante clareza, a alegação de que as peças pertenciam a alguma aeronave PAF.


Blogglers , Vloggers  e canais de TV indianos viralizaram com possíveis ‘’destroços do f-16’’ que nada mais eram que partes do Mig-21 abatido de abhinandan.

Um Su-30 indiano escapou de pelo menos quatro disparos de AIM-120?

Provável momento que o F-16 dispara AIM-120 contra o Su-30MKI
De acordo com algumas fontes indianas, incluindo ex-militares (há uma norma na IAF que proíbe militares da ativa de se manifestarem), um Su-30 perseguia um F-16, na tentativa de abatê-lo. Porém, inesperadamente, os pilotos de F-16 “viraram o jogo”, possivelmente contra-atacaram com quatro ou cinco disparos de AIM-120. Não está claro quantos F-16 estiveram envolvidos nessa ação, mas fontes indianas atestam para o lançamento de pelo menos quatro AIM-120 C-5 contra um único Su-30. Os mísseis teriam sido lançados no limite máximo do alcance eficaz da arma (pouca PK) e despistados por contramedidas e manobras do Su-30. Os su-30 ganharam o apelido carinhoso de “Amraam Dodgers” , porém essa façanha está longe de ser comprovada: a única prova mostrada pela  Índia que possa ter a ver com o fato foi a apresentação de pedaços de um AIM-120, que pode ter sido lançado contra qualquer dos aviões IAF que estiveram em ação, inclusive contra o MiG-21 de Abhinandan. Outra versão é a de que o quinto míssil lançado pelos F-16 tinha como alvo o Ala de Abhinandam. Não conseguindo acertar o alvo, o míssil teria caído sobre a aldeia de Mamankote Mallas, causando uma explosão que fez suas partes se espalharem dentro de um raio de 100 metros.

Patches AMRAAM Dodgers indianos alusivos a 27/02



Mas então, que conclusão podemos tirar sobre a escaramuça dos dias 26 e 27 de fevereiro de 2019? Foram ações que ficaram  marcadas por movimentos previsíveis, de ambas as partes: os militares paquistaneses contradizem alguns pontos, omitindo  detalhes sobre suas alegações, enquanto os indianas repetem a mesma história desde o início e tentam apresentar alguma comprovação sobre suas alegações, apesar de não terem levado a público as várias provas que afirma ter. O Paquistão possui a vantagem de ter os destroços de um avião de combate consigo e o fato de todas as ações ocorrerem em seu território (tem mais propriedade para falar sobre o que aconteceu dentro de seu território), e a Índia tem a mais coerente narrativa dos fatos. Porém, devemos ponderar o fato de que a manipulação do fluxo de informações é uma tarefa fácil e bem real na Caxemira: Em dezembro, várias contas de WhatsApp de moradores locais (Caxemira Indiana) foram canceladas, após os indianos cortarem o fornecimento de serviços de internet por quatro meses, o que levanta dúvidas sobre a real credibilidade das informações disponibilizadas pelos indianos.


Mig-21 de abhinandan. Destroços pouco chamuscados e partes da aeronave facilmente identificáveis. Teria caído com pouco combustível ou colidido em baixa velocidade?

Hasan Siddiqui e Nauman Ali Khan juntos, notar o Patch
Quem estuda sobre combates aéreos sabe que às vezes a comprovação de um kill dura décadas. A Índia se antecipou e deu um Vir-Chakra para Abhinandan Varthaman, entendendo que sua ação contribuiu diretamente para o pacote de ataque PAF abortar a missão, despejando 11 bombas a esmo. O Paquistão condecorou Ali Khan e Siddiqui também. Para a IAF, o legado do 27 de fevereiro parece refletir diretamente no planejamento e aquisições de armas: o desenvolvimento dos mísseis BVR Astra aparenta estar acelerado (equiparará os Su-30, inicialmente), bem como foi feita a exigência de que os novos Dassault Rafale já sejam entregues aptos para dispararem mísseis Meteor. Os paquistaneses estão interessados em modernizar seus F-16 A/C com novas armas ar-solo, versões mais recentes do míssil Sidewinder e radares de varredura eletrônica. Nunca se pode desprezar o aprendizado de uma missão de combate real, pela qual um adversário de nível similar emprega o que tem de mais moderno de seu arsenal no que talvez seja uma das únicas vezes na história(talvez a única) em que duas forças aéreas adversárias utilizaram simultaneamente aeronaves AWACS natas, uma contra a outra.


Documento oficial do Estado Indiano oficializando a comenda Vir-Chakra e descrevendo o mérito.



Por: Everton Pedroza – Bancário, bacharel em desenho industrial, escritor, articulista e pesquisador em assuntos militares desde 1998. Escrevendo principalmente sobre aviação militar, consagrado por artigos publicados em vários sites de renome, chega ao GBN Defense .


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