Muito se tem especulado há alguns anos com relação a possibilidade de aquisição pelo Exército Brasileiro (EB) de aeronaves de ataque para dotar sua aviação de asas rotativas, porém, há pontos importantes a se considerar, os quais podem definir os rumos adotados pelo EB nos próximos anos.
Como todos bem sabem, uma aeronave de ataque, como o norte americano AH-1W Super Cobra, ou T-129 "ATAK" turco, são meios que despertam o interesse da força terrestre brasileira, mas que dentro de nossa conjuntura orçamentária e cenário geopolítico no qual estamos inseridos, encontram alguns obstáculos para se tornarem realidades em nosso CAvEx.
Neste artigo, pretendemos analisar essa lacuna existente entre os meios aéreos do Exército Brasileiro, trazendo pontos que levam a necessidade de uma solução que atenda de forma satisfatória os requisitos de nossa força terrestre e ao mesmo tempo consiga atender aos anseios de outros setores dentro do Brasil.
Infelizmente no Brasil o setor de defesa enfrenta enormes desafios para se manter e desenvolver soluções, o que nos leva a invariavelmente voltar os olhos ao mercado externo, relegando a industria nacional à segundo plano e "castrando" sua capacidade de P&D, tornando a mesma pouco competitiva no mercado internacional de defesa, nos posicionando desvantajosamente em muitos nichos deste bilionário mercado, ocasionando na grande dependência de meios e tecnologias estrangeiras.
Os maiores problemas dizem respeito ao investimento destinado a pesquisa e desenvolvimento, seguido do orçamento de defesa muito aquém das reais necessidades de nossas forças armadas, o que inviabiliza inúmeros programas e desenvolvimentos nacionais, além da falta de apoio popular, principalmente pela falta de conhecimento da importância deste setor pela população brasileira, a qual repetidamente desfere críticas quando se faz necessário a aquisição de novos meios e capacidades as forças armadas, usando como argumento o fato de não estarmos envolvidos em conflitos e não haver no horizonte ameaça direta ao nosso país, uma falácia que constantemente cai por terra quando se faz necessário o emprego de nossas tropas para prestar apoio humanitário diante de desastres e mesmo em situações complexas como as queimadas na Amazônia e o derramamento de óleo no litoral nordeste.
Como ficou bem exposto, o brasileiro só dá valor as suas forças armadas quando se vê dependente do seu socorro, quer seja em desastres naturais, ou em operações internas de Garantia da Lei e Ordem (GLO). Olhando sob esta óptica, uma aeronave de ataque se destaca pelas capacidades que a mesma entrega, abrindo um vasto leque no emprego tático e estratégico, conferindo um poder de resposta e ataque ímpar, que hoje é praticamente ausente em nossas forças armadas, as quais tem empregado meios adaptados para conferir o mínimo de capacidade para cumprir missões de reconhecimento, ataque e apoio aéreo aproximado por aeronaves de asas rotativas. Mas apesar dessa clara necessidade, ainda se encontra forte oposição dentro do próprio governo, quando se fala em investimento em meios dedicados, como é o caso de um helicóptero de ataque "puro".
No Exército Brasileiro a missão de ataque é realizada basicamente por aeronaves HA-1 "Fennec" equipados para missões de combate antitanque, ar-ar, apoio aéreo aproximado e treinamento, além de ser empregado na função de transporte utilitário. Uma versão militarizada do helicóptero leve de emprego geral AS-350 "Esquilo", aeronave monomotora de projeto francês fabricada sob licença pela brasileira Helibras. Apesar de suas capacidades, a aeronave possui inúmeras limitações se comparada as aeronaves de ataque "Puro", o que será objeto de análise em futuro artigo aqui no GBN Defense.
Existe inúmeras vantagens envolvidas no emprego de helicópteros de ataque, algo que já de conhecimento geral há pelo menos cinco décadas, tendo mostrando em diversos cenários de emprego real o valor de contar com estes meios, sendo o mais expressivo deles a "Guerra do Golfo" nos anos 90, tendo se mostrado uma eficiente arma contra forças blindadas e comboios inimigos. Mas, como já citamos acima, o Brasil possui uma realidade muito diferente dos países europeus signatários da OTAN e nações como EUA, China e Rússia. Baseando sua política externa no "Soft Power", mantendo uma postura extremamente pacifista, relegando o poder militar ao segundo plano, o Brasil adota uma visão míope, no que diz respeito a sua capacidade de defesa e dissuasão, o que no futuro não tão distante, pode resultar numa conta muito alta a ser paga.
Hoje o mercado internacional de defesa possui ótimas opções de helicópteros de ataque, muitos dos quais já foram avaliados pelo CAvEx, apresentando prós e contras, sendo constante objeto de debate em grupos e fóruns de defesa brasileiros, onde muita especulação surgiu, porém, sem qualquer solidez. A Força Aérea Brasileira realizou a aquisição de um lote de 12 aeronaves Mi-35 russas, as quais foram denominadas de AH-2 Sabre no Brasil. Aeronave de ataque desenvolvida sob uma doutrina de emprego que difere da ocidental, apresenta muitos pontos fortes, apesar dos problemas iniciais que estavam ligados a ausência de um catálogo de componentes, o qual foi criado por uma equipe conjunta da FAB e os russos da ROSTEC. Mesmo apresentando um alto índice de disponibilidade e alto poder de fogo, a aeronave sofre certo preconceito dentro do Brasil, fato que se deve principalmente pela fama negativa imputada aos meios oriundos do leste europeu nos idos da "Guerra Fria", apontada por muitos como uma aquisição política.
Há algum tempo foi ofertado ao Brasil um lote de aeronaves AH-1W "Super Cobra", as quais poderiam ser adquiridas via FMS e suprir as necessidades do Exército Brasileiro, o qual supostamente teria manifestado interesse na aquisição destas aeronaves para dotar dois esquadrões, com isso desenvolver a doutrina de emprego de asas rotativas de ataque. Apesar de muitas especulações, até o momento nada de concreto surgiu em relação a esses meios, os quais não se apresentam com grandes vantagens, principalmente devido ao fato da clausula que impede que sua modernização seja realizada por empresas que não sejam norte americanas.
Na última edição da LAAD em 2019, fora apresentado pela Turkish Aeroespace Industrie (TAI) o helicóptero de ataque da Turquia, o T-129 "ATAK", o qual foi avaliado pelo Exército Brasileiro, chamando atenção pelo seu desempenho e diversidade de armamento que pode empregar. Somando a esta boa impressão deixada, a TAI ainda foi mais longe e ofereceu a possibilidade de criar uma joint venture com a brasileira EMBRAER (EDS), com finalidade de produzir e comercializar essa aeronave a partir do Brasil para os demais países da América Latina, o que representaria um enorme ganho em capacidade tecnológica e no desenvolvimento de mais um nicho de mercado a ser explorado por nossa indústria de defesa, tornando a aeronave um forte concorrente a se tornar a aeronave de ataque do Exército Brasileiro. Viabilizando o desenvolvimento futuro de uma variante nacional e com alto índice de nacionalização.
Apesar das diversas opções no mercado, não se trata de uma simples escolha, conforme já apresentamos no início, a aquisição de um novo vetor esbarra em vários fatores, e o mais complexo é justificar a compra de tal meio a uma sociedade que se encontra totalmente distante da realidade de nossas forças armadas e desconhece completamente suas necessidades e ganhos que tal aquisição acarreta para o próprio Brasil. Diante desta encruzilhada, o Exército Brasileiro tem demonstrado forte interesse em adotar uma aeronave que seja capaz de realizar não apenas as missões de reconhecimento, ataque e apoio aéreo aproximado, mas que possam desempenhar missões mais "populares" em tempos de paz. Com isto, surge no horizonte uma possibilidade bastante atraente e que confere novas capacidade a Aviação do Exército, essa solução se sintetiza no Sikorsky S-70I Black Hawk, o qual se apresenta como uma aeronave multimissão de médio porte capaz de empregar diversos armamentos em estações de armas sob duas semi-asas, dando ao "Falcão Negro" poder de fogo que o coloca em condições de suprir a demanda do EB por uma aeronave de ataque, apesar de não se tratar de um meio dedicado, o mesmo se torna mais atraente aos demais setores do governo por possuir a já conhecida capacidade do S-70A operado desde os anos 90 no Brasil, possuindo importante atuação na logística de suporte as tropas brasileiras em regiões remotas da região amazônica e prestando relevantes serviços as populações locais.
O "Falcão Negro" possui um bom histórico de atuação no Brasil, apesar de não sermos um dos grandes operadores do modelo, com uma pequena frota, os mesmo possuem um excelente índice de disponibilidade, e mesmo se tratando de um projeto dos anos 70, a aeronave mostra uma excelente logística e manutenção, reconhecida como uma das melhores aeronaves em operação nas forças brasileiras no que se refere a simplicidade de operação e manutenção.
O Exército Brasileiro possui dois caminhos, no primeiro é definir um projeto que vislumbre a aquisição de uma aeronave dedicada, como o T-129 "ATAK", que venha a trazer incremento as capacidades tecnológicas de nossa indústria, o que significa não apenas sanar uma lacuna, mas abrir uma nova oportunidade de mercado a industria brasileira, a qual pode conceber uma parceria como a existente no programa da Força Aérea Brasileira entre a sueca SAAB e a BID. Mas essa opção acarreta na dura missão de justificar as necessidades de aquisição de tal meio, aliados aos riscos envolvidos ao se selecionar um meio com vistas a nacionalizá-lo, devido a baixa demanda interna e as incertezas de inseri-lo no mercado internacional. A segunda alternativa é a aquisição de um meio como o S-70I, o qual vai atender em parte a demanda e seria mais fácil justificar sua aquisição devido sua capacidade dual de emprego. Porém, este caminho não representaria ganhos a nossa capacidade industrial de defesa, pelo contrário, nos manteria dependentes de fornecedores estrangeiros, o que em determinados cenários pode representar problemas.
Nesta análise apontamos os desafios pelos quais passam nossas forças armadas devido a inexistência de uma mentalidade estratégica e a ausência da participação ativa da sociedade no campo de defesa, o que leva a uma postura de rebanho, onde a maioria segue a voz de pequenos grupos que muitas vezes não sabem o mínimo sobre as necessidades reais de nossa nação, que se apegam a discursos vazios e viciados, baseados numa mentalidade utópica distante da realidade que vivemos no mundo hoje e que não vislumbram os desafios que teremos no futuro, muitos menos enxergam as oportunidades de aferir grande retorno com a inserção de novos produtos nacionais de defesa no bilionário mercado mundial.
Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN Defense, graduando em Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do oriente médio, leste europeu e América Latina, especialista em assuntos de defesa e segurança, membro da Associação de Veteranos do Corpo de Fuzileiros Navais (AVCFN), Sociedade de Amigos da Marinha (SOAMAR), Clube de Veículos Militares Antigos do Rio de Janeiro (CVMARJ) e Associação de Amigos do Museu Aeroespacial (AMAERO).
GBN News - A informação começa aqui
Bom as negociações das compras estão atrasadas por causa da covid mas quando se a escolha final
ResponderExcluir