Durante algumas pesquisas para compor nossa nova série sobre determinados tipos de navios de guerra, me deparei com uma história muito interessante e que com certeza é desconhecida por muitos aqui no Brasil, a qual remonta a história de um personagem que faz parte da história sul-coreana, sendo um dos mais brilhantes comandantes de sua história militar, o qual esta diretamente ligado ao desenvolvimento do primeiro encouraçado que temos registrado na história, estou falando do Almirante Yi Sun-Sin e o Geobukseon (ou Kobukson pelo seu nome coreano), mais conhecido como "Navio Tartaruga".
O almirante coreano Yi Sun-Sin, viveu no século XVI, comandante naval coreano durante a "Guerra de Imjin" conflito no qual coreanos e japoneses se enfrentaram em batalhas que são lembradas e estudadas até os dias de hoje por historiadores e especialistas em guerra naval. Yi Sun-Sin ganhou fama por suas heroicas vitórias contra a marinha japonesa, se tornando exemplo de conduta para coreanos e japoneses, entrando para história como um dos maiores heróis da Coréia do Sul.
Um fato curioso sobre a história de Yi Sun-Sin, é que diferente do que se pode pensar sobre as atribuições ao seu imenso sucesso como comandante naval, ele não teve qualquer treinamento naval prévio, ou mesmo estudou sobre a arte da guerra naval como muitos de seu tempo, o almirante Yi Sun-Sin conseguiu obter uma marca difícil de ser alcançada pelos mais estudados e famosos comandantes navais da história, nunca ter sido derrotado no mar e nem perdido um único navio sob seu comando para ação inimiga. Há o consenso entre vários historiadores militares que o colocam em pé de igualdade com o famoso almirante ocidental Horatio Nelson, sendo apontado como um dos maiores comandantes navais de toda história.
Ao longo de sua carreira, o almirante Yi Sun-Sin participou de pelo menos 23 confrontos navais, todos contra as forças navais japonesas. Um fato de importante relevância para entender o tamanho da genialidade deste comandante naval, é que na maioria dessas batalhas, ele estava em menor número e não possuía os suprimentos necessários, onde mesmo em grande desvantagem surpreendeu o inimigo e conquistou inúmeras vitórias.
Sua vitória mais famosa ocorreu na Batalha de Myeongnyang, onde mais uma vez se viu em grande desvantagem frente ao inimigo. Nesta ocasião, enfrentou uma verdadeira esquadra composta por 133 navios de guerra com uma flotilha de apenas 13 navios. Durante esse homérico embate, conseguiu colocar fora de combate ou destruir 31 dos 133 navios de guerra japoneses sem perder um único navio de sua força naval.
Grande parte desse sucesso avassalador, se deve ao emprego de uma verdadeira revolução na construção naval da época, um novo conceito que daria uma grande vantagem frente aos numerosos meios navais empregados pelos japoneses e que dariam aos coreanos a vitória naquele conflito. Estamos falando do "Geobukseon" ou "Navio Tartaruga".
Embora muitos atribuam o projeto do revolucionário navio as realizações de Yi Sun-Sin, na verdade o "Geobukseon" foi fruto de um projeto antigo, o qual remonta o reinado de Taejong, porém, o projeto não havia deixado os escritos, até que o almirante Yi Sun-Sin com sua mente criativa retomasse o conceito do "moderno" navio e com apoio de seus subordinados, conseguiu melhorar o projeto do navio tartaruga, dando origem a um dos mais formidáveis navios de guerra já construídos, empregando conceitos e métodos construtivos muito similares ao que ainda usamos hoje.
Os "Navios Tartaruga" projetados por Yi Sun-Sin contavam com onze canhões em cada lado do navio, com mais dois posicionados na popa e na proa. A proa do navio possuía uma cabeça de dragão, que curiosamente não servia apenas como adorno, sendo capaz de disparar projéteis balísticos, criar uma cortina de fumaça e mesmo lançar chamas, com certeza era muito intimidador e tinha um grande efeito psicológico sobre o inimigo, o que podemos elencar como um importante elemento da guerra psicológica. Em cada um dos bordos do "Navio Tartaruga" haviam pequenas aberturas pelas quais era possível disparar flechas, armas e morteiros. O convés era totalmente coberto e protegido por uma chapa de aço com espigões que se assemelhavam a pontas de lança, o que dava proteção a tripulação sob ataque de flechas e mesmo projeteis balísticos. Os espigões dispostos sobre a "couraça" do convés tinha como objetivo impedir que o navio durante o confronto fosse invadido pelo inimigo. Para entendermos um pouco sobre essa inusitada solução, é preciso conhecer algumas características dos meios inimigos, onde os navios empregados pelos japoneses tinham os bordos mais altos que os navios coreanos, portanto, os espigões impediam que os atacante pulassem sobre o convés sem o risco de ser empalados. A propulsão se dava por dois mastros que possuíam duas velas grandes. O "Navio Tartaruga" possuía vinte remos, cada um dos quais puxado por dois homens sob boas condições de mar e cinco em caso de mar grosso ou em situação de combate.
Os "Navios Tartaruga" foram uma parte importante da frota do almirante Yi Sun-Sin, tendo um papel de grande importância nos embates entre coreanos e japoneses, no entanto, ele nunca implantou mais de cinco destes navios em qualquer batalha por ele comandada, onde os canhões eram sua principal arma ofensiva. Diferente dos japoneses, os coreanos não empregavam a estratégia de embarque como a marinha japonesa, diante disto seus navios de guerra evitavam contato direto com os navios japoneses. O almirante Yi Sun-Sin estabeleceu como prioridade estratégica evitar o combate corpo a corpo, no qual a marinha japonesa era especializada. O navio tartaruga foi desenvolvido para apoiar essa estratégia e servir como uma importante arma de dissuasão e ataque contra as forças japonesas.
Foi durante a Batalha de Sacheon (1592) que Yi Sun-Sin empregou pela primeira vez em combate o "Geobukseon", e após o sucesso nesta batalha foram empregados em quase todas as batalhas até a devastadora Batalha de Chilchonryang. Os "Navios Tartaruga" foram empregados principalmente para liderar ataques. Eles eram mais usados em estreitos e em torno de ilhas, em vez de operar em mar aberto.
Classe Chungmugong Yi Sun-Sin |
O Almirante Yi Sun-Sin veio a óbito em 16 de dezembro de 1598, vitima de um ferimento de bala na "Batalha Naval de Noryang". Suas últimas palavras foram: "A batalha está no auge. Bata em meus tambores de guerra. Não anuncie minha morte". Yi Sun-Sin escreveu com sua genialidade e coragem seu nome na história de seu país, se tornou um herói nacional na Coréia, e continua sendo reverenciado ainda hoje citado como um importante personagem de sua história, assegurando a soberania coreana frente aos japoneses. Hoje o herói dá nome a uma das mais importantes classes de destróyers construídos e operados pela Coréia do Sul no início do século XXI, a Classe "Chungmugong Yi Sun-sin".
Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN News, graduando em Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do oriente médio, leste europeu e América Latina, especialista em assuntos de defesa e segurança.
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