No dia 19 de
fevereiro de 2019, a norte americana Lockheed-Martin (LM), anunciou o F-21 como
proposta para a Índia.
E não, não era o
F-21 "Lion" empregado pela US Navy no final dos anos 1980, mas uma
versão do F-16 Fighting Falcon. Mas como assim? E por que não apenas ‘F-16’?
F-21 "Lion" da US Navy |
Recapitulando, a
Índia tem um passado nebuloso em relação a seus programas militares. Programas
como a substituição do fuzil de assalto padrão INSAS, o substituto do MiG-21
(voltaremos a esse tópico…) e muitos outros levam muitos anos e acabam
cancelados antes da compra de todos os itens pedidos.
Entretanto, os
fabricantes de armas sempre acabam competindo na Índia, pois, devido a sua
vizinhança hostil, o país compra grandes quantidades de sistemas de defesa.
MMRCA
Um dos muitos
programas militares indianos que tem dado problemas na IAF (Força Aérea
Indiana) é o Tejas LCA (Aeronave Leve de Combate), cujo desenvolvimento se
arrasta desde a década de 1980, mas que somente atingiu a IOC (Capacidade
Operacional Inicial, ou reduzida) em 2013, e a FOC (Capacidade Operacional
Plena) em 2019.
A demora na
entrada em serviço do Tejas, mais a grande idade de diversas aeronaves em seu
inventário, levou à necessidade de uma aeronave intermediária entre o Tejas e o
Su-30MKI (que, além de outros fatores, apresenta baixa disponibilidade devido
aos problemas com o fornecimento de peças de reposição por parte dos russos).
Para atender a
esta necessidade foi criado em 2008 o programa MMRCA, também conhecido como
MRCA (Aeronave de Combate Multifunção / Média). Os principais concorrentes do
MRCA eram o Rafale (que acabou ‘ganhando’), Eurofighter, F-16, F-18, Gripen e
Mig-35.
O vencedor deveria
produzir 126 aeronaves, com ToT (Transferência de Tecnologia), um modelo
parecido com o FX2 vencido pelo Gripen E/F no Brasil. Em 2012 foi anunciado que
o Rafale era o vencedor, mas após uma série de problemas, o MRCA acabou, na
prática, sendo cancelado em 2015, com apenas 36 Rafale sendo comprados, sem ToT
e com a opção de compra para mais 18 aeronaves do modelo.
Embora a Marinha
indiana (que opera navios-aeródromo) tenha sido direcionada a aproveitar o
máximo que pudesse da logística e outros meios da IAF em relação ao Rafale (que
tem uma versão embarcada), não houve confirmação formal de aquisição.
F-16IN → F-16V
O modelo do F-16
que a LM propôs para a IAF no âmbito do MRCA foi o F-16IN, que seria uma versão
especial do F-16C/D, com diversas melhorias, o qual como sabemos, não logrou
sucesso naquela concorrência.
F-16 IN apresentada pela LM |
A derrota no MRCA,
entretanto, não foi o fim para o F-16IN. A LM continuou trabalhando no modelo,
e em junho/2018 anunciou o F-16V ‘Viper’, que incluía não apenas as tecnologias
pensadas para o F-16IN, mas também tecnologias desenvolvidas para o F-22 e o
F-35, ambos da LM.
O F-16V já foi
vendido para diversas forças aéreas, tanto como aeronaves novas como opções de
upgrades para operadores do F-16C/D.
MMRCA 2?
A lacuna deixada
pelo cancelamento do MRCA permanece, além da grande taxa de acidentes
envolvendo os vetustos MiG-21, faz com que uma aeronave dessa categoria seja
ainda mais urgente.
Os Mig-21 indianos estão no limite do seu ciclo de vida |
Para complicar
ainda mais a situação, a Índia abandonou o programa PAK-FA, pois o Su-57
resultante não atingiu os objetivos prometidos à IAF.
Embora a Índia não
tenha lançado formalmente nenhuma competição visando a aquisição de novos caças
ao estilo ‘MRCA 2’, os fabricantes estão atentos, e vários deles já ‘ofereceram
sua solução’ para a IAF. Há fortes rumores de que um projeto destes é iminente,
e ninguém quer perder tempo.
Lockheed-Martin F-21
Um destes
fabricantes é a própria LM, que ofereceu o ‘F-21’ para a IAF. E embora, na
prática, o F-21 seja pouco mais que um F-16V com algumas adaptações para a IAF
(inclusive fabricação de diversos componentes na Índia), o simbolismo do nome
não pode ser perdido.
Embora o F-16
fosse, tecnicamente, um dos melhores candidatos para o MRCA, suspeita-se que
foi derrotado por dois fatores principais.
O Paquistão,
vizinho e grande rival da Índia, já opera o F-16 faz tempo, e há o temor de que
o risco de ‘fogo amigo’ restrinja seu uso; isso inclusive aconteceu com os
Mirage F1 na Guerra do Golfo em 1991, onde tanto a França quanto o Iraque
operavam o modelo.
Outro motivo é que
o F-16 original é considerado antigo, pois é um projeto da década de 70, e a
IAF queria uma aeronave moderna.
Não se sabe se o
segundo motivo realmente teve influência (não saiu em nenhum documento
oficial), mas ao que parece a LM não quer arriscar, e resolveu ‘renomear’ seu
caça para a IAF.
Com isto eles conseguem
duas coisas de uma só vez, ofertam um caça “diferente” do F-16 paquistanês, ao
mesmo tempo que é um caça do “século 21”, tal como o nome.
Além disto, como o
nome “deixa claro”, é uma aeronave inferior ao F-22 e ao F-35, já que não se pode
ignorar a possibilidade do F-35 ser ofertado à Índia, caso haja uma competição
formal.
Comparado aos F-16
“normais”, o F-21 inclui as modernizações do F-16V com a adição de um sistema
de REVO (Reabastecimento em Voo) do tipo ‘haste e funil’, já que os F-16
dispõem apenas do sistema ‘lança e receptáculo’, e a IAF não dispõe de nenhuma
aeronave cisterna com tal sistema; algo que já tinha sido proposto para o
F-16IN.
CONCLUSÃO
Concepção do "novo" F-21 |
A LM é uma empresa
bastante consolidada no mercado internacional, e por isso entende a importância
de algo aparentemente tão banal como nome.
O fato é que a
história do F-21, na verdade, começou na Índia em 2008. É uma aeronave bastante
moderna, e oferece muitas partes ‘Make in India’, e tal índice de
nacionalização pode ajudar bastante em uma concorrência futura.
Será que é ‘karma’
que seja escolhido nos próximos anos, e uma ‘infelicidade’ em 2012 se torne
‘alegria’ nos próximos anos?
Por: Renato Henrique Marçal de Oliveira - Químico, trabalha na Embrapa com pesquisas sobre gases de efeito estufa. Entusiasta e estudioso de assuntos militares desde os 10 anos de idade, escreve principalmente sobre armas leves, aviação militar e as IDF (Forças de Defesa de Israel), articulista e colaborador no GBN Defense News.
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