sábado, 5 de outubro de 2019

Lockheed-Martin F-21: O que é isso?


No dia 19 de fevereiro de 2019, a norte americana Lockheed-Martin (LM), anunciou o F-21 como proposta para a Índia.

E não, não era o F-21 "Lion" empregado pela US Navy no final dos anos 1980, mas uma versão do F-16 Fighting Falcon. Mas como assim? E por que não apenas ‘F-16’?

F-21 "Lion" da US Navy
Recapitulando, a Índia tem um passado nebuloso em relação a seus programas militares. Programas como a substituição do fuzil de assalto padrão INSAS, o substituto do MiG-21 (voltaremos a esse tópico…) e muitos outros levam muitos anos e acabam cancelados antes da compra de todos os itens pedidos.

Entretanto, os fabricantes de armas sempre acabam competindo na Índia, pois, devido a sua vizinhança hostil, o país compra grandes quantidades de sistemas de defesa.


MMRCA

Um dos muitos programas militares indianos que tem dado problemas na IAF (Força Aérea Indiana) é o Tejas LCA (Aeronave Leve de Combate), cujo desenvolvimento se arrasta desde a década de 1980, mas que somente atingiu a IOC (Capacidade Operacional Inicial, ou reduzida) em 2013, e a FOC (Capacidade Operacional Plena) em 2019.

A demora na entrada em serviço do Tejas, mais a grande idade de diversas aeronaves em seu inventário, levou à necessidade de uma aeronave intermediária entre o Tejas e o Su-30MKI (que, além de outros fatores, apresenta baixa disponibilidade devido aos problemas com o fornecimento de peças de reposição por parte dos russos).

Para atender a esta necessidade foi criado em 2008 o programa MMRCA, também conhecido como MRCA (Aeronave de Combate Multifunção / Média). Os principais concorrentes do MRCA eram o Rafale (que acabou ‘ganhando’), Eurofighter, F-16, F-18, Gripen e Mig-35.

O vencedor deveria produzir 126 aeronaves, com ToT (Transferência de Tecnologia), um modelo parecido com o FX2 vencido pelo Gripen E/F no Brasil. Em 2012 foi anunciado que o Rafale era o vencedor, mas após uma série de problemas, o MRCA acabou, na prática, sendo cancelado em 2015, com apenas 36 Rafale sendo comprados, sem ToT e com a opção de compra para mais 18 aeronaves do modelo.

Embora a Marinha indiana (que opera navios-aeródromo) tenha sido direcionada a aproveitar o máximo que pudesse da logística e outros meios da IAF em relação ao Rafale (que tem uma versão embarcada), não houve confirmação formal de aquisição.


F-16IN F-16V

O modelo do F-16 que a LM propôs para a IAF no âmbito do MRCA foi o F-16IN, que seria uma versão especial do F-16C/D, com diversas melhorias, o qual como sabemos, não logrou sucesso naquela concorrência.

F-16 IN apresentada pela LM
A derrota no MRCA, entretanto, não foi o fim para o F-16IN. A LM continuou trabalhando no modelo, e em junho/2018 anunciou o F-16V ‘Viper’, que incluía não apenas as tecnologias pensadas para o F-16IN, mas também tecnologias desenvolvidas para o F-22 e o F-35, ambos da LM.

O F-16V já foi vendido para diversas forças aéreas, tanto como aeronaves novas como opções de upgrades para operadores do F-16C/D.


MMRCA 2?

A lacuna deixada pelo cancelamento do MRCA permanece, além da grande taxa de acidentes envolvendo os vetustos MiG-21, faz com que uma aeronave dessa categoria seja ainda mais urgente.

Os Mig-21 indianos estão no limite do seu ciclo de vida
Para complicar ainda mais a situação, a Índia abandonou o programa PAK-FA, pois o Su-57 resultante não atingiu os objetivos prometidos à IAF.

Embora a Índia não tenha lançado formalmente nenhuma competição visando a aquisição de novos caças ao estilo ‘MRCA 2’, os fabricantes estão atentos, e vários deles já ‘ofereceram sua solução’ para a IAF. Há fortes rumores de que um projeto destes é iminente, e ninguém quer perder tempo.


Lockheed-Martin F-21


Um destes fabricantes é a própria LM, que ofereceu o ‘F-21’ para a IAF. E embora, na prática, o F-21 seja pouco mais que um F-16V com algumas adaptações para a IAF (inclusive fabricação de diversos componentes na Índia), o simbolismo do nome não pode ser perdido.

Embora o F-16 fosse, tecnicamente, um dos melhores candidatos para o MRCA, suspeita-se que foi derrotado por dois fatores principais.

O Paquistão, vizinho e grande rival da Índia, já opera o F-16 faz tempo, e há o temor de que o risco de ‘fogo amigo’ restrinja seu uso; isso inclusive aconteceu com os Mirage F1 na Guerra do Golfo em 1991, onde tanto a França quanto o Iraque operavam o modelo.

Outro motivo é que o F-16 original é considerado antigo, pois é um projeto da década de 70, e a IAF queria uma aeronave moderna.

Não se sabe se o segundo motivo realmente teve influência (não saiu em nenhum documento oficial), mas ao que parece a LM não quer arriscar, e resolveu ‘renomear’ seu caça para a IAF.

Com isto eles conseguem duas coisas de uma só vez, ofertam um caça “diferente” do F-16 paquistanês, ao mesmo tempo que é um caça do “século 21”, tal como o nome.

Além disto, como o nome “deixa claro”, é uma aeronave inferior ao F-22 e ao F-35, já que não se pode ignorar a possibilidade do F-35 ser ofertado à Índia, caso haja uma competição formal.

Comparado aos F-16 “normais”, o F-21 inclui as modernizações do F-16V com a adição de um sistema de REVO (Reabastecimento em Voo) do tipo ‘haste e funil’, já que os F-16 dispõem apenas do sistema ‘lança e receptáculo’, e a IAF não dispõe de nenhuma aeronave cisterna com tal sistema; algo que já tinha sido proposto para o F-16IN.


CONCLUSÃO

Concepção do "novo" F-21
A LM é uma empresa bastante consolidada no mercado internacional, e por isso entende a importância de algo aparentemente tão banal como nome.

O fato é que a história do F-21, na verdade, começou na Índia em 2008. É uma aeronave bastante moderna, e oferece muitas partes ‘Make in India’, e tal índice de nacionalização pode ajudar bastante em uma concorrência futura.

Será que é ‘karma’ que seja escolhido nos próximos anos, e uma ‘infelicidade’ em 2012 se torne ‘alegria’ nos próximos anos?



Por: Renato Henrique Marçal de Oliveira - Químico, trabalha na Embrapa com pesquisas sobre gases de efeito estufa. Entusiasta e estudioso de assuntos militares desde os 10 anos de idade, escreve principalmente sobre armas leves, aviação militar e as IDF (Forças de Defesa de Israel), articulista e colaborador no GBN Defense News.




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